segunda-feira, 28 de abril de 2014

Uma ótima avaliação

Texto: Lucas 7: 24-30

É notório em toda a Bíblia o fato de que Deus sempre fez avaliações sobre o Seu povo, tanto no AT como no NT. A mensagem dos profetas tinha como objetivo alertar o povo diante das avaliações feitas pelo Senhor. O profeta Oséias foi um instrumento usado por Deus para trazer à tona a avaliação que o Senhor fazia sobre Israel, quase sempre negativa: “tal como uma vaca rebelde, assim se rebelou Israel” (Os. 4:16).O profeta Jeremias também transmitiu ao povo a avaliação feita pelo Senhor em vários momentos, por exemplo: “O pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro e com diamante pontiagudo, gravado na tábua do seu coração e nas pontas dos seus altares.” (Jr. 17:1). Não somente sobre o seu povo, mas Deus também avaliou a vida de pessoas ímpias, como por exemplo a vida do rei Belssazar. Este rei ímpio foi avaliado e recebeu o veredito da parte do Senhor: TEQUEL = pesado foste na balança e achado em falta (Dn. 5:27). Imagine receber uma avaliação deste tipo!

No Novo Testamento encontramos Jesus dirigindo-se às sete igrejas da Ásia Menor, e fazendo a Sua avaliação sobre cada uma delas: “Conheço as tuas obras”. A avaliação feita por Jesus traduz perfeitamente a situação de cada igreja. A avaliação sobre a igreja de Laodicéia é bem forte: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Ap. 3: 15-16). Diante deste exemplos, fica claro que são abundantes na Bíblia as avaliações feitas pelo Senhor.

No texto que temos em epígrafe, Jesus apresenta a sua avaliação sobre a pessoa de João, o batista. O texto nos diz que “passou Jesus a dizer ao povo a respeito de João.”João, o batista, com frequência testemunhou de Jesus; agora, Jesus testemunha a respeito de João para o povo ali reunido. Jesus tece elogios a este homem e chega a afirmar de modo categórico: “Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João.” Através de perguntas retóricas, Jesus realiza uma excelente avaliação sobre João.

Qualserá a avaliação de Cristo a nosso respeito? O que Ele diria sobre nós? Será positiva ou será negativa? Creio que não existe uma avaliação intermediária, até porque Cristo abomina a mornidão (nem quente, nem frio). Ou estamos progredindo, ou estamos regredindo na caminhada cristã.A avaliação que Cristo faz a nosso respeito deve nos constranger a mudanças imediatas. Não se trata apenas de uma informação, o Senhor requer de nós uma resposta adequada à avaliação que Ele realiza.

“A avaliação que Cristo fez sobre João engloba aspectos que não devem ser ignorados por nenhum discípulo”

S. T.: Quais são os aspectos da avaliação de Cristo sobre João quenão devem ser ignorados por nenhum discípulo?

S. T.: Os aspectos da avaliação de Cristo sobre João que não devem ser ignorados por nenhum discípulo (Palavra-chave: Aspecto)

1) O PRIMEIRO ASPECTO É COM RELAÇÃO ÀFIRMEZA DE CARÁTER (vs. 24)

As perguntas retóricas neste texto sugerem uma forma sutil de eliminar respostas claramente falsas a fim de transmitir a verdade sobre João. “Um caniço [provavelmente uma planta da família das gramíneas encontradas em abundância ao longo do Jordão] agitado pelo vento” sugere uma pessoa instável, levada emseu julgamento pelos ventos da opinião pública ou da desventura pessoal. João não era um caniço (pense por exemplo numa vareta de bambu) ao vento, que muda de direção a todo instante, que ilustra alguém inseguro e instável. Antes, era um homem de convicções e de coragem, um homem destemido e firme. Com esta pergunta instigante, Jesus está enfatizando que João não se deixava influenciar pelas circunstâncias e nem pelas pessoas a sua volta. O vento das dificuldades ou da pressão dos políticos e religiosos de sua época não fez João dobrar-se ou abandonar as suas convicções. Essa sua coerência não havia resultado somente em seu encarceramento, mas na sequência também lhe custaria a própria vida (cf. Mt. 14:6-12). João manteve-se firme apesar da oposição de Herodes, quando denunciou o relacionamento adúltero em que ele vivia.

Alguns cristãos até se escoram na velha desculpa que “a carne é fraca”, tirando o versículo do seu contexto, para tentar justificar um cristianismo vacilante. Conta-se a história de um motorista cristão que não tinha firmeza de caráter. Seu procedimento no trânsito era reprovável. Sua atitude dentro da família era de pura negligência. Certa vez ele foi parado por excesso de velocidade por um guarda também cristão. O motorista rapidamente argumentou: “Sr. não aplique, nenhuma multa, foi a minha velha natureza que estava em excesso de velocidade.” O guarda sabiamente respondeu: “Vou multar a sua velha natureza em 50 dólares por excesso de velocidade, e vou multar a sua nova natureza em 50 dólares por ser conivente com a primeira.”

O caráter do cristão precisa ser autoevidente em seus valores, princípios e atitudes. É do caráter firmado na Palavra de Deus que procedem nossos valores e princípios, que nos levam a discernir o que é certo/errado sob o ponto de vista de Deus. Mas quando negligenciamos a firmeza de caráter o resultado é sempre desastroso.O temor dos homens, o medo da rejeição e a politicagem em nossos relacionamentos, atestam que somos pessoas inconstantes e de dúbio proceder. A verdade é que faltam homens e mulheres de Deus firmes em seu caráter, que não abrem mão de um procedimento digno do evangelho de Cristo.

PERGUNTA: Por que não devemos ser pessoas instáveis na caminhada com Cristo? A resposta é simplesmente porque não podemos alegar falta de recursos espirituais para um progresso efetivo em nosso viver. Tudo que nos conduz à vida e a piedade já nos foi dado graciosamente para o progresso na fé. O cristão “tropeça aqui-cai acolá” é um difamador da graça santificadora do Senhor.

Paulo adverte “que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef. 4:14). Tiago vai falar sobre o “homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.” (Tg. 1:8) Este é aquele que não coloca em execução a verdade bíblica por ter um caráter vacilante, um mente dividida, que não tem um posicionamento firme.

Neste mundo de antagonismo à vontade de Deus, não devemos abaixar padrões ou relativizar valores em prol da conveniência. Será que receberemos o elogio Senhor por termos sido firmes de caráter e atitude?

2) O SEGUNDO ASPECTO É COM RELAÇÃO AO DESAPEGO DO QUE É EFÊMERO (Vs. 25)

Jesus faz mais uma pergunta instigante aos seus ouvintes imediatos: “Que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas?” (Lc. 7:25). Definitivamente João não era uma celebridade que desfrutava de regalias, ou da amizade de gente importante e dos prazeres da riqueza. João era um homem simples e ao mesmo tempo estranho, que não estava seguindo a moda do seu tempo. O termo empregado por Jesus para luxo não engloba somente vestes ou ostentação de bens materiais. O palavra carrega uma conotação de luxúria carnal, ou seja, libertinagem e promiscuidade. Com esta pergunta, Jesus traz uma reprimenda implícita a todos aqueles que ostentam luxo e riqueza material ou se devotam aos prazeres carnais, e que continuam mantendo um coração endurecido diante da vontade de Deus. A história dos Herodes e dos Césares no Império Romano é marcada por ostentação e pecados sexuais. Mas nada daquela ostentação ou dos prazeres da vida regalada roubaram a atenção do profeta João, que não se iludiu e nem se vendeu.

Conta-se a história de uma criança de três anos de idade que ganhou uma linda bicicleta azul do seu pai. A bicicleta era novíssima, completa e com as rodinhas auxiliares, equipamentos de proteção e adesivos. Não poderia haver uma bicicleta melhor, e o pai ficou esperando a reação do seu pequeno filho. Quando o pai tirou a bicicleta da caixa de papelão, a criança observou por um momento e sorriu e depois começou a brincar com a caixa. Demorou alguns dias para que o pai convencesse seu filho que o presente de verdade era a linda bicicleta azul. Muitas vezes nós agimos como esta criança: perdemos o foco do que realmente é importante e dedicamos nossa maior atenção ao que é efêmero, a tudo aquilo que não acrescentará valores eternos ao nosso viver.

O dicionário Houaiss define luxo assim: “maneira de viver caracterizada pelo desejo de ostentação, por despesas excessivas, pela procura de comodidades caras e supérfluas.” À luz da Bíblia, nós precisamos identificar o que é efêmero em nossas vidas, para que as coisas efêmeras não se tornem deuses para nós. Não estou fazendo apologia à teologia da mediocridade, mas precisamos pedir que Deus nos ajude a sondarmos os nossos corações para não sermos iludidos pelas propostas deste século. Vivemos numa época de consumismo desenfreado, e cada vez mais o luxo é assumido como meta na vida de muitas pessoas. O desprendimento deve ser uma marca que nos identifica como cristãos, pois estamos apenas peregrinando neste mundo tão efêmero.

Muitas vezes, o que é acessório e supérfluo assume a primazia em nosso viver, e passamos a cobiçar mais e mais. Este ciclo nunca se fecha!O sábio Salomão, que experimentou bem o luxo e o prazer, escreveu:“Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e do seu trabalho nada poderá levar consigo.” (Ec. 5:15). Diante da verdade exposta neste verso bíblico, éevidente concluir que os nossos interesses devem ser muito mais celestiais do que materiais.

Só o que é eterno satisfaz a nossa alma. O que é efêmero apenas aumenta a nossa sede. Nada neste mundo pode trazer real satisfação à alma. C. S. Lewis escreveu: “Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais correta é que eu fui feito para outro mundo.” Que a nossa vida enquanto peregrinos seja marcada por uma afeição genuína ao que é eterno e celeste, não ao que é passageiro e terreal. Será que receberemos o elogio do Senhor por termos sido desapegados dos valores deste mundo corrompido?

3) O TERCEIRO ASPECTO É COM RELAÇÃO AO CUMPRIMENTO DO PROPÓSITO (Vs. 26-27)

O ministério de João era preparar a nação para a chegada de Jesus e apresentá-lo à nação (Lc. 1:17), pregando a mensagem de arrependimento. Seu ministério foi o ponto culminante da Lei e dos Profetas. João Batista foi o último profeta do Antigo Testamento e, como mensageiro de Deus, teve o privilégio de apresentar o Messias a Israel. O ministério de João constituiu um divisor de águas, tanto na história nacional de Israel quanto no plano redentor de Deus (Lc. 16:16). João cumpriu com fidelidade o propósito para o qual foi escolhido por Deus. Ele anunciava em alto e bom som a mensagem de arrependimento que apontava para Cristo: “No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1:29). Testemunhar a respeito de Cristo era sua obra contínua, e João se manteve fiel a este propósito enquanto esteve vivo.

O apóstolo Paulo entendeu o seu propósito e cumpriu cabalmente o seu ministério: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé.” (2 Tm. 4:7)“Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou.” (2 Tm. 2:5). Em outras palavras, nenhum soldado foge do cumprimento do seu dever, pois o seu propósito é satisfazer ao seu comandante.O soldado Demas não cumpriu o seu objetivo: “ele amou o presente século e partiu para Tessalônica...”

Uma das primeiras lições em música é o aprendizado dos compassos. Em Teoria Musical, o compasso está relacionado com as divisõesde sons que se sucedem dentro de um determinado tempo e ritmo. Assim, só é possível cumprir corretamente a execução da música se o compasso for totalmente obedecido.O professor de música e regente da banda filarmônica da qual fiz parte na infância era bastante exigente e buscava de várias maneiras sincronizar o som dos instrumentos.Eu lembro que ele reclamava bastante quando os instrumentistas saíam do compasso da música: “- Vocês estão fora de compasso. Aprendam a ficar dentro do compasso. Sejam fiéis ao compasso”. Será que a nossa vida está dentro do seguinte compasso: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe. 2:9)? Ou estamos fora de compasso, vivendo de maneira indigna deste maravilhoso chamado?

Uma pergunta que todos nós devemos fazer e responder à luz das Escrituras: Para que estou neste mundo? Esta pergunta delineia o cerne do propósito para o qual fomos criados e remidos por Deus.Há um propósito bem claro nas Escrituras: o propósito de Deus não é apenas salvar um povo para Si, mas que este povo se conforme à imagem de Cristo Jesus. Com este intuito em mente, cada cristão precisa assemelhar-se ao padrão perfeito (olhando firmemente para o Autor e Consumador da nossa fé). A forma como tratamos os nossos irmãos deve reluzir este maravilho propósito. Cristo não nos trata com malícia, da mesma maneira não devemos tratar com malícia os nossos irmãos. As escolhas que fazemos precisam visar a glória de Deus e não a nossa própria glória, pois Cristo nos deu o exemplo de submissão à vontade do Senhor em toda a Sua vida.

Todo crente está neste mundo para trilhar o caminho da mortificação do eu, para que o senhorio de Cristo seja evidente em nossas atitudes e relacionamentos.Será que receberemos o elogio do Senhor por termos cumprido o propósito para o qual fomos remidos?

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Armadilhas

Numa recente série de postagens em seu Blog o pastor e conselheiro bíblico Paul Tripp abordou a questão do sofrimento na vida do cristão. Certamente haverá momentos de dor, angústia e aflição na vida, pois estamos num mundo afetado pela queda. Por conta de uma visão míope, também resultado do pecado em nosso próprio coração, diante do sofrimento todos nós seremos tentados a questionar o caráter de Deus. Precisamos estar firmados nas verdades da Palavra do Senhor que nos assegura quem é o nosso Deus, em quem não há variação ou sombra de mudança.

O autor Paul Tripp destacou três armadilhas que podem nos prender, mesmo que seja de maneira sutil. O coração enganoso nos ilude fazendo-nos crer em mentiras sobre o caráter do Senhor. Destaco a seguir as armadilhas e acrescento alguns comentários:


1) A armadilha da dúvida: somos tentados a questionar a bondade de Deus

Por mais que confiemos na bondade do Senhor, o teste de fogo é o sofrimento. Em meio à dor e ao pranto, precisamos que a fé em Deus nos guie seguramente. Somente quando descansamos em Sua bondade é que o nosso coração encontra verdadeira paz, e somos libertos da tendência de fixar nossos olhos nas circunstâncias ou problemas que enfrentamos.

2) A armadilha da preocupação: somos tentados a questionar a presença de Deus

Preocupação e medo são o resultado direto de um coração ansioso. A ansiedade nos domina quando cremos na mentira que estamos sozinhos, sem a presença orientadora e confortadora do nosso Deus. O próprio Senhor Jesus prometeu que estaria conosco em meio aos vales e tempestades, não estamos sozinhos na jornada e nem no barco. Precisamos lembrar que as turbulências e dificuldades não anulam a promessa bendita do Senhor. O Espírito Santo é o penhor da nossa herança, o Consolador sempre presente que nos guia a toda verdade.

3) A armadilha da inveja: somos tentados a questionar a sabedoria de Deus

Deus é sábio e, portanto, sabe o que faz. As circunstâncias difíceis do viver não pegam Deus de surpresa, pelo contrário, Ele tem sempre um propósito didático para o crescimento dos Seus filhos. Sua sabedoria excede infinitamente o nosso entendimento limitado sobre a vida. Quando não confiamos em Sua sabedoria, a inveja passa a dominar nosso coração e enxergamos a situação de outras pessoas como mais fácil ou mais vantajosa que a nossa. Deus não erra no modo como trata conosco.

Deus nos oferece em Sua Palavra vários recursos preciosos para não sucumbirmos diante do sofrimento. O conselho que procede das Escrituras nos direciona para o conhecimento adequado sobre o caráter de Deus: Ele é sempre bom, presente e sábio. Portanto, não devemos alimentar dúvidas, preocupação ou inveja quando as coisas não se encaixam em nossas expectativas.

Marcos Aurélio Melo

sábado, 12 de abril de 2014

O encontro de Jesus com Nicodemos

O encontro de Jesus com Nicodemos está registrado no evangelho de João, no capítulo 3. A Bíblia diz que este homem veio encontrar-se com Jesus à noite, muito provavelmente porque não queria ser descoberto. Nicodemos era mestre da lei judaica, um estudioso das Escrituras, considerado uma grande autoridade entre os fariseus da sua época. Mas Nicodemos, apesar de ser um mestre na sua religião, estava totalmente perdido. O que este encontro tem a nos ensinar e que lições podemos extrair do encontro de Jesus com Nicodemos? Veremos algumas:

1) Não adianta termos apenas um bom conceito sobre Jesus. Nicodemos aproximou-se de Jesus e lhe direcionou alguns elogios: “Sei que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.” Nicodemos reconheceu que Jesus não era uma pessoa qualquer, ele sabia que Deus estava atuando por meio do ministério de Jesus. Muitas pessoas são assim também. Afirmam acreditar na pessoa e na obra de Cristo, e até se emocionam ao ler algumas histórias no Novo Testamento. É comum ver pessoas se referindo a Jesus como um exemplo de perfeição moral, de abnegação e de amor altruísta. Mas precisamos lembrar o seguinte: Jesus não está atrás de admiradores, Ele quer seguidores que andem nos Seus passos em obediência e submissão. Nicodemos admirava Jesus e O elogiou pelo que Jesus fazia, mas isso não era suficiente.

2) Somente o Espírito Santo traz regeneração ao coração do homem. Nicodemos ouviu uma afirmação de Jesus que o deixou totalmente desconcertado: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus; ...Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.” Jesus deixou claro que não importava se Nicodemos tinha sido educado nos melhores cursos de teologia da sua época, não importava qual era a graduação de Nicodemos ou seu envolvimento profundo com a religião judaica. Isto tudo não tem absolutamente nenhum valor, se o Espírito Santo não trouxer nova vida ao homem, que está morto por causa do pecado. O homem continuará cego para as coisas de Deus enquanto o Espírito Santo não operar o milagre do novo nascimento. Este nascimento é espiritual, e acontece de acordo com o propósito soberano do próprio Deus, que tudo faz como Lhe agrada.

3) O amor de Deus foi revelado de modo maravilhoso na pessoa de Jesus Cristo. O diálogo com Jesus prosseguiu, e Nicodemos foi confrontado com mais um desafio. Um dos versículos mais conhecidos da Bíblia foi dito por Jesus nesta conversa com o mestre Nicodemos. Jesus disse: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Agora Jesus se refere ao maior amor que já foi demonstrado: Deus enviou ao mundo o Seu precioso Filho, para ser entregue em favor de homens pecadores. Somente pela fé na obra de Cristo, o homem achega-se a Deus e desfruta de comunhão eterna. Não adianta fazer penitências, não adianta seguir uma lista de regras, e não é válido agir como um fariseu na sua igreja. É necessário render-se pela fé diante de Cristo com convicção e compromisso real, constrangidos pelo infinito amor de Deus. Somente assim, pelos méritos de Cristo, o homem passa a relacionar-se com Deus de modo real e verdadeiro.

 

Programa Viva com Cristo
Rádio Grande Rio AM

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O ENCONTRO DE JESUS COM A MULHER SAMARITANA


O texto bíblico em João 4 nos fala sobre o encontro de Jesus com a mulher samaritana. Foi um encontro programado pelo próprio Jesus que passou de propósito pela região habitada pelos samaritanos, que eram pessoas desprezadas pelo povo judeu. Mas Jesus não levou em conta as diferenças de raça e se aproximou desta mulher para travar um diálogo cheio de lições e ensinos.

É importante destacar que a mulher samaritana abrigava vários pecados ocultos. Sua vida era cheia de imoralidade pois já tinha se relacionado com cinco maridos. A busca incessante desta mulher era por sentido e significado para a própria vida e os seus relacionamentos eram um meio de encontrar a felicidade e realização. Mas Jesus derruba todos os conceitos superficiais que esta mulher tinha sobre a verdadeira razão para viver. A pergunta que traz dúvidas e angústia ao coração de muitas pessoas é: “qual a razão do meu viver?” Jesus apresenta que o propósito primordial da vida é render adoração a Deus, somente em espírito e em verdade. Afinal, não há verdadeiro sentido para o viver, se o objetivo não for apenas a glória de Deus em todas as coisas que fizermos.

A mulher samaritana tinha procurado saciar a sua sede de felicidade em várias fontes, mas sua sede permanecia insaciável. Jesus oferece a ela a água que sacia de uma vez por todas, mas esta água não está ligada a sede física. “Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo. 4:14). Com estas palavras, Jesus se refere a um relacionamento com Ele mesmo, através do Espírito Santo, que supre toda as respostas por significado e propósito da existência humana. Não se trata de uma lista de regras para cumprir, nem em qual local se deve adorar, mas de dobrar-se ante a autoridade de Cristo em submissão e gratidão por toda a vida.

Neste encontro Jesus queria deixar claro para a mulher samaritana que não há nada mais importante do que a adoração que enxerga Deus como maior tesouro. Riquezas, prazeres, fama, posição social, conta bancária, religiões humanas, sexo, drogas, nada disso pode suprir o infinito vazio que há no coração do homem. O pecado nos cega para o verdadeiro propósito para o qual fomos criados, mas o fato é que somente Cristo nos liberta para enxergarmos a preciosidade da adoração. Foi Ele mesmo quem afirmou que “vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (Jo. 4:23).

 

Programa Viva com Cristo
Rádio Grande Rio AM

quinta-feira, 27 de março de 2014

À maneira de Deus

 

A chamada do cristão é para que creia na doutrina certa, na doutrina verdadeira, na doutrina da Escritura. Mas não é só questão de pronunciar a doutrina certa, embora isso seja tão importante. Nem é questão de ser aquilo que possa ter explicação no talento, ou na moral, ou na energia natural da pessoa. O cristão não é chamado para apresentar apenas mais uma mensagem do mesmo modo que todas as outras mensagens são apresentadas. Devemos entender que não é importante o que fazemos, e sim, como o fazemos. No primeiro capítulo de Atos, entre a ressurreição e a ascensão de Cristo, Ele dá uma ordem para que não só se prego o evangelho, mas que se aguarde o Espírito Santo e então que se pregue o evangelho. Pregar o evangelho sem o Espírito Santo é deixar de perceber o essencial da ordem de Jesus Cristo para nossa época. Na área de “atividades cristãs” ou “serviço cristão”, como nós o estamos fazendo é pelo menos tão importante quanto o que estamos fazendo. Tudo que não estiver demonstrando que Deus existe escapa à finalidade proposta para a vida do cristão agora, aqui na terra.

Franscis A. Schaeffer

segunda-feira, 24 de março de 2014

AUTENTICIDADE

TEXTO BÍBLICO: Tiago 2: 14-19

A genuinidade de algo de valor é comprovada através de um rigoroso processo de exame e testes. Por exemplo: Como identificar se um diamante é verdadeiro? Existem alguns testes usadas pelas pessoas que negociam com joias de diamantes: Diamantes autênticos não são visíveis por meio de Raio-X; e os reflexos de um diamante de verdade têm tons de cinza. Caso você observe reflexos coloridos, é porque o diamante em questão é de baixa qualidade ou, pior ainda, uma falsificação. A Bíblia está cheia de exortações sobre um exame acurado: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo” (1 Co. 11:28). “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos” (2 Co. 13:5)

A carta de Tiago foi escrita com o propósito de chacoalhar os seus leitores imediatos, fazendo-os avaliar a fé que alegavam ter. Será que a minha fé é autêntica, ou é espúria? Sob esta ótica, Tiago desenvolve argumentos em sua carta objetivando traçar o perfil de um cristão genuíno que demonstra evidências de uma fé verdadeira.  Esta carta, e mais especificamente o texto em epígrafe, foi duramente criticada pelo reformador Martinho Lutero. Para ele, a carta de Tiago era uma epístola de palha, isto é sem peso frente a outras epístolas. Lutero não entendeu o principal ARGUMENTO TEOLÓGICO DE TIAGO 2:14-26: “A fé genuína sempre conduz o crente à ação obediente, i.e., as boas obras são o teste confirmatório da fé autêntica.”

OBS.: Tiago não está advogando em favor do ativismo: o fazer por fazer, sem levar em conta as orientações e preceitos bíblicos. Um cristão ativista busca fazer pelas motivações erradas. O ativismo gera pessoas orgulhosas, as boas obras que resultam da fé genuína, gera humildade e gratidão diante de Deus.

“É imprescindível que avaliemos seriamente a autenticidade da nossa fé” SOB TRÊS ASPECTOS (palavra-chave: ASPECTO)


1- A fé autêntica vai além da mera profissão verbal (vs. 14)

"Se alguém disser: TENHO FÉ". Não basta professar, é necessário implementar. Não existe vantagem ou utilidade nesta fé apenas professada. Tiago traz uma forte reprimenda para aqueles que resumem sua fé numa profissão verbal e não traduzem isto na prática. Tiago traz o questionamento: Onde estão as obras que comprovem esta profissão de fé? Esta fé por si só está morta, é a clara conclusão.

“Eu tenho fé, eu sou filho de Deus, eu sou convertido, Cristo é o meu Senhor”: são profissões ou confissões de fé verbalizadas por grande parte da cristandade, mas muitas vezes não resultam em evidências concretas. A oração do pecador, que muitas vezes é colocada para uma pessoa repetir, tem gerado muitos convencidos ao Cristianismo, não verdadeiros convertidos.

Os cristãos não devem vulgarizar a profissão de fé verbal vivendo um cristianismo sem essência. Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? (Lc. 6:46). É necessário que eu e você nos moldemos aos valores bíblicos e implementemos os princípios da Palavra de Deus em nossa vida, para que a nossa profissão verbal não gere dúvida em quem nos observa diariamente. Deus requer de seus filhos uma postura adequada, não apenas uma profissão verbal.

2- A fé autêntica vai além das declarações piedosas (vs. 15-16)

“Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos”, são declarações revestidas de bons desejos, de anseios ou intenções piedosas. Mas não é o bastante! Para Tiago, a fé genuína leva o cristão a arregaçar as mangas e envolver-se no reino do Senhor, servindo a Deus e ao próximo. Não podemos nos iludir com um cristianismo meramente de palavras, que consiste apenas de clichês ou chavões de piedade.

Para ilustrar, vejamos o que o apóstolo João escreveu em I João 3:17-18. João nos desafia a amarmos de fato e de verdade, ou seja, sem criar artifícios piedosos para fugir da nossa responsabilidade na prática. (Não é autêntica uma “fé” que fica apenas no campo do discurso e não resulta em práticas piedosas concretas). Em tudo o que Deus requer de nós, Ele mesmo já nos supriu dos recursos para obedecermos (2 Ped. 1:3).

“A paz do Senhor, Que Deus o abençoe, Graça e Paz”, podem se tornar chavões ou jargões piedosos, se não estiverem acompanhados de vida autêntica. Como posso ser canal de bênção na vida de uma pessoa? Como posso ser instrumento de graça e paz para edificar um irmão? Neste quesito precisamos investir nossos maiores esforços. “Irmão, estou orando por você”, mas o que posso fazer para ajudá-lo nesta situação que você está enfrentando?

Duas músicas apresentam este assunto de modo bem claro: As palavras não dizem tudo/Mesmo que o tudo seja fácil de dizer/Com certeza fala bem melhor o mudo/Se sua atitude manifesta o que crê (Música: Fonte - Sérgio Pimenta). Falo ao teu coração, de uma direção / Pra uma vida autêntica / Falo de ser um cristão, mas de viver pra Cristo / E não de fé semântica ( Música: Coisa séria - Guilherme Kerr)

3- A fé autêntica vai além das convicções teológicas (vs. 19)

“Deus é um só” – Num mundo politeísta, esta verdade teológica não era muito aceita e nem tolerada. Esta afirmação teológica é básica no judaísmo – “shema” (Dt. 6:4). Os judeus a recitavam pelo menos duas vezes por dia. Crer que Deus é um só implica que há somente um parâmetro de verdade. Deus é a verdade e d’Ele procede toda verdade.

O estudo bíblico sério e diligente é importantíssimo porque fornece a base para as nossas decisões e ações. Crer nas verdades teológicas e confiar na Palavra de Deus é fundamental na vida de todo cristão (Tg. 1:21). Mas não podemos ficar reféns do intelectualismo teológico, que não resulta em práticas cristãs coerentes. Este tipo de postura nos conduz a um autoengano fatal (Tg. 1:22).

Ter conhecimento bíblico adequado e coerente com as Escrituras é fundamental para o crescimento em piedade, mas se o nosso objetivo for apenas acumular informação, acumulamos também maior juízo sobre nós (a quem muito se deu, muito será exigido). Um lembrete sempre relevante: A ORTODOXIA SEMPRE DEVE NOS LEVAR À ORTOPRAXIA. O pregador puritano Thomas Manton escreveu: “Uma aceitação simples e superficial das verdades expostas na Palavra de Deus torna os homens mais cheios de conhecimento porém não melhores, nem mais santos, nem mais espirituais.”

Para Tiago, uma fé meramente intelectual (boa teologia e doutrina) não substitui a prática cristã. Podemos nos tornar meros admiradores das verdades bíblicas: “esta fé por si só é morta, não gera nenhum fruto”. Ao entendermos corretamente sobre a santidade e soberania de Deus, o que isto traz de mudanças práticas para a nossa vida? Qual será a nossa postura frente aos desafios do dia-a-dia, quando compreendermos adequadamente sobre a providência divina?

NA CONTRAMÃO DO VELHO HOMEM

Texto: Tiago 4:1-10

Paul Tripp, no seu livro "Em busca de algo maior", faz a seguinte afirmação: “O DNA do pecado é o egoísmo. Ele reduz a minha motivação, entusiasmo, desejo, cuidado e atenção aos contornos da minha própria vida.” (Cap. 7, página 87). O que o autor quer nos ensinar no seu livro é que somos essencialmente egoístas, porém a vida que Deus objetiva moldar em nós vai na contramão dos nossos próprios interesses. Precisamos trilhar o caminho em busca de algo maior, ou seja, em busca de interesses que não se resumem em nossa autossatisfação.

No texto lido em Tiago, temos uma série de exortações para um viver altaneiro, que nos liberta gradualmente das amarras do velho homem, EGOÍSTA por natureza. A repreensão de Tiago contra a carnalidade e a cobiça egoísta é muito franca e objetiva. Com vivacidade e utilizando imperativos, Tiago convoca os seus leitores a uma execução contínua da natureza pecaminosa. Afinal, uma evidência de que fomos regenerados é o surgimento de novos interesses, que divergem frontalmente do que agrada ao nosso velho homem. “Só uma coisa morta segue a correnteza. Tem que se estar vivo para contrariá-la.” (G.K. Chesterton)

Demonstramos a autenticidade da nossa fé quando seguimos na contramão dos interesses do velho homem

DE QUAIS MANEIRAS? (palavra-chave: Maneira)

1) Não rivalizando com o próximo para atender caprichos pessoais (vs. 1, 2)

Os crentes estavam ferindo uns aos outros com a língua e com um “temperamento” descontrolado. Havia uma hostilidade crescente entre os irmãos, certamente brigas, desavenças e estímulos à violência. Tiago enxerga o problema como fruto de cobiça carnal, o resultado da não-aplicação da sabedoria de Deus (Tg. 3:17). Desentendimentos, desavenças, partidarismo, um espírito belicoso, são fruto de um foco elevado em nossos direitos.

Paulo admoestou os efésios a cultivar a unidade espiritual (Ef. 4: 1-16); e até a igreja em Filipos enfrentava problemas por causa de duas mulheres que não se entendiam (Fp. 4: 1-3). Os nossos direitos e preferências pessoais devem ser deixados ao pé da cruz, para buscarmos a unidade no corpo de Cristo. Afinal, a ênfase para atender nossa vontade egoísta é nociva para qualquer relação humana, pois o foco não está na glória de Deus e nem no Seu reino. João Calvino escreveu: “Onde os homens amam a disputa, estejamos plenamente certos que Deus não está reinando ali.”

A guerra no coração contribui para causar as guerras nos relacionamentos! As causas de todos os conflitos estão arraigadas no nosso “eu”, portanto não devemos evitar uma autoconfrontação honesta. Qual a solução para os conflitos por motivações egocêntricas? Avaliemos o nosso amor a Deus, pois o nosso amor a Deus precisa ser tão real a ponto de estarmos dispostos a abandonar caprichos pessoais em prol da saúde dos nossos relacionamentos.

2) Não realizando súplicas de oração para satisfazer nosso egoísmo (vs. 3)

A palavra usada por Tiago (esbanjar) é a mesma que aparece em Lc 15:14, na história do filho pródigo. O cristão não deve pedir algo a Deus com interesses menores e escusos de viver à parte do Senhor. Deus não atende orações que não têm a glória dEle como principal objetivo. Aliás, Ele nunca atenderá um pedido que nos leve a pecar contra Ele. A oração endossada por Deus sempre tem a mesma ênfase da oração de Jesus no Getsêmani: “Seja feita a Tua vontade!”

É óbvio que oração não se constitui somente de pedidos, mas o que pedimos a Deus revela o que é prioridade em nossas vidas. Muitas vezes encaramos a oração como uma lista de tarefas para Deus realizar. As orações dos apóstolos são impregnadas de anseios santificados e desejos que não se concentram neste mundo. Quantas vezes já oramos para sermos fortalecidos na santificação ou para sermos cristãos perdoadores? Nós precisamos aprender a orar, reorientando nossos anseios mais profundos.

Os prazeres egoístas nos levam a viver em busca dos tesouros desta era hedonista, bem como os nossos anseios são direcionados para “escaparmos de problemas” e “vivermos felizes” neste mundo. Porém, um claro sinal de maturidade espiritual é a oração reverente e centrada em Deus, o clamor do servo que reconhece sua total carência e necessidade ante o trono da graça, fazendo calar todas as motivações carnais.

3) Não abandonando nossa lealdade a Deus para flertar com o mundo (vs. 4)

A palavra infiéis (moichalides) - significa “adúlteras”. No AT (Is. 54:1-6 e Jr. 2:2; 3:20) esta metáfora era usada para descrever a apostasia espiritual, especialmente a idolatria do povo de Israel. Nenhum marido ou esposa se contentaria com menos do que exclusividade total em relacionamento conjugal.

Ser mundano é viver como se Deus não existisse ou como se Sua vontade não fosse relevante para nossas vidas. Não seja um Demas, que amou o presente século, e abandonou o serviço a Cristo (2 Tm. 4:10). Alguns indicativos de afeições com o mundo: seguir a multidão; imitar os pagãos; buscar a aceitação; baixar padrões; relativizar valores; negociar princípios; estabelecer alianças. Soren Kierkegaard advertiu: “No dia em que o cristianismo e o mundo se tornarem amigos, o cristianismo deixará de existir.”

COMO CONSTATAR SE ESTAMOS COM AFEIÇÕES DIRECIONADAS PARA O MUNDO? Se a nossa maior atenção é voltada para o que é temporário (fama, sucesso, riquezas, status), em lugar do que é eterno (amadurecimento na fé, santidade, valores espirituais). Jesus disse que “onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Mt. 6:21). Temos vivido como “propriedade exclusiva do Senhor”, a ponto de Lhe dedicarmos sem reservas nossa lealdade? Temos vivido como peregrinos e forasteiros, que almejam uma pátria superior (Hb. 11:16)? Temos buscado agradar a Cristo em nosso cotidiano, constrangidos pelo Seu imenso amor?

quinta-feira, 13 de março de 2014

Sobre a oração

A oração é, e sempre foi, o lado ativo da doutrina da providência. A  oração é o reconhecimento, não do benefício psicológico de algum exercício  mitológico, mas do fato de que nós cremos que Deus existe, que Deus se  importa conosco, que Deus está no controle e que Deus providencia tudo, e  cremos de tal modo que estamos dispostos a fazer alguma coisa com base nisso,  isto é, a falar com ele. 

A providência nos lembra que não passamos de  criaturas, que somos dependentes de Deus e que, junto com o mundo todo,  estamos sob o senhorio de Deus; a oração é uma atividade pela qual  reconhecemos que não podemos ser nosso próprio senhor. A providência nos  lembra que nem tudo é desesperadamente absurdo ou sem sentido; a oração  é a nossa maneira de dizer "sim" diante da convicção de que Deus está operando os seus propósitos na natureza, nos homens e na história. A providência é um lembrete de que o Senhor é um Deus de graça e  generosidade; a oração é a nossa maneira de responder ao seu convite para  fazermos parte da família da sua aliança, para sermos seu filho ou sua filha,  seus cooperadores neste mundo. A providência nos lembra que o Deus vivo  não é um destino imutável diante do qual só podemos manter silêncio e ficar  passivos; a oração é a nossa reação diante do convite de Deus para que  partilhemos da comunhão com ele, uma expressão da nossa união com ele. 

Portanto, através da oração nós expressamos a nossa confiança na  providência de Deus e descobrimos como a nossa própria vontade deve ser  alinhada com a sua vontade soberana e cheia de amor por nós. A nossa  ação na oração se encontra na sua resposta transformadora.


Autor: DAVID ATKINSON
Extraído do livro: A Mensagem de Rute

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A glória de Deus

Como cristãos, creio que precisamos pensar mais sobre a Glória de Deus, e o impacto dela sobre as nossas vidas aqui na terra. É impossível desenvolvermos maturidade espiritual se não aprofundarmos nossa percepção sobre a grandeza e majestade do Senhor, glorioso Criador e Sutentador de todas as coisas. Há muito raquitismo e pouco desempenho efetivo do serviço para o Reino de Deus porque temos uma visão míope da glória do Senhor. Por isso, compartilho aqui uma breve lista que John Piper apresenta para aclarar a nossa percepção:

  • a glória de sua eternidade, que faz com que a mente queira explodir com o pensamento infinito de que Deus nunca teve um começo, mas simplesmente sempre foi;
  • a glória do seu conhecimento, que faz com a Biblioteca do Congresso parecer uma caixa de fósforos, e um estudioso de física quântica, um leitor de primeira série;
  • a glória da sua sabedoria que nunca foi e nunca poderá ser aconselhadas pelos homens;
  • a glória de sua autoridade sobre o céu, a terra e inferno, sem cuja permissão nenhum homem e nenhum demônio pode se mover um centímetro;
  • a glória da sua providência, sem a qual nem um pássaro cai no chão ou um único fio de cabelo fica cinza;
  • a glória da sua palavra que sustenta o universo e mantém todos os átomos e moléculas juntos;
  • a glória do seu poder para andar sobre as águas, limpar os leprosos, curar o coxo, abrir os olhos dos cegos, fazer com que o surdo ouça, acalmar tempestades com uma palavra, e ressuscitar os mortos;
  • a glória da sua pureza para nunca pecar, ou ter segundos de má atitude ou um mau pensamento;
  • a glória da sua credibilidade de nunca quebrar Sua palavra ou deixar uma promessa cair por terra;
  • a glória de sua justiça para acertar todas as contas morais do universo ou na cruz ou no inferno;
  • a glória da sua paciência para suportar nossa apatia década após década;
  • a glória da sua soberania, com obediência como a de um escravo para abraçar a dor excruciante da cruz voluntariamente;
  • a glória da sua ira que um dia levará pessoas a clamar às rochas e às montanhas que caiam sobre elas;
  • a glória da sua graça que justifica o ímpio; e
  • a glória do seu amor que morre por nós mesmo sendo nós ainda pecadores.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

O Autor do ser

Um dos conceitos teológicos mais profundos é que Deus é o Autor do ser. Não poderíamos existir a parte de um Ser supremo, porque não temos o poder de ser em e por nós mesmos. Se qualquer ateísta pensasse séria e logicamente sobre o conceito de ser, por cinco minutos, isso seria o fim do seu ateísmo. Um fato inevitável é que ninguém neste mundo tem, em si mesmo, o poder de ser e que, apesar disso, estamos aqui. Portanto, de fato, deve haver Alguém que tem, em si mesmo, o poder de ser. Se não houvesse tal Ser, seria absoluta e cientificamente impossível que alguma coisa existisse. Se não houvesse nenhum ser supremo, não poderia existir nenhum tipo de ser. Se algo existe, tem de haver algo que tem o poder de ser, do contrário, nada existiria. É simples assim.

Paulo disse aos filósofos de Atenas que tudo o que Deus cria é totalmente dependente do poder de Deus, não somente quanto à sua origem, mas também quanto à continuidade de sua existência: "Pois nEle vivemos, nos movemos e existimos" (At. 17:28).

Portanto, somos dependentes de Deus, não somente quanto à nossa origem, mas também quanto à continuação da nossa existência. Visto que não temos o poder de ser em e por nós mesmos, não podemos subsistir, nem por um segundo, sem o poder sustentador de Deus. Isso é parte da providência de Deus.


Extraído com adaptações do livro: DEUS CONTROLA TUDO?
Autor: R. C. Sproul

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Um checkup espiritual

Texto: Marcos 14:17-21

Questionado por que tantas pessoas em idade jovem tem infarto, o médico que estava sendo entrevistado prontamente respondeu: “Muitos casos de infarto poderiam ser evitados com atividade física e consulta ao cardiologista regularmente”. Esta consulta e os exames de rotina que a acompanham ficou conhecida como check-up. O check-up é um procedimento importante para prevenção de doenças e manutenção da saúde do nosso organismo. Muitas doenças, quando são diagnosticadas no início, podem ser tratadas e possuem maior chance de cura. Por isso a importância de ser avaliado clinicamente por algum médico com certa regularidade.

A Bíblia é um livro que nos faz constantes exortações para realizarmos um check-up da nossa alma, do nosso estado espiritual. Ela é como um espelho que revela em nós o que não está correto e aquilo que precisa de ajustes. O pregador no livro de Provérbios disse: “Pondera a vereda dos teus pés” (Pv. 4:26, literalmente “pese em balança de precisão”), ou seja, avalie criteriosamente em que caminhos e como você tem caminhado. É importante um check-up regular de nossas vidas tendo como padrão a santa Palavra de Deus. Escrevendo à igreja de Corinto o apóstolo Paulo foi direto ao ponto: “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2 Cor. 13:5). Portanto, o exame criterioso das nossas vidas é sempre enfatizado tanto no AT como no NT das Escrituras.

No ministério de Jesus, doze homens foram escolhidos para andar com Ele e partilhar do Seu ministério terreno. Dentre eles, havia Judas Iscariotes, que no final do ministério traiu Jesus entregando-o aos sacerdotes com um beijo no rosto por 30 moedas de prata. Neste texto em epígrafe, Jesus está celebrando a Páscoa (Pesach judaica) com os seus discípulos e todos os 12 estavam presentes no cenáculo. Neste encontro particular, Jesus reparte o pão com seus discípulos e compartilha o cálice, associando com Seu próprio corpo que seria moído e o Seu sangue que seria vertido para salvar pecadores. Aquele momento foi singularmente importante na vida de todos os presentes, um momento de profunda alegria, tensão e anseios espirituais. Jesus então utiliza-se da sua onisciência como Deus e faz uma revelação perturbadora. O relato bíblico é extremamente conciso, mas rico em ensinamentos para nossas vidas. Com base no que foi dito e lembrando da importância de uma averiguação precisa da condição da nossa alma, eu afirmo que:

“À luz deste texto bíblico, precisamos averiguar seriamente qual o nosso real estado espiritual”

Por meio de algumas perguntas:

· Palavra-Chave: PERGUNTAS (que perguntas?)

· S.I. Que perguntas este texto bíblico nos apresenta para que averiguemos seriamente qual o nosso real estado espiritual?

· S.T. O texto bíblico nos apresenta algumas perguntas para que averiguemos seriamente qual o nosso real estado espiritual.

O médico geralmente faz perguntas numa consulta a fim de dar o diagnóstico. De acordo com as respostas do paciente, o médico pode traçar a melhor forma de tratamento ou recomendar alguns exames para maior investigação. Permitamos que o texto bíblico nos faça algumas perguntas para sermos averiguados quanto ao nosso real estado espiritual.

1) A comunhão que demonstramos ter com Cristo é genuína?

Sentar à mesa e comer na cultura judaica é uma expressão de comunhão íntima, um momento extremamente precioso e que delineia laços de afinidade profunda. Packer e Merril, no livro Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos escrevem: “Partir o pão juntos, significava dizer: Somos amigos; partilhamos de um laço comum. Tais sentimentos são evidentes por toda a Bíblia. É como se o comer fosse mais do que mera ingestão de alimento; é participar em tudo quanto significa pertencer a uma família e partilhar essa mutualidade com os que nos cercam.” Durante a refeição da Páscoa, eram cantados pela família reunida os Salmos do Halel (SI. 113-118). Portanto, aquele era um momento de profunda afeição mútua entre os que estavam naquela celebração íntima na presença do unigênito Filho de Deus, mas o coração de Judas estava cheio de cobiça. Sua mente não estava compenetrada na singularidade daquele momento com Cristo, pois os seus propósitos eram egoístas e maliciosos. Judas conviveu por 3 anos com Jesus, tinha proximidade com aquele que é a Luz do mundo, com aquele que é o caminho, a verdade e a vida.

Para ilustrar este ponto, quero destacar o ensino do apóstolo João: “Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. Se dissermos que mantemos comunhão com Ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.” (1 Jo. 1: 5-6). A prova cabal da comunhão com Deus é um viver na luz.

Ter comunhão com Jesus é algo sério. É partilhar dos seus interesses e propósitos para a nossa vida. É ter a Sua Palavra em alta consideração, é dobrar os nossos joelhos ante a Sua majestade, é trilhar o caminho da renúncia do “eu” para que o brilho de Cristo resplandeça cada vez mais. É vivenciar momentos agradáveis de restauração do nosso vigor para lutarmos bravamente contra o pecado que tenazmente nos assedia. É priorizar o reino de Deus e a Sua justiça, voltando os nossos olhos para o que é eterno. A comunhão bendita com o Senhor é um privilégio que necessariamente deve transformar as nossas vidas, nos tirando da zona de conforto em que estamos acostumados a viver. Quem goza desta comunhão produz os frutos do Espírito, como amor, alegria e paz. Ter comunhão com Jesus é desfrutar do alimento espiritual mais precioso que podemos experimentar. Nossas almas sofre de inanição quando não cultivamos a comunhão com Deus por intermédio de Cristo Jesus, sob o poder capacitador do Espírito Santo.

Portanto, não vamos pensar infantilmente que podemos ter uma caricatura de comunhão com Aquele que tudo sabe a nosso respeito. Podemos até passar uma imagem para os outros que somos pessoas de oração e relacionamento autêntico com Cristo, mas Deus conhece se temos sido verdadeiros. Não podemos mentir ao Espírito sobre a condição da nossa alma. A pergunta mais importante a ser respondida neste ponto é: “Eu desfruto de comunhão sincera e livre de embaraços com o meu Senhor e Salvador Cristo Jesus?” Quando me prostro em oração e louvor a Deus, sou de fato movido por sinceridade e inteireza de coração? Ou continuo abrigando interesses mesquinhos e propósitos egoístas?

Um teste eficaz para checar se temos comunhão genuína com Cristo é perceber qual a nossa reação imediata quando as nossas expectativas não são satisfeitas neste mundo. Expectativas não satisfeitas podem gerar frustração, desapontamento e até ira. Quando nossa comunhão com Cristo é autêntica estes sentimentos e pecados não encherão o nosso coração, pois confiamos que na soberana vontade do Senhor estamos na melhor situação que poderíamos estar.

C. H. Spurgeon certa vez afirmou: “Se formos fracos em nossa comunhão com Deus, seremos fracos em tudo.” Com a devida licença do príncipe dos pregadores eu afirmaria o seguinte: “Se formos falsos em nossa comunhão com Deus, seremos falsos em tudo”. De fato, nossa vida será repleta de máscaras quando negligenciamos a sinceridade no relacionamento com o Senhor. Os nossos relacionamentos interpessoais serão afetados com a hipocrisia, os nossos atos de serviço serão manchados pela mentira e os nossos valores se tornarão extremamente terrenos e carnais.

2) O pesar que sentimos quando somos confrontados por Cristo é genuíno?

Quando Jesus proclama “em verdade vos digo”, ele traz um tom solene ao seu anúncio, uma garantia da veracidade com a qual sempre se dirigiu aos discípulos. O texto aponta que após Jesus anunciar que um dentre os doze havia de O trair, os discípulos “começaram a entristecer-se”. O texto paralelo narrado por Mateus diz que eles ficaram “muitíssimos contristados”. A palavra é bem forte, transmite a ideia de um pesar profundo, comparado ao pesar de uma pessoa em luto. O momento era de celebração da Páscoa, um momento de lembrar o grandioso livramento do povo judeu, que saiu do Egito sob a mão poderosa do Senhor. De repente, o Senhor faz um anúncio tão delicado: o assunto da traição é trazido à tona em meio à celebração de um festa entre amigos íntimos. Podemos afirmar que o clima ficou pesado, gerado pela revelação de um fato já conhecido por Cristo. O ar de tranquilidade e aceitação mútua que caracteriza o compartilhar uma refeição foi imediatamente rompido por essas palavras de Jesus. O fato de destaque é que Judas estava entre aqueles que ficaram extremamente tristes no cenáculo, mas esta tristeza foi apenas aparente, não trouxe mudanças reais na vida de Judas.

Você já ouviu falar da expressão “lágrimas de crocodilo”? A origem da expressão é biológica. Quando o crocodilo está engolindo um animal, a passagem deste pode pressionar com força o céu da boca do réptil, o que comprime suas glândulas lacrimais. Assim, enquanto ele devora a vítima, caem lágrimas de seus olhos. São lágrimas naturais mas obviamente não significam que o animal se emocione ou sinta pena da sua presa. Daí vem a expressão “lágrimas de crocodilo”, querendo dizer que, embora a pessoa chore, suas lágrimas não significam que ela esteja sofrendo, e muitas vezes são mesmo apenas um fingimento. Irmãos, muitas vezes, podemos estar dominados pelos sentimentos de pesar quando somos confrontados pela Palavra e até choramos, mas não há avanço em direção ao que deve ser implementado em nossas vidas.

Pesar espiritual, contrição e coração quebrantado são uma parte importante da verdadeira espiritualidade, de acordo com as Escrituras. “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt. 5:4). “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus” (Sl. 51:17). “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e vivificar o coração dos contritos”. (Is. 57:15). O abatimento de espírito e a contrição são legítimos quando entendemos a seriedade do nosso pecado diante de Deus. Mas de nada vale uma falsa contrição ou um pesar espiritual sem sinceridade. O pesar que Davi sentiu quando foi confrontado pela Palavra de Deus, por meio do profeta Natã foi profundo e genuíno, pois o levou a sair da zona de conforto e da inércia em que estava.]

Paulo escreveu que somente a tristeza segundo Deus gera arrependimento para a vida e salvação (2 Co. 7:10). O nosso pesar quando somos confrontados pela Palavra de Deus deve nos levar à mudanças efetivas. Ele só tem real valor se nos conduzir a uma nova postura diante do Senhor. Não adianta dizer: “a mensagem foi muito forte”, enquanto não usarmos a força que Deus supre para tratar o que está em desarmonia com as Escrituras. Não adianta dizer que “o sermão mexeu comigo”, enquanto não sairmos de fato do comodismo espiritual. Não adianta dizer: “a Palavra foi tremenda, foi impactante”, ou algo do gênero, se a prática dos ensinos é ignorada ou deixada em segundo plano. É imprescindível, portanto, que o pesar gerado pela confrontação do Senhor mediante a Sua Palavra nos mova em direção à santificação.

Só podemos afirmar que o nosso coração se entristece sinceramente quando confrontado pela Palavra de Deus, quando os resultados são visíveis. Por exemplo, se ficamos entristecidos porque não temos um coração perdoador com a Bíblia nos exorta, a autenticidade deste pesar só será comprovada quando evidenciamos a prática do perdão bíblico com o nosso irmão(ã).

3) O compromisso que assumimos diante de Cristo é genuíno?

Ao perguntar “porventura sou eu?”, cada discípulo queria deixar evidente que estava comprometido em não ser aquele que Jesus anunciou como “o traidor”. O texto diz que os discípulos, um após o outro, começaram a questionar o Senhor. A tônica da pergunta esconde um receio, mas também um desejo por não ser o traidor anunciado: “certamente não sou eu quem tamanho ultraje praticará”. O comentarista Warren Wiersbe escreve: As perguntas dos discípulos deixam implícita uma resposta negativa: “Não sou eu, certo?” No texto paralelo, em Mateus 26:25, lemos que o próprio Judas fez o questionamento: “Acaso sou eu, Senhor?” Jesus respondeu categoricamente: Tu o disseste! Judas não tinha compromisso com Cristo e isto ficou evidente o longo do ministério de Jesus. Ele ficava responsável pela coleta de ofertas, e embolsava sua parte. Judas era frio e calculista, um homem que agia com segundas intenções. Quando expressa interesse pelos pobres, sua motivação real era regida por uma materialista ambição.

E por falar em compromisso assumido diante de Cristo é impossível não lembrarmos do apóstolo Pedro. Ele era um líder nato, e, por assumir muitas vezes esta posição, acabava enfiando os pés pelas mãos. Sua precipitação com as palavras era notória. Quando Jesus afirmou que todos os discípulos se escandalizariam e O abandonariam, Pedro imediatamente falou: “AINDA QUE TODOS TE ABANDONEM, EU, JAMAIS!” (Mc. 14: 27-31). Neste momento Pedro recebeu a famosa advertência que antes que o galo cantasse, ele negaria a Jesus três vezes. Pedro ainda insistiu com veemência: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei.”

Muitas vezes o nosso compromisso é como fogo de palha (de pouca duração, passageiro), pois é movido por picos de entusiasmo e pouco discernimento. O compromisso que assumimos com o Senhor deve ser perseverante, um compromisso que autentica a nossa fé é estável e constante. Não perfeito; mas um compromisso assumido com fidelidade. Podemos falar de compromisso em várias áreas: compromisso com o testemunho cristão, com a santificação, com a Palavra, com a alegria, com a família, oração, adoração, evangelismo, missões, etc. Mas em primeiro lugar está o compromisso que assumimos com Cristo, sem este compromisso firmado todos os demais desembocam em ativismo ou legalismo.

Não apenas Judas pode ser apontado como um discípulo sem compromisso genuíno. Os discípulos que ficaram dormindo ao invés de orarem (Mc. 14: 37 e 40); os demais que também desertaram e fugiram apavorados quando Cristo foi preso (Mc. 14:56); e Pedro que negou abertamente a Cristo por três vezes naquela noite. A pergunta é: quanto custa o seu compromisso com Jesus? Usando um pergunta contextualizada do nosso tempo: qual é o seu preço? Quando o que está em jogo é firmar o compromisso com Cristo e amargar as consequências, ou abrir mão deste compromisso e sair bem na fita deste mundo, qual é a nossa decisão? A nossa postura como cristãos deve declarar em alto e bom som que o nosso compromisso com Cristo vai até as últimas consequências.

Deus requer de seus servos autenticidade no compromisso assumido. Não podemos ficar em cima do muro, sem decidir de que lado vamos ficar. Para evidenciarmos este compromisso no contexto em que vivemos é necessário começar com duas virtudes: CORAGEM e RENÚNCIA. Coragem para dizer não, quando todos a nossa volta dizem sim; coragem para defender princípios que são considerados ultrapassados ou fora de moda; coragem para ficar do lado certo, mesmo sendo injuriados e criticados; coragem para ser um perseguido por causa da justiça; coragem para falar ousadamente a verdade do Evangelho num mundo pluralista e relativista. E muita renúncia para destronar o eu, e fazer a vontade de Cristo nas decisões que tomamos; renúncia para priorizarmos o reino de Deus, e não o nosso; renúncia para desistir das ambições egoístas que este mundo quer nos vender; renúncia para dar as costas para o pecado e viver segundo a reta Palavra de Deus.

 

Sermão pregado dia 05/01/14, IBR Jardim Amazonas.
Petrolina-PE

Liderança espiritual

John Piper define bem o que é a liderança espiritual:

“Eu defino liderança espiritual como saber onde Deus quer que as pessoas estejam e tomar a iniciativa de utilizar os métodos de Deus para levá-los lá confiando no poder de Deus. A resposta para onde Deus quer que as pessoas estejam é numa condição espiritual e estilo de vida que mostre a Sua glória e honre o Seu Nome.

Portanto, o objetivo da liderança espiritual é que as pessoas venham a conhecer a Deus e glorificá-lo em tudo o que elas fazem. A liderança espiritual é direcionada não tanto para orientar pessoas, mas para mudar as pessoas. Se quisermos ser o tipo de líderes que devemos ser, temos de fazer o nosso objetivo desenvolver pessoas, em vez de estabelecer planos.

Você pode levar as pessoas a fazer o que quiser, mas se elas não mudam em seu coração, você não as liderou espiritualmente. Você não as liderou para onde Deus quer que elas estejam.”

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A fé que traz crescimento

A fé que nos impulsiona a crescer em maturidade na vida cristã é certamente um dom de Deus. O homem pecador não pode crescer em semelhança com o caráter de Cristo porque não tem capacitação espiritual para isso. Somente após o novo nascimento, que também é mediante a fé em Cristo Jesus, o homem passa a empreender um novo caminho em sua vida. Não digo que é um caminho fácil, pelo contrário, haverá inúmeras dificuldades, a luta contra o eu, contra o mundo e contra forças espirituais. Mas o crente que possui a fé salvadora necessariamente demonstrará crescimento em sua vida diária.


A fé que produz crescimento está fundamentada na certeza de que a Palavra de Deus é viva e eficaz. A Bíblia deve ser a regra de fé e de conduta de todo cristão. A partir do momento em que desprezamos o ensino bíblico, também não experimentaremos nenhum crescimento na vida cristã. O aprendizado das Escrituras nunca será um fardo para aqueles que foram salvos pela fé em Cristo, pois o maior prazer do cristão é viver sob a luz do Evangelho crescendo em santificação. Para isso, todos os recursos espirituais necessários estão disponíveis para o crente exercer a sua fé de modo digno do Evangelho de Cristo.
 
Portanto, a fé cristã é fundamental para trazer crescimento espiritual. Somente por meio da fé genuína na obra redentora de Cristo Jesus, o crente é suprido com a vitalidade para produzir frutos e viver para a glória de Deus.
 
 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

REFINAMENTO

Texto: Jó 42: 1-6

O apóstolo Pedro faz uso da ideia de sofrimento causado pela perseguição e comparar com fogo ardente. “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo” (1 Pedro 4:12). O fogo sempre foi utilizado para refinar metais preciosos, pois o calor expurgas as impurezas e remove as escórias. No livro do profeta Isaías, Deus anuncia ao Seu povo em Jerusalém: “Voltarei contra ti a minha mão, purificar-te-ei como com potassa das tuas escórias e tirarei de ti todo metal impuro” (Is. 1:25). Seja por meio de um processo natural de sofrimento pelo qual passamos neste mundo, ou seja pelo sofrimento proveniente da disciplina do Senhor, a intenção é sempre tirar as impurezas e refinar o Seu povo.

Deus sempre nos quer melhores, refinados e mais úteis para Ele. Com este objetivo em mente, Ele não nos poupará de nenhuma circunstância dolorosa. Jó era homem íntegro e reto, mas o sofrimento ao qual foi submetido serviu para refinar ainda mais este servo do Senhor. Mesmo sendo doloroso, Deus coordenou as circunstâncias na vida do Seu servo para torná-lo ainda melhor. Manifestando-se em meio a um redemoinho, o Senhor falou majestosamente e Jó apenas ouviu. Naquele processo de dor e sofrimento, o servo Jó foi refinado.

! "Deus tem propósitos singulares ao nos refinar por meio do sofrimento"

? Quais são os propósitos singulares de Deus ao nos refinar por meio do sofrimento?


1) Para que nos sujeitemos ao governo absoluto do Senhor (vs. 1, 2)

“Tudo podes” e “Nenhum dos Teus planos”, colocam o governo de Deus no campo do absoluto. Jó precisava entender que quem governa tudo é o Senhor, sujeitando-se ao Seu governo. Enquanto Jó se debatia querendo saber os "porquês" e "para quês" da sua situação, Deus se revela majestosamente e anuncia "QUEM" é ELE. As obras magníficas do Senhor na criação atestam claramente que Ele reina soberano. Os planos do Senhor jamais serão impedidos por homem algum (nem por Satanás), pois nada está fora do Seu governo absoluto. Satanás tentou destruir a confiança de Jó através do sofrimento, mostrando que Deus não era nem soberano nem amor; mas Jó se curva diante da soberania de Deus.

Deus soberanamente dirigiu o povo de Israel para o mar Vermelho, um verdadeiro beco sem saída. Deus também moveu o coração do Faraó para perseguir o povo de Israel: “Endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga” (Ex. 14:4). Portanto não havia nada fora de lugar naquela ocasião, o Senhor tinha tudo sob o Seu controle.

Precisamos dobrar a cerviz e reconhecer quem Deus é. Ele está acima e além do nosso mundo, governando soberanamente cada detalhe da Sua criação, e nada pode mudar o que Ele decretou. Falar sobre a soberania de Deus é até fácil. O difícil é dobrar-se diante dela, e saber que os planos de Deus, por mais dolorosos que sejam, ainda assim são os melhores para a nossa vida. Precisamos de corações submissos ante a Soberana vontade de Deus, que é sempre boa, perfeita e agradável. Viver com base na soberania de Deus traz paz e descanso ao nosso coração, o que Ele faz está em plena harmonia com o Seu amor e graça.

2) Para que reconheçamos a nossa própria limitação (vs. 3, 4)

Jó declara: "Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia." Jó reconheceu que seu entendimento era limitado, sua percepção era limitada e sua argumentação era limitada. Ao longo do livro, Jó na sua angústia levou aos céus 16 vezes a pergunta: POR QUE? Ele também trouxe ao Senhor muitas queixas: estão registradas 34 queixas contra Deus. Por ser limitado no saber, Jó precipitou-se em falar muitas palavras. Mas no verso 4, Jó reconhece que a sua posição é de um mero aprendiz e não de professor. Em 14 vezes Deus pergunta a Jó usando expressões como “quem gerou, quem encerrou, quem criou, onde você estava”.

Nós somos limitados. Deus é tapeceiro sabe o fim desde o começo e não se engana. Nós não temos condição nenhuma de enxergar além do que nos foi estipulado, e precisamos desistir de criar respostas ou argumentos especulativos.

Vivemos numa época de humanismo desenfreado. O homem se tornou o centro de tudo. A ênfase do nosso tempo baseia-se em autossatisfação, em autopromoção, e autoestima. As mensagens hoje em dia giram em torno de: "Você precisa potencializar o seu valor interior", "você precisa descobrir o poder de autorrealização", "você precisa descobrir-se e valorizar a si mesmo". E nesta busca desenfreada, o homem tem ignorado a sua limitação, e que a solução não está em fórmulas humanas aprendidas no consultório de psicanálise.

Portanto, Deus nos refina por meio do sofrimento para que deixemos de lado os "AUTOS", para que a nossa limitação seja evidente e desistamos de buscar todas as respostas por nós mesmos. Nós somos limitados até para entender o que está escrito nas Escrituras, por isso precisamos depender constantemente do Professor divino, o Espírito Santo, que nos guia a toda verdade.


3) Para que aprofundemos nosso relacionamento com o Senhor (vs. 5,6)

O paralelo que Jó estabelece entre OUVIR e VER tem o propósito de mostrar que ele melhorou ao passar por tudo aquilo. Sua percepção sobre Deus e sobre si mesmo o levou a enxergar a necessidade de mudanças efetivas na relação com Deus. Ele também se abominou e arrependeu no pó e na cinza, que é uma expressão de profundo pesar. Quando o sofrimento pelo qual passamos não nos leva a aprofundar nosso relacionamento com Deus, e nem nos faz nos arrepender de nossa arrogância, é sinal de que nossa espiritualidade vai muito mal.

O espinho na carne na vida de Paulo trouxe-lhe grande sofrimento. O apóstolo suplicou ao Senhor que aquele espinho fosse afastado de sua vida, mas o Senhor tinha outros propósitos: tornar Paulo mais dependente da graça de Deus e quebrar o orgulho que Paulo poderia ter pelas revelações que recebeu (1 Cor. 12:7-10).

Deus utiliza-se do sofrimento para trazer à tona o que precisa ser tratado em nossos corações e vidas. Sofrer em si não é motivo de alegria, mas os resultados que surgem deste processo doloroso devem ser motivo de regozijo.

O que nos impede de crescer e amadurecer na fé? Deus não nos poupará de sofrimento/disciplina para trazer-nos à realidade, e despertar em nós a necessidade de amadurecimento e progresso na fé. Se for necessário tirar de nós algo muito precioso, Ele o fará a fim de que o Seu nome seja glorificado e que o nosso caráter como cristãos seja aperfeiçoado.

Impiedade

Texto: Salmo 36: 1-4

“A carapuça lhe serviu? Se a carapuça lhe serviu, então você pode usá-la também.”

Esta sugestão geralmente é feita por alguém que traz à tona alguma acusação ou denúncia, e seu interlocutor também se encaixa na denúncia descrita ou carrega também a culpa pela mesma denúncia. Nos julgamentos da Inquisição portuguesa e espanhola, os acusados compareciam perante os tribunais religiosos vestidos com um chapéu longo e pontiagudo, geralmente em formato de cone (em castelhano carepuza). O acusado vestia a carapuça como sinal visível para o tribunal de aceitação da culpa. Então, o ditado “usar ou vestir a carapuça” assumiu esta mesma conotação: aceitar ou assumir a culpa diante de uma denúncia feita por alguém, pois se encaixa perfeitamente no contexto.

Inicialmente podemos ficar um tanto confortáveis presumindo que este texto só se aplica a pessoas que definitivamente e declaradamente não andam com Deus, aqueles que são descritos como “os ímpios” conforme o verso 1. De imediato podemos concluir que o salmista está se referindo àquelas pessoas abertamente inimigas de Deus. Mas com um olhar mais cauteloso para o texto, é possível que sejamos culpados das mesmas acusações que o salmista faz com relação ao ímpio. Será que a carapuça serve em nós? Se não for a graça de Deus atuando em e através de nós, temos o potencial de pecado para cometer as mais terríveis abominações. Através de denúncias muito claras, o salmo inicia-se com um forte tom contra os ímpios. Como diz o verso 1, A impiedade é resultado da falta do temor do Senhor.

O Salmo 36 é bem contrastante: inicialmente ele descreve a forma como a impiedade se alastra na vida de alguém que não teme ao Senhor (vs. 1-4), depois ele apresenta uma bela expressão de louvor/adoração a Deus. Este contraste serve para nos humilhar e constranger: O Senhor é tão bom, fiel, justo em Seu caráter e gracioso em Seus benefícios. Diante deste maravilhoso Deus como nos portamos? Vivemos à altura de tão gracioso amor, ou nos rebelamos contra o Seu querer, vivendo tal como ímpios?

A pergunta que faço é a seguinte: “Será se a carapuça vai nos servir? Será que as graves denúncias feitas por Davi com respeito aos ímpios se encaixam com o padrão das nossas vidas?” Vamos analisar o texto a fim de perceber se temos as características de um estilo de vida ímpio.

Será que as denúncias feitas contra o ímpio neste salmo se encaixam em nossas vidas?

Palavra-chave: denúncias

1) Acalentar falsas ilusões com relação ao pecado - vs. 2“e lhe diz que a sua iniquidade não há de ser descoberta, nem detestada.” Nesta denúncia, o salmista apresenta o ímpio como alguém que pensa que sua vida está acima de qualquer suspeita. O homem sem temor de Deus começa a se gabar por suas peripécias pecaminosas. Ele engana a si mesmo com a ideia de que não será descoberto em suas ações. Além de pensar que nunca será descoberto, ele também presume que nunca sofrerá algum dano. Quando alguém passa a desprezar o temor do Senhor, o primeiro resultado é insensibilidade em relação ao pecado. Assim, o pecado cria raízes cada vez mais profundas e escraviza o homem, tirando-lhe a percepção da rebeldia do próprio coração.

O profeta Amós trouxe um sério alerta ao povo que vivia na prática de idolatria, mas não se importavam em ser confrontados: “Ai dos que andam à vontade em Sião e dos que vivem sem receio no monte de Samaria” (Am. 6:1). Será que temos andado à vontade e despreocupadamente, pensando infantilmente que nossas transgressões estão bem guardadas? Quem nos iludiu com este pensamento tão ingênuo, que o nosso pecado passará despercebido? Ou que não haverá consequências danosas pelo mal cometido?

Quando Acã pegou a capa babilônica e escondeu debaixo da sua bagagem, ele certamente nunca imaginou que seria descoberto e que pagaria com a própria vida e a de seus familiares (Js. 7:11). O pecado será sempre ofensivo a Deus, e certamente não ficará impune de modo nenhum.

Os investigadores policiais geralmente dizem que “Não existe crime perfeito”. Por mais esperto que seja o assassino ou ladrão, a cena do crime traz provas e pistas para a polícia. Um fio de cabelo, um pedaço de unha, uma peça de roupa. Tudo pode ser utilizado na investigação. Eu diria que ao olhos do Senhor, não existe pecado que ficará sem cobrar o seu preço na vida de alguém. Não podemos esquecer jamais que em algum momento o pecado cobrará a sua conta: “o vosso pecado vos há de achar” (Nm. 32:23). Não relativizemos o pecado, porque ele nunca relativizará os prejuízos em nossas vidas. “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção.” (Gl. 6:7-8)

O pecado tem um poder ludibriante. Ele deseja nos enganar ao ponto de relativizarmos valores e princípios da palavra de Deus. Ele nos ilude fazendo-nos crer que estamos seguros, e nesta falsa sensação de segurança muitos prosseguem nas suas práticas pecaminosas sem nenhum temor. É um traço bem característico de um estilo de vida ímpio: criar e confiar em falsas ilusões quanto à malignidade do pecado, sem dar importância ao efeito devastador que trará para sua vida e para outros ao seu redor.

2) Empregar as palavras com sagacidade - vs. 3a“As palavras de sua boca são malícia e dolo” - As palavras gotejam da sua boca como água suja da pia (E. Peterson)

O salmista faz mais uma denúncia: o uso indiscriminado de palavras com base em mentiras, com intuitos maliciosos para arruinar relacionamentos/pessoas. Palavras carregadas de engano e malícia brotam facilmente nos lábios do ímpio, pois cada um só dá o que tem. A mentira é o meio de distorcer a verdade para tirar algum proveito da situação, ou livrar-se de contratempos. Palavras cheias de falsidade procedem de um coração que não teme com sinceridade ao Senhor.

No Salmo 19:14, Davi ora assim: “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam sempre agradáveis na Tua presença, Senhor, Rocha minha e Redentor meu.” Este também deve ser o nosso sincero desejo, que brota de nossos corações. Tiago também inicia o capítulo 3 de sua carta denunciando o mau uso da língua. Não é correto que os remidos usem a língua com propósitos incoerentes ou divergentes: amaldiçoar/abençoar, jorrar água doce e água amarga; falar bem de um irmão em sua frente, e quando tem oportunidade caluniar e denegrir o mesmo irmão.

Quantas vidas destruídas por palavras ditas maliciosamente, visando prejudicar ou ferir as pessoas! Passamos boa parte do nosso tempo utilizando o recurso da fala. Portanto, temos que adotar a mesma postura do salmista em filtrar tudo o que sai de nossos lábios para não pecarmos contra o Senhor. Assim como a faísca dá início a um grande incêndio, palavras carregadas com mentira e malícia causam graves prejuízos. Não vamos permitir que nossos lábios sejam instrumentos do inferno para destruir vidas! “A imagem completa do diabo é uma mistura de malícia e falsidade” (Matthew Henry).

“Nossa língua, portanto, precisa ser fonte de vida, e não cova de morte; precisa ser medicina, e não veneno; precisa ser bálsamo que consola, e não fogo que destrói.” Não é conveniente e nem coerente que os cristãos usem os seus lábios para envenenar relacionamentos e causar tropeço na vida de outros. Necessitamos exercer o domínio próprio sobre os nossos impulsos e encher o coração com o que é agradável e bom para edificação (a boca fala do que está cheio o coração).

Relacionamentos construídos com base em mentira são castelos de areia: em breve chegarão à ruína. Por isso precisamos construir relacionamentos interpessoais sem meias-verdades e sem malícia. Devemos deixar de lado a mentira, e falar sempre a verdade, mesmo que seja indigesta. O cristão não deve ser sagaz com uso das palavras, tentando levar vantagem em tudo, com malícia, audácia e mentiras.


3) Abandonar o caminho da prudência - vs. 3b- “abjurou o discernimento”

Mais uma denúncia: a malignidade de uma postura inconsequente na vida, sem refletir seriamente sobre os resultados de suas ações. Abjurar é negar ou renunciar abertamente. Discernimento faz referência ao bom senso nas atitudes e decisões. O ímpio, por sua natureza impetuosa e rebelde, age sem se importar com as consequências de seus atos. Ele brinca com fogo e não liga para quem se queima. O ímpio descrito no texto escolheu agir sem o menor grau de responsabilidade, sem medir o resultado trágico de seu procedimento.

A imprudência é filha da impaciência. Alguém precipitado deseja resolver tudo do seu próprio jeito, sem ter que esperar por ninguém. A vida de Saul nos oferece uma ilustração sobre a imprudência. Quando estava esperando Samuel para oferecer sacrifícios, vendo que o povo já ia se afastando, e que era necessário oferecer o sacrifício do holocausto antes de ir à guerra contra os filisteus, ele mesmo tomou as rédeas e ofereceu o holocausto. Samuel disse a Saul: “Procedeste nesciamente”, que literalmente significa como “um tolo imprudente”.

A prudência é necessária em todas as instâncias da vida. O trânsito está cheio de casos de imprudência. Motoristas inconsequentes que dirigem em alta velocidade ou sob a influência do álcool, são os que tiram a vida de milhares de pessoas. O aviso das placas de trânsito “Dirija com Prudência” é ignorado abertamente e os resultados são trágicos. “O prudente vê o mal e esconde-se (não se expõe ao mal, não fica de bandeja, não dorme no ponto); mas os simples passam adiante e sofrem a pena” (Pv. 27:12).

É impressionante a série de problemas causados por imprudência em decisões ou ações. Mas aquele que teme ao Senhor e quer agradá-lo em tudo, buscará agir sempre com prudência firmando os seus passos em obediência. Ser prudente é ser cauteloso, buscando utilizar os recursos espirituais e orientações bíblicas para tomar atitudes adequadas. O prudente é alguém ao mesmo tempo diligente e dependente. Ele é diligente: não cruza os braços e não se omite. Ele também é dependente: não se precipita confiando em sua intuição humana, mas se rende à sabedoria divina.

Ser prudente é pautar os nosso passos pela sabedoria que procede de Deus. Não é prudente seguir os nossos sentimentos, pois eles são instáveis. Atitudes precipitadas são tomadas no calor das emoções, sem considerar o valor da instrução bíblica. “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência” (Pv 9:10).

4) Alimentar pensamentos e projetos perniciosos - vs. 4

O salmista agora denuncia o pleno comprometimento com projetos perversos. A palavra “maquinar” tem no original o sentido de pensar, considerar ou imaginar. Pensamentos maldosos são alimentados de forma ininterrupta: “Até na sua cama planeja maldade” Salmos 36:4. No leito, onde deveria ser um lugar de descanso, é o lugar para tramas impiedosas e planos nocivos. O comprometimento com o pecado inicia-se na mente (nas maquinações do coração) e prossegue na transigência com o erro: “e ele nunca rejeita o mal”. O estilo de vida ímpio é governado pelos projetos e pensamentos que são alimentados na mente: a maldade passa a imperar na mente.

Davi alimentou pensamentos perversos e maquinou o mal, inicialmente com relação a Bateseba e depois com relação a Urias. As consequências foram terríveis na vida dele e de todos a sua volta. Se Davi tivesse exercido controle sobre seus pensamentos assim que surgiram, não teria entrado naquela espiral descendente. Se Davi tivesse colocado a sua mente na direção correta não teria se envolvido em tantas tragédias.

É bem verdade que alguém sem o temor de Deus, abrigará em sua mente muito lixo e perversão. Saber que o Senhor tudo sabe (onisciência) deveria nos constranger diariamente a alimentar nossas mentes com o que traz glória ao Seu nome. Por isso, temos que encharcar nossas mentes com as Escrituras, meditando nelas continuamente. Lembre-se: Pensamentos de indiferença ou até mesmo ódio em relação a alguma pessoa são tão pecaminosos como o assassinato. Pensamentos de cobiça sexual são tão pecaminosos como o adultério.

“Ninguém pode impedir que um passarinho voe sobre nossas cabeças; mas podemos impedi-lo de fazer ninhos.” A classe de pensamento você leva para o leito antes de dormir, definem que atitudes você tomará no dia seguinte. Portanto, que os nossos pensamentos sejam harmonizados com os propósitos de Deus e com os parâmetros do Reino de Cristo e a Sua justiça.

Como estão os nossos pensamentos? Cada um de nós é plenamente responsável pelo que entra e fica em nossas mentes. Por isso Paulo ordenou em Filipenses 4:8 – Nisso pensai (aquilo que é puro, justo, de boa fama, virtuoso e agradável a Deus). Temos que exercer o controle sobre o que permanece em nossas mentes sendo alimentado, para que os frutos sejam piedosos e glorifiquem ao Senhor.

CONCLUSÃO

“Será que as denúncias feitas contra o ímpio neste salmo se encaixam em nossas vidas?”

Como vimos, podemos não estar tão distantes de um estilo de vida ímpio. Se a carapuça serviu em algum de nós, ou seja, se os traços característicos deste estilo de vida estão presentes em nós, precisamos abandonar urgentemente as práticas denunciadas neste salmo e submeter-nos ao padrão de Deus revelado nas Escrituras.

Deus nos deu todos os recursos necessários que nos conduzem à vida e à piedade (2 Pedro 1:3). Portanto, um viver piedoso deve ser uma realidade para todo cristão, e não uma utopia. Por meio da instrução da Palavra e da ação santificadora do Espírito que em nós habita, podemos estar isentos das denúncias que foram descritas neste texto bíblico.