terça-feira, 21 de julho de 2015

Sua alegria tem fundamento em Deus?

Uma antiga música do grupo Logos apresenta um quadro inquietante. A canção traz em sua letra a seguinte declaração: "Há sorridentes bebendo as próprias lágrimas do coração." Em outras palavras, há pessoas que até carregam um sorriso no rosto, mas por dentro estão corroídas de tristeza ou desilusão profunda com os fardos e intempéries desta vida. Colocar um sorriso no rosto e esbanjar alegria pelos poros não é tão difícil. Com um pouco de treinamento é possível, e principalmente quando o foco é passar para as demais pessoas em redor que tudo está bem e as realizações estão seguindo de vento em popa. Mas o coração em paz e cheio de júbilo pela presença sempre confortadora do Senhor, ah, deixa isso pra lá...

Não podemos viver de aparências por muito tempo. Um dia a máscara vai cair, e quando este dia chegar um desespero terrível se fará presente e turvará os propósitos de quem andou por muito tempo esbanjando uma alegria superficial. Por isso é fundamental que a alegria transmitida seja resultado real de uma alegria mais profunda e duradoura que tem como fundamento o próprio Deus. Qualquer autoimagem de alegria produzida artificialmente que não tenha Deus como fonte e sustento, é pura ilusão. Em questão de tempo tornar-se-á evidente a realidade das lágrimas presentes no coração.

É fato que neste mundo as aflições são incômodas e causam tristeza. Não defendo que a alegria seja sempre a tônica desta vida, afinal em alguns momentos iremos desanimar. Mas aqueles que conhecem Deus de uma forma pessoal, não encaram a vida com um palco para demonstrar falsas alegrias e nem para chafurdarem-se num vitimismo fútil. Há um santo regozijo no coração do cristão que é claramente perceptível, sem forçar sorrisos no meio da plateia. Ademais, o cristão que comunga com o Senhor, a despeito das lutas e dores cotidianas, encontra razão para ter esperança no Senhor, real e profundamente.

Alegria genuína não se produz artificialmente. Faz-se necessário ter vida com Deus em cada instante do caminho que temos pela frente. E nutridos pelo relacionamento autêntico com o Senhor, com o coração repleto da paz que excede todo entendimento, poderemos afirmar junto com o salmista: "Folguem e em Ti se rejubilem todos os que Te buscam; os que amam a Tua salvação digam sempre: O Senhor seja magnificado!" (Salmo 40:16)

terça-feira, 14 de julho de 2015

Sem contestação

Texto: Miquéias 6: 1-8

Tema: Sem contestação

Introdução:

Certa vez recebi uma convocação do Fórum de Justiça para participar do tribunal do júri. O tribunal do júri é um instituto legal que existe para julgar os crimes dolosos contra a vida. Em cada julgamento sete jurados são escolhidos aleatoriamente para ouvir os debates entre defesa e acusação (promotor) e depois são recolhidos a uma sala reservada onde votam os quesitos levantados pelo juiz. Quem decide pela absolvição ou condenação do réu são os jurados, o juiz é responsável para dosar a pena que o réu receberá. Diante das denúncias oferecidas pelo promotor e com base nas provas do processo, cabe aos jurados decidirem o caso. Então, o corpo de jurados atua como representante da sociedade para julgar os crimes de homicídio, tentativa de homicídio ou latrocínio, por exemplo. Num dos casos que participei, o promotor ao longo de sua exposição, repetiu em diversos momentos: Não há o que contestar. Contra fatos e fotos não há argumentos”. Com isto ele queria afirmar que a denúncia e as provas do processo por si só eram suficientes para condenar o réu por homicídio doloso (em que há intenção de matar). A defesa até que tentou, mas as provas eram de fato irrefutáveis.

Neste texto, nós somos levados pelo profeta ao cenário de um tribunal. O promotor Divino tinha uma controvérsia contra Israel, uma demanda judicial, uma disputa legal a ser travada de maneira justa e transparente. O profeta Miqueias é a boca de Deus para apresentar ao povo as graves denúncias da parte do Senhor: denúncias com provas incontestáveis dos maus caminhos do povo de Israel. Tais denúncias são reais e incontestáveis; não se trata de denúncias infundadas. Os montes e outeiros são convocados para comparecer como testemunhas, e os termos utilizados nos versos 1 e 2 fazem referência a uma contenda judicial. O demandante é o Senhor que atua como Promotor do caso; o povo está assentado no banco dos réus e é chamado a defender a sua causa: Levanta-te, defende a tua causa!”

Os profetas tinham o papel importante de entregar a mensagem do Senhor, geralmente composta de desafios para um viver autêntico e coerente, apontando os pecados cometidos e relembrando ao povo os pormenores do compromisso firmado com Deus. Nos livros dos profetas é bastante comum a utilização de figuras de linguagem que remetem a uma demanda judicial (Os. 4:1; 12:2; Mq. 3:8), e em Mq. 6:1-8 este quadro se torna ainda mais evidente.

Nenhuma contestação é aceitável diante dos fatos denunciados pelo Promotor Divino”
S.I: Diante de quais fatos denunciados pelo Promotor divino nenhuma contestação é aceitável?

Contra fatos não há argumentos. Diante das denúncias feitas pelo Promotor divino, o povo de Israel não tinha nenhum argumento plausível a apresentar em sua defesa. Os fatos denunciados são irrefutáveis (não cabe contra-argumentação). O que nos cabe, então? Apenas o corar de vergonha. A solução é sempre iniciada pelo genuíno arrependimento. Quando há arrependimento, abre-se uma porta de esperança e a possibilidade de um recomeço. Agora, quando não existe arrependimento e mudança de postura, o caminho é sempre espinhoso e nos leva a uma existência medíocre.

1ª) A indisposição no relacionamento com o Senhor (vs. 3)

A existência de um relacionamento particular entre Israel e Deus torna-se clara com a expressão “Meu povo”: um termo que retrata proximidade intencional da parte do Senhor, que escolheu para Si um povo para se relacionar. A descendência de Abraão veio a se tornar uma grande nação, escolhida para ser propriedade exclusiva e representante do Senhor. Não se discute a realidade do relacionamento, firmado por Deus com o patriarca Abraão. A questão que o Promotor divino levanta é sobre a qualidade e profundidade deste relacionamento. As perguntas feitas servem para constranger o povo; de fato, Deus não tinha feito absolutamente nada para trazer tédio, canseira ou enfado ao Seu povo. Pelo contrário, a fidelidade do Senhor em nutrir este relacionamento foi sempre constante. O déficit era por conta de Israel, que dava preferência aos ídolos dos povos pagãos e não se apegava com todo coração e força ao Senhor. Esta indisposição e má vontade eram patentes, não havia resposta que justificasse tamanho ultraje.

Mantidas as devidas proporções por conta dos efeitos da queda, é impressionante como um casamento pode ruir facilmente devido à indisposição dos cônjuges em nutrir vigorosamente o relacionamento entre o casal. A falha na comunicação pode gerar em pouco tempo um relacionamento enfadonho, condenado a cumprimentos formais e palavras ou frases soltas. O casamento torna-se facilmente uma caricatura de relacionamento, algo pra inglês ver. Mas se os cônjuges enxergam a importância do casamento (com base na aliança firmada através de votos diante do próprio Deus), faz-se necessário ter disposição e ânimo para estabelecer vínculos fortes e saudáveis, desenvolvendo maior intimidade e ampliando a qualidade do relacionamento.

A realidade mais profunda que alguém pode experimentar é ter um relacionamento com Deus, mediado através de Cristo e fortalecido pelo poder do Espírito Santo. Agora é muito triste e lamentável, a realidade de um cristão para o qual a vida com Deus se tornou enfadonha. A vida com Deus deve ser uma expressão vigorosa, à altura do maravilhoso chamado do próprio Jesus que declarou: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”. Bocejos, tédio, canseira, falta de ânimo em relacionar-se com o Senhor, atestam a precariedade de nossa fé, ou até mesmo em alguns casos, a falsidade dela. Se você tem andado entediado com as coisas de Deus, eis um sinal de alerta quanto à qualidade e profundidade da sua fé. Definitivamente, viver e servir no reino de Deus não é entediante para os Seus súditos. Neste reino, não deve existir espaço para desgosto e má vontade em relacionar-se com os Rei dos reis.

Quando fazemos as coisas simplesmente por hábito, sem refletir que Deus se agrada dos propósitos por trás do que fazemos, é um sinal de que o nosso relacionamento com Ele já se tornou enfadonho. Devemos empenhar o coração, nunca pela metade ou coxeando entre dois ou mais pensamentos. É muito fácil cairmos na ilusão de que o relacionamento com Deus vai “muito bem obrigado” quando automatizamos as coisas espirituais, por exemplo lendo regularmente a Bíblia sem desfrutar de verdadeira comunhão com o Autor. Somos um povo comprado pelo sangue precioso do Cordeiro perfeito e fomos chamados para brilhar neste mundo em trevas. Este brilho só se torna evidente quando nutrimos com disposição o que é mais importante em nossas vidas: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt. 6:5). Eis a condição indispensável para sermos instrumentos nas mãos do Redentor da forma que Ele decidir nos usar. Todas as nossas afeições precisam estar direcionadas para o Senhor que nos redimiu e nos amou antes dos tempos eternos. Nossas afeições devem ser cada vez mais vigorosas e jubilosas, fortalecendo o amor a Deus e desprezando as afeições concorrentes deste mundo vil (Jr. 2:13).

2ª) A desconsideração dos feitos operados pelo Senhor (vs. 4-5)

Atuando como representante do Promotor Divino, agora o profeta passa a relatar algumas das realizações divinas em benefício do Seu povo amado. Isto é para trazer-lhes à memória a realidade transcendente do cuidado permanente de Deus no trato com Israel, que não valorizava devidamente a própria história marcada pelo poder de Deus. Aqui Deus os faz lembrar do que poderia ter sido o fim deles, não fosse a intervenção sobrenatural em prol do povo escolhido, pois a Sua mão estivera abençoando-os tanto em sua origem quanto em seu desenvolvimento como nação. Na denúncia, o Promotor divino apresenta alguns marcos históricos que todo povo deveria conhecer: a grandiosa libertação da escravidão no Egito, sob a liderança dos irmãos Moisés, Arão e Miriã; a tríplice bênção proferida por Balaão em favor de Israel, mesmo sob a oposição de Balaque; fatos que ocorreram de Sitim até Gilgal: Israel atravessou o rio Jordão e o comandante do exército do Senhor apareceu a Josué para fortalecê-lo antes da batalha contra Jericó. Estes fatos são provas contundentes da ação protetora do Senhor, não havia contra-argumento contra elas.

À semelhança da nossa memória, a de Israel era muito curta. Mas a denúncia apresentada pelo profeta Miqueias não se resume apenas numa falha na memória ou num simples esquecimento (acidental ou proposital). Vai muito além disto, pois fica patente na história deste povo um certo desdém e ingratidão constantes, a despeito de tamanhas maravilhas que o Senhor realizava. O livro de Números podia muito bem ter sido chamado “Murmurações”: tornou-se rotina a desvalorização das grandes coisas que Deus fazia por eles. Metaforicamente, aquele povo ergueu um muro de lamentações em pleno deserto.

Ilustração: Charles Plumb foi um piloto de bombardeiro na guerra do Vietnã. Depois de muitas missões de combate, seu avião foi derrubado por um míssil. Plumb saltou de paraquedas, foi capturado e passou seis anos numa prisão norte-vietnamita. Ao retornar aos Estados Unidos, passou a dar palestras relatando sua história e o que aprendera na prisão. Certo dia, num restaurante, foi saudado por um homem: “Olá, você é Charles Plumb, era piloto no Vietnã e foi derrubado, não é mesmo?” “Sim, como sabe?”, perguntou Plumb. “Era eu quem dobrava o seu paraquedas. Parece que funcionou bem, não é verdade? Plumb quase se afogou de surpresa e com muita gratidão respondeu: “Claro que funcionou, caso contrário eu não estaria aqui hoje.” Aquele marinheiro passava os seus dias amarrando os fios de seda de vários paraquedas, tendo em suas mãos a vida de alguém. Mas não foi condecorado nem reconhecido pelo serviço que realizava.

É sempre saudável ponderar sobre o que Deus tem feito por nós a fim de não resvalarmos para um estilo secularizado de vida, nos comportando como se Ele não existisse. A forma como enxergamos o passado define bastante como lidamos com o presente. Se temos um olhar que valoriza e considera os feitos do Senhor em nossa história, certamente saberemos lidar com as dificuldades que se apresentam no dia de hoje. Como diz a letra de uma velha canção: “O mesmo Deus de ontem, é também hoje presente, e o seu poder eterno, além do céu.” Por outro lado, se olharmos para o passado com a visão míope e turvada pelas circunstâncias presentes, não valorizaremos adequadamente os feitos do Senhor em nosso favor. Quando não valorizamos os feitos do Senhor, na verdade não valorizamos o próprio Senhor, que tudo faz como Lhe agrada.

Recordar sempre os feitos do Senhor traz um enorme refrigério ao nosso coração. É uma prática que nos enche de paz para lidar com as lutas do presente. Muitas vezes é importante que olhemos atentamente para o retrovisor, não para ficarmos preso ao passado, mas para considerarmos a magnitude do Senhor em cada detalhe da nossa história. O que somos hoje é fruto tão somente do que Deus realizou em nosso favor.

3ª) A admissão de equívocos no culto prestado ao Senhor (vs. 6-7)

Neste ponto da controvérsia judicial, o profeta traz à tona alguma perguntas que poderiam ser feitas pelo povo diante das denúncias apresentadas. Mas o teor destas perguntas, ao final constitui-se em mais uma peça da acusação que pesa sobre o povo de Israel. Em outras palavras, as cerimônias sacrificiais que o povo podeira apontar como solução diante das denúncias, estavam totalmente contaminadas com equívocos e práticas pagãs, sem o selo da aprovação divina. Apesar da expressa proibição de sacrifícios humanos em Levítico 18.21 e 20.2-5, existem vários casos registrados no Antigo Testamento de crianças sendo oferecidas como holocausto. Na época do profeta Miqueias, o culto a Deus estava corrompido e o sistema sacrificial era usada como uma forma de barganha. Não é uma questão de quantidade ou qualidade do sacrifício apenas; é a postura do adorador que é colocada em xeque.

Assim como fizeram Nadabe e Abiú (Lv. 10:1), há muito fogo estranho sendo oferecido em culto ao Senhor! Não apenas relacionado com a forma em si, mas principalmente com os propósitos de quem está cultuando (irreverência, superficialidade ou leviandade). O profeta Isaías, que foi contemporâneo de Miqueias, retrata como o Senhor enxergava o culto que era oferecido: “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? — diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios?” (Is 1:11-12). Paul Washer aponta: “Nos Estados Unidos, o culto matinal de domingo em muitas igrejas é a maior hora de idolatria em toda a semana, porque a grande maioria das pessoas não está adorando o Deus único e verdadeiro. Em vez disso, elas estão adorando um deus que formaram de seu próprio coração, seguindo a sua própria carne e paixões, de acordo com a preferência e sabedoria mundanas.

Na vida de cada crente em particular, qual é o culto que agrada a Deus? O apóstolo Paulo nos ajuda a acertar a resposta em Rm. 12:1 - “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” O sacrifício correto e aceitável é o sacrifício do nosso eu, de nossas vontades e requisições pecaminosas. Sem esta medida sacrificial realizada no coração, os atos exteriores serão meramente formais e totalmente ineficazes. O culto que honra a Deus é aquele que convida o homem para morrer, para deixar de lado suas pretensões egoístas. Afinal é assim que cantamos: Há um caminho para a adoração, existem vontades que têm que morrer! O culto ao Senhor deve começar em nosso coração. Cultuar e adorar é satisfazer-se apenas em Deus. Para isso é necessário destronar os ídolos, pois na raiz de toda idolatria reside um coração não satisfeito em Deus.

Na vida da igreja, o culto congregacional deve ser sempre teocêntrico, nunca antropocêntrico. Muitos equívocos têm sido introduzidos nos cultos com o fim de despertar a aprovação e o favor divinos. Mas o culto não deve ser entendido como um meio para impressionar a Deus. O culto verdadeiro a Deus deve ser marcado por três fatores essenciais: ordem, decência e edificação. Se alguma prática ou atividade relacionada com o culto ignora pelo menos um destes fatores, deve ser prontamente abandonada. “Muito do nosso culto é ritual sem realidade, método sem poder, diversão sem temor de Deus” (H. Dias Lopes). No culto ofertado a Deus, não há espaço para preferências pessoais em detrimento da ordem, decência e edificação do Corpo de Cristo. O nosso Deus deve ser honrado em tudo e sobretudo, com expressões sinceras de um coração alegre por ter acesso ao Pai através do Filho. Como nos achegamos para cultuar a Deus e ofertar-lhe a nossa adoração? Que possamos excluir os equívocos do culto (tanto no aspecto pessoal quanto no aspecto coletivo), pois a essência do culto que agrada a Deus é o que Ele nos revela em Sua Palavra

4ª) A omissão diante da conduta requerida pelo Senhor (vs. 8)

Atuando em nome do Promotor divino, o profeta não apresenta nada novo ou extraordinário nesta denúncia. Esta denúncia faz referência ao conhecimento não colocado em prática, à omissão de práticas essenciais para qualquer um que se diz servo do Senhor. Cada um dos itens expressos no versículo 8 encontra-se no Pentateuco (Dt. 10.12-13). Miqueias retoma o conceito de justiça presente em Amós (Am. 5.21-25), o conceito de misericórdia, em Oséias (Os. 1—3) e os de fé e humildade, em Isaías (cf. Is. 2.6-17; 7.8-9). Havia em Israel uma completa omissão na prática da equidade (Dt. 16:19-20) e no exercício da misericórdia. (Is. 1:16-17). Andar humildemente com Deus significa andar “com temor”, andar “com plena percepção daquilo de quem Deus é e do que Ele tem feito por Seu povo”. Os versículos seguintes (9 a 12) comprovam a inércia/omissão do povo em praticar a justiça e a misericórdia (mandamentos horizontais) e em andar humildemente com Deus (mandamento vertical).

Ilustração: A omissão é claramente reprovada em Tiago 4:17- “Aquele, pois, que sabe que deve fazer o bem e não o faz comete pecado.” Omissão é não assumir a responsabilidade ou não adotar a postura adequada diante de alguma requisição da parte do Senhor. No fim das contas, toda omissão ou falta de ação é rebeldia diante dos imperativos divinos. O Senhor Deus, por meio do profeta Ezequiel censurou aqueles que vinham ao profeta ouvir o que Deus tinha a dizer, mas “não colocavam nada em ação” (Ezequiel 33: 31-32). Muitas vezes, a lição nós já sabemos de cor, só nos falta implementar.

“Ele te declarou, ó homem, o que é bom.” Bom é toda conduta que traz benefício real e efetivo para o cristão e para o seu próximo. Creio que ninguém discorda da seguinte tese: “aquilo que Deus definiu como bom para nossas vidas, deve ser imediatamente atendido.” Mas concordar com esta tese não é o bastante. É muito fácil cairmos numa teoria fria e vazia a respeito do cristianismo, sem que este conhecimento mude de fato as nossas vidas. Quando Deus nos fala sobre algo mediante a Sua Palavra, a partir de então somos plenamente responsáveis por nossa ação ou omissão. O Senhor não faz solicitações, que podem ser atendidas conforme a nossa conveniência. Ele ordena e dá imperativos, que em momento algum são opcionais. Onde estão as evidências de, tendo em vista os mandamentos que já recebemos da parte do Senhor. “O maior de todos os antagonistas do evangelho está dentro da própria igreja: o evangelho não vivido.” (Isaltino Gomes Filho).

Ouvir bons sermões não é o suficiente. Ser confrontado pelos alertas da Palavra de Deus também não é o bastante. Sentir-se incomodado diante da confrontação bíblica é apenas o primeiro passo. Temos que arregaçar as mangas e agir. Se o arrependimento pelo pecado não vem acompanhado de mudanças efetivas, desconfie deste tipo de arrependimento. Um mero convencimento/remorso psicológico não renderá frutos verdadeiros, se não houver redirecionamento de propósitos. Onde nós esperamos chegar fazendo ouvidos de mercador, ou procrastinando decisões essenciais para o nosso desenvolvimento como cristãos?

Em Lucas 6:46ss, a pergunta de Jesus no fim do sermão do Monte é direta: “Por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?” Aquele que verdadeiramente firmou um compromisso com o Senhor, não se omite e nem recusa a obedecer. Em última análise, a fé não é apenas o resumo de nossas crenças ou de um modo de pensar; é um modo de viver e só pode ser articulada corretamente apenas numa prática coerente (a operosidade da fé). Até quando vamos viver andando em círculos, nos omitindo das nossas responsabilidades? A meta de todo crente deve ser progredir em maturidade e semelhança com a pessoa de Cristo. Mas é necessário muito suor e lágrimas na jornada, para que sejamos praticantes da Palavra e não somente ouvintes, enganando a nós mesmos. E mesmo quando fizermos tudo que nos for requisitado, mesmo assim devemos nos considerar servos inúteis (Lc. 17:10).

 

CONCLUSÃO:

Algumas perguntas finais: Consta contra nós alguma destas denúncias? Alguma delas aparece na nossa ficha corrida? Todas as denúncias apresentadas pelo profeta em nome do Promotor divino não admitem refutação. Não há argumento que possamos utilizar para justificar qualquer uma delas, se estiver presente em nossas vidas. Diante do Promotor divino, só nos resta o arrependimento. Só nos restar corar de vergonha e depender da graça de Deus para efetuar os ajustes necessários em nosso viver. A resposta efetiva que devemos dar diante de tão graves fatos é buscar a restauração e

Graças a Deus não pesa sobre nós nenhuma condenação que nos separe do amor de Cristo, pois o preço do sangue do Cordeiro foi pago em nosso favor. Se estamos de fato em Cristo, já fomos justificados diante do Senhor. Mas isto não nos isenta de andar em retidão e justiça no nosso dia a dia. Estas denúncias fazem referência aos aspectos diários do nosso viver, que precisam estar alinhados com o que Deus demanda de Seus servos.

Quando Deus, do meio de um redemoinho, confrontou o seu servo, através de várias perguntas retóricas, realçando a ignorância de Jó, a resposta dele foi a seguinte: “Então, Jó respondeu ao Senhor e disse: Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca.” (Jó 40:3). Não houve contestação da parte de Jó, ele não tinha o que responder. As palavras proferidas pelo Senhor o fizeram calar totalmente. Os fatos levantados pelo Senhor para demonstrar o Seu controle soberano sobre tudo na criação eram irrefutáveis.

Se hoje fomos confrontados por estas denúncias feitas pelo profeta Miqueias, como representante do Promotor divino, é hora de colocar a mão na boca. Não temos o que responder, pois a responsabilidade pelo estado em que se encontra a nossa vida é toda nossa. Não temos desculpas válidas para apresentar ao Senhor para justificar a precariedade de nossa condição espiritual. Precisamos nos prostrar em confissão e arrependimento, reconhecendo que precisamos sair desta condição fazendo uso dos recursos disponibilizados pelo Senhor.