segunda-feira, 28 de março de 2011

A insatisfação do coração

Insatisfação do Coração
MARCOS AURÉLIO DE MELO
MENSAGEM PREGADA EM 27/03/2011
IGREJA BATISTA REGULAR JARDIM AMAZONAS

PETROLINA - PE

quinta-feira, 17 de março de 2011

Uma vitória necessária

Texto-bíblico: Josué 8: 1-29

Muito se fala em vitória nos nossos dias. As pessoas estão em busca de vitórias profissionais, financeiras e amorosas, e por isso fazem todos os esforços possíveis para obter o que desejam. Um pregador televisivo lançou uma Bíblia de Estudo que trata sobre “Batalha Espiritual e Vitória Financeira”, na qual distorce inúmeros versículos ao seu bel-prazer. Vitórias são “reclamadas” por pessoas que presumem ter o controle sobre Deus e acham que podem determinar a agenda do Senhor. Constantemente, várias aberrações surgem no arraial evangélico para garantir vitórias a qualquer custo diante das intempéries da vida. Mas são poucos os interessados em ser vitoriosos contra o velho homem. Este é o triste retrato da maior parte dos evangélicos em nosso país.
Neste texto bíblico em epígrafe, estamos diante de uma cena de guerra. Mas, observando a estratégia militar utilizada por Josué e o povo de Israel para destruir a cidade cananéia de Ai, devemos perceber que neste contexto há ensinos espirituais muito significativos para nós hoje. Deus quer que aprendamos princípios para vencer batalhas contra o velho homem que habita em cada um de nós. Estas batalhas internas são muito importantes e necessárias, pois vão determinar as vitórias sobre a carne e o pecado. Não adianta alguém se considerar vitorioso profissional ou financeiramente, se dentro dele o velho “eu” ainda está no comando.
Batalhas espirituais são travadas diariamente, quando lutamos contras nossas vontades pecaminosas e quando estamos diante de dilemas que envolvem sérias decisões para mortificar o velho homem. Como disse um escritor, a vida cristã não é um parque de diversões, mas sim um campo de batalhas. Estamos envolvidos numa luta que não é contra carne e sangue (Ef. 6:12), e Paulo também ordenou aos seus leitores: “Fazei, pois, morrer (necroo) a vossa natureza terrena” (Cl. 3:15). A VIDA DO CRENTE É UMA BATALHA CONSTANTE, POR ISSO NÃO EXISTE SANTIDADE SEM SUOR.

Diante deste contexto eu gostaria de afirmar que:
“PARA SERMOS VITORIOSOS NAS BATALHAS CONTRA O VELHO HOMEM NÃO PODEMOS IGNORAR ALGUNS PRINCÍPIOS”

? De acordo com este texto que princípios não podemos ignorar para sermos vitoriosos nas batalhas contra o velho homem?
! De acordo com este texto, para sermos vitoriosos nas batalhas contra o velho homem não podemos ignorar pelo menos três princípios.

OBS.: Deus requer o engajamento de cada um de nós nesta batalha diária contra nossas vontades pecaminosas, pois o velho homem não deve ter o domínio sobre nossa vida. O crente está em paz com Deus, mas em guerra constante contra o pecado. O crente que não está engajado nesta guerra precisa urgentemente reavaliar o tipo de cristianismo que abraçou. Kris Lunggaard escreveu o seguinte: “Aqueles que se recusam a matar a carne estão querendo viver de acordo com a carne.” As estratégias para vencer as batalhas contra o velho homem são inúteis quando ignoramos estes princípios que passaremos a analisar tendo como base este texto bíblico:

1 – TODA PROMESSA QUE PROCEDE DO SENHOR É CONFIÁVEL (vs. 1)
Deus garantiu a vitória ao seu povo. Agora o povo tinha o respaldo do Senhor e não havia pendências em aberto. O Senhor afirmou diretamente a Josué que Ai seria destruída tal como Jericó (Js. 6:2). Crer nesta promessa seria fundamental para a vitória sobre os inimigos. Aliás, esta promessa de possuir a terra já tinha sido garantida há muitos anos atrás (Gn. 12:7-8) ao patriarca Abrão.
A Bíblia está repleta de promessas que nos asseguram inúmeros recursos ao nosso dispor para sermos vitoriosos contra o velho homem. São promessas que devem nos encher de coragem para nos engajarmos na luta contra o “eu” que insiste em nos ameaçar. Em 1 Co. 10:13, lemos que Deus conhece perfeitamente até que ponto podemos suportar e não permitirá que sejamos tentados além das nossas forças, e ainda nos oferece o escape para que sejamos vitoriosos. Quando confiamos plenamente nesta promessa, não vamos ficar inventando desculpas evasivas para não mortificar a natureza humana. Em 1 Pe. 1:3-4, o apóstolo Pedro nos relembra que as promessas de Deus são recursos indispensáveis para sermos livres da corrupção das paixões que há no mundo.
Deus nos garante em Sua Palavra: se estivermos debaixo da graça de Deus, então o pecado não terá domínio sobre nós, isto é, o pecado não reinará absoluto (Rm. 6:14). Muitas pessoas levantam a bandeira branca e desistem de batalhar, porque não entenderam esta verdade.
Você tem se apegado firmemente às promessas de Deus na luta contra seus desejos e vontades carnais? O seu propósito mais urgente deve ser viver baseado nas promessas de Deus, pois todas as Suas promessas são confiáveis. O crente que não confia no que Deus prometeu em Sua Palavra não está pronto para a batalha. As promessas divinas oferecem segurança para avançar no combate contra o velho homem, e faremos bem se não ignorarmos nenhuma.

2 – TODA INSTRUÇÃO QUE PROCEDE DO SENHOR É INEGOCIÁVEL (vs. 2, 8)
Deus instruiu Josué para preparar um ataque surpresa contra a cidade de Ai. Alguns israelitas fugiriam dos guerreiros de Ai, e quando a cidade estivesse vazia, um grupo atacaria e queimaria tudo pela frente. Esta estratégia foi seguida à risca conforme o relato no texto bíblico. O Senhor também ofereceu instruções para a conquista de Jericó (Js. 6); a vitória foi completa porque não houve desvio do plano original traçado por Deus. “O QUE DEUS DIZ NÃO PODE SER IGNORADO EM HIPÓTESE ALGUM.”
Para que este plano fosse executado na íntegra, o povo não deveria buscar soluções “pragmáticas”. O pragmatismo invadiu as igrejas evangélicas. A ideia básica por trás do pragmatismo é a seguinte: se algo funciona então deve ser implementado mesmo que os ensinos bíblicos sejam negligenciados. Mas também invadiu a vida dos cristãos de tal modo que a solução encontrada para resolver problemas geralmente passa longe da Bíblia. Vários crentes procuram a psicoterapia para se livrar de um fardo de culpa, quando na realidade deveriam se voltar para o perdão gracioso ofertado por Jesus Cristo, que restaura a alma completamente. Outros procuram os gurus da psicologia para ajudá-los a conviver pacificamente com o marido ou com a esposa. O melhor caminho é buscar a orientação bíblica sobre os relacionamentos e agir com base nas instruções do Senhor. A Palavra de Deus é útil e eficaz para trazer-nos as instruções necessárias a um viver agradável ao Senhor (2 Tm. 3:16) à ensino, repreensão, correção, instrução.
Como perfeito fabricante, é Deus quem nos conhece perfeitamente bem. Somente Ele é quem sabe quais são as nossas reais fragilidades na luta contra o velho homem. É por isso que o cristão deve recorrer constantemente à Palavra do Senhor para não ser iludido por estratégias superficiais que trazem maiores derrotas. As instruções do Senhor não podem ser negociadas em hipótese nenhuma e Suas ordens não devem ser obedecidas pela metade, pois uma obediência parcial é uma desobediência total. Vários exemplos na Bíblia servem para nos alertar que não estamos autorizados a burlar as instruções divinas e seguir a nossa intuição (Sansão). Lembre-se sempre: seguir as orientações do Senhor nunca faz mal.
“O crente que ignora o princípio da suficiência das Escrituras em seu viver receberá um atestado de óbito espiritual.” Na verdade, o crente não tem como obter vitória contra o pecado enquanto não se submeter completamente às instruções do Senhor para a sua vida. As instruções divinas não são opcionais. Você tem seguido às instruções de Deus para lidar com o pecado em seu coração? Ou tem buscado métodos e técnicas humanas para tratar o que somente a Palavra de Deus está autorizada a oferecer a solução eficaz? Não negocie as instruções do Senhor por nada neste mundo, pois os prejuízos não compensam e as aparentes vitórias não trazem glória ao nome do Senhor.

3 – TODA CAPACITAÇÃO QUE PROCEDE DO SENHOR É INDISPENSÁVEL (21-22; 18-19, 26)
Em todo o contexto do livro de Josué observamos que Deus supre o Seu povo com a capacitação necessária. As vitórias registradas na Bíblia servem para comprovar que o Senhor esteve constantemente engajado nas batalhas ao lado do Seu povo. Se não fosse a capacitação do Senhor este povo pastoril não teria conquistado Jericó, Ai e outras cidades em Canaã.
Seremos facilmente derrotados na batalha contra o “eu” se não entendermos que temos ao nosso dispor os recursos para vencermos. O Senhor nos capacita mediante a habitação do Seu Espírito em nós em nós, conforme: 2 Co. 6:16; 1 Co. 3:16; 1 Co. 6:19. Para experimentar vitórias progressivas contra a natureza pecaminosa, o crente deve reconhecer que sozinho não conseguirá. Ele precisa depender diariamente da graça de Deus que opera em nós tanto o querer como o realizar segundo a Sua boa vontade (Filipenses 2:13).
Deus sempre nos fortalece para cumprirmos os Seus propósitos. E um dos propósitos que Deus deseja executar em nós é o crescimento em santidade, até atingirmos a estatura de varão perfeito (Ef. 4:13). Para isso, o Senhor capacita os Seus filhos em cada momento.
A santificação é uma via de mão-dupla. Podemos exemplificar com uma equação: S = E + D, ou seja, santificação é igual a esforço (da nossa parte) e dependência (da graça divina). Sem o correto entendimento desta equação, vamos ficar remando contra a maré e nunca experimentaremos vitórias efetivas contra o velho homem em nossas vidas. Os frutos do Espírito descritos na carta aos Gálatas só podem ser produzidos em nós por meio da atuação do Espírito Santo de Deus. Assim também, as obras da carne só podem ser aniquiladas por meio da capacitação divina (Rm. 8:13).
Você tem se esforçado em vão para vencer as batalhas contra o velho homem baseando-se apenas em suas estratégias? Se suas estratégias já falharam em várias ocasiões, é prova que você não está dependendo da capacitação que procede de Deus.

ESTUDOS NO LIVRO DE JOSUÉ
MARCOS AURÉLIO DE MELO

segunda-feira, 14 de março de 2011

A certeza da volta de Cristo

Por que a esperança da volta de Jesus Cristo é importante para o crente? Se você é um cristão, a volta de Cristo deve ser a sua maior expectativa, pois Ele prometeu que retornaria a este mundo para buscar a Sua Igreja. Mas hoje este assunto é pouco enfatizado e a maioria das pessoas não se importa nem um pouco com isto. O crente genuíno deve ter uma postura diferente e aguardar com expectativa o retorno do Senhor. É claro que não sabemos nem o dia e nem a hora da volta triunfante de Cristo, mas por que é importante que o crente guarde sempre a esperança da volta de Jesus?

Logo após o fim do ministério de Jesus na terra, ele reuniu os seus discípulos, deu ordens, despediu-se e subiu aos céus. A Bíblia registra esta cena em Atos 1:10-11: “E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir.” Esta é uma garantia que não perdeu a sua validade: Cristo com certeza voltará!

É importante que o crente tenha esta esperança, porque a volta de Cristo é um assunto muito abordado na Bíblia. A Bíblia está repleta de versículos que garantem que o retorno de Cristo é certo, tanto no Novo Testamento, como no Velho Testamento. A carta de Paulo aos Tessalonicenses é cheia de ensinos sobre o retorno de Jesus para buscar a sua Igreja. Os crentes daquela igreja deveriam prosseguir em sua caminhada cristã, sabendo que a qualquer momento Cristo voltaria. Para isso deveriam investir suas vidas em propósitos eternos. Até mesmo, o Senhor Jesus afirmou que voltará: "Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também." (João 14:2,3)

Além disso, a esperança do porvir é o que sustenta o cristão neste mundo de trevas e anima seu espírito a continuar caminhando. A certeza de que Cristo voltará é uma âncora na qual o crente pode confiar. Apesar das inúmeras tragédias deste mundo e dos males que existem, um dia a Bíblia diz que tudo será restaurado para o louvor da glória de Deus, porque a segunda vinda de Cristo marca uma nova etapa no plano de Deus. Por isso, o crente deve olhar para o futuro com o coração cheio de fé nas promessas do Senhor. Os desafios e perseguições que o crente enfrenta neste mundo não podem anular a sua confiança, pois Cristo voltará para buscá-lo e então viverá eternamente com o Senhor.

Também é importante que o crente esteja firmado na esperança da volta de Cristo porque isto é útil para o seu crescimento em santidade. A Bíblia nos diz que “a vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv. 4:18). Isto significa que todo crente precisa ser aperfeiçoado dia após dia, para que quando Cristo voltar encontre a sua Igreja adornada em santidade. Cristo vai voltar para buscar a sua Noiva que é a igreja, e ela precisa estar preparada para este encontro triunfal.

E quanto a você meu amigo, que ainda não se rendeu diante da graça do Senhor em arrependimento verdadeiro, eu gostaria de dizer que Jesus Cristo voltará para buscar somente aqueles que Lhe pertencem. Ele virá com poder e grande glória, e a igreja se encontrará com Ele. A pergunta é: você está preparado para este grande dia? A Bíblica nos ensina que, unicamente por meio da fé no sacrifício perfeito de Cristo, você terá condições de esperar com alegria este dia em que Cristo voltará. Clame pela graça divina sobre a sua vida, para que neste dia glorioso você também esteja entre os que serão reunidos para sempre com o Senhor.

MEDITAÇÃO PARA O PROGRAMA VIVA COM CRISTO
MARCOS AURÉLIO DE MELO

sábado, 5 de março de 2011

Os prazeres da carne

Por que o homem sempre busca a satisfação de seus prazeres? Neste período de Carnaval podemos observar que muitas pessoas se entregam ainda mais aos vícios e paixões carnais, e dizem que o importante é curtir ao máximo estes dias de folia. As escolas de samba e os trios elétricos levam para a avenida mulheres nuas ou seminuas e os apelos ao sexo são visíveis. Além disso, vários acidentes de carro são causados nesta época porque as pessoas bebem, perdem a noção do perigo e acabam com suas vidas e também a vida de outros. Mas o que será que a Bíblia nos diz sobre este assunto. Por que o homem está sempre interessado em satisfazer os seus prazeres carnais?

A Bíblia diz que todos nós temos uma natureza pecaminosa. O pecado habita em cada pessoa na face da terra. Todos os homens carregam dentro de si o desejo para satisfazer os prazeres do seu corpo de uma forma pecaminosa. Ou seja, o homem é escravo dos seus prazeres e pecados desde o seu nascimento. E esta natureza pecaminosa se manifesta de várias formas e em todo momento, mas na época do Carnaval as pessoas fazem questão de extravasar ainda mais seus desejos pecaminosos. O homem sempre está interessado em satisfazer seus prazeres carnais porque as cobiças do seu coração são despertadas pelo pecado que existe dentro dele.

Paulo escreve aos cristãos de Roma, na carta de Romanos 13:12-14, as seguintes palavras: “Rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz. Andemos honestamente, como de dia, não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne em suas concupiscências.” O que Paulo quer nos ensinar é que existe uma solução para o grave problema do pecado que escraviza o homem. Para isto é necessário que haja um novo nascimento espiritual. Somente por meio do novo nascimento é que alguém poderá ser revestido do Senhor Jesus Cristo. Este novo nascimento é a conversão genuína por meio do arrependimento diante de Deus, que traz perdão aos pecados por meio do sangue de Cristo derramado na cruz.

Mas mesmo após a conversão o crente não está livre do pecado, pois o coração pecaminoso sempre vai procurar mostrar a sua força. O desejo de aproveitar ao máximo os prazeres da carne vai continuar existindo. Porém, com o auxílio de Cristo e do Espírito Santo, o crente tem condições de dizer “não” aos apelos do seu coração pecaminoso, e se pecar, tem um perfeito Advogado junto ao Pai. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar (I João 1:9).

Meu amigo, neste período de Carnaval o seu objetivo é curtir ao máximo e aproveitar os prazeres que a carne e o mundo oferecem? Isto acontece porque você é escravo das suas próprias paixões. Mas eu gostaria de dizer que é totalmente possível viver livre desta escravidão por meio da graça de Deus por meio de Cristo Jesus. Ainda hoje você pode confessar que depende inteiramente de Cristo para viver em liberdade, sem as algemas que lhe prendem à festa da carne. Pense nisso nesta tarde e não se iluda com os prazeres do pecado. A verdadeira alegria não se encontra nas orgias ou nas folias, nem é motivada por prazeres carnais, mas em Deus que é a fonte da verdadeira alegria e do prazer.


MEDITAÇÃO PARA PROGRAMA VIVA COM CRISTO
MARCOS AURÉLIO DE MELO

sexta-feira, 4 de março de 2011

Por uma boa hermenêutica

Compartilho nesta postagem um excelente texto do professor e hebraísta brasileiro Luiz Sayão, no qual ele aborda algumas interpretações equivocadas de textos bíblicos. É urgente a necessidade da boa hermenêutica em nossos dias, tendo em vista as inúmeras aberrações que surgem diariamente por conta de uma má interpretação das Escrituras. O título deste texto resume bem a situação: "Bíblia mal compreendida, problema sério na vida."

A maioria dos mais informados vai concordar que atravessamos um cenário complicado no evangelicalismo brasileiro. Todos sabem que a igreja cresceu demais nas últimas décadas, mas ela ainda busca um amadurecimento. Movimentos mais contextualizados e grupos voltados para a evangelização do país coloriram o cenário evangélico brasileiro nos últimos anos. Todavia, tanta euforia e eferverscência também é sinal de atenção. O fato é que a igreja precisa achar um ponto de equilíbrio entre quantidade e qualidade. Sem o estudo sério e fundamentado das Escrituras Sagradas teremos problemas insolúveis a curto prazo em nossa realidade protestante tupiniquim. Infelizmente, ainda há grupos em nosso contexto de fé que desprezam o preparo teológico, há outros que são tão estranhos que vivem na fronteira entre a categoria de seita e denominação. Há muito trabalho a ser feito para a consolidação de uma tradição evangélica autêntica no Brasil.

Ninguém pode negar que essa tarefa de consolidação passa necessariamente pela referência máxima da cristandade e dos evangélicos: as Escrituras Sagradas. A compreensão da Bíblia é absolutamente fundamental para que se tenha uma igreja séria e cristãos espiritualmente saudáveis. Por incrível que pareça, o sinal de que nem tudo vai bem no cristianismo “tropical abençoado por Deus e bonito por natureza” é que há muitos textos lidos e enfatizados em nossa tradição evangélica que são malcompreendidos, gerando inclusive crises e problemas pessoais em muitos cristãos sérios e sinceros. Vejamos alguns exemplos.

Muita gente tem sofrido com seus familiares ao ler o conhecidíssimo texto de Atos 16.31: “Crê no Senhor Jesus, e tu e tua casa sereis salvos” (A21 – Versão Almeida 21). O problema desse texto é que muitas pessoas pensam que estamos diante de uma promessa divina de que todos os nossos parentes próximos serão salvos. A verdade é que o texto não ensina isso! Em primeiro lugar, é importante destacar que como texto narrativo histórico, o versículo não pretende ser normativo. Ou seja, o relato de alguma coisa que acontece não necessariamente é norma para toda a igreja. Aqui vemos uma promessa que foi dada ao carcereiro de Filipos e não para todos! A ele foi dito que ele e “os de sua casa” (NVI) seriam salvos. No caso dele, isso talvez tivesse incluído servos ou empregados, já que a “casa” de alguém nos tempos bíblicos incluía gente que não era da família de sangue. Portanto, a verdade é que ninguém pode assegurar a conversão de seus parentes com base nesse texto. Se esse fosse o caso, ninguém veria um parente próximo morrer sem converter-se a Cristo na história, mas sabemos que isso não se verifica. Além disso, o próprio Jesus deixou claro que muitos cristãos até perderiam suas famílias por causa do evangelho: “E todo o que tiver deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por minha causa, receberá cem vezes mais e herdará a vida eterna.” (Mt 19.29 – A21). Leia também Mateus 10.35,36. Como se vê, se nos fosse prometida a conversão de todos os parentes próximos estes textos de Mateus não fariam sentido.

Quase que na mesma linha de pensamento, muitos evangélicos, principalmente pais e mães, ficam literalmente desesperados diante de Provérbios 22.6 (ARC): “Instrui ao menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele”. O que geralmente se entende desse versículo é que Deus está prometendo que uma criança levada ao conhecimento do evangelho desde pequena nunca se desviará da fé. Como uma mãe entende esse versículo diante do fato de que seu filho afastou-se da fé e da igreja? O problema não está em Deus e na Bíblia, pois o texto não está ensinando isso. Não há aqui uma garantia contra a apostasia! Em primeiro lugar, é importante afirmar que Provérbios não é um livro de promessas. De fato, suas afirmações são “máximas”, ou seja, fatos constatáveis de modo geral na vida. O texto está dizendo que aquilo que uma criança aprende desde pequena não é esquecido. A verdade é que a tônica do texto não é exclusivamente religiosa. É de criança que se aprende a andar de bicicleta, falar outra língua, tocar um instrumento, decorar versículos, etc. Além disso, devemos também ressaltar que o texto hebraico diz: “Instrui a criança no seu caminho ...”. A tradução tradicional “deve andar” interpreta o sufixo pronominal genitivo do hebraico, indo muito além do literal. Todavia, há outras alternativas de interpretação! “Instruir a criança no caminho dela” pode significar “instruí-la segundo os objetivos que os pais têm para ela” (NVI), “instruí-la no caminho devido” (ARA, ARC, A21) ou “instruí-la conforme os dons que ela tem”. As interpretações são legítimas e o texto está aberto a mais de um enfoque distinto. No entanto, é bastante seguro afirmar que o texto não está prometendo segurança de salvação para a criança que vai à escola dominical, tem pais cristãos e ouve a Bíblia desde pequeno. O assunto ali discutido não é salvação!

Outro texto geralmente mal compreendido é Filipenses 4.13. Não faz tanto tempo, trafegando pelas áreas nobres da rica cidade de São Paulo, contemplei um belo carro importado com um adesivo que ostentava orgulhosamente o verso de Filipenses. Geralmente, quando se lê este texto isoladamente, a maioria das pessoas imagina que se trata de uma promessa de fé. Por meio do poder de Cristo, eu posso alcançar tudo o que eu quiser! Assim, posso adquirir bens caros, derrotar inimigos pessoais, subir de posição, etc, por meio de Cristo. Novamente, como nos outros casos, o texto bíblico não está dizendo isso. Aqui, para que se entenda corretamente o texto é preciso entender o contexto. O apóstolo Paulo está escrevendo Filipenses na ocasião de sua prisão, muito provavelmente em Roma (Fp 1.13-14). Portanto, ele está enfatizando que por meio de Cristo podemos suportar toda e qualquer situação adversa. Basta ler o que Paulo diz um pouco antes nos versículos 11 e 12 (NVI): “Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.” Por incrível que possa parecer, o texto bíblico significa exatamente o oposto do que muita gente tem sugerido sem analisá-lo adequadamente.

Numa outra ocasião, em minhas jornadas, encontrei dois cristãos evangélicos num debate acalorado, discutindo se devemos ou não mentir em certas situações. Independentemente da discussão sobre a possível legitimidade de uma inverdade ou omissão da verdade em certas situações (como o caso de mentir ou omitir para salvar uma vida), o que estamos discutindo é o uso de textos bíblicos de maneira indevida. O argumento dos debatentes era o de que Abraão, servo do SENHOR, e amigo de Deus, em uma situação de necessidade, mentiu (Gn 12.18-20), o que legitimaria o procedimento. A questão aqui não é tão difícil: o simples relato de um texto histórico não o define como norma. Muitas vezes o texto bíblico conta-nos os erros e falhas de seus personagens exatamente para enaltecer o poder de Deus na vida de um ser humano frágil. Muita gente, porém, tenta ver méritos e qualidades especiais em cada detalhe de vida do personagem bíblico, sem contrastar o comportamento dos mesmos com as normas divinas. Assim, com base nos fatos de que Moisés ficou irado, Abraão mentiu, Jacó enganou Labão, Raabe mentiu em Jericó, Davi foi polígamo, etc, alguns tentam justificar seus pecados, afirmando que homens e mulheres de Deus do passado fizeram tais coisas e não foram punidos por isso. O equívoco é muito claro. Não podemos fazer isso: um texto narrativo não é necessariamente normativo.

Esses exemplos mencionados neste breve artigo apenas nos mostram a necessidade urgente e gritante de um conhecimento mais aprofundado da arte de interpretação da Bíblia (hermenêutica). Muitas comunidades cristãs são hoje reféns de doenças hermenêuticas prejudiciais e destruidoras para a fé. Há grupos perdendo o equilíbrio teológico e caindo no liberalismo teológico (negação do sobrenatural), numa filosofia específica, no legalismo, no misticismo desenfreado, no tradicionalismo irrefletido, entre outros problemas! É preciso estudar a Bíblia no seu próprio contexto, entendendo elementos históricos, literários e teológicos para que conheçamos ao máximo a intenção original do autor. Depois disso, temos a tarefa de destacar os princípios que estão presentes no texto, para então comparar o que descobrimos com uma análise teológica mais profunda, a partir de outros textos importantes que falam do princípio descoberto no texto inicialmente analisado. Finalmente, devemos fazer a aplicação do princípio descoberto e teologicamente analisado na realidade do cotidiano.

A verdade é que a seriedade e o valor do texto sagrado para sempre ecoará através da história, especialmente quando ouvimos como o próprio Jesus considerava as Escrituras: “Pois em verdade vos digo: antes que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará uma só letra ou um só traço da Lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18 – A21).


Luiz Sayão