terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

O perigo da autoabsorção


O capítulo 3 de Gênesis relata a queda como o início da tragédia humana sobre a terra: cada um de nós escolheu ser seu próprio rei. Optamos por seguir o caminho da centralidade em nós mesmos. E isso destrói os relacionamentos. Não há nada que nos torne mais miseráveis do que a autoabsorção, ou seja, o fato de só pensar em como eu estou me sentindo, como estou me saindo, como as pessoas estão me tratando, se estou alcançando sucesso ou fracasso, se estou sendo tratado com justiça. A autoabsorção nos deixa estáticos; não há nada que cause maior desintegração. Por que temos guerras? Lutas de classe? Conflitos familiares? Por que nossos relacionamentos constantemente se desintegram? Por causa das trevas da autoabsorção, do fato de estarmos centralizado em nós mesmos. Quando decidimos ser nosso próprio centro, nosso próprio rei, tudo o mais se desintegra: seja socialmente, emocionalmente, espiritualmente ou fisicamente.

(Timothy Keller, A Cruz do Rei, pg. 35)

Raiz da preocupação


Você sabe de onde vem a preocupação constante? Sua raiz vem da arrogância que assume a seguinte postura: “eu sei bem o jeito que minha vida deve ser, e Deus não está entendendo isso direito”. Por outro lado, a verdadeira humildade significa descansar no Senhor e ter autocrítica.

As preocupações acalentadas no coração quanto ao futuro são extremamente danosas à saúde e vigor espiritual do cristão. Sentimentos avassaladores alimentados por dúvidas quanto ao dia de amanhã são a fonte de muita murmuração e ingratidão no meio do povo que se chama pelo nome do Senhor. Na verdade, a ansiosa preocupação é fruto de uma ilusão de controle, algo que o velho Adão adora insuflar em nossas mentes. Pensamos que temos todas as coordenadas sobre a direção à nossa frente, mas quando algum imprevisto nos tira da rota, sobram motivações egocêntricas para nos voltarmos contra a sabedoria do nosso Deus. Eis a postura de um arrogante.

Há muitas maneiras de acalentar ansiedade quanto ao futuro, mas nenhuma delas acrescentará um só metro à extensão da nossa vida. Em Mateus 6, Jesus sabiamente nos faz olhar para o cuidado do Criador com as coisas criadas, não deixando que nenhum fio de cabelo caia sem o Seu controle. Em outras palavras, Deus não é pego de surpresa por nenhuma contingência do nosso amanhã. Ele sabe o fim desde o começo, tal qual um tapeceiro que une os tecidos de uma peça de rara beleza. O produto final será um hino de louvor à sabedoria divina em nos conduzir por vales e desertos, aprimorando a nossa semelhança com Cristo. Portanto, não é atitude prudente duvidar da sabedoria do Senhor. Lembremo-nos que essa foi a estratégia usada por Satanás ao enganar Eva no jardim do Éden.

Em suma, cultivemos em nossos corações uma confiança dependente do Senhor Deus, que nos ama de modo irrefutável e cuidará de nós em cada circunstância difícil que venhamos a enfrentar. Certamente a paz de Deus guardará os nossos corações. Ele é Deus dos poderosos feitos em prol do Seu povo, visando sempre a glória do Seu majestoso Nome.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Confissão: um meio de graça

O povo de Deus é chamado a regularmente confessar seus pecados. No livro dos Salmos, por exemplo, há uma profusão de orações de confissão, em que o salmista Davi reconhece seus pecados apresentando-os diante de Deus (vide Sl. 32 e Sl. 51). O pronto reconhecimento de nossa inclinação ao pecado e das ocasiões em que cedemos aos apelos do nosso coração, é condição indispensável para a saúde da alma e para a manutenção de uma boa consciência aos olhos do Senhor. Uma confissão histórica do Livro de Oração Comum dos puritanos faz menção a essa tensão: “Todo-Poderoso e amantíssimo Pai, erramos e desviamos como ovelhas perdidas. Seguimos excessivamente os truques e as inclinações de nosso coração."

Uma igreja cujos membros confessam o fato de que nem sempre amam aquilo que dizem amar — que os “desejos e inclinações” de nosso coração superam nossas melhores intenções — é um manancial de onde pode jorrar verdadeira vida abundante. Por outro lado, uma igreja cujos membros preferem fazer de conta que nada de anormal se passa em seus corações, é um lugar árido e sem espaço para florescer a graça divina.

Uma vez chamados à presença santa de Deus e confrontados por Sua excelsa graça, tornamo-nos conscientes de Sua santidade e de nossa impiedade, sendo assim conduzidos a um momento de confissão — uma prática compartilhada na qual encaramos nossos pecados, tanto de comissão como de omissão, bem como nossos desejos desordenados e nossa cumplicidade com o sistema mundano.

As liturgias seculares, ao longo da semana, implicitamente nos ensinam a “acreditar em nós mesmos”. São falsos evangelhos de autoafirmação que recusam a graça. A prática da confissão é uma disciplina crucial para alinhar nossas mais profundas afeições, direcionando-as para um vigoroso padrão de autenticidade aprovado pelo Senhor, que nos conhece perfeitamente.  “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.”  (Hebreus 4:13)

Adaptado de: Smith, James. Você é aquilo que ama . Vida Nova. Edição do Kindle.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Valorizando a Palavra de Deus


Devemos ter pensamentos claros acerca da maneira por meio da qual Deus fala conosco. Isso ocorre essencialmente quando somos levados a julgar a nós mesmos e as nossas situações, da maneira que Ele mesmo o faz. O que Deus faz é conduzir-nos, quer de argumento em argumento, por um determinado período de tempo, ou até por meio de um repentino brilho de discernimento, para percebermos como as verdades bíblicas afetam este ou aquele aspecto das nossas vidas e das vidas dos nossos semelhantes. O Novo Testamento orienta os crentes a buscarem orientação, acerca de sua fé e de sua vida diária, no ensino apostólico apoiado no Antigo Testamento. Em outras palavras, é na Bíblia que encontramos essa orientação e não em quaisquer iluminações inesperadas e não-racionais.

“Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos” (Sl 119.105). Examinemos o quadro traçado pelo salmista. Ele precisava fazer uma viagem. Habitualmente a Bíblia retrata a vida como se fosse uma viagem. Ele estava no escuro, incapaz de enxergar o caminho a seguir, sujeito a perder-se e a ferir-se, se avançasse às cegas. (Isso retrata a nossa ignorância natural sobre a vontade de Deus para as nossas vidas, a nossa incapacidade de adivinhá-la e a certeza de que, na prática, nós a erraremos.) Porém, uma lâmpada foi dada ao viajante (imaginemos que fosse uma lanterna). Agora, ele pode perceber a vereda à sua frente, passo a passo, sem desviar-se dela, embora as trevas continuem a cercá-lo (Esse quadro revela o que a Palavra de Deus faz por nós, mostrando-nos como devemos viver).

Por qual motivo o contato com a Palavra escrita de Deus transforma algumas pessoas e outras não? Primeiro, algumas pessoas permitem que a Palavra escrita guiem-nas à Palavra viva, Jesus Cristo, para quem a Palavra escrita aponta continuamente, enquanto outras não permitem que isso suceda. Segundo, nem todos aproximam-se da Bíblia famintos e cheios de expectativas, cônscios da sua necessidade diária de ouvirem Deus falar. O desejo por Deus, oriundo de nossa necessidade por Ele, é o fator que decide quão profundo ou quão superficial será o impacto das Escrituras sobre nós.

Uma vez que cheguemos a reconhecer que a Bíblia é o ensino de Deus, e recordemos que nem Deus, nem Cristo, nem a natureza e a necessidade humanas, nem o arrependimento, nem a fé, nem a piedade se alteraram, desde que a Bíblia foi escrita, procuraremos com diligência ouvir a palavra de Deus para nós, mediante a análise e a aplicação daquilo que foi escrito. A saúde da nossa alma depende exclusivamente do alimento que buscamos para saciá-la, precisamos ter olhos e mentes voltados para o Autor da nossa fé, que nos fala de modo especial através da Bíblia.

Parker, J. I. . Vocábulos de Deus . Editora FIEL. Edição do Kindle.

Pare, olhe e escute


Você quer conhecer a Deus? Então faça conforme se vê em algumas placas de aviso, nos cruzamentos das estradas: Pare, olhe e escute!

PAREde procurar Deus, buscando-O em seus pensamentos, fantasias e sentimentos pessoais, ao mesmo tempo em que desconsidera a revelação de Deus. O conhecimento que temos acerca dEle e de sua revelação aos homens são realidades correlatas; ninguém pode ter a primeira sem ter também a segunda.

OLHEpara aquilo que Deus nos revelou. A Bíblia é a janela por meio da qual você poderá olhar e ver a sua revelação. Também há muitos crentes e muitos livros (este é um deles) que poderão ajudá-lo a entender aquilo que você está examinando e a selecionar o que realmente importa. Da mesma maneira que Londres é o principal lugar da Inglaterra que os turistas de além-mar gostam de visitar, sem importar quais outros lugares da Inglaterra também queiram conhecer, assim também o Senhor Jesus Cristo, que morreu mas está vivo para toda a eternidade, é o centro das Escrituras. Sem importar o que mais lhe chame a atenção na Bíblia, não permita que essas outras coisas o distraiam dEle.

ESCUTE o que a Bíblia tem a dizer-lhe sobre Cristo, bem como sobre a necessidade que temos dEle (ou, especificamente, sobre a necessidade que você tem dEle). A Bíblia, na qual você pode contemplar a pessoa de Cristo, é a comunicação de Deus para você acerca do Filho. Aprenda com Deus acerca de seu Filho; reaja favoravelmente a tudo quanto ali lhe for mostrado. Faça isso, e algum dia você estará dizendo juntamente com Paulo e com muitos outros milhões de pessoas salvas: "Deus... resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo" (2 Co 4.6). Você estará dizendo as palavras do ex-cego de Jerusalém: "Uma cousa sei: Eu era cego, e agora vejo" (Jo 9.25). Você conhecerá a revelação divina segundo a única maneira que, em última análise, tem proveito - a saber, pelo lado de dentro. E, conhecendo-a dessa maneira, você conhecerá o Senhor Deus.


Parker, J. I. . Vocábulos de Deus . Editora FIEL. Edição do Kindle.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

BAJULAÇÃO X ELOGIO


O livro dos Provérbios é repleto de ensinos para o dia a dia. Encontramos em Provérbios orientações sobre vários assuntos que são importantes para o cristão. Um deles é sobre os perigos do homem bajulador. Você certamente conhece pessoas que gostam de bajular, que gostam de falar palavras agradáveis e elevam o ego. Estas pessoas são descritas em Provérbios como perigosas. “O homem que bajula o próximo prepara uma armadinha para si mesmo” (Pv 29.5). Qual a diferença entre um elogio e uma bajulação?

A palavra em hebraico que Salomão usa para o elogio pode ser traduzida como “louvor”, enquanto que o sinônimo da palavra para bajulação é “fala mansa”.  A bajulação é uma “fala mansa” destinada a inflar seu ego. Elogios sinceros se destinam a louvá-lo pelo seu caráter e por seus atos dignos. O bajulador utiliza a prática da adulação ou o lisonjeio com o propósito de conquistar algo em troca, mesmo que isso venha prejudicar a pessoa lisonjeada. Lisonjear é dirigir elogios interesseiros a alguém. “A língua mentirosa odeia aqueles que fere, e a língua bajuladora provoca ruina” (Pv 26.28). No fundo, a maioria de nós gosta de ser bajulado, não de ser repreendido; no entanto, a repreensão nos é mais benéfica que a bajulação (Pv 27.6; 28.23). Conforme Salmo 12:2, lábios bajuladores falam com segundas intenções, sempre querem colher alguma coisa em troca. A troca de favores por meio da bajulação certamente trará enormes decepções.

Sem dúvida, existe espaço para a apreciação e o elogio sincero, para a glória de Deus (1 Ts. 5.12; 13). A Bíblia fala sobre acatar com apreço os pastores que lideram a igreja, honrando-os pelo ministério que exercem. Os cristãos de Bereia foram dignos de elogios por sua postura corretar em examinar com profundidade as Escrituras, averiguando os ensinos dos apóstolos. Elogio é igual a perfume: use, mas não beba.

Devemos ter muito cuidado com as pessoas que nos louvam com falsidade, por motivos egoístas. Se não fosse por nosso orgulho, não seríamos afetados pelos bajuladores. Mas sentimos um prazer secreto de ouvir outros concordarem com a nossa opinião e com aquilo que pensamos a nosso respeito. Sempre que alguém bajular você, fique atento. E, jamais tenha um conceito elevado demais sobre você mesmo. O orgulho é uma espada que fere a pessoa que o utiliza, e fere também aqueles contra os quais o orgulho é utilizado. A arrogância nos rouba tudo o que Deus deseja nos dar, mas a “…humildade e o temor do Senhor são riquezas, e honra, e vida” (22:4).


A essencialidade da Bíblia

Uma das declarações que a Bíblia faz de si mesma é que a Palavra de Deus é viva. “Fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a Palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1 Pedro 1:23). Em contraste com o que reina no mundo, a Bíblia é inesgotável, inextinguível e geradora de vida. O sistema mortal do mundo não pode atingi-la, não consegue anular sua validade, deteriorar sua realidade ou demolir sua verdade.

Uma das evidências de que Bíblia é a Palavra viva do SENHOR, é que ela discerne os pensamentos nos dando uma percepção interior surpreendente. A Bíblia é uma espada afiada de dois gumes que discerne os pensamentos e os propósitos do coração (Hebreus 4:12). Revela exatamente aquilo que somos. A Palavra de Deus é viva e reproduz vida. Tiago 1:18 nos diz: “Pois segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade...” A Palavra de Deus é que faz isso. O Espírito Santo utiliza-se da Palavra para produzir novo nascimento e crescimento espiritual.

A Bíblia sustenta a vida espiritual. A vida do cristão requer alimento, e a Palavra de Deus é esse alimento. Pedro disse: “Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento para a salvação” (1 Pedro 2:2). A Bíblia fala de si mesma como sustento: “Achadas as Tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração...” (Jeremias 15:16).

Como podemos ser transformados? Como cresceremos em semelhança a Cristo? À medida em que contemplamos a glória de Jesus Cristo, conforme revelada nas Escrituras, o Espírito de Deus vai nos moldando na imagem de Jesus Cristo. É este o ápice do crescimento espiritual. Quanto mais tempo, quanto maior a devoção e interesse que dedicarmos em contemplar a Cristo através da Bíblia, mais o Espírito de Deus me transforma segundo a imagem de Seu Filho. 

Confiança e Dependência


Alguns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós confiamos no nome do Senhor, o nosso Deus. Eles vacilam e caem, mas nós nos erguemos e estamos firmes. (Salmo 20:7-8)

Muita gente chama Deus de Criador, mas vive como evolucionista. Vive como se a vida tratasse da sobrevivência do mais apto em vez de viver como criatura dependente — o dependente confia no Criador e não em si mesmo, vive de acordo com as instruções do Criador. Nas Escrituras Deus nos deu instruções de como viver como suas criaturas, como seres finitos com corpo e alma, tal como Ele nos criou. Mas alguns de nós estamos tentando viver como se fôssemos infinitos. Não é surpresa quando desmoronamos.

Confiar no Senhor e depender de Deus não é tarefa simples, pois nosso velho homem teima em iludir-nos na busca de autonomia. E assim criamos uma falsa sensação que estamos progredindo, quando na realidade não saímos do lugar, como num movimento cíclico em torno de nós mesmos. Um dos efeitos trágicos da queda é a autonomia humana, que é antagônica ao senso de dependência de Deus. Ao seguirmos nossos "achismos" e impressões pessoais, sem considerar a realidade da instrução divina, cedo ou tarde amargaremos severa derrota espiritual. O cristão não foi remido para ser independente e autônomo. Pela graça que nos alcançou somos moldados diariamente à imagem do Filho de Deus, para que sejamos mais e mais dependentes desta graça por toda a vida. É impossível um cristão viver à parte da graça que o salvou.

O salmista Davi sabia bem que não podia confiar nos seus próprios recursos para lidar com os desafios. Por isso, ele declara com firmeza sua confiança no Senhor Deus que o sustentara em toda a jornada. Quais são nossos carros e cavalos que nos oferecem a falsa sensação de que estamos plenamente seguros e que podemos seguir adiante sem o Senhor? Certamente, não teremos avanço efetivo na corrida cristã sem a confiança dependente no Deus que tudo faz para o bem daqueles que O amam, mesmo que isso envolva lutas, contusões e dores.