terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O fariseu e o publicano

A parábola do fariseu e do publicano, narrada por Jesus em Lucas 18, tem lições preciosas a nos ensinar. É impressionante como o fariseu retrata bem cada pessoa que coloca a justiça própria acima da justiça de Cristo. A parábola é endereçada a “alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros” (Lucas 18:9).


É importante percebermos que o nível de excelência do fariseu era medido em comparação aos que eram considerados escória da sociedade da época (publicanos, adúlteros, roubadores...). Ou seja, para considerar-se um “top crente” o fariseu estabelece comparativos com pecadores inveterados.


Além disso, o propósito de orar (falar com naturalidade e espontaneidade com o Senhor) tinha se desvirtuado na mente do fariseu. Ele merecia uma ode a si mesmo, e por isso usa a oração como um meio de autopromoção, um meio de iludir-se sobre a sua performance espiritual. A autopromoção sempre nos leva a ignorar o padrão correto de justiça, que é Cristo nosso Senhor. Ele é quem deve ser o nosso parâmetro, não outros pecadores que encontramos pelo caminho. Precisamos olhar firmemente para o Autor e Consumador da nossa fé, correndo com perseverança a carreira que nos foi proposta por Ele mesmo.


O publicano reconheceu a sua penúria de alma, via-se como um miserável pedinte diante do trono da graça divina e não apresenta nenhuma exigência ou um discurso de bondade. Suas palavras são diretas, sem embromação: “Sê propício a mim, pecador”. Ele não faz comparações, até porque sua penúria é completa. Ele considerava-se falido espiritualmente, sem nada a que pudesse agarrar-se senão na misericórdia que flui do trono do Senhor. Aqui nós observamos um contraste bastante claro: o fariseu do início ao fim demonstra altivez; o publicano, por sua vez, demonstra rendição completa.


Nós gostamos de estabelecer o nosso desempenho como referência ou padrão de justiça. Assim, o que fazemos em prol do reino de Deus não tem como finalidade agradar ao Senhor, mas satisfazer o nosso senso de justiça própria. Embutido nessa busca por desempenho, há o desejo de menosprezar aqueles que não atingem o nosso padrão de retidão pessoal. Agindo assim, buscamos estar sempre num pedestal de moral que nós mesmos estipulamos como ideal. Os demais que não atingem este patamar são consideramos como crentes de “segunda classe” e colocados numa classificação desprezível.


Que o nosso procedimento seja igual ao do publicano: ele não estabeleceu parâmetros de justiça própria, mas agarrou-se firmemente à propiciação (favor divino) disponível para aqueles que têm o coração quebrantado e espírito abatido pela miséria causada pelo pecado.



"Nada na vida cristã é tão prejudicial quanto esta atitude farisaica que busca convencer outras pessoas que já chegamos ao topo da escada espiritual."



quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Onde está a honra da nação?

 

Não é difícil para nenhum brasileiro constatar que os dias atuais têm sido nebulosos e traiçoeiros no nosso país: um partido empenhado em se manter no poder (custe a honra que custar), políticos pegos com a boca na botija, ricos empresários envolvidos em negociatas com o poder público, dirigentes da nação enlameados sem nenhum pudor com a sujeira da corrupção. E não menos ruim é o fato de que não se descortina nenhum horizonte de recuperação da economia já tão combalida pelos desmandos do Estado.

Um cenário desalentador não clama por heróis. Um cenário assim requer de cada um de nós uma manifestação de honradez e vergonha na cara, à altura de tanto desgoverno que tem sido denunciado nos jornais livres e na imprensa não-amordaçada. Ano que vem será mais um ano eleitoral, e nas urnas muitas mudanças podem e devem ser feitas, ao elegermos prefeitos e vereadores que irão comandar os municípios brasileiros. Já não é momento para utopias e devaneios sem sentido; é momento de pés no chão e coragem para efetivamente cobrarmos das autoridades instituídas sobre nós o dever de jogarem limpo, sem falcatruas e ajeitados para os “amigos do rei”.

O juiz Sérgio Moro faz despertar em nós, brasileiros honrados, um ímpeto de mudança. Queremos um Brasil melhor, para nós e para as gerações vindouras. Mas sem o empenho de cada cidadão de bem, não haverá um futuro promissor. Viveremos como cão que corre atrás do rabo, iludido por brincadeiras sem propósito. É urgente a necessidade de postura combativa nas urnas, contra tudo que depõe contra o Estado de Direito e em prol da boa conduta dos governantes desta nação.

Não dá mais para o Brasil ter somente um belo slogan, tal como “Um País de Todos” ou “Pátria Educadora”, sem efetividade na prática e sem honradez nas decisões políticas que deveriam objetivar sempre o bem coletivo. Chegou a hora do gigante despertar da modorra em que se encontra, fazendo valer o chamado do pendão verde e amarelo: Ordem e Progresso. Avante, pois!

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Como morrer bem

Texto base: 1 Cor. 15

Talvez você possa achar que este tema soa um tanto fúnebre, ou intragável, mas o fato é que precisamos pensar naquele instante final em que nossos corpos estarão inertes e sem vida. O sábio Salomão advertiu claramente:“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração.” (Ec. 7:3)
Na verdade, nós não incluímos a morte em nossas agendas. E isto é grave!O apóstolo Paulo vislumbrava o dia em que partiria deste mundo: "O tempo da minha partida está próxima" (2 Tm. 4:6). As coisas temporais eram como as cordas que o prendiam a este mundo, mas logo seu barco deveria desprender-se da costa, e navegar adiante, para o porto da glória, e ali ser ancorado para sempre.
Em 02 de novembro de 998, o abade Odilo de Cluny instituiu aos membros de sua abadia e a todos aqueles que seguiam a Ordem Beneditina a obrigatoriedade de se rezar pelos mortos. A partir do século XII, essa data popularizou-se em todo o mundo cristão medieval como o Dia de Finados, e não apenas no meio clerical. O dia 02 de novembro ainda é identificado como sendo um dia específico para se meditar e rezar pelos mortos. Milhões de pessoas cumprem o ritual de ir até os cemitérios levar flores para depositar nas lápides em memória dos que se foram; outras levam também velas e cumprem os rituais mais tradicionais, como orações, cânticos etc.
Obviamente, nós sabemos que todo este ritual e cerimonialismo em torno do dia 02 de novembro é mais um engano de Satanás para iludir pessoas e deturpar a mensagem clara do evangelho. Não há mais o que fazer quando a alma de alguém entra no seu estado eterno, pois “aos homens está ordenado morrer uma só vez, e depois disto segue-se o juízo”; a oportunidade de acerto de contas com o Senhor é somente em vida. Após esta curta peregrinação não há mais uma segunda chance.
Sabemos que é preciso viver com convicções. Pautar nossas vidas por convicções é importantíssimo. Mas não somente viver, é necessário morrer com convicções. Alguém disse que o importante não é começar bem, é terminar melhor. Sendo assim, neste capítulo 15 de 1 Coríntios em que Paulo traz à baila a verdade acerca da ressurreição dos mortos, fiquei refletindo sobre a necessidade de chegar ao fim da vida de uma forma agradável ao Senhor. Chegaremos ao fim da vida na velhice, com corpos doloridos e sem vigor, mas como ter uma morte que glorifica a Deus? Não sabemos quando será a data da partida, por isso mesmo é essencial cultivar uma perspectiva correta sobre a morte.

COMO PODEMOS TER UMA MORTE QUE GLORIFICA A DEUS?  Estando alicerçados em pelo menos cinco convicções, com base no texto em 1 Coríntios 15.

"Quer comais, quer bebais, fazei tudo para a glória de Deus." Isto é, tanto a nossa vida, como a nossa morte deve servir para trazer glória ao nome do Senhor. 
"Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor." (Rm. 14:8)

1) Morra convicto de que a história tem um rumo certo (vs. 24-28)
A história não é um barco à deriva. Não estamos rumando sem direção, pois quem governa a história é o próprio Deus. O Senhor não deu corda a este mundo e deixou-o sem rumo, apenas seguindo as leis da física (leis de Newton, e outros cientistas). Para o cristão, o mundo não caminha para o caos, para o desastre e para a ruína. Haverá um tempo em que o Senhor restabelecerá todas as coisas conforme decretou antes da criação, para que o Seu próprio nome seja exaltado sobre tudo e sobre todos.
Este mundo com todas as suas mazelas, sob a influência do príncipe da potestade do ar, não está isento do controle soberano. Deus sabe o fim desde o começo. A história está escrita, Satanás sabe que o fim dele foi decretado na cruz (a cabeça da serpente foi esmagada de uma vez por todas) e com um sopro da boca do Senhor, a Bíblia afirma que Satanás será derrotado. Podemos cantar com segurança: “Que consolação tem meu coração, descansando no poder de Deus”. Ele governa, Ele reina, Ele tem o centro em suas mãos e tudo está sob o Seu controle; o fechamento da história não é uma incógnita para o Senhor.

2) Morra convicto de que lutou contra o pecado (vs. 34a)
Chesterton afirmou: “Somente uma coisa morta segue a correnteza. Tem que se estar vivo para contrariá-la.”Novas criaturas em Cristo, que foram vivificados pelo Espírito de Deus, lutam contra o pecado. Não baixam a guarda, não abrem concessões e não negociam princípios. A essência do viver do crente é combater o pecado que tenazmente nos assedia. Para correr com perseverança a carreira cristã e chegar ao fim da linha com coragem e vigor, faz-se necessário desembaraçarmo-nos de todo peso do pecado. Isto exige suor e esforço, exercício constante de reprovação da nossa natureza caída que herdamos de Adão.
Chegar ao fim da linha sem a convicção de que lutou contra o pecado é um atestado de falência da nossa espiritualidade.Cristo nos deu condições de lutar com as armas corretas, pondo abaixo o orgulho que fornece lenha para tantos outros pecados. Não faz o menor sentido alguém viver em apostasia (abandonar a fé de modo continuado e irreversível sem arrependimento) e ainda assim querer um lugar no céu. O cristão luta contra o pecado e combate esta luta até o último suspiro de sua vida.

3) Morra convicto de que buscou conhecer a Deus (vs. 34b)
Conhecer a Deus é manter um relacionamento com Ele. Tal relacionamento não é possível sem a mediação do Senhor Jesus e sem a instrução das Escrituras. O cristão é alguém que não cansa de meditar nas verdades bíblicas, e se empenha com vigor em aprimorar o seu relacionamento com Deus sabendo mais sobre o Senhor. O salmista expressou este desejo profundo da seguinte forma: “Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca. Por meio dos teus preceitos, consigo entendimento” (Sl. 119: 103,104). Somente alguém que tem prazer na Palavra de Deus pode afirmar que conhece ao Senhor.
A Palavra de Deus não deve ser rejeitada, considerada amarga, ou colocada em plano secundário em nosso viver. O apetite do cristão pelas verdades espirituais é um claro indicativo de seu progresso na fé. Precisamos chegar ao leito de morte com a convicção de que não deixamos de lado as oportunidades para conhecer mais a Deus. “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os. 6:3):o profeta Oséias destaca que este processo tem efeito de continuidade e não esporádico.

4) Morra convicto da bendita expectativa da ressurreição (vs. 42, 43)
A morte não é um ponto final. Poderia ser apenas reticências... Quando nos despedimos de um ente querido que morreu em Cristo Jesus, não é um adeus; é apenas um até breve. Esta bendita expectativa é um poderoso antídoto contra a apatia e a falta de brilho em nossas vidas. O cristão deve viver com os olhos fitos no céu, sem alienar-se das batalhas que tem nesta terra, mas sempre focado no reino ao qual pertence.
A morte não deve nos alarmar ou trazer algum tipo de pavor. Precisamos estar preparados para quando o momento chegar. E não há nada mais importante do que termos uma mentalidade celestial, que contempla além dos limites deste mundo tão passageiro e ilusório. O poder de Deus trará a existência corpos que morreram há milhares de anos para unirem-se com as almas, isto é uma promessa bíblica. Se chegarmos ao leito de morte sem esta esperança real, podemos ser considerados os mais miseráveis e infelizes da face da terra.
O Senhor Jesus disse a Marta que estava chorosa e angustiada pela morte do seu irmão Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá.” (Jo. 11:25). Tal promessa não se restringia somente àquele momento na pequena vila de Betânia. Aqueles que morreram crendo em Cristo hão de ressurgir para habitar eternamente com o Senhor, gozando da mais perfeita paz e louvando a Cristo pela obra da cruz.

5) Morra convicto de que prestou serviço ao Senhor (vs. 58)
Servir ao Senhor é o maior privilégio que alguém pode ter. Estamos falando do serviço autêntico, feito conforme as orientações do Senhor e sem a busca de interesses menores (elogios, aplausos, fama). O serviço ao Senhor não deve ser realizado sob coação, sem regozijo e sem corações rendidos. Servir ao Senhor com alegria é o padrão bíblico. Servir ao Senhor por gratidão eterna, constrangidos pelo seu imenso amor, deve ser a nossa maior motivação nesta terra.
O serviço ao Senhor refere-se a nossa mais profunda identidade. Ou seja, quem somos em Cristo (remidos, justificados, comprados, santificados, herdeiros, novas criaturas, peregrinos, povo eleito, sacerdócio real, nação santa), define como agiremos em face de tudo que fomos agraciados.Até mesmo o caminho de Cristo foi um caminho de serviço: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mc 10:45)Cristo é o nosso referencial; portanto, em nossos lares, empresas, igreja e relacionamentos, devemos espelhar o ideal do Senhor para nós.

























sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O fundamento da nossa fé

No capítulo 15 da carta aos Coríntios, Paulo apresenta o ensino sobre a ressureição para fortalecer as bases doutrinárias da igreja de Corinto. Algum grupo herético estava semeando o falso ensino de que não existia ressurreição. Com base na filosofia grega, havia em Corinto uma forte tendência ao ceticismo que assinalava a morte como um ponto final. Do lado gentio, o dualismo ensinava que o corpo é mau em si (prisão da alma) e que não teria mais nenhum propósito após a morte. Do lado judeu, os saduceus encaravam a vida sob um ponto de vista materialista, a ponto de desprezar milagres que rompiam a ordem natural das coisas. Paulo rebate estes ensinamentos errôneos trazendo à tona a veracidade das Escrituras (vs. 3-4) e a confiabilidade das testemunhas que viram o Senhor ressurreto (vs. 6-8). A ressurreição dos mortos é um ensino bíblico no qual devemos perseverar (vs. 1), isto é, não deixando definhar a bendita esperança que nos motiva na peregrinação cristã.

A ressurreição de Cristo é o sólido fundamento da nossa fé

Esta afirmação pode ser comprovada por alguns argumentos com base no texto em 1 Coríntios 15: 1-19:

1. Sem a ressurreição de Cristo, a pregação do Evangelho perderia sua eficácia (vs. 14): “é vã a nossa pregação”. Sem o fundamento da ressurreição, a proclamação das benditas verdades do Evangelho perde totalmente a razão de ser, tendo em vista que não aponta para uma esperança real fora desta vida.

2. Sem a ressureição de Cristo, o cristianismo se tornaria sem sentido (vs. 14): “é vã a nossa fé”. Sem o fundamento da ressurreição, toda a doutrina e prática cristã se torna vazia e destituída de propósito efetivo. O cristianismo passa a ser meramente um conjunto formal de princípios morais para um viver adequado neste mundo.

3. Sem a ressurreição de Cristo, a verdade de Deus seria colocada em xeque (vs. 15): “temos asseverado contra Deus que Ele ressuscitou a Cristo.” As Escrituras apontam para a morte e ressurreição de Cristo de modo a glorificar o plano de salvação estabelecido desde os tempos eternos.

4. Sem a ressureição de Cristo, a penalidade do pecado continuaria sobre nós (vs. 17b): “ainda permaneceis nos vossos pecados”. A ressurreição foi uma prova de que Deus aceitou o sacrifício de Seu filho e que a justificação do pecador foi totalmente eficaz (Rm. 4:25), não restando mais nenhum débito em nome do pecador.

5. Sem a ressureição de Cristo, a morte ainda seria um estorvo para nós (vs. 18): “os que dormiram em Cristo pereceram”. O pecado de Adão trouxe morte a todos os homens (tanto física, quanto espiritual). De outra forma, o sacrifício perfeito de Cristo ratificado pela ressurreição gloriosa, traz vida abundante ao pecador (aqui e na eternidade).

6. Sem a ressurreição de Cristo, a nossa existência se resumiria em grande ilusão e frustração (vs. 19): “somos os mais infelizes de todos os homens”. Se não temos o que enxergar além dos horizontes desta vida tão breve, se nossos olhos não contemplam a realidade espiritual que está no porvir e se não conseguimos ter regozijo ante a esperança eterna, há sérios problemas com a nossa concepção de cristianismo.

 

Estudo EBD Jovens
IBR Jardim Amazonas / Petrolina

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A MENTE COMO INSTRUMENTO DE ADORAÇÃO

Paulo argumenta que os cristãos de Corinto não desprezem o recurso da razão no culto prestado ao Senhor. A mente do crente não deve ficar infrutífera no processo de santificação e adoração. Vejamos algumas afirmações de Paulo sobre o assunto em 1 Coríntios 14:

“Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente.” (vs. 15)

“Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com meu entendimento para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua” (vs. 19)

“Irmão, não sejais meninos no juízo, na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos” (vs. 20)

Note a palavra “juízo” neste versículo que significa: a mente, a faculdade de perceber e julgar (phern - de uma raiz arcaica que significa controlar, frear). A ideia por traz do termo é que o uso adequado da razão funciona como um controle ou freio para evitar disparates.

A profecia deveria ser julgada com a mente, tendo como parâmetro a coerência com o ensino de Cristo e dos apóstolos. Para nós hoje, os parâmetros precisam ter como ponto de partida e chegada a Palavra de Deus completa e suficiente em si mesma. Portanto, o uso da mente é imprescindível. Até mesmo nossas emoções devem passar pelo crivo da mente, para que possam ser identificadas como legítimas ou não.

O que observamos em nossos dias é o total desprezo pelo juízo do que é dito ou pregado. Doutrinas nascem aleatoriamente e são aceitas sem critério por pessoas que não se interessam em checar as Escrituras com suas mentes. Há uma supervalorização das experiências individuais e do pragmatismo, em detrimento da necessidade do juízo coerente.

O raciocínio dado pelo Senhor não deve ser relegado a segundo plano, porque é através da mente que prestamos um culto racional e aceitável a Deus. Fomos presenteados com a razão para que não sejamos infrutíferos no nosso relacionamento com o Senhor. Não somos salvos sem que a verdade do Evangelho penetre nossas mentes e também não somos santificados sem que nossas mentes sejam encharcadas com a essência do Evangelho.

A confusão e desordem no meio da igreja é resultado direto do desprezo à instrução bíblica e da falha em exercitar o juízo adequadamente. Que sejamos cristãos cada vez mais influenciados pela verdade bíblica, tendo nossas mentes sempre cheias de verdades e princípios úteis para nos guiar nesta curta peregrinação na terra. Nós fomos chamados a pensar utilizando toda a capacidade dada por Deus para ponderar e compreender sob a supervisão do Espírito Santo. Portanto, adoremos ao Senhor em espírito em verdade, certos de que Ele receberá o culto prestado que está em harmonia com os parâmetros das Escrituras.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

CORRUPTOS DESDE O BERÇO

Muitos conhecem o famoso ditado “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”, da pena do historiador católico John E. E. Dalberg Acton, ou simplesmente Lord Acton. Mas não concordo com a frase. Estou alicerçado no que a Bíblia mostra sobre a natureza já corrompida do homem desde o seu nascimento. Portanto, o poder não corrompe. Na verdade, ele mostra quem você nós somos.

A natureza corrupta de Adão transferiu-se a todos os seus descendentes. Hoje, eu e você, somos herdeiros desta total depravação do coração humano, que tende sempre a buscar caminhos alternativos longe da submissão a Deus. Sendo assim, o homem é totalmente escravo, ou melhor um escravo totalmente depravado, vendido à escravidão do pecado. O homem não tem nada de bom em si que advogue em seu favor para resultar em algum mérito diante do Senhor da glória. Somos totalmente carentes da glória de Deus, e estamos muito distantes e fazer o que é agradável ao Senhor com base em nossos maiores e melhores esforços.

Somente a graça transmuda um coração depravado em um coração moldável pela verdade divina. A graça traz luz ao coração em trevas e derruba todos os muros erguidos em prol da justiça própria. Esta preciosa graça destrona o reinado do "eu" e faz-nos enxergar a essência do discipulado proposto por Cristo: negar a si mesmo é o caminho para um viver autêntico e significativo.

Os tempos mudam, mas a relevância das Escrituras permanece evidente. Somente por meio da graça abundante de Cristo há solução efetiva para a total depravação humana. Continuamos pecadores enquanto estivermos neste mundo vil, mas agora somos pecadores agraciados com o perdão irresistível providenciado pelo próprio Deus. Com base neste perdão gracioso e imerecido, temos plenas condições de sermos sal e luz neste mundo corrompido e sem direção, que se aproxima da calamidade moral e espiritual. Assim sendo, que sejamos referenciais como cristãos, cujas vidas estão sempre apontando para Cristo, autor e consumador da nossa fé.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Negação da culpa

Nossa sociedade pós-cristã tem trabalhado duro por mais de um século para enterrar a culpa no quintal cultural e negar que a culpa pode ser moralmente significativa. Na esteira de Sigmund Freud e da revolução terapêutica, a visão de mundo secular moderno exige que a culpa precisa ser entendida como o resíduo remanescente da consciência cristã, uma experiência forçada sobre nós por uma sociedade que impõe julgamentos morais opressivos. A culpa deve ser superada e negada, nunca levada a sério.

Mas a visão de mundo cristã afirma que a culpa é inescapavelmente moral, e que a nossa experiência de culpa vem do fato de que somos feitos à imagem de Deus como criaturas irredutivelmente morais. Não podemos ignorar a realidade da nossa culpa, que existe como um presente de Deus para nos levar ao conhecimento de que somos pecadores necessitados de um Salvador.

Albert Mohler

Negar a culpa é uma tendência humana que remonta ao jardim do Éden. Quando o primeiro casal desobedeceu a Deus, ninguém quis assumir a culpa e a escolha foi simplesmente buscar respostas evasivas. O homem pós-moderno não admite a própria culpa como um sintoma real de inadequação ao padrão moral estabelecido por Deus. Sendo assim, a busca por mecanismos de negação e abstração são muito aceitos no mundo hoje.

A Palavra de Deus nos aponta que o coração enganoso sempre buscará evasivas para se livrar da culpa perante o Senhor. O escrutínio das Escrituras é certeiro e define sem margem de erro que o homem tentará sempre anular sua consciência culpada chafurdando-se ainda mais em caminhos pecaminosos. Este é o padrão pós-queda: mais pecado para tentar aliviar a culpa. E assim caminha a humanidade…

Somente Cristo resgata efetivamente o homem e o redime de qualquer culpa. Para isso, Ele teve que assumir a forma de servo e morrer a morte de cruz como Cordeiro sem mácula. Seu sacrifício substitutivo na cruz foi o prenúncio da vitória sobre o pecado e a morte eterna. Por meio da fé, o homem pode colocar o seu fardo (pesado e árduo) aos pés da cruz, confessando sua total insuficiência perante o Deus santo e assumindo de uma vez por todas trilhar o caminho estreito, que conduz à glória e a um viver sem culpa.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Sua alegria tem fundamento em Deus?

Uma antiga música do grupo Logos apresenta um quadro inquietante. A canção traz em sua letra a seguinte declaração: "Há sorridentes bebendo as próprias lágrimas do coração." Em outras palavras, há pessoas que até carregam um sorriso no rosto, mas por dentro estão corroídas de tristeza ou desilusão profunda com os fardos e intempéries desta vida. Colocar um sorriso no rosto e esbanjar alegria pelos poros não é tão difícil. Com um pouco de treinamento é possível, e principalmente quando o foco é passar para as demais pessoas em redor que tudo está bem e as realizações estão seguindo de vento em popa. Mas o coração em paz e cheio de júbilo pela presença sempre confortadora do Senhor, ah, deixa isso pra lá...

Não podemos viver de aparências por muito tempo. Um dia a máscara vai cair, e quando este dia chegar um desespero terrível se fará presente e turvará os propósitos de quem andou por muito tempo esbanjando uma alegria superficial. Por isso é fundamental que a alegria transmitida seja resultado real de uma alegria mais profunda e duradoura que tem como fundamento o próprio Deus. Qualquer autoimagem de alegria produzida artificialmente que não tenha Deus como fonte e sustento, é pura ilusão. Em questão de tempo tornar-se-á evidente a realidade das lágrimas presentes no coração.

É fato que neste mundo as aflições são incômodas e causam tristeza. Não defendo que a alegria seja sempre a tônica desta vida, afinal em alguns momentos iremos desanimar. Mas aqueles que conhecem Deus de uma forma pessoal, não encaram a vida com um palco para demonstrar falsas alegrias e nem para chafurdarem-se num vitimismo fútil. Há um santo regozijo no coração do cristão que é claramente perceptível, sem forçar sorrisos no meio da plateia. Ademais, o cristão que comunga com o Senhor, a despeito das lutas e dores cotidianas, encontra razão para ter esperança no Senhor, real e profundamente.

Alegria genuína não se produz artificialmente. Faz-se necessário ter vida com Deus em cada instante do caminho que temos pela frente. E nutridos pelo relacionamento autêntico com o Senhor, com o coração repleto da paz que excede todo entendimento, poderemos afirmar junto com o salmista: "Folguem e em Ti se rejubilem todos os que Te buscam; os que amam a Tua salvação digam sempre: O Senhor seja magnificado!" (Salmo 40:16)

terça-feira, 14 de julho de 2015

Sem contestação

Texto: Miquéias 6: 1-8

Tema: Sem contestação

Introdução:

Certa vez recebi uma convocação do Fórum de Justiça para participar do tribunal do júri. O tribunal do júri é um instituto legal que existe para julgar os crimes dolosos contra a vida. Em cada julgamento sete jurados são escolhidos aleatoriamente para ouvir os debates entre defesa e acusação (promotor) e depois são recolhidos a uma sala reservada onde votam os quesitos levantados pelo juiz. Quem decide pela absolvição ou condenação do réu são os jurados, o juiz é responsável para dosar a pena que o réu receberá. Diante das denúncias oferecidas pelo promotor e com base nas provas do processo, cabe aos jurados decidirem o caso. Então, o corpo de jurados atua como representante da sociedade para julgar os crimes de homicídio, tentativa de homicídio ou latrocínio, por exemplo. Num dos casos que participei, o promotor ao longo de sua exposição, repetiu em diversos momentos: Não há o que contestar. Contra fatos e fotos não há argumentos”. Com isto ele queria afirmar que a denúncia e as provas do processo por si só eram suficientes para condenar o réu por homicídio doloso (em que há intenção de matar). A defesa até que tentou, mas as provas eram de fato irrefutáveis.

Neste texto, nós somos levados pelo profeta ao cenário de um tribunal. O promotor Divino tinha uma controvérsia contra Israel, uma demanda judicial, uma disputa legal a ser travada de maneira justa e transparente. O profeta Miqueias é a boca de Deus para apresentar ao povo as graves denúncias da parte do Senhor: denúncias com provas incontestáveis dos maus caminhos do povo de Israel. Tais denúncias são reais e incontestáveis; não se trata de denúncias infundadas. Os montes e outeiros são convocados para comparecer como testemunhas, e os termos utilizados nos versos 1 e 2 fazem referência a uma contenda judicial. O demandante é o Senhor que atua como Promotor do caso; o povo está assentado no banco dos réus e é chamado a defender a sua causa: Levanta-te, defende a tua causa!”

Os profetas tinham o papel importante de entregar a mensagem do Senhor, geralmente composta de desafios para um viver autêntico e coerente, apontando os pecados cometidos e relembrando ao povo os pormenores do compromisso firmado com Deus. Nos livros dos profetas é bastante comum a utilização de figuras de linguagem que remetem a uma demanda judicial (Os. 4:1; 12:2; Mq. 3:8), e em Mq. 6:1-8 este quadro se torna ainda mais evidente.

Nenhuma contestação é aceitável diante dos fatos denunciados pelo Promotor Divino”
S.I: Diante de quais fatos denunciados pelo Promotor divino nenhuma contestação é aceitável?

Contra fatos não há argumentos. Diante das denúncias feitas pelo Promotor divino, o povo de Israel não tinha nenhum argumento plausível a apresentar em sua defesa. Os fatos denunciados são irrefutáveis (não cabe contra-argumentação). O que nos cabe, então? Apenas o corar de vergonha. A solução é sempre iniciada pelo genuíno arrependimento. Quando há arrependimento, abre-se uma porta de esperança e a possibilidade de um recomeço. Agora, quando não existe arrependimento e mudança de postura, o caminho é sempre espinhoso e nos leva a uma existência medíocre.

1ª) A indisposição no relacionamento com o Senhor (vs. 3)

A existência de um relacionamento particular entre Israel e Deus torna-se clara com a expressão “Meu povo”: um termo que retrata proximidade intencional da parte do Senhor, que escolheu para Si um povo para se relacionar. A descendência de Abraão veio a se tornar uma grande nação, escolhida para ser propriedade exclusiva e representante do Senhor. Não se discute a realidade do relacionamento, firmado por Deus com o patriarca Abraão. A questão que o Promotor divino levanta é sobre a qualidade e profundidade deste relacionamento. As perguntas feitas servem para constranger o povo; de fato, Deus não tinha feito absolutamente nada para trazer tédio, canseira ou enfado ao Seu povo. Pelo contrário, a fidelidade do Senhor em nutrir este relacionamento foi sempre constante. O déficit era por conta de Israel, que dava preferência aos ídolos dos povos pagãos e não se apegava com todo coração e força ao Senhor. Esta indisposição e má vontade eram patentes, não havia resposta que justificasse tamanho ultraje.

Mantidas as devidas proporções por conta dos efeitos da queda, é impressionante como um casamento pode ruir facilmente devido à indisposição dos cônjuges em nutrir vigorosamente o relacionamento entre o casal. A falha na comunicação pode gerar em pouco tempo um relacionamento enfadonho, condenado a cumprimentos formais e palavras ou frases soltas. O casamento torna-se facilmente uma caricatura de relacionamento, algo pra inglês ver. Mas se os cônjuges enxergam a importância do casamento (com base na aliança firmada através de votos diante do próprio Deus), faz-se necessário ter disposição e ânimo para estabelecer vínculos fortes e saudáveis, desenvolvendo maior intimidade e ampliando a qualidade do relacionamento.

A realidade mais profunda que alguém pode experimentar é ter um relacionamento com Deus, mediado através de Cristo e fortalecido pelo poder do Espírito Santo. Agora é muito triste e lamentável, a realidade de um cristão para o qual a vida com Deus se tornou enfadonha. A vida com Deus deve ser uma expressão vigorosa, à altura do maravilhoso chamado do próprio Jesus que declarou: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”. Bocejos, tédio, canseira, falta de ânimo em relacionar-se com o Senhor, atestam a precariedade de nossa fé, ou até mesmo em alguns casos, a falsidade dela. Se você tem andado entediado com as coisas de Deus, eis um sinal de alerta quanto à qualidade e profundidade da sua fé. Definitivamente, viver e servir no reino de Deus não é entediante para os Seus súditos. Neste reino, não deve existir espaço para desgosto e má vontade em relacionar-se com os Rei dos reis.

Quando fazemos as coisas simplesmente por hábito, sem refletir que Deus se agrada dos propósitos por trás do que fazemos, é um sinal de que o nosso relacionamento com Ele já se tornou enfadonho. Devemos empenhar o coração, nunca pela metade ou coxeando entre dois ou mais pensamentos. É muito fácil cairmos na ilusão de que o relacionamento com Deus vai “muito bem obrigado” quando automatizamos as coisas espirituais, por exemplo lendo regularmente a Bíblia sem desfrutar de verdadeira comunhão com o Autor. Somos um povo comprado pelo sangue precioso do Cordeiro perfeito e fomos chamados para brilhar neste mundo em trevas. Este brilho só se torna evidente quando nutrimos com disposição o que é mais importante em nossas vidas: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt. 6:5). Eis a condição indispensável para sermos instrumentos nas mãos do Redentor da forma que Ele decidir nos usar. Todas as nossas afeições precisam estar direcionadas para o Senhor que nos redimiu e nos amou antes dos tempos eternos. Nossas afeições devem ser cada vez mais vigorosas e jubilosas, fortalecendo o amor a Deus e desprezando as afeições concorrentes deste mundo vil (Jr. 2:13).

2ª) A desconsideração dos feitos operados pelo Senhor (vs. 4-5)

Atuando como representante do Promotor Divino, agora o profeta passa a relatar algumas das realizações divinas em benefício do Seu povo amado. Isto é para trazer-lhes à memória a realidade transcendente do cuidado permanente de Deus no trato com Israel, que não valorizava devidamente a própria história marcada pelo poder de Deus. Aqui Deus os faz lembrar do que poderia ter sido o fim deles, não fosse a intervenção sobrenatural em prol do povo escolhido, pois a Sua mão estivera abençoando-os tanto em sua origem quanto em seu desenvolvimento como nação. Na denúncia, o Promotor divino apresenta alguns marcos históricos que todo povo deveria conhecer: a grandiosa libertação da escravidão no Egito, sob a liderança dos irmãos Moisés, Arão e Miriã; a tríplice bênção proferida por Balaão em favor de Israel, mesmo sob a oposição de Balaque; fatos que ocorreram de Sitim até Gilgal: Israel atravessou o rio Jordão e o comandante do exército do Senhor apareceu a Josué para fortalecê-lo antes da batalha contra Jericó. Estes fatos são provas contundentes da ação protetora do Senhor, não havia contra-argumento contra elas.

À semelhança da nossa memória, a de Israel era muito curta. Mas a denúncia apresentada pelo profeta Miqueias não se resume apenas numa falha na memória ou num simples esquecimento (acidental ou proposital). Vai muito além disto, pois fica patente na história deste povo um certo desdém e ingratidão constantes, a despeito de tamanhas maravilhas que o Senhor realizava. O livro de Números podia muito bem ter sido chamado “Murmurações”: tornou-se rotina a desvalorização das grandes coisas que Deus fazia por eles. Metaforicamente, aquele povo ergueu um muro de lamentações em pleno deserto.

Ilustração: Charles Plumb foi um piloto de bombardeiro na guerra do Vietnã. Depois de muitas missões de combate, seu avião foi derrubado por um míssil. Plumb saltou de paraquedas, foi capturado e passou seis anos numa prisão norte-vietnamita. Ao retornar aos Estados Unidos, passou a dar palestras relatando sua história e o que aprendera na prisão. Certo dia, num restaurante, foi saudado por um homem: “Olá, você é Charles Plumb, era piloto no Vietnã e foi derrubado, não é mesmo?” “Sim, como sabe?”, perguntou Plumb. “Era eu quem dobrava o seu paraquedas. Parece que funcionou bem, não é verdade? Plumb quase se afogou de surpresa e com muita gratidão respondeu: “Claro que funcionou, caso contrário eu não estaria aqui hoje.” Aquele marinheiro passava os seus dias amarrando os fios de seda de vários paraquedas, tendo em suas mãos a vida de alguém. Mas não foi condecorado nem reconhecido pelo serviço que realizava.

É sempre saudável ponderar sobre o que Deus tem feito por nós a fim de não resvalarmos para um estilo secularizado de vida, nos comportando como se Ele não existisse. A forma como enxergamos o passado define bastante como lidamos com o presente. Se temos um olhar que valoriza e considera os feitos do Senhor em nossa história, certamente saberemos lidar com as dificuldades que se apresentam no dia de hoje. Como diz a letra de uma velha canção: “O mesmo Deus de ontem, é também hoje presente, e o seu poder eterno, além do céu.” Por outro lado, se olharmos para o passado com a visão míope e turvada pelas circunstâncias presentes, não valorizaremos adequadamente os feitos do Senhor em nosso favor. Quando não valorizamos os feitos do Senhor, na verdade não valorizamos o próprio Senhor, que tudo faz como Lhe agrada.

Recordar sempre os feitos do Senhor traz um enorme refrigério ao nosso coração. É uma prática que nos enche de paz para lidar com as lutas do presente. Muitas vezes é importante que olhemos atentamente para o retrovisor, não para ficarmos preso ao passado, mas para considerarmos a magnitude do Senhor em cada detalhe da nossa história. O que somos hoje é fruto tão somente do que Deus realizou em nosso favor.

3ª) A admissão de equívocos no culto prestado ao Senhor (vs. 6-7)

Neste ponto da controvérsia judicial, o profeta traz à tona alguma perguntas que poderiam ser feitas pelo povo diante das denúncias apresentadas. Mas o teor destas perguntas, ao final constitui-se em mais uma peça da acusação que pesa sobre o povo de Israel. Em outras palavras, as cerimônias sacrificiais que o povo podeira apontar como solução diante das denúncias, estavam totalmente contaminadas com equívocos e práticas pagãs, sem o selo da aprovação divina. Apesar da expressa proibição de sacrifícios humanos em Levítico 18.21 e 20.2-5, existem vários casos registrados no Antigo Testamento de crianças sendo oferecidas como holocausto. Na época do profeta Miqueias, o culto a Deus estava corrompido e o sistema sacrificial era usada como uma forma de barganha. Não é uma questão de quantidade ou qualidade do sacrifício apenas; é a postura do adorador que é colocada em xeque.

Assim como fizeram Nadabe e Abiú (Lv. 10:1), há muito fogo estranho sendo oferecido em culto ao Senhor! Não apenas relacionado com a forma em si, mas principalmente com os propósitos de quem está cultuando (irreverência, superficialidade ou leviandade). O profeta Isaías, que foi contemporâneo de Miqueias, retrata como o Senhor enxergava o culto que era oferecido: “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? — diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios?” (Is 1:11-12). Paul Washer aponta: “Nos Estados Unidos, o culto matinal de domingo em muitas igrejas é a maior hora de idolatria em toda a semana, porque a grande maioria das pessoas não está adorando o Deus único e verdadeiro. Em vez disso, elas estão adorando um deus que formaram de seu próprio coração, seguindo a sua própria carne e paixões, de acordo com a preferência e sabedoria mundanas.

Na vida de cada crente em particular, qual é o culto que agrada a Deus? O apóstolo Paulo nos ajuda a acertar a resposta em Rm. 12:1 - “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” O sacrifício correto e aceitável é o sacrifício do nosso eu, de nossas vontades e requisições pecaminosas. Sem esta medida sacrificial realizada no coração, os atos exteriores serão meramente formais e totalmente ineficazes. O culto que honra a Deus é aquele que convida o homem para morrer, para deixar de lado suas pretensões egoístas. Afinal é assim que cantamos: Há um caminho para a adoração, existem vontades que têm que morrer! O culto ao Senhor deve começar em nosso coração. Cultuar e adorar é satisfazer-se apenas em Deus. Para isso é necessário destronar os ídolos, pois na raiz de toda idolatria reside um coração não satisfeito em Deus.

Na vida da igreja, o culto congregacional deve ser sempre teocêntrico, nunca antropocêntrico. Muitos equívocos têm sido introduzidos nos cultos com o fim de despertar a aprovação e o favor divinos. Mas o culto não deve ser entendido como um meio para impressionar a Deus. O culto verdadeiro a Deus deve ser marcado por três fatores essenciais: ordem, decência e edificação. Se alguma prática ou atividade relacionada com o culto ignora pelo menos um destes fatores, deve ser prontamente abandonada. “Muito do nosso culto é ritual sem realidade, método sem poder, diversão sem temor de Deus” (H. Dias Lopes). No culto ofertado a Deus, não há espaço para preferências pessoais em detrimento da ordem, decência e edificação do Corpo de Cristo. O nosso Deus deve ser honrado em tudo e sobretudo, com expressões sinceras de um coração alegre por ter acesso ao Pai através do Filho. Como nos achegamos para cultuar a Deus e ofertar-lhe a nossa adoração? Que possamos excluir os equívocos do culto (tanto no aspecto pessoal quanto no aspecto coletivo), pois a essência do culto que agrada a Deus é o que Ele nos revela em Sua Palavra

4ª) A omissão diante da conduta requerida pelo Senhor (vs. 8)

Atuando em nome do Promotor divino, o profeta não apresenta nada novo ou extraordinário nesta denúncia. Esta denúncia faz referência ao conhecimento não colocado em prática, à omissão de práticas essenciais para qualquer um que se diz servo do Senhor. Cada um dos itens expressos no versículo 8 encontra-se no Pentateuco (Dt. 10.12-13). Miqueias retoma o conceito de justiça presente em Amós (Am. 5.21-25), o conceito de misericórdia, em Oséias (Os. 1—3) e os de fé e humildade, em Isaías (cf. Is. 2.6-17; 7.8-9). Havia em Israel uma completa omissão na prática da equidade (Dt. 16:19-20) e no exercício da misericórdia. (Is. 1:16-17). Andar humildemente com Deus significa andar “com temor”, andar “com plena percepção daquilo de quem Deus é e do que Ele tem feito por Seu povo”. Os versículos seguintes (9 a 12) comprovam a inércia/omissão do povo em praticar a justiça e a misericórdia (mandamentos horizontais) e em andar humildemente com Deus (mandamento vertical).

Ilustração: A omissão é claramente reprovada em Tiago 4:17- “Aquele, pois, que sabe que deve fazer o bem e não o faz comete pecado.” Omissão é não assumir a responsabilidade ou não adotar a postura adequada diante de alguma requisição da parte do Senhor. No fim das contas, toda omissão ou falta de ação é rebeldia diante dos imperativos divinos. O Senhor Deus, por meio do profeta Ezequiel censurou aqueles que vinham ao profeta ouvir o que Deus tinha a dizer, mas “não colocavam nada em ação” (Ezequiel 33: 31-32). Muitas vezes, a lição nós já sabemos de cor, só nos falta implementar.

“Ele te declarou, ó homem, o que é bom.” Bom é toda conduta que traz benefício real e efetivo para o cristão e para o seu próximo. Creio que ninguém discorda da seguinte tese: “aquilo que Deus definiu como bom para nossas vidas, deve ser imediatamente atendido.” Mas concordar com esta tese não é o bastante. É muito fácil cairmos numa teoria fria e vazia a respeito do cristianismo, sem que este conhecimento mude de fato as nossas vidas. Quando Deus nos fala sobre algo mediante a Sua Palavra, a partir de então somos plenamente responsáveis por nossa ação ou omissão. O Senhor não faz solicitações, que podem ser atendidas conforme a nossa conveniência. Ele ordena e dá imperativos, que em momento algum são opcionais. Onde estão as evidências de, tendo em vista os mandamentos que já recebemos da parte do Senhor. “O maior de todos os antagonistas do evangelho está dentro da própria igreja: o evangelho não vivido.” (Isaltino Gomes Filho).

Ouvir bons sermões não é o suficiente. Ser confrontado pelos alertas da Palavra de Deus também não é o bastante. Sentir-se incomodado diante da confrontação bíblica é apenas o primeiro passo. Temos que arregaçar as mangas e agir. Se o arrependimento pelo pecado não vem acompanhado de mudanças efetivas, desconfie deste tipo de arrependimento. Um mero convencimento/remorso psicológico não renderá frutos verdadeiros, se não houver redirecionamento de propósitos. Onde nós esperamos chegar fazendo ouvidos de mercador, ou procrastinando decisões essenciais para o nosso desenvolvimento como cristãos?

Em Lucas 6:46ss, a pergunta de Jesus no fim do sermão do Monte é direta: “Por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?” Aquele que verdadeiramente firmou um compromisso com o Senhor, não se omite e nem recusa a obedecer. Em última análise, a fé não é apenas o resumo de nossas crenças ou de um modo de pensar; é um modo de viver e só pode ser articulada corretamente apenas numa prática coerente (a operosidade da fé). Até quando vamos viver andando em círculos, nos omitindo das nossas responsabilidades? A meta de todo crente deve ser progredir em maturidade e semelhança com a pessoa de Cristo. Mas é necessário muito suor e lágrimas na jornada, para que sejamos praticantes da Palavra e não somente ouvintes, enganando a nós mesmos. E mesmo quando fizermos tudo que nos for requisitado, mesmo assim devemos nos considerar servos inúteis (Lc. 17:10).

 

CONCLUSÃO:

Algumas perguntas finais: Consta contra nós alguma destas denúncias? Alguma delas aparece na nossa ficha corrida? Todas as denúncias apresentadas pelo profeta em nome do Promotor divino não admitem refutação. Não há argumento que possamos utilizar para justificar qualquer uma delas, se estiver presente em nossas vidas. Diante do Promotor divino, só nos resta o arrependimento. Só nos restar corar de vergonha e depender da graça de Deus para efetuar os ajustes necessários em nosso viver. A resposta efetiva que devemos dar diante de tão graves fatos é buscar a restauração e

Graças a Deus não pesa sobre nós nenhuma condenação que nos separe do amor de Cristo, pois o preço do sangue do Cordeiro foi pago em nosso favor. Se estamos de fato em Cristo, já fomos justificados diante do Senhor. Mas isto não nos isenta de andar em retidão e justiça no nosso dia a dia. Estas denúncias fazem referência aos aspectos diários do nosso viver, que precisam estar alinhados com o que Deus demanda de Seus servos.

Quando Deus, do meio de um redemoinho, confrontou o seu servo, através de várias perguntas retóricas, realçando a ignorância de Jó, a resposta dele foi a seguinte: “Então, Jó respondeu ao Senhor e disse: Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca.” (Jó 40:3). Não houve contestação da parte de Jó, ele não tinha o que responder. As palavras proferidas pelo Senhor o fizeram calar totalmente. Os fatos levantados pelo Senhor para demonstrar o Seu controle soberano sobre tudo na criação eram irrefutáveis.

Se hoje fomos confrontados por estas denúncias feitas pelo profeta Miqueias, como representante do Promotor divino, é hora de colocar a mão na boca. Não temos o que responder, pois a responsabilidade pelo estado em que se encontra a nossa vida é toda nossa. Não temos desculpas válidas para apresentar ao Senhor para justificar a precariedade de nossa condição espiritual. Precisamos nos prostrar em confissão e arrependimento, reconhecendo que precisamos sair desta condição fazendo uso dos recursos disponibilizados pelo Senhor.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Entretenimento e lazer a todo custo

"Vivemos na época do entretenimento escapista que deliberadamente falsifica, despersonaliza e manipula a realidade." (Eugene Peterson)

Num mundo cada vez mais voltado para o escapismo, o lazer e o entretenimento ocupam um espaço de destaque nas vidas das pessoas. O mercado cinematográfico, musical, teatral e televisivo, nos seus mais variados ramos, objetiva vender um remédio de alívio para as dores e lutas da grande massa. Nestes dias, o tempo que se dedica em prol do bem-estar é um atestado da realidade de um homem cada vez mais alienado de seus propósitos e valores mais básicos de honra e amadurecimento. Em certo sentido, homens que deviam fincar a bandeira dos valores morais mais elevados, estão querendo voltar ao jardim da infância na busca insaciável por recreação e lazer.

Cito a seguir o escritor A. W. Tozer, que destaca de forma enfática esta realidade:

As pessoas não mais pensam no mundo como sendo um campo de batalha, mas como um lugar de lazer. Não estaríamos aqui para lutar; estaríamos aqui para brincar. Não estaríamos num país estrangeiro; estaríamos em casa. Não estaríamos preparando-nos para a vida, mas já estaríamos vivendo a nossa vida, e o melhor que poderíamos fazer é livrarmo-nos de nossas inibições e de nossas frustrações para viver esta vida o máximo que pudéssemos. Isto, cremos, é um correto resumo da filosofia religiosa do homem moderno, abertamente professada por milhões e tacitamente aceita por muito mais pessoas ainda, que vivem de acordo com essa filosofia, mesmo que não a admitam por meio de palavras.

O lazer quando bem equilibrado e ordenado é de grande valia para o bem-estar do homem. Mas como tudo que é bom, se mal utilizado, pode se constituir em uma armadilha para todos nós. Precisamos estar sempre alertas sobre a mordomia do tempo, algo fundamental para a boa administração do bem mais precioso que Deus nos outorgou. Se de fato queremos remir o tempo, é necessário dedicar atenção especial ao que trará efetivo crescimento às nossas vidas, valorizando na medida certa o que Deus criou para o nosso aprazimento. Coloquemos nossa esperança não na instabilidade dos prazeres transitórios desta vida, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamento para nossa mais profunda alegria.

sábado, 13 de junho de 2015

Resistindo à tentação


Diante dos assédios da esposa de Potifar o jovem José manteve-se íntegro e puro porque não queria desagradar ao Seu Deus. Deste episódio podemos extrair lições sobre a importância da santidade e pureza no meio de uma sociedade corrompida e sedutora.

Fica bem claro na história de José, que ele tinha um pensamento alinhado com a glória de Deus. Percebemos que a sua maior alegria era viver de modo agradável ao Senhor. Por isso quando foi assediado sexualmente pela mulher de Potifar, logo ele se lembrou que este ato seria uma afronta direta ao Senhor. Ele entendia que sua vida era um livro aberto diante do seu Deus. Muito embora a mulher de Potifar não se importasse com a integridade do seu casamento, José não via as coisas desta forma. A pureza de José diante das armadilhas sedutoras daquela mulher é um lembrete a todos nós sobre a importância da fidelidade e amor a Deus na luta contra o pecado.

Precisamos entender que a batalha pela pureza começa em nossas mentes (Mt. 5:28). Aquilo que é sensual e lascivo e alimenta as nossas mentes certamente trará prejuízos. Como diz o ditado: “Não podemos evitar que um pássaro voe sobre nossas cabeças, mas podemos evitar que ele faça um ninho”. Portanto, não flerte com o pecado. Não se deixe iludir pelas promessas de prazer fácil. A impureza sexual pode escravizar qualquer um de nós. Precisamos estar atentos a todo indício de imoralidade que esteja por perto, para que não sejamos enganados pela cobiça do nosso coração. Quando focamos a glória do Senhor e buscamos em tudo sermos agradáveis a Ele, lutaremos pela pureza em nosso viver e seremos vigilantes em todo tempo.

A advertência contra a impureza sexual não se restringe aos solteiros. O adultério continua sendo o grande motivador para o fim de muitos casamentos. Por isso o livro de Provérbios está repleto de exortações à pureza: “O que adultera com uma mulher está fora de si; só mesmo quem quer arruinar-se é que pratica tal coisa” (Pv. 6:32). O matrimônio deve ser honrado pelos cônjuges de maneira digna, a fim de que não haja espaço para imoralidades e seduções que destruam a confiabilidade entre o casal. Esta aliança feita perante o Senhor deve resistir aos ataques deste mundo caído, mediante o poder sustentador que provém das Escrituras.

Nesta sociedade corrompida em que vivemos, mais do que nunca precisamos levantar a bandeira da pureza. Estamos rodeados de convites à impureza e a luxúria desenfreada, que dominam os outdoors e propagandas da televisão. O sexo adquiriu status de deus e domina a vida de muitas pessoas. O Senhor nos convoca para sermos defensores da pureza em mundo que trata o sexo de forma banal e casual.

 

Programa Viva com Cristo
Rádio Grande Rio AM 680Khz

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O Filho amado do Pai


De vez em quando ouvimos que Cristo é o Amado do Pai porque ele foi sempre um Filho obediente. Isso é verdadeiro e bíblico (Jo 8.29). Entretanto, faz-se necessário frisar que, nesta conexão, o que evocou o amor do Pai foi especialmente a qualidade desse amor.

O Filho, sabendo qual é o prazer do Pai e o que está em sintonia com sua vontade, não espera que o Pai lhe ordene fazer isto ou aquilo, mas espontaneamente se oferece. Ele, voluntariamente, faz a vontade do Pai. Não é passivo, nem mesmo em sua morte; pelo contrário, entrega sua vida. “Por isso o Pai me ama, porque eu dou minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou ...” (Jo 10.17,18; cf. Is 53.10). É esse maravilhoso deleite, por parte do Filho, em fazer a vontade do Pai, e desse modo salvar seu povo, ainda que às custas de sua própria morte, e morte de cruz (Fp 2.8), o que move o Pai a sempre exclamar: “Este é o meu Filho amado.”

Essencialmente, o Pai já pronunciou essa exclamação “antes da fundação do mundo”. Ainda derrama seu infinito amor sobre seu Filho (Jo 17.24), movido, sem dúvida, entre outras coisas, pela gloriosa decisão do próprio Filho: “Eis aqui estou” (Sl 40.7; cf. Hb 10.7). Sem dúvida que esta é a maneira humana de falar sobre essas realidades; porém, de que outra maneira falaríamos sobre elas? A exclamação do Pai foi repetida na ocasião do batismo do Filho (Mt 3.17), quando de forma visível ele tomou sobre si o pecado do mundo (Jo 1.29,33); e uma vez mais por ocasião da transfiguração (Mt 17.5; 2Pe 1.17,18), quando, outra vez, de uma forma ainda mais notável, o Filho voluntariamente escolheu o caminho da cruz.

 

William Hendriksen
Extraído do Comentário sobre Efésios

sábado, 6 de junho de 2015

A inveja no meio do povo de Deus


Alguém já disse que a inveja é um veneno que mata a nossa sensibilidade às boas notícias. De fato, o invejoso é alguém que não tolera saber que outros estão sendo bem-sucedidos em algum empreendimento ou que uma pessoa está progredindo na vida. Os onze irmãos de José notaram que ele tinha a preferência do seu pai (Jacó) e que os sonhos daquele jovem apontavam para o sucesso e a grandeza. Isto despertou neles uma inveja inflamada que se acumulou até se transformar em ódio contra José.

O texto bíblico em Gênesis 37 confirma com clareza este antagonismo sórdido contra José:

"Vendo, pois, seus irmãos que o pai o amava mais que a todos os outros filhos, odiaram-no e já não lhe podiam falar pacificamente." (Gn 37:4)

"Seus irmãos lhe tinham ciúmes; o pai, no entanto, considerava o caso consigo mesmo." (Gn 37:11)

A história é bastante conhecida. Movidos por esses sentimentos destrutivos, os irmãos de José “conspiraram contra ele para o matarem” (v.18). Mas Rúben e Judá não queriam a sua morte. Em acordo, os irmãos decidiram vendê-lo como escravo, sujar sua túnica de sangue de animal e entregá-la a seu pai Jacó para que pensasse que José havia sido devorado por um animal selvagem do deserto. Esta notícia mentirosa trouxe uma profunda tristeza a Jacó, que rasgou as suas vestes, cingiu-se de pano de saco e lamentou o filho por muitos dias.

A inveja nasce porque os homens vivem num constante espírito de competição. Assim também muitas igrejas estão sendo destruídas porque os irmãos vivem disputando prestígio ou posição. Infelizmente, a inveja e o partidarismo são claramente percebidos no meio da igreja, o povo que foi chamado para espelhar unidade e compromisso efetivo com a mutualidade cristã. É uma triste realidade que abala os alicerces da comunhão e emperra o amadurecimento de todos.

Para que a inveja seja eficazmente combatida, é necessário entendermos que não existe ninguém grande na igreja. Somente uma pessoa deve ocupar o lugar de destaque, e esta pessoa é o nosso Deus. Todos os irmãos são servos na mesma obra, trabalhando juntos para a edificação do corpo e crescimento da igreja. A igreja não é lugar para competições, caprichos ou estrelismo. A igreja não lugar para espetáculo de egos e nem palco para exibicionismos diversos. Somos todos cooperadores da mesma seara, com o objetivo singular de produzir frutos para a glória somente do Senhor.

O coração precisa sempre passar por um check-up. Para isso você procura um cardiologista. Da mesma forma, a nossa alma precisa sempre passar por um check-up espiritual, e para isso existem as Escrituras, que indicam o real problema e o tratamento adequado. A inveja e o ódio são pecados enraizados numa imagem errada que a pessoa tem dos outros e de si mesma. É necessário utilizar imediatamente o tratamento contra o orgulho, através da mortificação do velho homem que deseja sobressair e macular as conquistas das outras pessoas. Para isso, Deus requer que sejamos vigilantes e atuantes no combate ao menor indício de inveja. O antídoto é firmar a nossa alegria e contentamento em Deus somente e não nas glórias passageiras tão ambicionadas neste mundo.

terça-feira, 2 de junho de 2015

A consciência e o relógio

C. H. Mackintosh, escritor profícuo de comentários bíblicos, fez uma analogia interessante sobre o papel e funcionamento da consciência em nossas vidas. Ele utiliza-se do exemplo do relógio mecânico da época em que viveu, que funcionava através de um ajustador de molas. Dando corda no relógio com o regulador, a mola se enrola ainda mais, gerando uma tensão cuja liberação é exatamente a energia motriz do relógio.

A consciência pode ser comparada ao regulador de um relógio. Pode acontecer que os ponteiros do relógio estejam errados, mas enquanto o regulador tiver poder sobre a mola, haverá sempre meio de corrigir os ponteiros. Se esse poder deixa de existir, todo o relógio se torna inútil. Assim é com a consciência. Enquanto permanece fiel ao contato da Escritura Sagrada, aplicado pelo Espírito Santo, há sempre um poder regulador, seguro e certo; porém se ela se torna apática, dura ou viciada, se recusa a uma resposta verdadeira às palavras “Assim diz o Senhor”, há pouca ou nenhuma esperança.

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quinta-feira, 30 de abril de 2015

Relacionamentos são difíceis

A dificuldade dos relacionamentos não se encontra apenas no fato de serem difíceis. A dificuldade inclui aquilo que Deus nos chama a faze em meio à dificuldade. Deus chama cada um de nós a ser humilde, paciente, gentil, perseverante e clemente. Deus nos chama a falar com graça e a agir com amor, mesmo quando o relacionamento carece da graça e quando não somos tratados com amor.

Por isso, seus relacionamentos o levarão além dos limites da sua força normal. Eles o levarão além do alcance de suas habilidades naturais e além das fronteiras da sua sabedoria natural e adquirida. Os relacionamentos o forçarão a ir além dos limites da sua capacidade de amar, servir e perdoar. Eles o levarão além de você mesmo. De vez em quando, eles o levarão ao limite da sua fé. Às vezes, eles o levarão ao ponto da exaustão. Em certas situações, seus relacionamentos o deixarão decepcionado e desanimado. Eles exigirão de você o que você parece não possuir, mas é exatamente isso que Deus pretende. É precisamente essa a razão de Ele ter colocado esses relacionamentos exigentes no meio do processo de santificação, onde Deus, progressivamente, nos molda à semelhança de Jesus. Quando você desiste de si mesmo, você começa a depender d’Ele. Quando você está disposto a abrir mão dos seus próprios pequenos sonhos, você começa a depender d’Ele. Quando o seu jeito de fazer as coisas, mais uma vez, deixá-lo na pior, você está pronto para reconhecer a sabedoria do jeito de Deus fazer as coisas.

Os nossos relacionamentos não foram simplesmente criados para tornar-nos dependentes uns dos outros. Foram criados para guiar-nos até Ele em humilde dependência pessoal. Em algum momento, cada relacionamento nos leva ao nosso limite e, com Deus, não há lugar mais saudável do que esse. Quando estou disposto a confessar o quão fraco sou, estou pronto para receber a graça que pode ser encontrada apenas em Cristo. Ele esteve disposto a seguir o plano do Pai e tornar-se fraco para que pudéssemos receber a Sua força em nossos momentos de fraqueza. Essa dinâmica de dificuldade-fraqueza-força é a razão pela qual precisamos de tanto encorajamento em nossos relacionamentos. Tornamo-nos cegos pela dificuldade, desencorajados pela nossa fraqueza e acabamos perdendo de vista aquilo que nos foi dado em Cristo.

 

Timothy Lane e Paul Tripp

Extraído do livro: RELACIONAMENTOS – Uma confusão que vale a pena

sábado, 25 de abril de 2015

O bezerro de ouro e a nossa rebeldia


O povo de Israel sempre teve problemas com relação a idolatria. Na trajetória em direção a Canaã, o povo não quis esperar Moisés que estava no monte para receber as instruções que vinham da parte do verdadeiro Deus. Então, liderados por Arão, resolveram confeccionar um bezerro de ouro para representar os deuses que lhes tiraram do Egito. Então, o povo passou a festejar e comemorar, participando de uma verdadeira farra diante daquela estátua, cheios de uma falsa alegria e de um fervor passageiro. Na verdade, eles desviaram seus corações do propósito mais importante que é amar a Deus sobre todas as coisas.

A adoração é um item que está intimamente ligado a quem nós somos como seres humanos. Mas a adoração não está restrita somente a atividades religiosas, geralmente acompanhada de cultos ou oferendas. Muito mais que isso, a adoração é uma questão de identidade. Isto é, você e eu somos adoradores e nesta vida vamos nos curvar diante de algo. Nossos corações estão sempre sendo controlados por algo, e aquilo que controla o nosso coração também controla o nosso comportamento.

Em Mateus 6, Cristo explica que aquilo que nós adoramos é, também, aquilo que nos controla. Jesus disse: “onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”. Com isto, Ele nos ensinou que se algo for de valor para nós, faremos tudo que for possível para conseguirmos. Ou seja: relacionamentos, trabalho, uma boa reputação ou um carro do ano, podem se tornar um ídolo para nós. Não que estas coisas sejam erradas, mas se tornam obstáculos ao nosso amadurecimento na fé quando assumem o valor de primazia que só Deus pode ter em nossas vidas.

Jesus também nos ensinou que “Deus é espírito, e importa que seus adoradores O adorem em Espírito e em verdade.” Tudo que nos impede de enxergar Deus como supremo e soberano sobre nossas vidas se constitui no nosso bezerro de ouro. Somente ao adorarmos a Deus por quem Ele é, conforme revelado nas Escrituras, é que somos capazes de enxergar a vida sob a perspectiva correta, e, assim, não seremos iludidos pelos falsos deuses que exigem a nossa devoção. Fugir da idolatria é uma ordem para todo cristão, e este imperativo engloba fugir da idolatria inclusive de si próprio. Há muitos que mergulharam de cabeça na autodevoção e até exigem que outras pessoas lhe prestem algum tipo de adoração.

Diante dos perigos iminentes da idolatria, precisamos nos curvar somente diante da autoridade exclusiva do Senhor sobre nossas vidas, que nos governa mediante a instrução sempre oportuna da Sua santa e bendita Palavra. É urgente a necessidade de dedicarmos tempo e esforço para “amar a Deus sobre todas as coisas”, pois da obediência a este mandamento derivam todos os demais atos que visam agradar ao Senhor que nos remiu.


Programa Viva com Cristo

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Olhando pelas lentes corretas

Relembrar quem Deus é e quem nós somos é o antídoto contra a murmuração. Se enxergarmos nosso mundo, nossas vidas e nossas circunstâncias através da lente da cruz de Cristo, tudo entrará no foco correto. E esta clareza de visão despertará a verdadeira alegria em nós. É olhando através destas lentes que nós encontramos profunda percepção do que significa ser amado por um Pai celestial bom e cuidadoso.

Extraído do site Desiring God

 

O mundo é cruel pois o pecado a tudo corrompeu. Até mesmo a criação, obra-prima de um Deus sábio, geme diuturnamente por conta dos efeitos perniciosos do pecado. Ademais, é muito fácil sermos dominados pelos sutis enganos do nosso próprio coração e mergulharmos numa apatia generalizada que rouba a alegria e emperra o nosso progresso espiritual. Em suma, o fato inconteste é que somos pecadores, e a conclusão certeira é que precisamos de um Redentor.

Cristo ofertou-se a Si mesmo como pagamento cabal por nosso pecado. A dívida que constava contra nós foi paga de uma vez por todas na cruz do Calvário. O sofrimento que Cristo carregou sobre Si era necessário para que o pecador não amargasse eterna condenação. Naquele memorável dia, cheio de dor e pranto, o Salvador estabeleceu a paz entre o homem e Deus e assim ofereceu plena liberdade a todos aqueles que confiam na Sua graça. Este é a mensagem pura e simples do Evangelho, sem floreios ou acréscimos humanos.

Precisamos olhar a vida por meio das lentes da cruz de Cristo. Não de uma maneira descuidada ou irrefletida, mas com profundo temor diante da majestade do Senhor e com real constrangimento por nossa rasa maneira de viver. Somente quando entendemos a grandeza do que foi realizado na cruz é que podemos ter alento para deixar de lado o nosso egoísmo que teima em desejar o melhor deste mundo. Somos totalmente dependentes do Senhor por toda a nossa vida, e esta história (nunca é demais lembrar) começou na cruz. Faremos um enorme bem a nossa frágil alma, colocando-nos na perspectiva correta para que possamos contemplar a realidade que nos cerca (dias difíceis) através da lente do amor imenso que o eterno Pai demonstrou no monte do Calvário.

Se continuamos tirando conclusões equivocadas e medíocres sobre as circunstâncias que nos cercam, é porque estamos olhando pelas lentes erradas. Talvez estejamos muito acostumados a usar as lentes do humanismo, modelo muito em evidência no qual nós mesmos ocupamos o centro do palco. Isto certamente não vai nos levar a resultados efetivos de amadurecimento na fé. Ou talvez gostemos muito de usar as lentes da “paz interior”, uma salada de emoções amenas que nos fazem sentir bem diante das situações favoráveis. Estas lentes podem nos fazer tropeçar, pois os sentimentos são por demais voláteis. Talvez tenhamos muito apreço pelas lentes do pragmatismo, em que o critério se resume aos resultados obtidos independente da legitimidade dos meios utilizados. Esta forma de olhar a vida nos torna reféns daquilo que funciona e afasta a relevância dos princípios bíblicos indispensáveis para nos servir de orientação.

No entanto, as lentes da cruz de Cristo humilham a nossa vã maneira de enxergar a realidade. Com a visão clara e límpida podemos perceber que não somos o centro da história, Deus o é. Percebemos também que não temos mérito algum de que nos orgulharmos, somente o Senhor recebe toda a glória. E assim, a realidade e as situações adversas que enfrentamos começam a se encaixar sob o foco correto. Deus nos ama, sim é verdade. Mas Ele nos ama não porque somos dignos deste amor. Ele nos ama porque, segundo o Seu querer e decisão soberana, resolveu compartilhar com pecadores a alegria da qual Ele mesmo já desfruta. Tal certeza deve encher os nossos corações de verdadeira paz e contentamento real, a despeito dos obstáculos que se apresentam diante de nós. Esta mesma convicção encheu a alma do apóstolo Paulo, que soube olhar a vida através das lentes corretas: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes,nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm. 8: 38-39).

Que possamos ter uma visão cada vez menos embaçada pelos enganos do nosso coração, e cada vez mais límpida por conta dos efeitos benéficos da majestade, bondade e justiça divinas que se manifestaram gloriosamente e de uma vez por todas na cruz do Salvador. Que haja sempre em nossas mentes a percepção correta sobre quem Deus é e quem de fato nós somos, pois somente através das lentes da cruz de Cristo é possível enxergar a vida com clareza.


Marcos Aurélio de Melo

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Qual é a vontade de Deus

O livro de Gary E. Gilley é desafiador pela abordagem a que se propõe. O autor, pastor da Igreja Southern View Chapel, Springfield, Illinois, trata do assunto de modo a deixar o leitor estarrecido ao ser confrontado com a visão que não é predominante no meio evangélico sobre a forma como Deus dirige as vidas dos homens. Há muito emocionalismo vazio e impressões pessoais sem qualquer amparo bíblico quanto à questão de "descobrir qual é a vontade específica de Deus para a minha vida". O autor não nega em momento algum que Deus é soberano e age como Lhe apraz para efetuar a Sua vontade, mas lança fortes argumentos contrários à preocupação e angústia dos crentes em descobrir e acertar qual é a vontade de Deus na tomada de decisões. Os princípios bíblicos e ensino das Escrituras são suficientes e eficazes para que vivamos de modo piedoso, inclusive na tomada de decisões que honrem a Deus.

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Deixo aqui algumas citações do livro para despertar também o desejo que você leia o livro na íntegra:

As vítimas espirituais perfeitas dos esquemas mentirosos são aquelas com o coração aquecido e a cabeça vazia (pág. 24).

A Bíblia em lugar nenhum ensina que Deus tem uma vontade específica para a vida de cada crente que que deve ser encontrada através de meio extrabíblicos (pág. 40).

Procuraremos em vão situações nas quais Deus dirigiu Seu povo através de pressentimentos e sugestões (pág. 44).

Um dos problemas com as circunstâncias é que elas têm natureza subjetiva; isto é, podemos entendê-las da maneira que desejarmos. Na melhor das hipóteses, as circunstâncias representam oportunidades (ou ausência de) que podem nos ajudar na tomada de decisões, mas não são ordens de Deus (pág. 53).

A questão é, em vez de tentar penetrar os céus para procurar pelos mistérios ocultos de Deus, nos concentrarmos naquilo que Deus revelou a nós. São as coisas reveladas que nos capacitam a viver em conformidade com os caminhos de Deus (pág. 57).

Não é possível a Deus dar revelação que não seja autoritativa e que não demande obediência (pág. 67).

Todas as vezes que Deus falou na história bíblica, o receptor não teve dúvidas de que estava ouvindo a voz de Deus (pág. 68).

A semelhança com Cristo é a marca do Espírito Santo, não um tipo particular de encontro emocional (pág. 75).

Em Atos, ninguém teve que aprender como ouvir a voz de Deus nem ninguém foi guiado por pressentimentos ou sugestões. A voz de Deus era inconfundível e Sua mensagem era cristalina (pág. 83).

Ele (Deus) não está nos desafiando para descobrir as pistas que vão levar ao Seu plano para nossas vidas. Em vez disso, Sua vontade está claramente impressa nas páginas das Escrituras (pág. 89).

No Novo Testamento não nos é dito para procurar a vontade de Deus, mas para tomarmos decisões baseadas nos mandamentos e princípios bíblicos. A compreensão destes princípios dá ao filho de Deus maravilhosa liberdade e grande confiança para conduzir a vida de maneira que agrade ao Senhor (pág. 95).

terça-feira, 31 de março de 2015

Uma triste constatação

Vivemos numa era de humanismo e individualismo, em que o homem é o centro e fim de todas as coisas, e o indivíduo solitário exige autonomia irrestrita de expressão, sem a mínima censura. Sendo que não há mais um padrão divino a ser conhecido e obedecido, ficam apenas as opiniões das pessoas. Assim, se uma pessoa censura a outra, pode ser descartada como ignorante e arrogante, alguém que simplesmente procura exaltar suas opiniões sobre as de todas as outras pessoas. Já que não acreditamos mais que possamos discernir aquilo que Deus falou e aplicar suas verdades de modo específico, podemos agora justificar o ouvido surdo para a exposição mais acurada das Escrituras, e denunciar como perigoso fanático qualquer que diga: “Assim diz o Senhor!” Deixamos de perceber que estamos nas garras do maligno cada vez que repetimos o seu mantra: “É assim que Deus disse?” (Gênesis 3:1)

Paul Washer

sábado, 28 de março de 2015

A graça demonstrada

A história bíblica de hoje é sobre Mefibosete, filho de Jônatas e neto do rei Saul. O arrogante rei Saul perseguiu duramente o jovem Davi, movido pela inveja e insatisfação porque tinha perdido o trono de Israel. Davi tinha uma amizade muito profunda com Jônatas que era filho de Saul, e fez a ele uma promessa de ser gracioso com a família de Jônatas. Depois que Saul morreu, o rei Davi assumiu o trono de Israel. Depois de um tempo, Davi lembrou da promessa feita a Jônatas e resolveu demonstrar na prática, estendendo bondade e graça na vida de Mefibosete. Esta bela história está registrada na Bíblia no livro de II Samuel capítulo 9. Você pode conferir na sua Bíblia. Farei algumas observações sobre esta narrativa que chamam atenção pela demonstração de graça em favor de Mefibosete.

1ª) A ausência de mérito em Mefibosete para receber o favor do Rei

Mefibosete não tinha nada a oferecer e não merecia nada. Ele por si próprio não era digno de nada a não ser a morte, pois o extermínio de toda a família do rei anterior era um costume comum naquela época. Mefibosete se intitula “um cão morto” (v. 8), reconhecendo que não tinha nenhum valor. O seu nome significava “coisa vergonhosa”. Quando seu pai e avô morreram, ele teve que fugir nos braços de uma criada e, por um descuido, caiu e ficou aleijado dos pés (2 Sm. 4:4), o que lhe conferiu uma deficiência para o resto de sua vida. Não havia mérito algum na vida deste homem – ele se prostrou diante do rei Davi reconhecendo a sua completa insignificância (vs. 6). A graça de Deus alcança homens e mulheres sem mérito e fracassados, sem nada a oferecer senão uma vida vergonhosa. Deus salva justamente porque Ele é bondoso em tirar da lama aqueles que admitem sua total falência moral e espiritual, por meio da fé em Cristo Jesus e no Seu sacrifício no Calvário.

2ª) A livre iniciativa do Rei em benefício de Mefibosete

Mefibosete vivia escondido na distante localidade chamada Lo-Debar, que literalmente significa “sem pasto”, o que pode indicar um lugar árido e muito difícil de viver. Ele estava totalmente distante da “realeza”, e não havia a menor possibilidade de se apresentar ao novo rei Davi. Com certeza, ele reconhecia a sua fragilidade e que nunca teria condições de chegar ao rei, se não fosse pela livre iniciativa de Davi. Foi o rei Davi quem iniciou a busca por Mefibosete. Assim também, a iniciativa divina é indispensável para que a graça nos alcance. É Deus quem age em favor dos que são seus e os salva graciosamente. É Deus quem nos ama e nos busca, mesmo antes de nós sabermos que somos alvos deste amor tão grande. Precisamos compreender que tudo parte de Deus em benefício dos seus filhos amados. O apóstolo João escreveu: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (I João 4:19)

3ª) A bênção da comunhão estabelecida com o Rei

Depois da iniciativa do rei Davi em buscar Mefibosete, observamos que houve a restauração da comunhão, pois ele passou a morar dentro do palácio do rei. Isto mostra que o rei Davi queria ter um relacionamento com Mefibosete, partilhando do mesmo espaço e de refeições em comum. Um homem antes esquecido no meio do nada agora desfrutava de proximidade com o rei de Israel, pela bondade e generosidade que Davi demonstrou na prática.

Não há nada neste mundo mais valioso do que saber que temos paz com Deus (Rm. 5:1-2) e que podemos desfrutar de plena comunhão com Ele. Este fato deve nos impulsionar a ter uma vida que agrada ao Senhor em todos os aspectos. Devemos direcionar todos os esforços para que esta comunhão com o Senhor não seja morna ou sem vigor. Você tem desfrutado da real intimidade com Deus mesmo passando por vales sombrios? Como cristão, você reconhece que depende diariamente de verdadeira comunhão com o Senhor? O crente almeja sempre viver em comunhão com Deus, como escreveu Davi no Salmo 63:1: “a minha alma tem sede de Ti, numa terra árida, exausta, sem água.” Precisamos depositar total confiança nesta graça maravilhosa, que nos proporciona a intimidade com o nosso Deus.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Casamento: excelente, mas não permanente

Lendo o livro “O que Jesus espera dos seus seguidores?”, do pastor John Piper, deparei-me com o trecho em que ele alerta sobre a necessidade de alicerces firmes com relação ao casamento. A argumentação de John Piper procura estabelecer que a união conjugal é um espelho que reflete a relação de Cristo com Sua igreja. Portanto, o matrimônio não deve ser visto com leviandade e nem deve ser supervalorizado além da sua importância. Abaixo transcrevo o texto, que encerra o capítulo 42 do livro citado.

 

“Não há dúvida de que o mandamento de Jesus acerca da fidelidade no casamento seja radical para a cultura moderna. É um teste para provar Sua soberania em nossa vida. Seus padrões são elevados. Jesus deixa transparecer que este mundo não é nosso lar definitivo. Ele deixa também muito claro que o casamento é apenas uma lei para quem vive neste mundo: "Na ressurreição, as pessoas não se casam nem são dadas em casamento; mas são como os anjos no céu" (Mateus 22:30). Portanto, o casamento é uma bênção efêmera. Uma grande bênção, mas não uma bênção definitiva. Uma bênção preciosa, mas não permanente.

A perspectiva da eternidade explica por que Jesus é tão radical. Permanecer a vida inteira solteiro não é nenhuma tragédia. Caso contrário, a vida de Jesus teria sido uma tragédia. Tragédia é querer um casamento perfeito a ponto de transformá-lo num deus. Os padrões de Jesus são elevados porque o casamento não preenche todas as nossas necessidades, nem deve preenchê-las. O casamento não dever ser um ídolo. Não deve e não pode ocupar o lugar de Jesus. O casamento dura apenas um momento. Jesus é eterno. O modo em que nos comportamos no casamento ou na vida de solteiro mostrará se Jesus é nosso tesouro supremo.”

John Piper

sábado, 14 de março de 2015

O adultério e suas terríveis consequências

Qualquer desobediência da palavra de Deus é pecado. Jamais devemos sugerir que há pecadinho e pecadão. Mas, nesta vida, alguns pecados levam a consequências maiores. Alguns pecados machucam outras pessoas mais profundamente do que outros. Alguns causam sequelas desastrosas e muitas vezes irreversíveis. Não é por acaso que o adultério sempre se encontra entre aqueles que trazem maior prejuízo a vida de alguém.

Além de várias advertências bíblicas, há diversos exemplos de como o adultério complicou a vida de pessoas que o praticaram. Um exemplo clássico é Davi, o segundo rei de Israel. Vamos aprender as lições valiosas diante do adultério que ele cometeu junto com Bateseba.

Quando uma pessoa se entrega à tentação, pode se encontrar numa situação praticamente impossível, onde não tem força para resistir. É essencial que aprendamos como evitar essas situações difíceis. O exemplo de Davi sugere alguns deveres importantes a seguirmos:

(1) Devemos nos dedicar ao papel que Deus nos deu. Davi não se ocupou com seus próprios deveres. 2 Samuel 8 e 10 mostram que Davi era um guerreiro bem-sucedido. De fato, como líder do povo, seu papel também era o de comandante do exército de Israel. Várias vezes ele conduziu suas tropas a vitórias. Mas, num determinado ano, Davi resolveu ficar no palácio e mandou Joabe e seus servos à batalha (2 Samuel 11:1). Enquanto muitos dos homens de Israel arriscaram a vida na guerra, ele ficou na casa do rei em Jerusalém. Hoje, um dos fatores que contribui ao pecado é falta de ocupação e dedicação em nosso trabalho. Homens ociosos mostram uma tendência maior de se envolver numa série de pecados, incluindo adultério, vício de álcool e outras drogas, etc. Jovens ociosos tendem a se envolver em coisas erradas, por ter muito tempo livre. Mulheres sem responsabilidade participam mais das coisas do Adversário (1 Timóteo 5:13-15).

(2) Devemos alimentar pensamentos corretos. Uma vez que Davi se colocou no lugar errado, ele foi tentado. Ele viu Bateseba, uma mulher bonita, tomando banho (2 Samuel 11:2). Neste momento, ele deveria ter redirecionado seus pensamentos, procurando não pensar mais na imagem do corpo da mulher de outro. Nós não devemos hospedar pensamentos maus, porque levam às consequências graves (Jeremias 4:14; 6:19). O domínio próprio, uma das características fundamentais do servo de Deus, inclui a disciplina para controlar nossos próprios pensamentos (Gálatas 5:22-23; 2 Pedro 1:6; Filipenses 4:8-9; 2 Coríntios 10:4-6). É bom lembrar que um passarinho pode passar por cima da nossa cabeça, mas não temos que o convidar a fazer ninho em nossos cabelos.

(3) Devemos levar em conta as advertências contra o pecado. Davi ignorou, as advertências e princípios contra o adultério. Ele não levou em consideração as ordens divinas sobre a prática de relações sexuais ilícitas e sobre cobiçar a mulher do próximo. Ele sabia, antes de a convidar para casa, que Bateseba era mulher casada com um soldado do exército de Davi, chamado Urias (2 Samuel 11:3). Nós devemos sempre respeitar as advertências sobre o pecado e suas consequências, antes de cometê-lo.

(4) Devemos evitar circunstâncias que facilitam o pecado. Davi estava no lugar errado e pensou nas coisas erradas. Cada passo o levou mais perto do relacionamento pecaminoso que ia piorar a vida dele e de outras pessoas. Quando ele perguntou sobre Bateseba e a convidou para a casa dele, ele se colocou numa situação onde a tentação seria mais forte ainda. É sempre perigoso quando o homem ou a mulher se colocam em situações de tentação e brincam com o pecado. Outro problema é quando a pornografia escraviza o coração de uma pessoa, que passa a buscar parceiros para realizar seus desejos sexuais. Portanto, não fique se expondo a situações que iludem e atraem para o pecado.


Programa de Rádio Viva com Cristo

Extraído do Site: http://www.estudosdabiblia.net/d69.htm
Com adaptações

segunda-feira, 9 de março de 2015

Casamento à moda divina

Ao estudarmos 1 Coríntios 7, devemos ter em mente que Paulo está respondendo a perguntas específicas, não desenvolvendo uma "teologia do casamento" completa em um só capítulo. Precisamos de todo o arcabouço bíblico para não entrarmos em pressuposições sem fundamento.

Paulo não estabelece o "celibato" compulsório, apenas o recomenda diante do contexto em que os coríntios estavam inseridos. O apóstolo argumenta que é bom quando um homem ou mulher permanecem sozinhos (não normatizando), mas que o estado celibatário não é superior ao casamento, como também não é o ideal para todos. Também não dá nenhuma brecha para uma vida sexualmente ilícita fora do casamento, incentivando a todos que a sexualidade pura e plena deve ser vivenciada somente no contexto do matrimônio. David Prior explica da seguinte forma: “Paulo está reabilitando, assim, tanto o celibato quanto o casamento, como manifestações da graça de Deus que devem ser assumidos e mantidos puramente na força que o Senhor fornece diariamente.”

O texto em 1 Coríntios 7:2 deixa claro que Deus não aprova a poligamia e nem as "uniões" homossexuais tão em moda nos nossos dias. O padrão divino desde o princípio é um homem casado com uma mulher, numa relação consonante com os padrões bíblicos de serviço, honra e submissão. Embora a sociedade mude seus padrões por conveniência e modismos, a Palavra de Deus não abre espaço para as aberrações modernas que têm sido consideradas casamento.

O casamento é a devida provisão para a satisfação sexual de cada parceiro (homem/mulher), porém o casamento é muito maior do que a atividade sexual. Os casais que contraem matrimônio para dar vazão aos seus impulsos imorais, não entenderam a santidade envolvida na união que tem como testemunho o próprio Deus. Em seu comentário, Barclay afirma: “O marido não deve considerar nunca a sua mulher como um meio para gratificação, deve considerar o casamento como uma relação tanto física como espiritual, como algo em que ambos encontram gratificação e a satisfação mais plena em todos os seus aspectos.”

Paulo utiliza-se de expressões para dignificar a relação sexual entre marido e mulher, dando aos dois a prerrogativa de serem canal de satisfação ao cônjuge. Todas estas considerações sobre igualdade e mutualidade do relacionamento conjugal eram completamente revolucionárias no tempo de Paulo. O apóstolo acrescenta que a suspensão da atividade sexual deve ter propósitos definidos e tempo curto, para evitar que haja tentações nesta área. Os casais que estão alicerçados numa relação de doação de amor e afeto, crescem e amadurecem juntos visando sempre o bem estar um do outro. O casamento deve ser um relacionamento marcado pela renúncia de vontades egoístas, para que haja satisfação mútua em todos os aspectos que não se restringem ao ato sexual.

O apóstolo Pedro complementa tal ensino em sua primeira carta: “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, por isso que sois juntamente herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações” (1 Pedro 3:7).

A sacralidade do matrimônio está fundamentada na figura que este representa: a união entre Cristo e a sua Igreja. Assim como Cristo tem objetivos definidos para com a sua Noiva, purificando e santificando, assim também o marido deve zelar pela pureza de sua esposa, tendo como objetivo apresentá-la melhor ao Senhor. É requerido do povo eleito uma visão muito mais abrangente do casamento, do que simplesmente um canal para alívio das tensões sexuais. Há muito mais envolvido numa relação de tamanha envergadura. É necessário que haja o cultivo contínuo da fidelidade entre os cônjuges, expressão da aliança feita diante de Deus e de testemunhas. Sobre isso, o pastor John Piper escreveu: “Deus é glorificado quando duas pessoas tão diferente e imperfeitas forjam na fornalha da aflição uma vida de fidelidade mediante a confiança em Cristo”.

No casamento, o trabalho permanente é que os cônjuges busquem a humildade e procurem amadurecer em santidade e piedade para ter a aprovação de Deus. Quando o casal prova da graça divina na direção vertical (Deus e Sua vontade revelada), este presente gracioso se reflete no dia a dia na direção horizontal (entre os cônjuges).

Quanto a questão levantada por Paulo no verso 9, David Prior esclarece que “a situação menos desejável é a da pessoa que precisa do casamento como um meio de expressão de sua sexualidade, mas tenta com esforço passar sem ele: é melhor casar do que viver abrasado. A propósito, a expressão ‘viver abrasado’ não pode significar explodir em atos licenciosos, mas ser tão consumido por um desejo íntimo que praticamente nada mais interessa nem pode ser considerado com serenidade.” Deus dá plenas condições aos jovens solteiros de serem maduros na área sexual. Há recursos suficientes para que o jovem solteiro seja feliz enquanto não estabelece uma relação matrimonial. Atos vergonhosos são frutos de um coração não rendido e submisso a Cristo, de modo integral e santo. Lutas e problemas referentes a tentações sexuais podem e devem ser vencidas pelo poder santificador do evangelho e da cruz.

 

EBD JOVENS IBR JARDIM AMAZONAS
ESTUDOS EM 1 CORÍNTIOS