sábado, 30 de agosto de 2014

A mensagem de arrependimento

Evidentemente, desde o começo até ao fim do livro de Atos, o arrependimento era o apelo central da mensagem dos apóstolos. O arrependimento que eles pregavam não era apenas uma mudança de mente a respeito de quem era Jesus. Era um abandono do pecado (At. 3:26; At. 8:22) e um voltar-se ao Senhor Jesus Cristo (At. 20:21). Era o arrependimento que resulta em mudança de comportamento (At. 26:20). A mensagem apostólica não parecia em nada com o evangelho do não-senhorio que tem alcançado popularidade em nossos dias.

Fico profundamente preocupado quando vejo o que está acontecendo na igreja hoje. O cristianismo bíblico perdeu sua voz. A igreja está pregando um evangelho idealizado para confortar, e não para confrontar pecadores. As igrejas têm recorrido a divertimento e entretenimento para tentar conquistar o mundo. Esses métodos podem atrair multidões por um tempo, mas não são os métodos de Deus e, portanto, estão destinados ao fracasso. Enquanto isso acontece, a igreja está sendo infiltrada e corrompida por crentes professos que nunca se arrependeram, nunca se converteram de seus pecados e, portanto, nunca abraçaram, realmente, a Cristo como Senhor ou Salvador.

Devemos retornar à mensagem que Deus nos chamou a pregar. Precisamos confrontar o pecado e chamar os pecadores ao arrependimento — a uma interrupção radical do amor ao pecado e a buscarem a misericórdia do Senhor. Devemos mostrar Cristo como Salvador e Senhor, como aquele que livra seu povo da punição e do poder do pecado. Afinal, esse é o evangelho que Ele nos chamou a proclamar.

John Macarthur, no livro O Evangelho segundo os apóstolos.

domingo, 24 de agosto de 2014

O valor da misericórdia

O livro de Provérbios nos apresenta lições para um viver sábio. E para termos um viver sábio é necessário que entendamos o valor da misericórdia, em prol dos que padecem e precisam da ajuda que podemos dar. Em Pv. 19:22 lemos o seguinte: "O que torna agradável o homem é a sua misericórdia." A misericórdia é uma virtude ausente da nossa sociedade. Neste mundo o que impera é a força bruta, que não respeita o próximo e traz grande sofrimento ao que já está em situação ruim. Em Pv. 21:10 lemos: "A alma do perverso deseja o mal; nem o seu vizinho recebe dele compaixão." Os telejornais, programas de rádio e revistas trazem sempre matérias sobre a falta de misericórdia com o sofrimento alheio. Não faz muito tempo, um homem que andava de bicicleta foi atropelado e teve o seu braço arrancado. O motorista não prestou nenhum socorro e ainda jogou o braço que poderia ser reimplantado num córrego da região. Este é o cenário deste mundo sem misericórdia.

É óbvio que não podemos esperar de pessoas ímpias que não experimentaram a graça de Deus, o exercício da misericórdia em sua forma pura e sem intenções pecaminosas. A misericórdia não é uma virtude natural do homem. O homem em sua natureza é mau, cruel, egoísta, vingativo e incapaz de exercer uma misericórdia verdadeira. Mas os cristãos precisam acordar do sono em que estão para exercer a misericórdia no seu dia-a-dia. Afinal, todo crente foi alvo da misericórdia de Deus, e portanto, deve espalhar as sementes de graça e bondade, onde quer que ande visando sempre a glória do Senhor.

Com base no valor que ela tem, é impotante tratar sobre três aspectos da misericórdia, sob o ponto de vista bíblico:

1) MISERICÓRDIA NÃO É COMPLACÊNCIA COM O PECADO:

Quando alguém está em pecado, o cristão deve aproximar-se com temor e tremor, para agir com misericórdia. Mas isto não significa que o cristão deve concordar com o caminho errado e nem apoiar aquele que está em rebeldia contra Deus. Jesus exerceu misericórdia em tratar os pecadores, mas em momento algum concordou com práticas que estivessem fora do padrão de Deus. O exercício da misericórdia exige do cristão que ele sonde diariamente o seu coração, para que assim possa ter condições de ajudar outros que estão enlaçados pelo pecado. Isto quer dizer, que é necessário primeiro tirar a trave, tratar o que nos impede de enxergar claramente, e assim teremos condições de confrontar biblicamente alguém que precisa de misericórdia, não de complacência.

Paulo escrevendo aos Efésios diz assim: "E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as" (Ef. 5:11). Não é prova de bondade passar a mão na cabeça do pecador e dar-lhe acolhida enquanto permanece em rebeldia contra o Senhor. Isto é cumplicidade com o erro, que trará sérios prejuízos para o reino de Deus. Agir com misericórdia é fazer com que o pecador entenda que está rumando em direção errada, sempre com o objetivo de restaurar o irmão que caiu. Isto sim, é prova de que estamos interessados na vida de alguém.

Deus requer do seu povo que a misericórdia mútua seja sempre cultivada, mas que este prática não se transforme em cumplicidade com o erro, pois isto certamente não resultará em vidas transformadas pela graça de Cristo.

O arrependimento na vida de uma pessoa marca um novo rumo, e devemos sim estender a destra de misericórdia para aqueles que se arrependem e desejam viver agradando a Cristo. Mas sem arrependimento e com a prática contínua do pecado, não devemos pensar que estaremos ajudando sendo cúmplices com o erro. Isto só traz desonra ao nome de Cristo.

2) MISERICÓRDIA NÃO É PRIORIZAR PROGRAMAS DE CARIDADE

Em nome do exercício da misericórdia muitas pessoas fazem obras de caridade, e usam recursos financeiros para ajudar os menos favorecidos. Isto não é de todo errado, mas o problema é quando estas atividades se tornam o foco central. Deus nos agracia com bens para que possamos abençoar a outras pessoas também, mas não podemos esquecer que a mensagem do Evangelho é inegociável. Não devemos atrair pessoas para nossas igrejas com promessas de cestas básicas ou com promessas de ajuda financeira, pois Cristo não está oferecendo estas coisas. O que Cristo requer de nós, seus embaixadores, é que preguemos a mensagem da cruz, que falemos sobre a condenação e sobre a obra graciosa de Cristo para nos libertar da escravidão do pecado. O evangelho de Cristo não pode ser diluídos a favor de obras de caridade. É comum ver muitas pessoas que são atraídas para uma igreja pelos programas sociais, mas não permanecem. Muitos não foram apresentados à mensagem central do Evangelho, ou quando entendem esta mensagem, rejeitam a fé cristã por causa o alto custo de ser um discípulo de Jesus Cristo.

Como cristãos, é fundamental que andemos em novidade de vida, e isto implica em sermos bondosos com aqueles que sofrem necessidades. Devemos prestar ajuda no que está ao nosso alcance, mas isto não significa que o evangelho deve ser diluído em função de caridade e obras sociais. O nosso papel como embaixadores de Cristo é levar ao mundo a redenção providenciada na cruz do Calvário, sem esmorecer e sem enfraquecer a mensagem. Uma igreja que se dedica apenas a obras sociais, sem o foco correto no evangelismo pessoal, pode criar nas pessoas alcançadas um falso senso de segurança. É necessário discipulado em profundidade, para que a misericórdia de Cristo seja vista e entendida por todos que nos ouvem. Isto sim, é o exercício correto da misericórdia: acima de tudo enxergar o ser humano como carente de alma, perdido e que precisa da graça divina. O pão da vida, que é Cristo, traz verdadeira satisfação à alma!

3) MISERICÓRDIA É COLOCAR-SE NO LUGAR DO OUTRO

É fácil sermos indiferentes. É muito fácil sermos apáticos. É só deixar a vida seguir seu rumo, sem nos importarmos com quem está a nossa volta. Mas quando somos alcançados pela graça de Cristo, é impossível olhar este mundo com os olhos secos. Constrangidos pelo imenso amor de Cristo, é impossível vivermos sem enxergar o sofrimento de pessoas ao nosso redor. Isto se torna mais evidente ainda quando nos colocamos no lugar do outro, e deixamos de lado nosso preconceito e arrogância infantil.

Ser misericordioso é estender a mão sem segundas intenções, e sem esperar receber nada em troca. É mostrar com atitudes que se importa com a situação do próximo, sem cumplicidade com o pecado e sem diluir a mensagem do Evangelho. Cristo nos deu vários exemplos de como sermos misericordiosos. Podemos pensar no episódio da morte de Lázaro, um amigo de Jesus. Ele sabia que Lázaro seria ressuscitado, e que o poder de Deus seria manifestado naquela situação de dor e sofrimento. Mas ainda assim Ele se compadeceu de toda a família e chorou junto ao túmulo de Lázaro. Chorar com os que choram é uma demonstração de misericórdia.

Certamente você convive com alguém que sofre, seja por debilidades físicas, emocionais ou espirituais. Eu sugiro que você, meu caro irmão, apresente a mensagem do Evangelho, a única esperança que há em Cristo Jesus, e mostre-se atento às necessidades mais profundas da alma desta pessoa. Coloque-se à disposição para sentir a dor desta pessoa e fazer o que está ao seu alcance para ajudar com os recursos materiais ou espirituais que Deus tem lhe dado. Seja um canal de bênçãos, por onde fluem ricas manifestações da misericórdia que alcançou o seu coração.


Devocional para o Programa Viva com Cristo
Dia 24/08/14

terça-feira, 12 de agosto de 2014

DECADÊNCIA MORAL E ESPIRITUAL

Texto: 1 Sm. 15: 1-31

I. Quando penso em decadência, a ideia que logo vem a minha mente é uma casa ou um prédio em ruínas. Recentemente, vi algumas fotos da casa que meus avós moravam no interior de Araripina. As fotos mostram as ruínas de uma casa grande que abrigou pessoas que hoje lá não vivem mais. Algumas paredes caídas, a ausência do telhado em vários cômodos, blocos espalhados pelo chão, compõem o cenário de um tempo que passou. A decadência de uma casa em ruínas também demonstra que não houve manutenção regular ou uma boa reforma. Ao longo dos anos, o efeito das chuvas, dos ventos e do sol forte contribui diretamente para deteriorar uma casa, e se não houver manutenção, em breve restarão somente ruínas. Porém, muito pior do que uma casa em ruínas, é a decadência da alma, é quando a nossa fé está em ruínas. Quando a alma está deteriorada pelo pecado não-confessado e não-abandonado, ela precisa de uma restauração urgente. A fé em decadência é um testemunho da nossa negligência e apatia para com os valores espirituais.

II. E por falar em decadência, o texto lido nos apresenta mais um episódio trágico na vida do obstinado rei Saul. As atitudes de Saul vão da negligência à rebeldia e comprovam um homem decadente, uma vida que desmorona cada vez mais, tanto do ponto de vista moral quanto espiritual. A história deste homem, escolhido para ser o primeiro rei de Israel, é repleta de contradições que minaram o seu reinado, marcado por inveja, orgulho e declínio.

Ao rei Saul coube a missão de exterminar os amalequitas, uma antiga tribo nômade descendente de Esaú (Gn. 36:12). Os amalequitas não eram um povo inocente. Este povo criou empecilhos para o povo de Israel. Quando os israelitas partiram do Egito rumo à terra prometida, eles foram atacados pelos amalequitas, conforme Dt. 25: 17-19. Foi um ataque covarde, feito pelas costas, aos abatidos e fatigados do povo de Israel. Então havia um justo juízo estabelecido por Deus para os amalequitas. Esta ordem não se tratava de um capricho de um Deus carrasco, mas do exercício da plena justiça do Senhor em prol da vindicação da Sua santidade e Sua glória.

Mas a missão confiada ao rei Saul não foi cumprida na íntegra. As palavras que Saul utiliza para responder a Samuel no texto lido testificam contra ele mesmo e comprovam a obstinação presente em seu coração. Saul era um homem teimoso e resistente à voz de Deus, e esta resistência o levou à decadência moral e espiritual.

“OS SINAIS DE REBELDIA CONTRA O SENHOR DENUNCIAM A NOSSA DECADÊNCIA MORAL E ESPIRITUAL”

· S. I. Com base no texto, que sinais de rebeldia contra o Senhor denunciam a nossa decadência moral e espiritual?

· S. T. Com base no texto, veremos quatro sinais de rebeldia contra o Senhor que denunciam a nossa decadência moral e espiritual.

Se estes sinais estiverem presentes em nosso viver, ficará patente a nossa decadência moral e espiritual. Lembrando que a decadência moral e espiritual não acontece de repente. Vamos checar nossas vidas à luz da Palavra de Deus, e notar se estes sinais também nos denunciam. Não há nada mais importante do que nos submetermos humildemente ao Senhor, para que os sinais de rebeldia não façam parte do nosso viver e nos levem a decadência moral/espiritual.


1) A ênfase na promoção da imagem pessoal (vs. 12, 24, 30)

“Já chegou Saul ao Carmelo, e eis que levantou para si um monumento”

“porque temi o povo e dei ouvidos à sua voz.”

“honra-me, porém, agora, diante dos anciãos do meu povo e diante de Israel”

É interessante notar o quanto Saul estava buscando ressaltar a sua imagem pessoal perante o povo. Ele queria ser admirado, lembrado e ovacionado pela multidão como um rei diferenciado, um rei acima da média.Ele queria que a sua imagem como rei ficasse em evidência, por isso fez tudo o que foi possível para não “sair mal na fita”. Saul poupou Agague, o rei dos amalequitas, para exibi-lo como troféu de guerra, uma forma de exibição da sua proeza e poder. Ao construir um monumento após o triunfo na guerra, Saul queria deixar um memorial para que fosse lembrado pela vitória contra os amalequitas (outros líderes ergueram altares, Saul ergueu um monumento). Poupar o melhor das ovelhas e bois certamente traria mais popularidade a Saul diante da massa, pois o povo não teria que ofertar dos seus próprios rebanhos. Depois de uma aparente confissão de pecado, muita rasa e descuidada, Saul ainda queria que Samuel o honrasse diante dos anciãos, para que ninguém suspeitasse que algum problema tivesse acontecido. Saul era um verdadeiro amante de sua imagem, um verdadeiro narcisista na concepção da palavra.

“O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. Convém que ele cresça e que eu diminua” (João 3:29-30). Estas palavras foram ditas por João, o batista, um servo de Deus que entendia limpidamente qual o seu verdadeiro lugar. Ele não buscava popularidade e nem queria uma multidão o aplaudindo por onde passasse, pois não estava trabalhando em causa própria. Ele estava interessado somente em cumprir o seu papel dentro do plano de Deus: ser um precursor do Messias, e apontar para o Cordeiro de Deus.

Não é ruim quando a nossa imagem não é prestigiada porque seguimos a verdade bíblica e por termos posturas alinhadas com o que Deus requer de nós. Pelo contrário, isso é louvável. Mas quando valorizamos tanto a nossa imagem, a ponto de sermos desobedientes a Deus para preservá-la diante das pessoas, entramos numa espiral descendente. O amor pela impressão que as pessoas tem de nós e o amor pela popularidade tem sufocado muitos cristãos. Vance Havner disse que “a popularidade tem matado mais profetas do que a perseguição”.

Hoje muito esforço é feito para a promoção da imagem pessoal. Como diz uma propaganda: Imagem é tudo! Mas será que estamos cientes do perigo? Por conta de nossa natureza caída é muito fácil sermos iludidos pelo desejo de popularidade e de aceitação. À custa de princípios e valores espirituais muitos correm freneticamente em busca de aprovação. Você e eu tememos mais a desaprovação das pessoas, do que tememos a desaprovação de Deus? Precisamos dar testemunho da mudança que Cristo operou em nossos corações, independentemente do apoio de pessoas ao redor. Jesus mesmo advertiu os seus discípulos: “Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas” (Lc. 6:26). Quando o mundo ímpio nos louva é sinal de que somos uma fraude! Neste mundo torto em que vivemos, as pessoas aprovam o que Deus desaprova e desaprovam o que Deus aprova. Portanto, muito cuidado com as concessões feitas em prol da aprovação e popularidade! Elas são sinais da nossa decadência moral e espiritual, e denunciam a nossa obstinação contra o Senhor.

2) A ênfase na motivação com aparência de piedade (vs. 15, 21)

“para os sacrificar ao Senhor, teu Deus”

“o melhor do designado à destruição para oferecer ao Senhor, teu Deus”

Justificar nossas atitudes com uma motivação “piedosa” é mais uma prova de nossa obstinação contra o Senhor. Saul apresenta a Samuel o motivo de ter poupado o melhor das ovelhas e bois. Ele enfatiza que o propósito era muito nobre: animais da melhor qualidade seriam oferecidos como holocausto ao Senhor. Esta motivação com aparência piedosa mostra que Saul era um homem cheio de estratégias para aliviar a sua barra. A ordem de Deus foi clara: tudo deveria ser destruído, pois os amalequitas tinha se tornado abominação ao Senhor; porém o rei Saul tinha planos para o seu próprio benefício: as reais intenções estavam associadas com a sua imagem e a sua própria glória. Para Saul, não custava nada pintar com um verniz de piedade a sua motivação egoísta. Há um contraste no texto: segundo o raciocínio de Saul o ritual de sacrifícios compensava a sua desobediência. Mas para o profeta Samuel, a obediência a Deus é sempre a forma mais sublime de sacrifício. Para um servo fiel, definitivamente, os fins não justificam os meios.

O relato sobre Ananias e Safira ilustra bem as motivações equivocadas com um verniz de piedade para tentar impressionar a homens e a Deus. Venderam uma propriedade e retiveram uma parte do valor, mas tentaram demonstrar uma generosidade tal como fez Barnabé. Ananias e Safira queriam impressionar os apóstolos, queriam transmitir uma imagem de supergenerosos. As reais motivações eram torpes, mas eles fizeram o possível para aparentar uma espiritualidade acima da média. Por conta disto, o fim deles foi trágico (At. 5: 1-11).

Muitos de nós pensamos que a vida cristã pode ser vivida com base em aparência de piedade. É um engano fatal. É como tapar o sol com a peneira: não traz nada de efetivo. O Senhor conhece o recôndito do nosso coração, e sabe na íntegra o que se passa em nossas mentes. Ele nos enxerga como “ovelhas sem couro”, tudo está claro e patente aos olhos d’Ele a Quem havemos de prestar contas. É verdade que Deus pesa as nossas ações, mas Ele também avalia profundamente as motivações com as quais agimos. A. W. Tozer escreveu: “Atos praticados por motivações vis são duplamente maus - maus em si mesmos e maus porque praticados em nome de Deus.”

Muitos conflitos são iniciados com base em motivações aparentemente piedosas. Há muita carnalidade revestida de piedade, inclusive dentro da igreja. Por exemplo, um irmão que se mostra disposto a cooperar com algum ministério motivado pelo “amor a Cristo” e pela “glória de Deus”, mas que não abre mão de suas preferências egoístas.

A piedade que demonstramos com os atos precisa ser um reflexo cristalino de motivações santificadas pela Palavra de Deus. Precisamos transmitir com clareza que a nossa fé não é uma fraude. Revestir nossas motivações egoístas com um verniz de piedade não contribui em nada para a aceitação destas motivações por parte do Senhor. Mesmo que a motivação seja piedosa, nossas atitudes de desobediência não passam despercebidas por Deus. As nossas boas intenções desonram a Deus quando não estão alicerçadas nas Escrituras. As boas intenções só podem ser consideradas boas se estão afinadas com os parâmetros do Senhor e em harmonia com os Seus mandamentos. Nenhum proveito há numa vida baseada em aparente piedade. Que possamos desistir de qualquer estratégia que objetiva enfatizar motivações com um verniz de piedade. Isto só realça a nossa obstinação contra o Senhor e um coração cheio de pecado.

3) A ênfase na negação de quaisquer pendências (vs. 13, 20)

“Bendito sejas tu do Senhor; executei as palavras do Senhor”

...pelo contrário, dei ouvidos à voz do Senhor e segui o caminho pelo qual o Senhor me enviou.”

No encontro com Samuel após a batalha contra os amalequitas, o rei Saul se dirige ao profeta com uma linguajar polido de calorosas boas-vindas. Saul apresenta o seu relatório: segundo a sua perspectiva ele havia executado cabalmente a missão que lhe foi confiada. Ele fala como se estivesse no automático, não querendo enxergar a realidade a sua volta. Mas o balido das ovelhas e o mugido dos bois denunciavam que esta versão dos fatos não era verídica. Contra fatos não há argumentos. Mesmo após o profeta declarar claramente “tu não atentaste à voz do Senhor”, o rei Saul rebate de modo categórico: Pelo contrário. É como se dissesse: “não é bem assim, eu fiz o que me foi solicitado, destruí os amalequitas”. Além disso, por duas vezes no texto Saul busca transferir a responsabilidade para os outros: “o povo tomou do despojo ovelhas e bois” (vs. 15 e 21). Em outras palavra: “eu não tenho nada a ver com isso”.

Certa feita perguntou-se a um cristão já idoso, que tinha passado por enormes dificuldades em sua vida, muitas delas como resultado direto de erros cometidos: “Que conselho o senhor daria a um jovem cristão que está começando a perceber as atrações deste mundo?” Aquele senhor de idade avançada refletiu um pouco e falou: “Eu diria: Meu filho, não importa a sua idade, não importa a sua inteligência, e nem o seu currículo. O que mais importa é que você não demore para aprender na Bíblia o que desonra a Deus, e quando errar não se faça de desentendido. Prosseguir adiante como se nada tivesse acontecido é agir como um tolo.”

A resistência em reconhecer prontamente o erro é um sinal muito forte de obstinação contra o Senhor, e nos leva a cometer muitos outros. Na Bíblia a expressão “dura cerviz” é uma ilustração para a rebeldia. Está relacionada com não reconhecer o erro, não dar ouvidos à instrução e não crer com inteireza no Senhor. Homens e mulheres de dura cerviz, quando confrontados mediante a Palavra de Deus, resistem em admitir que estão errados (Pv. 29:1). Preferem criar uma falsa sensação de segurança, sem dar real importância ao que precisa ser tratado.

Nunca, absolutamente nunca, é saudável fugir da realidade! Negar que existam pendências e criar um sistema ilusório de que tudo está bem é um caminho de decadência e fracasso certo. Quanto mais crescemos em santificação, maior a nossa percepção do pecado que tenazmente nos assedia seja em nossas atitudes, motivações ou pensamentos. Uma das evidências de que estamos crescendo em pureza é maior atenção ao que estorva a nossa caminhada com Cristo.

“Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 Jo. 1: 8 e 10). Precisamos ser honestos e transparentes, assumindo a responsabilidade pelos pecados para que possamos lidar sabiamente com eles. O sábio Salomão escreveu o provérbio: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv. 28:13). O sentido primário da palavra neste contexto é esconder, ocultar, apagar, criar mecanismos para negar a existência. Não há avanço ou crescimento na vida cristã enquanto o pecado não é reconhecido.

Não há paz para os rebeldes! Não há paz para quem ignora o pecado em seu próprio viver e não admite imediatamente as pendências que existem no seu relacionamento com o Senhor. Deus requer que os Seus filhos não transijam com o erro, e quando errar que seja transparente.

4) A ênfase na atenuação displicente da culpa (vs. 25, 30)

“volta comigo, para que adore o Senhor”; “e volta comigo, para que adore o Senhor, teu Deus.”

Samuel surpreende o rei Saul com um veredito: “O Senhor te rejeitou para que não sejas rei” (vs. 23). Somente depois deste veredito é que Saul esboça uma caricatura de arrependimento. Mas o fruto do verdadeiro arrependimento é a pronta obediência. Como passo inicial, Saul deveria concluir a missão aniquilando os rebanhos dos amalequitas e matando o rei Agague. Mas ele nem comenta sobre isso. Ele se mostra disposto a adorar ao Senhor, como uma forma de aliviar sua consciência culpada, pelo veredito que acabou de ouvir. Este foi um ato de adoração “para cumprir tabela”, feito pela pressão da culpa, oferecido de forma displicente/descuidada/negligente (faz-de-conta). A adoração, para Saul, não era um meio de relacionar-se com Deus e alegrar-se nEle. Era um meio egoísta de procurar alívio rápido para a sua consciência. Ele desejava “limpar a sua barra” diante de Deus, atenuando o peso que lhe sobreveio por ter sido desqualificado como rei. Mas com Deus não existem negociatas/barganhas. O Senhor não aceita compensações. Se homem não se dobrar, a adoração que presta a Deus é sem valor.

Uma pesquisa recente indicou que 89% dos brasileiros tomam algum tipo de analgésico, quando sentem dor de cabeça de qualquer intensidade. Segundo especialistas em cefaleia, o uso indiscriminado de analgésicos comuns pode piorar as crises. Parece paradoxal, mas um remédio que deveria aliviar o sintoma, pode agravá-lo. O alívio causado por tais medicamentos, quando usados indiscriminadamente, cobra seu preço levando a um aumento na frequência de crises. O tratamento correto de dores de cabeça frequentes exige um diagnóstico preciso do tipo de dor, para que sejam adotadas medidas preventivas, e não somente paliativas.

A consciência é serva de Deus para nos orientar ao caminho correto, nos levando a discernir o certo e o errado. Ela funciona como um sistema preventivo de alerta. Mas a consciência pode ficar cauterizada pelo uso de artifícios para atenuar o sentimento de culpa por pecados cometidos, principalmente quando as consequências trazem grande incômodo para o nosso ego. Não apenas a prática rotineira do pecado entorpece a consciência, mas também o modo errado que escolhemos para tratar o nosso coração quando pecamos. Certamente, não tratar o que precisa ser tratado à maneira de Deus, só vai piorar a nossa situação.

Sem contrição verdadeira e coração quebrantado do adorador, nenhum ato de adoração é válido e aceitável aos olhos do Senhor (Salmo 51:17). Tiago nos ensina a não sermos superficiais neste processo de restauração: “Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará” (Tg. 4:8-10). O nosso coração precisa e deve ser tranquilizado pelos meios de graça corretos, quando reconhecemos a feiúra do nosso pecado. Isto não nos isenta da reparação necessária (Saul não se mostrou pronto a aniquilar o rei Agague e nem os rebanhos que foram poupados dos amalequitas).

Vir à igreja, reunir-se com o povo de Deus, entoar louvores a Cristo, meditar e estudar a santa Palavra, orar e manter comunhão com Deus (mediada por Cristo), o compromisso com algum ministério, o exercício dos dons espirituais, são privilégios inegáveis e tudo isso deve se constituir o nosso maior prazer. Mas quando fazemos isso com o objetivo de trazer um paliativo à nossa consciência culpada, sem confrontar seriamente o nosso coração pecaminoso, estamos apenas fazendo uso de “analgésicos”, que por fim vão trazer ainda maior endurecimento. Definitivamente, na relação com o Senhor não há espaço para medidas superficiais e paliativas.

 

Sermão Pregado em 03/08/14 – Igreja Batista Regular Jardim Amazonas

Os partidos na igreja de Corinto

A palavra “divisão” é a palavra grega cisma, cujo significado é rasgar um tecido. O que Paulo está dizendo é que havia na igreja algo como um tecido rasgado. E isso que eles estavam fazendo: rasgando a igreja! O apóstolo ordena à igreja: “[...] antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1.10b). Paulo menciona quatro partidos dentro da igreja de Corinto: “Eu sou de Paulo, e eu, de Apoio, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo” (1.12). Por que quatro partidos dentro da igreja? Quais eram esses partidos?

Existia o Partido Liberal de Paulo, o PLP. O partido liberal de Paulo era certamente o partido dos fundadores da igreja. Paulo foi o fundador da igreja de Corinto. Nós fomos os pioneiros desta igreja e nós estamos ligados ele. Nós somos do partido de Paulo. Talvez os que engrossavam esse partido fossem também aqueles indivíduos que seguiam a linha da pregação de Paulo, por exemplo, da liberdade cristã, não ficando atrelados ao legalismo que os judeus queriam impor.

Existia o Partido Filosófico de Apolo, o PFA. Nós poderíamos chamá-lo de partido filosófico de Apoio. E por que era o partido filosófico de Apoio? Porque Apoio era da cidade de Alexandria, a segunda maior cidade do mundo. Alexandria era o centro da atividade intelectual do mundo. Os alexandrinos eram entusiasmados com as elegâncias literárias. Foram eles que intelectualizaram o cristianismo.

Existia o Partido Conservador de Pedro, o PCP. O partido conservador de Pedro era composto, possivelmente, pelos judeus e pelos prosélitos que se tornaram judeus por meio da circuncisão. Muitos gentios aderiam à fé judia e eram chamados de pessoas tementes a Deus.

Existia o Partido Cristão de Jesus, o PCJ. E bem provável que esse partido, com o nome mais bonito, fosse o mais problemático. Talvez esse fosse o partido exclusivista. Os membros desse grupo evidenciavam um orgulho espiritual sutil, dando a entender que eles eram os únicos cristãos verdadeiros.


Trecho do livro Como Resolver Conflitos na Igreja
Autor: Hernandes Dias Lopes

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A TIRANIA DO TEMPO E A PACIÊNCIA


O exercício da paciência no dia-a-dia está diretamente relacionado com o entendimento adequado da soberania de Deus sobre o tempo e sobre nossas vidas. O impaciente acha que as suas expectativas devem acontecer logo; para ele não há tempo a perder. O impaciente coloca sobre si um jugo extremamente prejudicial, pois as coisas nem sempre acontecem como e quando quer, o que acaba resultando em frustração e decepção. Ou então, para não ter que esperar, prefere agir do seu próprio modo, tomando decisões precipitadas que por fim trazem prejuízos enormes para sua vida.

O tempo é um senhor tirano, e a pressão que ele exerce sobre o homem pode trazer graves consequências. É necessário termos muita sabedoria para vivermos com paciência e sob a dependência do Senhor. Isto só é possível se não ficarmos dominados sob a tirania do tempo. Obviamente, sem nos esquecermos jamais de realizar o que é da nossa competência em cada situação da vida.

O homem paciente sabe que a sua vida está nas mãos do Senhor e que absolutamente nada escapará do Seu controle soberano. Até mesmo o próprio tempo está sob o domínio sempiterno do nosso grandioso Deus. O sábio Salomão fez afirmações preciosas sobre o valor da paciência, pois entendia que o caminho da precipitação traz desonra ao servo do Senhor:

  • “O homem paciente é grande em entendimento, mas o de ânimo precipitado exalta a loucura.” (Pv. 14:29)
  • “Melhor é o homem paciente do que o herói da guerra” (Pv. 16:32)
  • “Não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado.” (Pv. 19:2)

Precisamos ter a coragem de depender do Senhor. “Depender de Deus” não é um mecanismo de fuga das nossas responsabilidades, pelo contrário é o exercício da fé verdadeira e o depósito sem reservas de nossas expectativas Naquele que reina sobre o tempo e sobre as circunstâncias da nossa vida. Isto não se aprende de uma hora para outra, é fundamental nos submetermos à Palavra de Deus em cada decisão que vamos tomar para que sejamos moldados diariamente como servos do Senhor. Afinal, uma ótima definição de um servo, é de alguém que está sempre atento às prioridades do seu Senhor e não busca os seus próprios interesses pois o seu maior anseio é satisfazer aquele que o comprou por alto preço. O servo é paciente no exercício das atividades para a glória do Senhor, e faz todas as coisas não como um refém do tempo, mas com plena alegria no coração por tão grande privilégio.

Que o nosso Deus nos transforme cada dia mais em servos pacientes, que entendem na prática que nada é demasiadamente demorado para aquele que é o Senhor do tempo.

Eu busco tempo para tantas coisas
São tantos planos para pouco tempo
E em meio a tudo que exige tempo
Eu já não tenho tempo pra falar com Deus

...

Não tenho tempo para descansar
Rever amigos e conversar
Já não consigo me assentar a mesa
E alimentar o que a alma almeja

Letra da canção SENHOR DO TEMPO, de Paulo Cesar Baruk