quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

O amor reconciliador de Deus



Em cada final de ano, somos levados a pensar mais detidamente sobre a grandiosidade do nascimento de Cristo, revelado como a encarnação divina entre homens pecadores. A história do nascimento de Jesus, conforme apresentada nos Evangelhos, não é uma novidade para a maioria dos cristãos. Alguns podem relatar de memória os principais fatos sobre a manjedoura e os reis que vieram ofertar presentes ao Rei Jesus. Mas será que ainda somos impactados com a mensagem mais importante de toda a história? Será que a encarnação do Verbo nos constrange a adorar ao Rei, em tremor e santo temor?

A mensagem central do Natal diz respeito à reconciliação, Deus tomando a iniciativa de entrar no palco da história humana para resgatar o homem da sua triste condição, tendo como ápice a glória do Filho Unigênito: “e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação” (Romanos 5.11).

A graça, a justiça e a verdade divinas encontraram-se no cenário da manjedoura em Belém, diante de José e Maria e alguns pastores que guardavam os rebanhos naquela noite de tão glorioso esplendor. Claramente, a essência da genuína alegria perpassa todo o cenário em que Cristo nasceu, pois naquele lugar humilde estava a demonstração visível do amor reconciliador de Deus, planejado e decretado deste os tempos eternos. A proclamação dos anjos exaltando o Rei que nasceu revela a grandiosidade e singularidade do momento tão esperado. Tão rica oferta de presentes dos reis do Oriente mostra que não era um simples bebê que estava deitado na manjedoura. Havia uma aura de temor e reverência em todo aquele cenário da gloriosa encarnação do Deus eterno.

Que o Natal seja uma lembrança sempre viva da reconciliação que Deus providenciou de modo plenamente gracioso. De forma prática, para exultar em Deus, devemos nos alegrar com o que vemos e conhecemos de Deus na pessoa de Jesus Cristo, conforme revelado nos Evangelhos. Não subestimemos a grandiosidade do que a manjedoura em Belém nos apresenta e não sejamos indiferentes diante do grande amor reconciliador que se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade. Que vejamos sempre a glória do Rei que desceu do céu e homem se fez para ser o nosso Mediador.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Adultério espiritual


Texto: Provérbios 6: 20-29

INTRODUÇÃO: 

“Infiéis (adúlteros), não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tg. 4:4).
A advertência do meio irmão do Senhor, feita no primeiro século da era cristã, continua em plena vigência, não houve revogação tácita ou expressa. Na vida com Deus não há espaço para neutralidade, não há como ficar em cima do muro, sem comprometer a fé ou os valores celestiais. Infiéis não é a melhor tradução da palavra “moichos”, que seria melhor traduzida por adúlteros.O adultério espiritual é qualquer tipo de comprometimento da fé e da piedade cristãs, em razão da perigosa aproximação e da identificação com este mundo caído. Cometer adultério é um pecado que traz consequências terríveis para um casal e sua família, trazendo dor moral e emocional, mas o adultério espiritual, cujas consequências são extremamente danosas, muitas vezes não é considerado na mesma proporção. A aliança que o Senhor fez conosco por meio do sangue de Cristo vertido na cruz, muitas vezes não é considerada no seu valor inestimável. O que fizemos com o compromisso de exclusividade assumido diante do Senhor? Quem nos persuadiu a negociarmos os valores bíblicos no altar da conveniência ou da popularidade? O que nos influencia a cedermos diante de propostas tão antagônicas aos princípios cristãos? Certamente esse diagnóstico é necessário e urgente. No fim das contas, o adultério espiritual é o homem voltado para si mesmo, curvado para si mesmo, ou seja, autoglorificação. O adultério espiritual representa nossa deslealdade em relação a Deus.
O profeta Jeremias também denunciou o patente adultério espiritual cometido pelo povo de Israel, sem rodeios: “Assim diz o Senhor: Que injustiça acharam vossos pais em mim, para de mim se afastarem, indo após a nulidade dos ídolos e se tornando nulos eles mesmos? (Jr. 2:5)
Nesta passagem bíblica, o sábio Salomão apresenta com maestria e nuances peculiares, como os insensatos caem na terrível armadilha do adultério. Ao advertir seu filho contra as ciladas da mulher adúltera Salomão antevê os perigos e riscos, tendo como objetivo preparar o seu filho para não enveredar neste caminho de insensatez. Percebe-se claramente a relevância das advertências feitas: “Filho meu, guarda o mandamento de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe; ata-os perpetuamente ao teu coração, pendura-os ao pescoço." (Pv. 6: 20,21). Guardar, não deixar, atar, pendurar, são verbos que denotam que o filho deveria adotar uma atitude proativa diante das armadilhas que surgirão no caminho.  Diz o ditado popular que um homem prevenido vale por dois. Esta também é a essência da ética presente no livro de Provérbios. De fato, a prudência revela-se em antever o mal de determinada conduta e trilhar o caminho da sabedoria. Diante dos perigos e riscos de cair numa espiral descendente, adotar métodos preventivos é sempre a melhor saída para o sábio. Em outras palavras, o que Salomão quer nos advertir neste texto é que não podemos brincar com o pecado em hipótese alguma, por isso a necessidade de conhecimento prévio que, uma vez aplicado, gera a verdadeira e pura sabedoria.
 Com relação ao processo de adultério espiritual, os gatilhos devem ser previamente conhecidos a fim de não serem acionados”  (palavra-chave: GATILHO)
Gatilho pode ser definido como uma espécie de mecanismo que dispara um processo ou várias reações em cadeia. O gatilho do revólver por exemplo é a peça que faz disparar a bala que está no pente ou no tambor. Metaforicamente, gatilho seria qualquer ato, evento ou circunstância que provoca uma série de outros acontecimentos, disparando uma alteração, uma reação ou um processo. Ao enfileirar vários dominós em sequência, o gatilho seria derrubar aquela primeira peça de dominó, que inevitavelmente fará com que todas as peças caiam em seguida. Ao preparar uma carga de explosivos para serem detonados, o gatilho seria acender o estopim. S.I: Com relação ao processo de adultério espiritual, que gatilhos devem ser previamente conhecidos a fim de não serem acionados?

1) As falácias que seduzem o velho homem (vs. 24)
Lisonjas no texto se refere literalmente a "palavras escorregadias, lisas", ditas de uma forma a despertar o interesse sensual/sexual através de uma conversa envolvente, repleta de elogios sagazes. Propostas e palavras sedutoras sempre foram o gatilho de muitas relações adúlteras. Uma antiga tradução deste verso diz assim: “para te preservarem da mulher perversa e da língua sedutora da estranha.” Neste contexto, lisonjas da mulher vil são palavras agradáveis que seduzem o ouvinte a desarmar-se totalmente, entregando-se pouco a pouco a uma aventura libertina. Há uma clara tentativa de aliciamento através do poder persuasivo das palavras. As sugestões e argumentações feitas pela mulher vil (falaciosas em sua essência) estão carregados de um poder sedutor mortal.  A mulher de Potifar usou desta estratégia para enredar José: “Falando ela a José todos os dias, e não lhe dando ele ouvidos, para se deitar com ela e estar com ela” (Gn 39:10). Do ponto de vista daquele que é tentado, as palavras da mulher são fluentes e agradáveis; do ponto de vista de Salomão (o pai-conselheiro), são perigosas e traiçoeiras. Salomão já tinha feito uma descrição bastante clara da mulher adúltera em Pv. 5:3: “porque os lábios da mulher adúltera destilam favos de mel, e as suas palavras são mais suaves do que o azeite.” As palavras que aparentam doçura e suavidade não passam de falácias que não se sustentam com o passar do tempo, revelando ao final verdadeiras armadilhas argumentativas para prender o homem insensato.
Na época do profeta Jeremias, os líderes do povo de Israel estavam querendo ir ao Egito em busca de apoio político e militar. Só que este plano não vinha do Senhor, não tinha o aval do Deus de Israel. Mas os líderes não estavam interessados em ouvir o que o Senhor tinha a lhes dizer, pelo contrário, cercaram-se de falsos profetas em busca de alguma falácia aprazível, alguma argumentação sedutora para os seus ouvidos carnais. “Porque povo rebelde é este, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor. Eles dizem aos videntes: Não tenhais visões; e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas aprazíveis, profetizai-nos ilusões” (Is. 30:9-10). O problema ainda permanece: a causa da apostasia que observamos hoje em dia são as falácias em nome de Deus. Utiliza-se a religião e a Bíblia para construção de argumentos falaciosos que seduzem os néscios, levando-os ao adultério espiritual.
Uma das principais habilidades que o músico deve ter é um ouvido treinado. São muitas pessoas que não entendem nada numa partitura musical, mas possuem uma enorme sensibilidade para tocar “de ouvido”. Essa sensibilidade pode ser desenvolvida com bastante treino e dedicação. Pegar o tom da música de ouvido e discernir quais acordes estão por trás da melodia é uma vantagem extrema. Semelhantemente, precisamos ter ouvidos espirituais treinados e sensíveis. Jesus disse: as minhas ovelhas ouvem (identificam o timbre) a minha voz. Esta habilidade de identificação da voz do Mestre é muito importante para não sermos persuadidos pelas vozes dissonantes que nos persuadem ao adultério espiritual. Para desenvolvermos essa sensibilidade de percepção da voz do Mestre é preciso diligência no estudo e meditação da Palavra de Deus. Assim diz o Senhor: “Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá” (Isaías 55:3).
Como um fator condicionado pela queda, o velho homem tem uma forte tendência de cair na armadilha das falácias. O termo falácia deriva do verbo latino fallere, que significa iludir. Designa-se por falácia um raciocínio ou argumento equivocado com aparência de verdadeiro. Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega. No contexto bíblico, falácia é toda argumentação que não encontra sustentação nas Escrituras, corretamente interpretada e aplicada.
Vivemos numa era dominada por falácias sedutoras. Além disso, não queremos ver expostas nossas misérias espirituais, por isso gostamos de acreditar em falácias a respeito da nossa real condição diante de Deus. Preferimos crer em falácias porque elas não nos tiram da zona de conforto. Uma falácia bastante comum: “não estamos mais debaixo da lei, estamos debaixo da graça”, dando margem para uma frouxidão moral nunca antes vista, insinuando que Deus rebaixou o seu padrão de pureza. O potencial lesivo é enorme: com o passar do tempo essa falácia nos torna indiferentes em relação a Deus. Outra falácia com enorme potencial lesivo é “Deus faz tudo para você não sofrer”. Essa falácia agrada aos ouvidos, mas estraga a alma. É contrária a vários versículos bíblicos, por exemplo: “Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm. 8:28). Essa falácia acaba com a capacidade de alguém achar bênçãos no meio do caos. E assim, nasce uma relação espúria que não convém aos santos de Deus.
Para evitar que entremos neste processo de adultério espiritual, precisamos conhecer bem as falácias que nos seduzem: as filosofias, a lógica, os pensamentos, as palavras e conclusões humanas acerca do propósito da vida. Efésios 4:14: “para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.”

2) Os desejos que governam o velho homem (vs. 25)
A questão central da advertência salomônica é curta e direta: “Não deixes que a mulher vil te capture com os olhos, de modo a ser tentado a cobiçar a sua beleza.” As pinturas delineadas feitas ao redor dos olhos de mulheres imorais como essa do texto bíblico, tinham um forte caráter de vulgaridade e sensualidade. A mulher vil descrita por Salomão, que estende sua rede para apanhar uma vida preciosa, esbanja beleza e encanto. Seu corpo, sua aparência, seu olhar e suas vestes são atraentes. Por isso todo cuidado é pouco. Esta advertência de Salomão torna-se necessária em razão da concupiscência dos olhos que desperta desejos até então latentes. A admoestação pressupõe que, uma vez suscitado, o desejo maligno do homem o arrastará para o pecado e para a morte. O sábio tinha convicção de que um desejo malicioso, uma vez induzido pela beleza exterior desta mulher e despertado pelo estímulo visual, conseguiria facilmente governar o coração em direção ao adultério. Este desejo possui força suficiente para dirigir os propósitos e intenções dos incautos, por isso Salomão enfatiza a admoestação: não cobices, não deixes. Assim, deve ser montada uma estratégia prévia de defesa (um plano de contingência) contra os meios verbais e não-verbais de sedução. Todo pecado, mesmo aqueles que não possuem conteúdo sexual, começa pelo desejo e pela imaginação, conforme descrito Tg. 1:14-16: “cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. ”
Ao exortar Caim, Deus falou exatamente sobre isso: “Se procederes bem [de acordo com a Lei do Senhor], não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal [pecando por obedecer ao desejo], eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas cumpre a ti dominá-lo” (Gn 4.7). James Smith no livro “Você é o que você ama”, assim explica a questão: “O coração é como um dispositivo de desejo multifuncional   que em parte é um motor e em parte um localizador. Quando operamos sob o abrigo da nossa consciência - que seria nosso nosso piloto automático padrão - os anseios do coração tanto nos apontam a direção para um reino como nos impulsionam em direção a ele. Você é o que você ama porque você vive voltado para aquilo que você deseja”. Na antropologia bíblica, o coração controla o corpo, suas expressões faciais (Pv 15.13), sua língua (15.28; 12.23) e todos os seus outros membros (4.23-27; 6.18).
Não podemos desdenhar de nosso velho homem no quesito desejos, visto que ele sabe como ninguém o que de fato prende a nossa atenção e governa os nossos mais profundos afetos. Na Bíblia somos alertados continuamente sobre o perigo dos hábitos escravizadores que brotam dos desejos desordenados. O velho homem é insaciável quanto à satisfação dos maus desejos que estão em rota de colisão com a santificação requerida pelo Senhor. Como é de seu feitio, fará o possível para que os desejos carnais sejam mais e mais alimentados, gerando em nós fastio por aquilo que glorifica a Deus. Desta forma, a consciência fica cada vez mais cauterizada e os desejos desordenados passam a assumir o controle.
Há uma tríade de desejos que tem roubado a atenção do homem moderno e que permanece fazendo seus estragos: Dinheiro, sexo e poder. A devoção a estes ídolos continua sendo uma evidência do adultério espiritual. Paulo escrevendo ao jovem pastor Timóteo conclui: “Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1 Tm. 6:10).
Os desejos do coração, quando não afinados com a vontade revelada de Deus nas Escrituras, causam enormes prejuízos. Por isso o salmista orou ao Senhor: “Ensina-me, Senhor, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração para só temer o teu nome” (Sl. 86:11). Para evidenciar que o seu coração só teme ao nome do Senhor, o cristão precisa desejar o que o Senhor aprova e rejeitar o que Deus desaprova.
É importante frisar que os nossos maus desejos não nos pegam de surpresa, até porque não existe o “de repente” na vida cristã. Todo pecado é cogitado na mente, alimentado pelos desejos desordenados que o velho homem aprecia, sendo impossível nascer sem que antes tenha sido concebido. Assim, o comportamento avarento de alguém apenas reflete o desejo alimentado no coração pela fútil segurança dos bens materiais. O comportamento perfeccionista de alguém apenas reflete o desejo de ser aprovado e reconhecido por todas as pessoas, o orgulho de estar acima da média em relação às demais pessoas. O comportamento irritado de alguém, sempre reagindo com raiva em relação aos outros, demonstra o desejo por manipulação e imposição da vontade própria. O comportamento ansioso de alguém reflete o desejo do coração por controle das circunstâncias e autonomia nesta vida.
Certamente todos lutamos contra desejos que rivalizam com a suprema autoridade de Cristo sobre nós. O problema é quando estes desejos já nos governam e moldam as nossas decisões e propósitos na vida. A música SE ELE NÃO FOR O PRIMEIRO (Arautos do Rei), descreve poeticamente esta realidade: No trono do viver, só existe lugar pra um; Lugar de quem governa todo o ser; No trono do viver só pode haver um Senhor; Se forem dois, um será amado e outro rejeitado; Você verá que em Jesus existe plena alegria; Mas lembre-se Ele não for o primeiro em seu coração; Então já não é mais nada, não passa de uma ilusão. Desta forma, é impossível haver contentamento genuíno com o que Deus tem nos agraciado, se Cristo não tem a primazia em nosso viver. O contentamento consiste não em acrescentar mais combustível, mas em diminuir o fogo; não em multiplicar a riqueza, mas em diminuir os desejos intrísecos. (Thomas Fuller)
Se não sentimos fome por Deus é porque certamente estamos comendo demais na mesa do mundo. Somos como as crianças que se entopem de doces, chocolate e salgadinho, e depois ficam enfastiadas na hora do almoço ou do jantar. Estamos preferindo as alfarrobas que o mundo tem a oferecer ao rico banquete na casa do Pai?
Como não ser governados pelos desejos que o velho homem tanto aprecia? A resposta desta pergunta passa pela cruz. Pela crucificação diária de nossas vontades, dobrando a nossa cerviz diante da autoridade do Senhor. Isto não se consegue de modo automático, é necessário bastante esforço nesta santa batalha, na qual vale a pena empenharmos suor e lágrimas. Os homens de Deus que mais frutos deram para o reino dos céus foram aqueles que subjugaram seus desejos e vontades, aqueles que fecharam a porta atrás de si. “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria” (Colossenses 3:5). O texto continua falando sobre o despojar e o revestir: os desejos ilegítimos devem ser substituídos por desejos legítimos, que evidenciem a real transformação operada em nós por meio da graça de Deus e pelo poder santificador do Espírito Santo.

3) As expectativas que enganam o velho homem (vs. 27-29)
Tomar fogo no seio é uma expressão que denota uma atitude pouco sensata. O fogo deveria ser carregado com cuidado num fogareiro (Ex. 27.3; Lv. 10.1) ou num pedaço de cerâmica (cp. 25.22; Is. 30.14), não sob o peito. Esta atitude certamente não poderia acabar bem: as vestes pegariam fogo facilmente. Andar sobre brasas incandescentes também não é uma atitude de bom senso. A consequência inevitável seria ter os pés queimados pelo calor. As perguntas de Salomão são um convite à reflexão e exigem uma resposta negativa: “Tomará alguém fogo no seio, sem que as suas vestes se incendeiem? ” CLARO QUE NÃO! “Ou andará alguém sobre brasas, sem que se queimem os seus pés? ” CLARO QUE NÃO! A relação causa-consequência é lógica, não é possível outra conclusão. Mas na cabeça do insensato (seja homem ou mulher) que se entrega a uma relação adúltera, esta relação de causa e consequência não é bem evidente. Ele (a) se apega a uma série de expectativas que não incluem o insucesso, a roupa queimada ou as feridas nos pés. Na mente do homem insensato uma expectativa enganosa é criada para dar margem à sua própria rebeldia.  Os insensatos no livro de Provérbios são pessoas obstinadas que, fazendo ouvidos moucos para a sabedoria, deleitam-se em distorcer a realidade dos fatos com objetivo de saírem ilesos. O dano permanente, doloroso e potencialmente fatal resultante do comportamento insensato não é levado em conta. As expectativas criadas são enganosas e enganadoras, levando o néscio a pensar que nada irá malograr ou frustrar sua busca por “felicidade”. No entanto, ele é “como o boi que vai ao matadouro; ou como o cervo que corre para a rede” (Pv. 7: 22). Os fatos mostram que em busca de aventuras sexuais, muitas pessoas perderam tudo que tinham, inclusive suas famílias e suas melhores coisas na vida foram entregues a terceiros. Enquanto os desejos são voltados o momento presente (eu quero aqui e agora), as expectativas são voltadas para o futuro, o que nos reserva o amanhã.
O diabo é um embusteiro. Seus banquetes têm muitas taças transbordantes de prazer, mas ao fim são taças cheias de veneno. Ele é um mestre por excelência em realizar propagandas enganosas, que são um prato cheio para o velho homem. Esta é essência da propaganda enganosa: esperávamos uma coisa, porém recebemos outra. Dispõe o Art. 37 do Código de Defesa do Consumidor: É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. Ao criar expectativas nas pessoas sobre a qualidade e propriedades de determinado produto ou serviço anunciado, a empresa fornecedora deve atender aos requisitos previamente estabelecidos, sob pena de ter que trocar o produto, refazer o serviço ou devolver o dinheiro, além das indenizações por perdas e danos.
Por boca do profeta Jeremias, o Senhor declarou: “Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2:13). O povo equivocou-se nas suas expectativas indo atrás de falsos deuses: as cisternas rotas não puderam lhe valer, não foram eficazes. O velho homem ainda continua alimentando falsas expectativas para saciar o vazio interior construindo cisternas rotas, que por conta das rachaduras nunca irão reter a água, isto é, nunca irão fornecer sentido e significado à vida.
O adultério espiritual (viver à parte do Senhor ou indiferente à Sua vontade) promete grande felicidade, cria no ser humano expectativas de uma história de realização e sucesso, mas nada disso é real, é apenas uma miragem que logo passará e revelará apenas dor e desamparo. Além disso, quando nos apartamos dos caminhos do Senhor e caímos na rota do adultério espiritual, grandes expectativas nos são apresentadas por nosso coração enganoso. Em busca de uma pretensa liberdade distante de Deus, vários castelos de areia são construídos, que ao final se mostrarão totalmente frágeis.
Precisamos estar bastante alertas: O diabo é um grande embusteiro, este mundo é uma fábrica de falsas promessas e o velho homem é expert em criar mecanismos de autoengano. Com esta tríade jogando contra nós, temos que ser proativos e fechar as brechas para expectativas enganosas, que enfatizam apenas a satisfação imediata, mas não revelam os prejuízos que estão por vir.
Que expectativas estão dominando nossa atenção para o dia de amanhã, diante de algum problema que temos a resolver? São expectativas realistas, prudentes e em sintonia com a vontade do Senhor? Nossas expectativas para o ano que vem em relação a algum plano que traçamos se afinam com os valores do céu? Ou são enganosas, baseadas numa visão distorcida da realidade e da nossa condição espiritual precária. Muitas vezes, nossas expectativas nos enganam por conta de nossa precariedade de alma, estamos cansados, tristes e sem alento. O caminho a trilhar é reconhecer que não somos heróis da nossa própria história, e que dependemos do auxílio divino para alegrar-nos nEle, confiando na revelação do Senhor a nós. A Palavra de Deus nunca nos venderá expectativas ilusórias, pois é digna de confiança, inerrante, infalível, autoritativa sobre as nossas vidas