quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A água do poço de Belém


Uma das histórias mais interessantes que lemos sobre a vida de Davi ocorreu durante um combate com os filisteus. Os filisteus haviam ocupado Belém, a cidade natal de Davi. Davi e seus homens estavam acampados do lado de fora da cidade. Enquanto pensava em Belém, ficou cheio de nostalgia e disse em voz alta: “Quem me dera beber água do poço que está junto à porta de Belém!” (2 Samuel 23:15). Não era uma ordem nem um pedido; Davi simplesmente desejou poder beber novamente do velho poço, como fazia antes nos velhos tempos de simplicidade. Todavia, Davi era tão amado pelos que o cercavam, que um desejo dele era para eles uma ordem. “Três valentes de Davi” abriram caminho lutando com os filisteus, tiraram água do poço, voltaram lutando novamente com os filisteus e, por fim, entregaram a água ao comandante deles.

Posso imaginar esses homens corajosos se prostrando perante Davi, oferecendo-lhe um copo cheio de água fresca. As roupas deles deviam estarrasgadas e ensanguentadas; os corpos, cheios de ferimentos — tudo aquilo para trazer um copoda água daquele poço ao seu amado líder. Davi transbordou de emoção. Ele pegou o copo, mas recusou-se abeber aquela água que poderia ter custado as vidas de seus homens. Lentamente, despejou aágua no chão em oferta ao Senhor. E enquanto a terra sedenta absorvia a água, ele disse: “Longe de mim, ó Senhor, fazer tal coisa; beberia eu o sangue dos homens que lá foram com perigo de sua vida?”(v. 17).

Este acontecimento ilustra bem a importância de valorarmos adequadamente tudo em nossa volta. Nossos desejos não podem ser elevados a uma posição de primazia, ainda mais quando o custo para satisfazê-los envolve sacrifícios por demais valiosos. A vida daqueles homens valentes tinha muito mais valor para Davi do que a satisfação de seu desejo por água fresca do poço. Certamente Davi reconheceu a coragem e ousadia daqueles valentes, mas não estava interessado em satisfazer qualquer desejo que oferecesse algum risco à integridade dos seus homens. Neste episódio, Davi dá evidências que tinha posto seus anseios no lugar correto.

Será que temos avaliado corretamente o custo envolvido para alcançarmos certos objetivos na vida? O cristão maduro precisa deixar de lado a impulsividade para ceder aos seus desejos em razão da fé que precisa ser nutrida e também do valor infinitamente maior do que está em jogo. Várias famílias estão sendo literalmente destruídas por conta de desejos menores que foram elevados à categoria de prioridade absoluta. Muitos relacionamentos conjugais já não possuem nenhuma estabilidade por causa da busca desenfreada por alvos fúteis, em detrimento da solidez do casamento. Portanto, é extremamente importante que tenhamos senso crítico para não sermos iludidos na busca pela satisfação de desejos, que colocam ainda mais em risco a estabilidade e a saúde da nossa alma. Sobriedade na vida cristã não é opcional.


Em busca do sucesso


O sucesso geralmente traz notoriedade e popularidade, as quais, por sua vez, provocam distração; esta, por sua vez, traz o fracasso. Os exemplos desse efeito dominó são múltiplos: o astro de TV e cinema que não consegue lidar com a pressão do sucesso e destrói a carreira, voltando-se para o álcool e as drogas; o time esportivo que vence o campeonato nacional, depois, no ano seguinte, atravessa uma temporada terrível por causa de distrações; o gerente de empresa que se corrompe pelo poder que lhe é dado, e em pouco tempo é demitido por estar envolvido em falcatruas.

Na história de Davi, logo após ter assumido o trono e vencido algumas guerras, percebemos que ele se distraiu, desviando-se do seu propósito — e foi grande o desastre resultante. Até certa altura, Davi estava cem por cento concentradonos desafios que Deus lhe deu: representá-Lo no trono, estabelecer o império e proteger a nação por meio da qual o Messias viria. Por ter-se mantido concentrado, Davi cumpriu esses desafios esplendidamente.Na história de Davi e em muitos outros relatos bíblicos, observamos que um ingrediente essencial para o sucesso espiritual é a concentração em alvos corretos. Por outro lado, o fracasso torna-se iminente quando reina a distração e a indolência.

Muito tem se falado a respeito do estabelecimento de alvos. Estabelecer alvos é algo que vale a pena desde que os alvos valham a pena. Todavia, uma vez estabelecidos os alvos, é fácil nos distrairmos, esquecendo em que consiste a vida. Temos de nos esforçar para não esquecer o que é realmente importante. Recordemos a famosa afirmação de Paulo:“…uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3:13, 14). Observemos a expressão “uma coisa faço”. Ele não disse “uma dúzia de coisas faço”, nem “mil coisas eu me meto a fazer”, mas “uma coisa faço”. Paulo era um indivíduo concentrado — concentrado em Cristo. A razão do progresso espiritual de Paulo e do seu ministério frutífero foi a concentração no que era essencial, sem deixar-se distrair por futilidades.

Onde você quer chegar sem a concentração na pessoa de Cristo e nos alvos que Ele estabelece por meio das Escrituras? Não podemos esperar sucesso e progresso em nosso viver se estivermos governados por distrações variadas. O alvo do escritor da carta aos Hebreus permanece atual e relevante: “Olhando firmemente para o Autor e Consumador da nossa fé, Jesus.” Portanto, vamos nos empenhar na corrida com concentração total. A linha de chegada está logo adiante.