segunda-feira, 31 de março de 2008

Deus Deve Ser Amado por Ele Mesmo

Por A. W. Tozer

Sendo deus o que ele é, precisamos buscá-lo por Ele mesmo e jamais como um meio para obter uma outra coisa.

Quem quer que busque outros objetos e não Deus está sozinho; é possível que venha a conseguir tais objetos, mas jamais terá Deus. Deus nunca é encontrado acidentalmente: “Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.13).

Quem quer que busque a Deus como um meio para atingir um fim desejado, não encontrará Deus. O Deus poderoso, o criador dos céus e da terra, não será um dentre muitos tesouros, nem sequer o maior deles. Ele será tudo em todos ou nada será. Deus não se deixa manipular. Sua misericórdia e graça são infinitas e sua compreensão paciente é incomensurável, mas não ajudará os homens em seu esforço egoísta para obter ganhos pessoais. Não auxiliará os homens a atingir fins que, uma vez alcançados, usurpem o lugar que por direito lhe pertence no seu interesse e afeição.

O cristianismo popular, entretanto, dá a sua maior ênfase à idéia de que Deus existe para ajudar as pessoas a progredirem neste mundo. O Deus dos pobres tornou-se o Deus de uma sociedade afluente. Cristo não mais se recusa a ser juiz ou divisor entre irmãos gananciosos. Ele pode ser agora persuadido a ajudar o irmão que o aceitou a aproveitar-se do irmão que o rejeitou.

Um exemplo crasso do esforço moderno para manipular Deus, favorecendo propósitos egoístas, é a história do conhecido comediante que depois de repetidos fracassos, prometeu a alguém que chamava de Deus que se o ajudasse a ter sucesso no mundo do palco ele o recompensaria contribuindo generosamente para o cuidado das crianças enfermas. Pouco depois teve êxito em várias casas noturnas e na televisão. Ele cumpriu a sua palavra e está levantando grandes somas em dinheiro para construir hospitais infantis. Essas contribuições para a caridade, em sua opinião, são o preço bem pequeno a pagar pelo sucesso em um dos campos mais difíceis do empreendimento humano.

É possível desculpar a atitude desse artista como algo a ser esperado de um pagão do século XXI; mas que multidões de evangélicos no mundo acreditassem realmente que Deus tivesse algo a ver com o acontecido não pode ser tão facilmente posto de lado. Esta visão diminuída e falsa da divindade é uma das principais razões da imensa popularidade gozada por Deus hoje em dia entre os bem nutridos ocidentais.

O ensino bíblico é que Deus é Ele mesmo o fim para o qual o homem foi criado. “Quem mais tenho eu no céu?” clamou o salmista, “não há outro em quem eu me compraza na terra” (Sl 73.25). O primeiro e maior mandamento é amar a Deus com todas as fibras do nosso ser. Onde existe um amor assim, não pode haver lugar para um segundo objeto. Se amarmos a Deus quanto devemos, não podemos certamente sequer imaginar um objeto a ser amado além dEle, que possa ajudar-nos a obter.

Bernard de Clairvaux inicia seu pequeno e brilhante tratado sobre o amor de Deus com uma pergunta e uma resposta. A pergunta: por que devemos amar a Deus? A resposta: Porque Ele é Deus. Ele desenvolve ainda mais a idéia, mas para o coração esclarecido pouco mais precisa ser dito. Devemos amar a Deus porque Ele é Deus. Além disto os anjos não podem pensar.

Sendo quem é, Deus deve ser amado por Ele mesmo. Ele é a razão para que o amemos, da mesma forma que é a razão de seu amor por nós e para todos os outros atos por Ele realizados, os que irá realizar e está realizando, perpetuamente. O principal motivo de Deus para tudo é o seu próprio prazer. A busca de razões secundárias é gratuita e perfeitamente inútil. Ela supre os teólogos de uma ocupação e acrescenta páginas aos livros de doutrina, mas é duvidoso que apresente quaisquer explicações válidas.

Está, porém, na natureza de Deus partilhar. Seus poderosos atos de criação e redenção foram feitos para o seu próprio prazer, mas o seu prazer se estende a todas as coisas criadas. Basta olhar para uma criança sadia brincando ou ouvir o canto de um pássaro no fim da tarde e saberemos que Deus quis que seu universo fosse cheio de alegria.

Os que foram espiritualmente capacitados a amar a Deus por Ele mesmo, irão descobrir milhares de fontes brotando do trono cercado de arco-íris, e ofertando tesouros incontáveis que deve ser recebidos com gratidão reverente como sendo o transbordar do amor de Deus por seus filhos. Cada dom é um presente da graça que, por não ter sido buscado igoisticamente, pode ser gozado sem prejuízo para a alma. Neles se incluem as bênçãos simples da vida, tais como a saúde, o lar, a família, amigos congeniais, alimento, abrigo, as alegrias puras da natureza ou os prazeres artificiais da música e da arte.

O esforço de encontrar esses tesouros, buscando-os diretamente, em separado de Deus, tem sido a principal atividade humana no correr dos séculos; e este tem sido o fardo e o mal do homem. O esforço de obtê-los como o motivo oculto por trás da aceitação de Cristo pode ser algo novo sob o sol; mas novo ou velho é um mal que só pode terminar em condenação.

Deus quer que nós o amemos por Ele mesmo sem quaisquer razões ocultas, confiando nEle para que seja tudo o que nossas naturezas requerem. Nosso Senhor disse isto muito bem: Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33).

segunda-feira, 24 de março de 2008