quinta-feira, 27 de março de 2014

À maneira de Deus

 

A chamada do cristão é para que creia na doutrina certa, na doutrina verdadeira, na doutrina da Escritura. Mas não é só questão de pronunciar a doutrina certa, embora isso seja tão importante. Nem é questão de ser aquilo que possa ter explicação no talento, ou na moral, ou na energia natural da pessoa. O cristão não é chamado para apresentar apenas mais uma mensagem do mesmo modo que todas as outras mensagens são apresentadas. Devemos entender que não é importante o que fazemos, e sim, como o fazemos. No primeiro capítulo de Atos, entre a ressurreição e a ascensão de Cristo, Ele dá uma ordem para que não só se prego o evangelho, mas que se aguarde o Espírito Santo e então que se pregue o evangelho. Pregar o evangelho sem o Espírito Santo é deixar de perceber o essencial da ordem de Jesus Cristo para nossa época. Na área de “atividades cristãs” ou “serviço cristão”, como nós o estamos fazendo é pelo menos tão importante quanto o que estamos fazendo. Tudo que não estiver demonstrando que Deus existe escapa à finalidade proposta para a vida do cristão agora, aqui na terra.

Franscis A. Schaeffer

segunda-feira, 24 de março de 2014

AUTENTICIDADE

TEXTO BÍBLICO: Tiago 2: 14-19

A genuinidade de algo de valor é comprovada através de um rigoroso processo de exame e testes. Por exemplo: Como identificar se um diamante é verdadeiro? Existem alguns testes usadas pelas pessoas que negociam com joias de diamantes: Diamantes autênticos não são visíveis por meio de Raio-X; e os reflexos de um diamante de verdade têm tons de cinza. Caso você observe reflexos coloridos, é porque o diamante em questão é de baixa qualidade ou, pior ainda, uma falsificação. A Bíblia está cheia de exortações sobre um exame acurado: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo” (1 Co. 11:28). “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos” (2 Co. 13:5)

A carta de Tiago foi escrita com o propósito de chacoalhar os seus leitores imediatos, fazendo-os avaliar a fé que alegavam ter. Será que a minha fé é autêntica, ou é espúria? Sob esta ótica, Tiago desenvolve argumentos em sua carta objetivando traçar o perfil de um cristão genuíno que demonstra evidências de uma fé verdadeira.  Esta carta, e mais especificamente o texto em epígrafe, foi duramente criticada pelo reformador Martinho Lutero. Para ele, a carta de Tiago era uma epístola de palha, isto é sem peso frente a outras epístolas. Lutero não entendeu o principal ARGUMENTO TEOLÓGICO DE TIAGO 2:14-26: “A fé genuína sempre conduz o crente à ação obediente, i.e., as boas obras são o teste confirmatório da fé autêntica.”

OBS.: Tiago não está advogando em favor do ativismo: o fazer por fazer, sem levar em conta as orientações e preceitos bíblicos. Um cristão ativista busca fazer pelas motivações erradas. O ativismo gera pessoas orgulhosas, as boas obras que resultam da fé genuína, gera humildade e gratidão diante de Deus.

“É imprescindível que avaliemos seriamente a autenticidade da nossa fé” SOB TRÊS ASPECTOS (palavra-chave: ASPECTO)


1- A fé autêntica vai além da mera profissão verbal (vs. 14)

"Se alguém disser: TENHO FÉ". Não basta professar, é necessário implementar. Não existe vantagem ou utilidade nesta fé apenas professada. Tiago traz uma forte reprimenda para aqueles que resumem sua fé numa profissão verbal e não traduzem isto na prática. Tiago traz o questionamento: Onde estão as obras que comprovem esta profissão de fé? Esta fé por si só está morta, é a clara conclusão.

“Eu tenho fé, eu sou filho de Deus, eu sou convertido, Cristo é o meu Senhor”: são profissões ou confissões de fé verbalizadas por grande parte da cristandade, mas muitas vezes não resultam em evidências concretas. A oração do pecador, que muitas vezes é colocada para uma pessoa repetir, tem gerado muitos convencidos ao Cristianismo, não verdadeiros convertidos.

Os cristãos não devem vulgarizar a profissão de fé verbal vivendo um cristianismo sem essência. Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? (Lc. 6:46). É necessário que eu e você nos moldemos aos valores bíblicos e implementemos os princípios da Palavra de Deus em nossa vida, para que a nossa profissão verbal não gere dúvida em quem nos observa diariamente. Deus requer de seus filhos uma postura adequada, não apenas uma profissão verbal.

2- A fé autêntica vai além das declarações piedosas (vs. 15-16)

“Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos”, são declarações revestidas de bons desejos, de anseios ou intenções piedosas. Mas não é o bastante! Para Tiago, a fé genuína leva o cristão a arregaçar as mangas e envolver-se no reino do Senhor, servindo a Deus e ao próximo. Não podemos nos iludir com um cristianismo meramente de palavras, que consiste apenas de clichês ou chavões de piedade.

Para ilustrar, vejamos o que o apóstolo João escreveu em I João 3:17-18. João nos desafia a amarmos de fato e de verdade, ou seja, sem criar artifícios piedosos para fugir da nossa responsabilidade na prática. (Não é autêntica uma “fé” que fica apenas no campo do discurso e não resulta em práticas piedosas concretas). Em tudo o que Deus requer de nós, Ele mesmo já nos supriu dos recursos para obedecermos (2 Ped. 1:3).

“A paz do Senhor, Que Deus o abençoe, Graça e Paz”, podem se tornar chavões ou jargões piedosos, se não estiverem acompanhados de vida autêntica. Como posso ser canal de bênção na vida de uma pessoa? Como posso ser instrumento de graça e paz para edificar um irmão? Neste quesito precisamos investir nossos maiores esforços. “Irmão, estou orando por você”, mas o que posso fazer para ajudá-lo nesta situação que você está enfrentando?

Duas músicas apresentam este assunto de modo bem claro: As palavras não dizem tudo/Mesmo que o tudo seja fácil de dizer/Com certeza fala bem melhor o mudo/Se sua atitude manifesta o que crê (Música: Fonte - Sérgio Pimenta). Falo ao teu coração, de uma direção / Pra uma vida autêntica / Falo de ser um cristão, mas de viver pra Cristo / E não de fé semântica ( Música: Coisa séria - Guilherme Kerr)

3- A fé autêntica vai além das convicções teológicas (vs. 19)

“Deus é um só” – Num mundo politeísta, esta verdade teológica não era muito aceita e nem tolerada. Esta afirmação teológica é básica no judaísmo – “shema” (Dt. 6:4). Os judeus a recitavam pelo menos duas vezes por dia. Crer que Deus é um só implica que há somente um parâmetro de verdade. Deus é a verdade e d’Ele procede toda verdade.

O estudo bíblico sério e diligente é importantíssimo porque fornece a base para as nossas decisões e ações. Crer nas verdades teológicas e confiar na Palavra de Deus é fundamental na vida de todo cristão (Tg. 1:21). Mas não podemos ficar reféns do intelectualismo teológico, que não resulta em práticas cristãs coerentes. Este tipo de postura nos conduz a um autoengano fatal (Tg. 1:22).

Ter conhecimento bíblico adequado e coerente com as Escrituras é fundamental para o crescimento em piedade, mas se o nosso objetivo for apenas acumular informação, acumulamos também maior juízo sobre nós (a quem muito se deu, muito será exigido). Um lembrete sempre relevante: A ORTODOXIA SEMPRE DEVE NOS LEVAR À ORTOPRAXIA. O pregador puritano Thomas Manton escreveu: “Uma aceitação simples e superficial das verdades expostas na Palavra de Deus torna os homens mais cheios de conhecimento porém não melhores, nem mais santos, nem mais espirituais.”

Para Tiago, uma fé meramente intelectual (boa teologia e doutrina) não substitui a prática cristã. Podemos nos tornar meros admiradores das verdades bíblicas: “esta fé por si só é morta, não gera nenhum fruto”. Ao entendermos corretamente sobre a santidade e soberania de Deus, o que isto traz de mudanças práticas para a nossa vida? Qual será a nossa postura frente aos desafios do dia-a-dia, quando compreendermos adequadamente sobre a providência divina?

NA CONTRAMÃO DO VELHO HOMEM

Texto: Tiago 4:1-10

Paul Tripp, no seu livro "Em busca de algo maior", faz a seguinte afirmação: “O DNA do pecado é o egoísmo. Ele reduz a minha motivação, entusiasmo, desejo, cuidado e atenção aos contornos da minha própria vida.” (Cap. 7, página 87). O que o autor quer nos ensinar no seu livro é que somos essencialmente egoístas, porém a vida que Deus objetiva moldar em nós vai na contramão dos nossos próprios interesses. Precisamos trilhar o caminho em busca de algo maior, ou seja, em busca de interesses que não se resumem em nossa autossatisfação.

No texto lido em Tiago, temos uma série de exortações para um viver altaneiro, que nos liberta gradualmente das amarras do velho homem, EGOÍSTA por natureza. A repreensão de Tiago contra a carnalidade e a cobiça egoísta é muito franca e objetiva. Com vivacidade e utilizando imperativos, Tiago convoca os seus leitores a uma execução contínua da natureza pecaminosa. Afinal, uma evidência de que fomos regenerados é o surgimento de novos interesses, que divergem frontalmente do que agrada ao nosso velho homem. “Só uma coisa morta segue a correnteza. Tem que se estar vivo para contrariá-la.” (G.K. Chesterton)

Demonstramos a autenticidade da nossa fé quando seguimos na contramão dos interesses do velho homem

DE QUAIS MANEIRAS? (palavra-chave: Maneira)

1) Não rivalizando com o próximo para atender caprichos pessoais (vs. 1, 2)

Os crentes estavam ferindo uns aos outros com a língua e com um “temperamento” descontrolado. Havia uma hostilidade crescente entre os irmãos, certamente brigas, desavenças e estímulos à violência. Tiago enxerga o problema como fruto de cobiça carnal, o resultado da não-aplicação da sabedoria de Deus (Tg. 3:17). Desentendimentos, desavenças, partidarismo, um espírito belicoso, são fruto de um foco elevado em nossos direitos.

Paulo admoestou os efésios a cultivar a unidade espiritual (Ef. 4: 1-16); e até a igreja em Filipos enfrentava problemas por causa de duas mulheres que não se entendiam (Fp. 4: 1-3). Os nossos direitos e preferências pessoais devem ser deixados ao pé da cruz, para buscarmos a unidade no corpo de Cristo. Afinal, a ênfase para atender nossa vontade egoísta é nociva para qualquer relação humana, pois o foco não está na glória de Deus e nem no Seu reino. João Calvino escreveu: “Onde os homens amam a disputa, estejamos plenamente certos que Deus não está reinando ali.”

A guerra no coração contribui para causar as guerras nos relacionamentos! As causas de todos os conflitos estão arraigadas no nosso “eu”, portanto não devemos evitar uma autoconfrontação honesta. Qual a solução para os conflitos por motivações egocêntricas? Avaliemos o nosso amor a Deus, pois o nosso amor a Deus precisa ser tão real a ponto de estarmos dispostos a abandonar caprichos pessoais em prol da saúde dos nossos relacionamentos.

2) Não realizando súplicas de oração para satisfazer nosso egoísmo (vs. 3)

A palavra usada por Tiago (esbanjar) é a mesma que aparece em Lc 15:14, na história do filho pródigo. O cristão não deve pedir algo a Deus com interesses menores e escusos de viver à parte do Senhor. Deus não atende orações que não têm a glória dEle como principal objetivo. Aliás, Ele nunca atenderá um pedido que nos leve a pecar contra Ele. A oração endossada por Deus sempre tem a mesma ênfase da oração de Jesus no Getsêmani: “Seja feita a Tua vontade!”

É óbvio que oração não se constitui somente de pedidos, mas o que pedimos a Deus revela o que é prioridade em nossas vidas. Muitas vezes encaramos a oração como uma lista de tarefas para Deus realizar. As orações dos apóstolos são impregnadas de anseios santificados e desejos que não se concentram neste mundo. Quantas vezes já oramos para sermos fortalecidos na santificação ou para sermos cristãos perdoadores? Nós precisamos aprender a orar, reorientando nossos anseios mais profundos.

Os prazeres egoístas nos levam a viver em busca dos tesouros desta era hedonista, bem como os nossos anseios são direcionados para “escaparmos de problemas” e “vivermos felizes” neste mundo. Porém, um claro sinal de maturidade espiritual é a oração reverente e centrada em Deus, o clamor do servo que reconhece sua total carência e necessidade ante o trono da graça, fazendo calar todas as motivações carnais.

3) Não abandonando nossa lealdade a Deus para flertar com o mundo (vs. 4)

A palavra infiéis (moichalides) - significa “adúlteras”. No AT (Is. 54:1-6 e Jr. 2:2; 3:20) esta metáfora era usada para descrever a apostasia espiritual, especialmente a idolatria do povo de Israel. Nenhum marido ou esposa se contentaria com menos do que exclusividade total em relacionamento conjugal.

Ser mundano é viver como se Deus não existisse ou como se Sua vontade não fosse relevante para nossas vidas. Não seja um Demas, que amou o presente século, e abandonou o serviço a Cristo (2 Tm. 4:10). Alguns indicativos de afeições com o mundo: seguir a multidão; imitar os pagãos; buscar a aceitação; baixar padrões; relativizar valores; negociar princípios; estabelecer alianças. Soren Kierkegaard advertiu: “No dia em que o cristianismo e o mundo se tornarem amigos, o cristianismo deixará de existir.”

COMO CONSTATAR SE ESTAMOS COM AFEIÇÕES DIRECIONADAS PARA O MUNDO? Se a nossa maior atenção é voltada para o que é temporário (fama, sucesso, riquezas, status), em lugar do que é eterno (amadurecimento na fé, santidade, valores espirituais). Jesus disse que “onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Mt. 6:21). Temos vivido como “propriedade exclusiva do Senhor”, a ponto de Lhe dedicarmos sem reservas nossa lealdade? Temos vivido como peregrinos e forasteiros, que almejam uma pátria superior (Hb. 11:16)? Temos buscado agradar a Cristo em nosso cotidiano, constrangidos pelo Seu imenso amor?

quinta-feira, 13 de março de 2014

Sobre a oração

A oração é, e sempre foi, o lado ativo da doutrina da providência. A  oração é o reconhecimento, não do benefício psicológico de algum exercício  mitológico, mas do fato de que nós cremos que Deus existe, que Deus se  importa conosco, que Deus está no controle e que Deus providencia tudo, e  cremos de tal modo que estamos dispostos a fazer alguma coisa com base nisso,  isto é, a falar com ele. 

A providência nos lembra que não passamos de  criaturas, que somos dependentes de Deus e que, junto com o mundo todo,  estamos sob o senhorio de Deus; a oração é uma atividade pela qual  reconhecemos que não podemos ser nosso próprio senhor. A providência nos  lembra que nem tudo é desesperadamente absurdo ou sem sentido; a oração  é a nossa maneira de dizer "sim" diante da convicção de que Deus está operando os seus propósitos na natureza, nos homens e na história. A providência é um lembrete de que o Senhor é um Deus de graça e  generosidade; a oração é a nossa maneira de responder ao seu convite para  fazermos parte da família da sua aliança, para sermos seu filho ou sua filha,  seus cooperadores neste mundo. A providência nos lembra que o Deus vivo  não é um destino imutável diante do qual só podemos manter silêncio e ficar  passivos; a oração é a nossa reação diante do convite de Deus para que  partilhemos da comunhão com ele, uma expressão da nossa união com ele. 

Portanto, através da oração nós expressamos a nossa confiança na  providência de Deus e descobrimos como a nossa própria vontade deve ser  alinhada com a sua vontade soberana e cheia de amor por nós. A nossa  ação na oração se encontra na sua resposta transformadora.


Autor: DAVID ATKINSON
Extraído do livro: A Mensagem de Rute