quinta-feira, 29 de julho de 2010

A verdadeira adoração

A adoração verdadeira é manter sempre o foco em Deus. Partindo deste pressuposto, podemos discernir se de fato estamos adorando a Deus verdadeiramente em nossas reuniões de adoração ou na vida particular. Quando nossas motivações reais para adorar ao Senhor se apresentam distantes do ideal de focalizar Deus em todas as coisas – isto é, glorificá-Lo acima de tudo e todos – não podemos afirmar que estamos adorando a Deus. Assim, será que o que nós convencionamos chamar de adoração a Deus não é uma grande farsa? Para responder acertadamente a esta pergunta precisamos definir com exatidão em quem está o foco na adoração.

O homem pós-moderno aprendeu desde cedo que é importante ser aclamado e ovacionado. Esta tendência vem do berço, pois todos nós nascemos pecadores com a natureza de Adão. Sendo assim, o homem quer ter a primazia em tudo. E não é mera coincidência porque muitas das letras de músicas que são conhecidas como “músicas de adoração”, na verdade centralizam o homem e colocam Deus como apenas um supridor de necessidades. Se o foco está no homem e se Deus é apenas acessório, definitivamente isto não é adoração verdadeira. Podemos observar ajuntamentos de pessoas cantando euforicamente, mas são cânticos lançados ao vento que não chegam ao trono de Deus, pois somente Ele é digno de ser adorado e reconhecido como o Altíssimo.

Para adorar a Deus o homem precisa se esvaziar de suas vontades carnais. O homem tem que descer do trono e sair do pedestal de orgulho. Somente ao negar-se a si mesmo, o homem terá condições de adorar verdadeiramente a Deus. Somente ao rejeitar sua própria glória, o homem poderá achegar-se a Deus com o propósito sublime de glorificar somente o Seu Excelso Nome.

Esta é grande necessidade dos nossos dias. O Pai ainda procura os adoradores que O adorem em espírito e em verdade, mas somente os filhos redimidos do ego e convertidos pela graça estão prontos para oferecer-Lhe uma adoração não fingida. Quem já foi convertido pela graça entende perfeitamente que o foco da adoração deve estar direcionado somente para o Senhor Deus, que é o Único merecedor de honras, glória e louvor pelos séculos dos séculos.


BREVE MEDITAÇÃO TEMÁTICA
MARCOS AURÉLIO DE MELO

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Uma excelente recordação

Texto Bíblico: II Samuel 9

Um álbum de fotografias nos faz voltar ao passado por alguns instantes. Quando folheamos as páginas de um álbum, somos levados a pensar em vários fatos marcantes de nossa vida e de outras pessoas também. Os retratos que nos fazem relembrar a nossa história são recordações guardadas a sete chaves – relíquias pessoais de valor inestimável. Em alguns álbuns é comum encontrar na capa a seguinte frase: “Recordar é viver”. E de fato, Deus nos deu a capacidade de recordar para que possamos ter um coração sempre grato por seu maravilhoso cuidado sobre nossas vidas. Mas como somos tendenciosos a esquecer facilmente, Deus ordenou várias vezes que memoriais fossem construídos para que as gerações futuras soubessem dos milagres realizados (Js. 4:1-7).
Ao ler este texto bíblico, comecei a pensar como se estivesse diante de um álbum de retratos. O versículo 3 nos fala sobre a “bondade” de Deus, que no original é uma palavra muito ampla que não cabe no apenas no conceito de bondade que nós conhecemos. A palavra “chesed” é traduzida em outros textos das Escrituras de várias maneiras: amor leal, fidelidade, bondade, benignidade, misericórdia, compaixão, benevolência, favor, e também graça. No Salmo 63:3, Davi escreveu: “Porque a tua graça (chesed) é melhor do que a vida”, expressando o valor inestimável da graça divina. Comecei a pensar na graça de Deus e como nós somos tendenciosos a esquecer desta maravilhosa graça. Ao longo dos anos, deixamos de recordar que a graça divina é o fundamento da nossa existência e da nossa salvação. O profeta Jeremias expressou isso da seguinte forma: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias (chesed) do Senhor são a causa de não sermos consumidos porque as suas misericórdias (chesed) não têm fim” (Lm. 3:21,22).
Diante de todo o contexto desta passagem bíblica e tomando como base as ideias apresentadas até aqui, eu gostaria de afirmar o seguinte:

“Temos neste texto uma excelente recordação da graça maravilhosa que nos alcançou”

Assim como a frase na capa dos álbuns de fotografia (Recordar é viver), precisamos recordar sobre a graça maravilhosa de Deus a cada instante, para vivermos de modo que glorifique ao Senhor. Mas quais são as evidências neste texto que nos indicam uma excelente recordação da graça maravilhosa que nos alcançou?


I – A AUSÊNCIA DE QUALQUER MÉRITO HUMANO (vs. 3, 6, 8)
Mefibosete não tinha nada a oferecer e não merecia nada. Nele mesmo não havia mérito algum. No episódio que lemos, a ênfase recai totalmente sobre Jônatas (o pai de Mefibosete), por conta de uma promessa feita por Davi no passado. Mas Mefibosete por si próprio não era digno de nada a não ser a morte, pois o extermínio de toda a família do rei anterior era um costume comum naquela época. Mefibosete se intitula “um cão morto” (v. 8), reconhecendo que não tinha nenhum valor. O seu nome significava “coisa vergonhosa”. Quando seu pai e avô morreram, ele teve que fugir nos braços de uma criada e, por um descuido, caiu e ficou coxo (2 Sm. 4:4), o que lhe conferiu uma deficiência para o resto de sua vida. Mérito algum era observável neste homem – ele se prostrou diante do rei Davi reconhecendo a sua completa insignificância (vs. 6).
Um hineto bastante conhecido faz algumas perguntas desconcertantes logo na primeira estrofe: “Pode um morto se levantar? / Pode um escravo se libertar? / Pode um cego se dar visão? / Ou se escolhe a salvação?” A intenção do autor desta letra é enfatizar a total depravação humana e destacar a insuficiência dos méritos na salvação. Esta depravação não se refere aos atos do homem – ela se refere à própria natureza corrompida do homem. A Queda deixou o homem cego e ignorante nos assuntos espirituais. E esta verdade se mostra clara em toda a Palavra de Deus (Rm.3: 10, 11, 12, 23; Rm. 5:12)
O homem é espiritualmente inválido (um tetraplégico), e não há nenhum mérito inerente no homem que o faça chegar até Deus por si próprio. A condição pecaminosa que herdamos de Adão nos torna mancos espiritualmente – não há como agradar a Deus desta forma. Somos rebeldes deste o ventre de nossa mãe, o que impossibilita qualquer mérito diante de Deus. Por causa do nosso pecado, a vontade do coração é viver sempre escondido e longe da presença de Deus. A Bíblia nos afirma que a ferida do coração humano é uma “chaga incurável” – um câncer que se alastrou (Jr. 17:9). Também sabemos que as obras de justiça em busca de mérito são consideradas por Deus como trapo de sujeira e imundícia (Is. 64:6), porque não satisfazem a santidade de Deus. Por isso as melhores obras que fazemos tentando alcançar algum mérito diante de Deus na verdade bloqueiam a visão da graça maravilhosa do Senhor.

II – A LIVRE INICIATIVA DIVINA EM NOSSO FAVOR (vs 1, 2, 3, 4, 5, 7)
Mefibosete vivia escondido na distante localidade chamada Lo-Debar, que literalmente significa “não-pasto”, o que pode indicar um lugar árido e muito inóspito. Ele estava totalmente distante da “realeza”, e não havia a menor possibilidade de se apresentar ao novo rei Davi. Com certeza, ele sabia das histórias de conflitos no reino de Israel, e nunca teria condições de ter algum acesso ao rei, se não fosse pela livre iniciativa de Davi.
Neste texto bíblico, é sempre Davi quem toma a iniciativa: ele questiona por duas vezes (vs. 1 e 3); ele manda chamar o servo Ziba (vs. 2); ele pergunta onde está este filho de Jônatas (vs. 4); ele mandou trazer Mefibosete de Lo-Debar (vs. 5); ele afirma que usará de bondade e garante benefícios a Mefibosete (vs. 7); e ele dá ordens para que o servo Ziba cultive a terra em prol de Mefibosete (vs. 9-10). É marcante perceber que o agente da história é sempre o rei Davi, proporcionando tudo o que é necessário para o filho de Jônatas.
Na história do povo de Deus é sempre Ele quem toma a iniciativa. Desde os primórdios temos vários exemplos nas Escrituras: foi Deus quem tomou a iniciativa de convocar Noé para construir uma arca (a ideia não partiu de Noé); foi Deus quem tomou a iniciativa na chamada de Abraão (a ideia de sair de Ur não partiu de Abraão); foi Deus quem tomou a iniciativa de chamar Moisés no meio da sarça no deserto para liderar a libertação do povo do Egito; foi Deus quem tomou a iniciativa de preservar o seu povo durante a peregrinação no deserto (Israel não estava entregue à própria sorte); foi Deus quem tomou a iniciativa de levantar um novo líder (Josué) para adentrar a terra prometida. Deus age por meio do seu poder salvador – e não há ninguém que possa impedi-Lo (Is 43:13).
A iniciativa divina é indispensável para que a graça nos alcance. É Deus quem age em favor dos que são seus e os salva graciosamente. É Deus quem nos ama antes de nós sabermos que somos alvos deste amor tão grande. Precisamos compreender que tudo parte de Deus em benefício dos seus filhos amados e se Deus não agir inicialmente, nós nunca teremos condições de buscá-lo da forma que O agrada. Jesus lembrou aos seus discípulos que a iniciativa para um relacionamento foi d’Ele: “Não fostes vós que me escolhestes a mim, pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis fruto” (João 15:16). Em I João 4:19 lemos: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro”, uma clara evidência de que a iniciativa é toda de Deus. Um morto não pode levantar-se por si só, portanto é necessário que Deus nos vivifique através da ação de Seu Santo Espírito. Devemos recordar sempre: foi Deus quem tomou a iniciativa de se relacionar conosco.

III – A BÊNÇÃO DA COMUNHÃO RESTAURADA (vs. 9-13)
Os versículos finais do capítulo 9 nos mostram que Davi fez questão que Mefibosete estivesse sempre presente à mesa do rei: “comerá pão sempre à minha mesa” (vs. 10). E o versículo 11 ainda amplia: “Comeu Mefibosete à mesa de Davi como um dos filhos do rei.” Também no versículo 13 há mais uma referência: “comia sempre à mesa do rei”. Esta ênfase não é em vão. O escritor quer nos mostrar que para o rei Davi era importante que Mefibosete estivesse sempre presente no palácio – fazendo parte daquela família. O versículo 13 termina de forma curiosa, ao relembrar um fato que foi mencionado no versículo 3: “ele era coxo de ambos os pés”. Davi também tratou Mefibosete pelo nome (vs. 6) e quis dissipar qualquer medo do coração dele no versículo 7. Além disso, mesmo com sua deficiência física, Mefibosete era aceito no palácio real com honras de filho, por causa da bondade graciosa do rei Davi. Sobre este episódio, o escritor Swindoll escreveu: “A toalha da graça cobria os seus pés.”
A Bíblia nos diz que Deus nos tirou do reino das trevas e nos transportou para o reino do filho do Seu amor (Cl. 1:13). Somos abençoados com esta comunhão restaurada, e diante do nosso Deus podemos apresentar nossos pecados para obtermos o perdão. Somos filhos porque fomos adotados por Deus, e por isso mesmo podemos desfrutar desta comunhão com o nosso Pai. Mesmo quando cometemos pecados, temos livre acesso a Deus por meio da Sua graça e sabemos que “Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça” (I Jo. 1:9). A graça maravilhosa de Deus está disponível para suprir nossas deficiências, quando confessamos nossos pecados de coração contrito.
Não há nada neste mundo mais valioso do que saber que temos paz com Deus (Rm. 5:1-2) e podemos gozar de plena comunhão com Ele. Este fato deve nos impulsionar a ter uma vida que agrada ao Senhor em todos os aspectos. Devemos direcionar todos os esforços para que esta comunhão com o Senhor não seja esporádica (fins de semana, retiros), mas uma realidade no nosso dia a dia. Você tem desfrutado da intimidade com Deus mesmo passando por vales sombrios? Como cristão, você reconhece que está distante de uma verdadeira comunhão com o Senhor? Para um cristão legítimo, esta ausência de comunhão o afeta profundamente. O crente deve almejar sempre viver em constante comunhão com Deus, como escreveu Davi no Salmo 63:1: “a minha alma tem sede de Ti, numa terra árida, exausta, sem água.” Precisamos depositar total confiança nesta graça maravilhosa, que nos proporciona a intimidade com o nosso Deus (Salmo 13: 5,6).

MARCOS AURÉLIO DE MELO
ESTUDOS EM II SAMUEL