quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Disciplina Eclesiástica

"E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as."  (Efésios 5.11) 

Há dois tipos básicos de disciplina na vida da igreja:

A) Disciplina formativa (Aspecto Preventivo)

Advertência por meio de ensino (2 Tm 2.24-26; Tt 1.9); Admoestação sobre a seriedade do pecado (1 Ts 5.14; Tt 3.10-11).

B) Disciplina corretiva (Aspecto Repressivo)

O pecado já encontra-se consumado. O arrependimento não foi evidenciado pela via prescrita em Mateus 18, então a disciplina eclesiástica corretiva é aplicável ao pecador. A disciplina pressupõe uma preocupação ativa uns com os outros no Corpo de Cristo, pois o alvo é sempre corrigir as transgressões da lei de Deus entre o povo de Deus. Paulo percebeu a ausência total, entre os coríntios, de uma sensibilidade adequada diante de um pecado específico, que realmente provê aos inimigos do cristianismo um motivo ainda mais forte para amaldiçoar e ridicularizar as suas afirmações.

No capítulo 5 da carta, Paulo aborda o procedimento disciplinar em três contextos: a autoridade total de Jesus Cristo como Senhor (em nome do Senhor Jesus), a presença corporativa de toda a comunidade cristã em Corinto (apoiada pela sua própria presença em espírito, v. 3) e o controle soberano do Senhor sobre tudo o que Satanás tem permissão para fazer, mesmo a um cristão rebelde. Não se trata de o cristão, mesmo quando culpado do tipo de pecado grosseiro aqui descrito, perder a esperança na salvação eterna e distanciar-se do estado da graça. Pelo contrário, o pior dano que Satanás pode causar (a destruição da carne, v. 5) está totalmente sob a autoridade de Jesus Cristo.

OBS.: Convém destacar que esse membro excluído perderia toda a utilidade potencial de sua vida nesta terra e, portanto, toda a esperança de ser recompensado por sua mordomia fiel dos dons de Deus, quando chegasse à plenitude da vida eterna.

O fracasso da igreja atual ao exercer a disciplina correta na igreja geralmente brota de uma convicção distorcida, e talvez covarde, de que tais assuntos são atribuições da liderança, e não da congregação como um todo. Paulo dirigiu suas palavras de repreensão severa (não chegastes a lamentar) a toda a igreja, não apenas à liderança.


Propósitos da disciplina na igreja:

1) Para o bem da pessoa disciplinada
2) Para o bem de outros cristãos, quando percebem o perigo do pecado
3) Para a saúde da igreja como um todo
4) Para o testemunho coletivo da igreja (devemos marcar pela diferença)
5) Para a glória de Deus, quando refletimos a Sua santidade

Observações importantes:

- O resultado almejado da disciplina na igreja é sempre o arrependimento e a restauração do ofensor.

- A conivência ativa com o pecado (fermento) sempre vai acarretar maiores prejuízos para a igreja. Todo o culto e toda a vida da comunidade cristã se transformam em uma farsa, cheia de insinceridade e hipocrisia.

- O mundo anseia por ver uma igreja que leva o pecado a sério, que desfruta plenamente o perdão, e que, em seus momentos de reunião, mistura celebração cheia de alegria com um respeitoso senso da presença e da autoridade de Deus.

- O arrependimento genuíno consiste em mais do que tristeza e lágrimas (2 Co 7.9-11). O arrependimento verdadeiro torna-se evidente quando um transgressor está disposto não somente a abandonar seu pecado, mas também a confessá-lo a todos que são por ele afetados.

- A disciplina é designada para ajudar o cristão individual e a congregação a crescerem em piedade, e a fazer brilhar a luz da verdade de Deus sobre o erro e o pecado.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A ressurreição e a vida

No Evangelho de João, está registrado que Jesus proferiu as seguintes palavras: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente.”  (Jo. 11:25-26)

O contexto desta passagem é bem conhecido. Lázaro, o amigo de Jesus, tinha morrido. Seu corpo estava em uma gruta que lhe servia de tumba. A decomposição do corpo tinha começado, pois o texto bíblico nos informa que o corpo havia 4 dias que fora sepultado e já fedia. Mas, o Senhor Jesus, ele mesmo senhor da vida e da morte, se aproximou da tumba e mandou tirar a pedra que fechava a entrada. 

Jesus é o Deus encarnado. Nele reside o pleno poder para trazer a vida alguém que já está morto. Quando Ele diz ser "a ressurreição e a vida", ele faz referência a este poder que modela todo o nosso mundo. O poder da ressurreição foi experimentado pelo próprio Cristo, após 3 dias de sua morte na cruz do Calvário. Muitas pessoas viram a Jesus após a sua ressurreição, e alguns discípulos o tocaram. Não era um espírito (como muitos afirmam), era o corpo humano do Senhor em todo a sua majestade e glória.

O mesmo poder que ressuscitou Lázaro e que operou na ressurreição do Senhor Jesus, será manifestado na vida daqueles que morreram em Cristo. Aqueles que tomaram o caminho da cruz, e morreram para o próprio EU, para suas vontades pecaminosas e se renderam ao senhorio de Cristo, certamente ressuscitaram para uma vida eterna. A graça que alcança o pecador é a mesma graça que triunfa sobre a morte. A fé em Jesus nos tira de um estado de morte espiritual e nos traz vida espiritual verdadeira. E o corpo que jaz num túmulo há de ressurgir para habitar eternamente com o Senhor nos céus. 

Este ensino é um dos pilares da fé cristã. Paulo nos adverte: “se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé” (1 Co. 15:14). E também: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.” (1 Co. 15:19).

Se você não é cristão e se ainda não ouviu o chamado da graça de Deus, eu o advirto que um dia você também será ressuscitado, não para vida eterna, mas para vergonha e horror eterno. E a você que é cristão, eu gostaria de exortá-lo a viver de modo digno de alguém que foi ressuscitado para uma vida nova, e que habitará eternamente com Cristo.


sábado, 13 de dezembro de 2014

PAULO: UM PAI ESPIRITUAL

O apóstolo Paulo apresenta-se como pai espiritual dos fieis em Corinto. Esta ilustração fala de uma relação estreita, familiar e próxima. Mas seus filhos espirituais se rebelaram contra sua autoridade, dando início a um longo e doloroso processo de conflito. Mas é importante perceber que Paulo não desistiu desta igreja rebelde e complicada. Com amor e firmeza ele soube dosar a doutrina correta para admoestar os coríntios. Admoestar significa literalmente “colocar alguma coisa dentro da mente”, com o objetivo de instruir e corrigir. Alcançar a mente com a verdade de Deus, que transforma o homem de dentro para fora é objetivo de todo fiel ministro do Senhor.

Paulo afirma que não era um mero preceptor – “paidagogos” (o escravo que tinha a responsabilidade de cuidar de uma criança e conduzi-la para a escola); seu papel tinha sido o de gerar muitos filhos espirituais por meio do Evangelho de Cristo. Vejamos como o apóstolo assumiu este papel de pai espiritual das pessoas que estavam sob a sua responsabilidade:

· O pai como exemplo para os filhos: ensinar não apenas por aquilo que diz, mas sobretudo por aquilo que faz. Paulo imitava a Cristo, e servia como exemplo para os seus filhos na fé. O que os coríntios deviam imitar em Paulo? A paixão e o zelo por um ministério centrado na pregação da cruz de Cristo, que não deixava espaço para orgulho ou qualquer presunção humana. Outra aspecto do ministério de Paulo digno de imitação era o fato de que ele não queria um fã-clube em seu nome. O que Paulo queria não era a fidelidade dos coríntios ao seu nome, mas a obediência ao seu exemplo como cristão. Outros textos que mostram este anseio de Paulo: “Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós” (Fp 3:17). “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1 Cor. 11:1).

Você tem sido um modelo para outros irmãos? Você poderia ser considerado um referencial de retidão para os que lhe rodeiam?

· O pai como disciplinador dos filhos: O pai não apenas promete disciplina, mas a aplica em justa medida. Há um momento em que a única forma de alcançar o coração do filho é o expediente da disciplina. Reter a vara do filho é pecar contra ele. Um pai que ama não pode ser indulgente com os filhos que insistem num caminho de rebeldia. Crianças mimadas são um grave problema na família; da mesma forma crentes mimados são a tragédia da igreja.

· O pai como canal de afeto e carinho para os filhos: a ternura do pai deve estar presente no trato com os filhos. Há sentimentos de proximidade, intimidade e amabilidade dentro da igreja que precisam ser cultivados pela liderança e por todos os cristãos. Vejamos outros textos bíblicos que mostram este caráter cuidadosos e atencioso de Paulo: “meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl. 4:19) “Embora pudéssemos, como enviados de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia, nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos.” (1 Ts. 2:7). O servo de Deus precisa estar atento às necessidades daqueles que estão sob a sua liderança, exercendo sempre com fidelidade o papel de cuidador.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Propaganda enganosa

Texto: Mateus 6:1-8; 16-17

A propaganda ou publicidade enganosa é a que contém informação falsa capaz de convencer o consumidor a adquirir um produto ou serviço diferente do que pretendia - ou esperava - na hora da compra. De acordo com o Art. 37, do CDC, “considera-se enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, que seja capaz de induzir o consumidor a erro a respeito das características, qualidade, quantidade e propriedades de produtos e serviços.” Recentemente, a filial de uma grande marca esportiva na Austrália foi multada em R$ 700 mil por propaganda enganosa e condenada a pagar US$ 25 milhões em reembolso para os compradores de seus modelos EasyTone e RunTone. Segundo a campanha de marketing, o tênis “EasyTone” ajudavam a melhorar o tônus muscular das pernas com o simples ato de caminhar. A empresa anunciou falsamente que o tênis proporcionava 28% a mais de força e tonificação nos músculos e 11% mais força nos ligamentos e panturrilhas do que os tênis comuns. O problema é que este fortalecimento dos músculos não foi comprovado cientificamente pela fabricante do tênis.

E por falar em propaganda enganosa (que não fica somente no campo do marketing de grandes empresas), o presente texto nos apresenta Jesus expondo a raiz do problema no coração do homem. Ao longo do ministério de Cristo, os fariseus e escribas foram alvos de duras críticas porque por fora se mostravam muito piedosos, mas não passavam de uma fraude completa (por fora bela viola, por dentro pão bolorento). Eles alardeavam boas obras e atitudes caridosas, mas não estavam dispostos a romper com o padrão errado de interpretação das Escrituras e nem com o pensamento ímpio. No contexto do Sermão do Monte, Jesus passa a abordar três instâncias da vida muito comuns para o judeu (dar esmolas, orar e jejuar). Nestas atividades, a propaganda enganosa estava muito presente. As três abordagens seguem um padrão idêntico. Em imagens pitorescas e irônicas, Jesus pinta um quadro da falsa propaganda promovida pelos pretensos religiosos da sua época.

Mas não devemos ficar confortáveis nesta questão, pois na vida cristã autêntica não há espaço para a propaganda enganosa. Somos convocados a nos despir de qualquer dolo ou malícia, e nos revestir da verdade. Para isso, temos ao nosso dispor o auxílio do Santo Espírito e a orientação da Palavra da Verdade. Nunca foi projeto de Deus que aparentemente sejamos piedosos, precisamos verdadeiramente ser piedosos. A verdadeira piedade deve vir do interior. O homem regenerado é transformado radicalmente de dentro para fora. Aqueles que promovem propagandas enganosas não desejam esta transformação radical, preferem criar ilusões para si e para os outros.

PROPOSIÇÃO:

“Promover propaganda enganosa de piedade é inadmissível para os discípulos de Cristo”

Por três MOTIVOS:

Vamos acompanhar o argumento de Jesus para combater este terrível mal da propaganda enganosa no reino de Deus. Vamos abordar três motivos que estão presentes no seu argumento para que possamos ser despertados para um viver autêntico e sem máscaras. A pergunta que nos cabe ao longo deste sermão: será se somos promotores de propaganda enganosa? Será que as nossas vidas refletem o cristianismo genuíno e reto? Como discípulos de Cristo Jesus, não nos é cabível promover propaganda enganosa de piedade, e se o fazemos é por conta de nossa própria rebeldia e orgulho, que precisa ser urgentemente tratado à luz das Escrituras.


1) Porque Cristo enfatizou o caráter discreto da verdadeira piedade
"não toques trombeta... nas sinagogas e nas ruas" (vs. 2)
"ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita" (vs. 3)
“entra no teu quarto e, fechada a porta” (vs. 6)
“não vos mostreis contristados” (vs. 16); “com o fim de não parecer aos homens” (vs. 18)

A nossa natureza egoísta quer estar no centro dos holofotes. Por conta da queda preferimos endeusar a nossa imagem pessoal, e isto é feito de várias maneiras. Uma delas é ostentar atos piedosos em demonstrações públicas. Em geral, os fariseus tinham o costume de deixar bem evidente os atos praticados. “Tocar trombeta” é uma hipérbole que Cristo usa para denunciar e ironizar a forma calculada que os fariseus adotavam para que as pessoas notassem suas virtudes. A ilustração da mão esquerda que desconhece o que faz a direita reforça o ensino sobre a importância do sigilo. “Entrar para o quarto e fechar a porta” é a evidência de que o nosso relacionamento com Deus é nutrido sem a necessidade dos holofotes e dos aplausos humanos. Os fariseus desfiguravam o rosto quando jejuavam para apresentar uma expressão abatida, a fim de despertar atenção, suscitar compaixão e receber elogios. Em todos estes exemplos, fica evidente que o problema da falta de discrição estava na motivação incorreta, que tornava os fariseus devotos de si mesmos. Querendo ser admirados, eles buscavam pontos para si mesmos através da estratégia do espetáculo (Mateus 23:5-7). O ego dos fariseus desejava sempre estar inflado.

Ilustração: a discrição foi a marca na vida do nosso Mestre. Cristo não buscou chamar atenção para si em seu ministério, sempre houve discrição nos atos miraculosos que Ele realizava e não procurava ocasiões para exibicionismo. “Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça.” (Is. 42:2). Ele buscou silenciar o entusiasmo gerado por suas curas (Mt. 9:30; Mc. 7:36).

Mas como conciliar o ensino de Jesus sobre a discrição dos discípulos com o ensino sobre ser luz que brilha entre os homens? À primeira vista, estas palavras parecem contradizer o seu mandamento anterior: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras” (Mt. 5:16). Não há contradição nenhuma, pois quando fazemos brilhar a nossa luz o objetivo é sempre que os homens glorifiquem ao nosso Pai e não a nós mesmos. Jesus não aprova nos seus discípulos nem a covardia (deixar a luz oculta) e nem a vaidade (brilhar para chamar atenção para si). Bruce resumiu bem: “quando tentados a esconder, devemos evidenciar a nossa fé e quando tentados a mostrar, devemos ser discretos.”

Na literatura de sabedoria discrição está associada com prudência e discernimento. A discrição também está diretamente atrelada com a humildade, e deve ser uma característica permanente na vida de todo cristão. Chamar a atenção em benefício próprio é uma tentação sempre presente, é muito tentador “tocar a nossa própria trombeta” para sermos percebidos e aclamados. Jesus nos convoca a uma vida piedosa que seja marcada pela discrição, sem nenhuma ostentação dos feitos realizados em prol do reino de Deus. Não somos chamados a alardear os nossos atos de misericórdia, quando feitos em favor de pessoas (esmolas, ajuda) ou em favor de nossa própria alma (oração, jejum). Os ministérios na igreja devem ser exercidos com discrição e sem estrelismo.

Obviamente, não há nenhum problema em fazer orações em público, como por exemplo na igreja, mas o genuíno discípulo não faz da sua oração um discurso de autoglorificação. A oração privada deve ser o alicerce das orações feitas em público. Sem vida privada de oração, as orações em público podem resultar em espetáculo. A oração particular é o melhor treinamento para a oração pública. Não há nenhum problema em repartir o que Deus tem nos dado com outros menos favorecidos, mas isto não deve ser feito visando glória pessoal e destaque. Sermos generosos e misericordiosos é bíblico, mas a vanglória sobre estes atos é plenamente carnal. É diabólico tentar construir a nossa reputação com propaganda de atos piedosos, que visam alimentar o nosso ego. Portanto, é necessário muito cuidado com o que fazemos como representantes do Senhor.


2) Porque Cristo enfatizou o padrão superior da verdadeira piedade
“não toques... como fazem os hipócritas” (vs. 2)
"não sereis como os hipócritas" (vs. 5)
"não vos mostreis contristados tal como os hipócritas" (vs. 16)

As recomendações repetitivas do texto (não toques, não sereis, não vos mostreis) servem para salientar que o que Cristo requer dos seus seguidores é um procedimento muito superior. Nesta exortação do Mestre, há um contraste implícito entre duas concepções de vida: uma superficial e cheia de falsidade e uma altaneira e autêntica. O padrão de Cristo para os discípulos ultrapassa em muito a justiça mesquinha dos homens, por isso ele mesmo alertou: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mt. 5:20). Visto que a justiça dos fariseus estava corrompida por intenções medíocres e razões maliciosas, o discípulo de Cristo deve mirar o padrão de excelência que o próprio Mestre demonstrou. Jesus não era um ator representando um papel, Ele era a própria verdade encarnada entre os homens pecadores. Os hipócritas eram atores de palco que se apresentavam representando um estereótipo, mas, na concepção de Jesus, hipócrita é alguém que usa atos de piedade deliberadamente para esconder seus pecados e promover o benefício próprio. Os hipócritas escondiam-se atrás de máscaras; da mesma forma podemos estar interpretando um papel com objetivos mesquinhos e sem avanços efetivos na vida cristã. O discípulo não deve adotar um estilo de vida marcado por rituais e falso moralismo, tal como os fariseus.

Ilustração: a vida de Daniel é um forte exemplo de alguém que não se deixou levar pelo padrão que estava a sua volta. Mesmo sendo levado cativo para uma terra estranha e hostil, Daniel resolveu firmemente não se contaminar com as iguarias que eram oferecidas nos banquetes do rei da Babilônia. Não se tratava de adotar uma mera dieta diferenciada. Daniel tinha como objetivo um padrão superior de conduta que estava alinhada com a pureza diante de Deus. Ele não seria incomodado se adotasse os mesmos alimentos, mas sua consciência estava cativa à autoridade de Deus, e por isso não se deixou contaminar. Daniel, a despeito das perdas, não foi um jovem influenciado, mas um influenciador. Ele não negociou seus valores, não se corrompeu e não se mundanizou. O desafio é sermos cristãos resolutos e constantes em nossa decisão de agir com base no padrão elevado da Palavra de Deus, cristãos acima da média.

Precisamos marcar esta geração pela diferença adotando o estilo de vida reto. Mesmo que a maioria das pessoas se porte com base em conveniências, o cristão genuíno não se conduz como a maioria. Somos convocados a viver “fora da moda”, rumando sempre contra a maré que tenta nos impulsionar a abandonar princípios e valores do reino em prol da aceitação popular. A vida não é um palco de teatro no qual representamos um papel, somos chamados a viver a realidade de um padrão superior que segue na contramão de qualquer conveniência. Neste mundo, não há padrão moral e ético mais elevado do que o Cristianismo; nenhuma filosofia humana pode ser comparada com os ensinos e sabedoria provenientes das Escrituras. Enquanto as pessoas deste mundo se nivelam por baixo, o cristão busca o que é superior e age conforme um cidadão dos céus.

O Evangelho está tão diluído em nossos dias, que a decisão de adotar o padrão superior de conduta muitas vezes encontrará resistência até dentro dos arraiais cristãos. Por isso é que as máscaras são colocadas, mas e quando a máscara cair? Deus requer autenticidade em nossos atos, pensamentos e decisões. John Stott escreveu: “A justiça que agrada a Deus é a justiça motivada pelas razões corretas, que brotam de um relacionamento correto com Deus.” Temos o auxílio do Senhor para evidenciarmos o padrão digno do Evangelho de Cristo que nos resgatou das trevas. Somos constrangidos pelo Seu imenso amor a vivermos de modo coerente com os Seus ensinos, nos distanciando cada vez mais das encenações teatrais revestidas de piedade. Fomos chamados para sermos discípulos que fazem a diferença e buscam a excelência.


3) Porque Cristo enfatizou o valor inestimável da verdadeira piedade
"...eles já receberam a recompensa." (vs. 2; 5; 16) – Valor efêmero
"...e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará" (vs. 3, 6, 18) – Valor duradouro

Os fariseus se contentavam com o reconhecimento e aplausos dos homens ao redor. No entanto, os aplausos dos homens servem para alimentar o ego apenas por um certo momento, e depois é necessário mais empenho para obter mais reconhecimento: é um verdadeiro círculo vicioso. Cristo ressalta que esta busca por ninharias está em total contraste com o eterno peso de glória reservada aos discípulos genuínos, que são e serão recompensados diretamente pelo Pai. O que é duradouro (recompensa eterna) entra em contraste com o que é efêmero (eles já receberam sua recompensa). Nosso velho homem gosta muito de aplausos, e na maioria das vezes somos movidos por aplausos. Em submissão à Cristo, o discípulo reconhece que importa muito mais ter o louvor do Senhor sobre as nossas vidas do que o louvor humano. O valor inestimável da verdadeira piedade está alicerçado na pessoa de Deus que promete recompensar de modo abundante os servos piedosos. Por isso, o discípulo de Cristo busca satisfação em ter a aprovação de Deus sobre a sua vida: “muito bem, escravo bom e fiel, entra no deleite do Teu Senhor”.

Ilustração: O missionário americano Jim Elliot sabia do valor inestimável de ter aprovação do Senhor. Ele e outros missionários resolveram levar o Evangelho para a tribo dos Aucas no Equador, que era totalmente hostil a qualquer pessoa de fora. Jim disse: “Não é tolo aquele que dá o que não pode guardar para ganhar o que não pode perder.” Mesmo em face da morte, ele mirava a recompensa eterna, que não se compara a nada neste mundo cheio de enganos.

Existem recompensas para o povo fiel que não se omitiu de servir humildemente a Cristo, mesmo com a constante pressão de agradar aos homens. Tanto recompensas terrenas, quanto eternas, administradas e entregues pela boa mão do nosso Deus. A própria alegria de quem foi abençoado por alguma atitude do cristão já deve ser considerada como uma grande recompensa. Ter um coração livre e generoso para ser um canal de graça, por si só já se constitui numa grande recompensa, afinal “mais bem-aventurado é dar que receber” (At. 20:35). Para o cristão, ter momentos em que pode desfrutar da comunhão com Deus em oração e comunhão com Sua Palavra é uma recompensa que dispensa qualquer outra satisfação nesta vida. Ser nutrido e alimentado pelas verdades eternas que aprimoram os nossos valores, é uma recompensa que nenhum louvor humano pode substituir. Mais uma maravilhosa recompensa: quando observamos o caráter de Cristo sendo formado em nós por conta do agir santificador de Deus. Não há recompensa maior do que sermos “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rm. 8:17).

Os galardões são as benditas recompensas eternas que estão reservadas aos santos. Jesus falou muito sobre galardões eternos que estão prometidos aqueles que sofreram perseguição em Seu nome ou pela fidelidade ao chamado. O escritor da carta de Hebreus nos fala que uma das evidências da fé genuína é apoiar-se neste fato: “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador (alguém que recompensa de forma justa) dos que o buscam” (Hb. 11:6). O ensino do apóstolo Paulo é que as realizações de cada crente serão galardoadas diante do Bhema: “Pois importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.” (2 Co. 5:10).

A certeza da recompensa futura deu ao apóstolo Paulo uma ousadia inabalável para testemunhar a respeito de Cristo Jesus até o crepúsculo da sua vida (2 Tm. 4:7-8). Obviamente, isto não deve nos tornar mercenários (caçadores de galardão), mas cristãos cada vez mais comprometidos com a corrida que nos está proposta. Muito embora Deus não seja obrigado a nos recompensar, faz parte da Sua natureza ser dadivoso e Ele regozija-se em galardoar os Seus filhos amados que cumprem o Seu querer. Grande riqueza é ter o sorriso de Deus sobre nós!

 

Sermão pregado dia 23/11/2014
IGREJA BATISTA REGULAR JARDIM AMAZONAS
Soli Deo Glori