quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A água do poço de Belém


Uma das histórias mais interessantes que lemos sobre a vida de Davi ocorreu durante um combate com os filisteus. Os filisteus haviam ocupado Belém, a cidade natal de Davi. Davi e seus homens estavam acampados do lado de fora da cidade. Enquanto pensava em Belém, ficou cheio de nostalgia e disse em voz alta: “Quem me dera beber água do poço que está junto à porta de Belém!” (2 Samuel 23:15). Não era uma ordem nem um pedido; Davi simplesmente desejou poder beber novamente do velho poço, como fazia antes nos velhos tempos de simplicidade. Todavia, Davi era tão amado pelos que o cercavam, que um desejo dele era para eles uma ordem. “Três valentes de Davi” abriram caminho lutando com os filisteus, tiraram água do poço, voltaram lutando novamente com os filisteus e, por fim, entregaram a água ao comandante deles.

Posso imaginar esses homens corajosos se prostrando perante Davi, oferecendo-lhe um copo cheio de água fresca. As roupas deles deviam estarrasgadas e ensanguentadas; os corpos, cheios de ferimentos — tudo aquilo para trazer um copoda água daquele poço ao seu amado líder. Davi transbordou de emoção. Ele pegou o copo, mas recusou-se abeber aquela água que poderia ter custado as vidas de seus homens. Lentamente, despejou aágua no chão em oferta ao Senhor. E enquanto a terra sedenta absorvia a água, ele disse: “Longe de mim, ó Senhor, fazer tal coisa; beberia eu o sangue dos homens que lá foram com perigo de sua vida?”(v. 17).

Este acontecimento ilustra bem a importância de valorarmos adequadamente tudo em nossa volta. Nossos desejos não podem ser elevados a uma posição de primazia, ainda mais quando o custo para satisfazê-los envolve sacrifícios por demais valiosos. A vida daqueles homens valentes tinha muito mais valor para Davi do que a satisfação de seu desejo por água fresca do poço. Certamente Davi reconheceu a coragem e ousadia daqueles valentes, mas não estava interessado em satisfazer qualquer desejo que oferecesse algum risco à integridade dos seus homens. Neste episódio, Davi dá evidências que tinha posto seus anseios no lugar correto.

Será que temos avaliado corretamente o custo envolvido para alcançarmos certos objetivos na vida? O cristão maduro precisa deixar de lado a impulsividade para ceder aos seus desejos em razão da fé que precisa ser nutrida e também do valor infinitamente maior do que está em jogo. Várias famílias estão sendo literalmente destruídas por conta de desejos menores que foram elevados à categoria de prioridade absoluta. Muitos relacionamentos conjugais já não possuem nenhuma estabilidade por causa da busca desenfreada por alvos fúteis, em detrimento da solidez do casamento. Portanto, é extremamente importante que tenhamos senso crítico para não sermos iludidos na busca pela satisfação de desejos, que colocam ainda mais em risco a estabilidade e a saúde da nossa alma. Sobriedade na vida cristã não é opcional.


Em busca do sucesso


O sucesso geralmente traz notoriedade e popularidade, as quais, por sua vez, provocam distração; esta, por sua vez, traz o fracasso. Os exemplos desse efeito dominó são múltiplos: o astro de TV e cinema que não consegue lidar com a pressão do sucesso e destrói a carreira, voltando-se para o álcool e as drogas; o time esportivo que vence o campeonato nacional, depois, no ano seguinte, atravessa uma temporada terrível por causa de distrações; o gerente de empresa que se corrompe pelo poder que lhe é dado, e em pouco tempo é demitido por estar envolvido em falcatruas.

Na história de Davi, logo após ter assumido o trono e vencido algumas guerras, percebemos que ele se distraiu, desviando-se do seu propósito — e foi grande o desastre resultante. Até certa altura, Davi estava cem por cento concentradonos desafios que Deus lhe deu: representá-Lo no trono, estabelecer o império e proteger a nação por meio da qual o Messias viria. Por ter-se mantido concentrado, Davi cumpriu esses desafios esplendidamente.Na história de Davi e em muitos outros relatos bíblicos, observamos que um ingrediente essencial para o sucesso espiritual é a concentração em alvos corretos. Por outro lado, o fracasso torna-se iminente quando reina a distração e a indolência.

Muito tem se falado a respeito do estabelecimento de alvos. Estabelecer alvos é algo que vale a pena desde que os alvos valham a pena. Todavia, uma vez estabelecidos os alvos, é fácil nos distrairmos, esquecendo em que consiste a vida. Temos de nos esforçar para não esquecer o que é realmente importante. Recordemos a famosa afirmação de Paulo:“…uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3:13, 14). Observemos a expressão “uma coisa faço”. Ele não disse “uma dúzia de coisas faço”, nem “mil coisas eu me meto a fazer”, mas “uma coisa faço”. Paulo era um indivíduo concentrado — concentrado em Cristo. A razão do progresso espiritual de Paulo e do seu ministério frutífero foi a concentração no que era essencial, sem deixar-se distrair por futilidades.

Onde você quer chegar sem a concentração na pessoa de Cristo e nos alvos que Ele estabelece por meio das Escrituras? Não podemos esperar sucesso e progresso em nosso viver se estivermos governados por distrações variadas. O alvo do escritor da carta aos Hebreus permanece atual e relevante: “Olhando firmemente para o Autor e Consumador da nossa fé, Jesus.” Portanto, vamos nos empenhar na corrida com concentração total. A linha de chegada está logo adiante.


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

MECANISMOS DE DEFESA

TEXTO: Josué 24: 14-15
Tema: MECANISMOS DE DEFESA


Int. 1 – Estamos diariamente expostos a milhares de perigosos microrganismos, como vírus, bactérias e parasitas. Felizmente, o corpo humano possui um mecanismo protetor contra esses invasores: o sistema imunológico (glóbulos brancos, linfócitos). O corpo precisa criar mecanismos de defesa contra as bactérias e vírus que se propagam com facilidade. Por isso, é importante que a criança seja vacinada contra diversas doenças desde os seus primeiros dias de vida. Dessa maneira, o organismo não desenvolve a doença, mas se torna imune a ela.
Int. 2. – Neste mundo, sabemos que estamos expostos aos agentes perniciosos do engano e da malícia, e por isso se faz necessário um plano de contingência para termos um mecanismo de defesa apropriado. Depois de fazer uma retrospectiva da história do povo de Israel, mostrando o quanto Deus foi gracioso e protetor, Josué traz o povo para um momento crucial. Sabedor das péssimas influências que estariam por perto, Josué apresenta ao povo os mecanismos de defesa indispensáveis para a preservação do povo, a começar pelas famílias de Israel.
“Agora, pois, temei ao Senhor e servi-o com integridade e com fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.”  (Josué 24: 14-15)

OS PRINCÍPIOS CONTIDOS NESTE TEXTO SÃO IMPORTANTES MECANISMOS DE DEFESA PARA A PRESERVAÇÃO DAS FAMÍLIAS CRISTÃS

1. A ADOÇÃO DE FIRME RESOLUÇÃO NA CONTRAMÃO DO MUNDO
“Escolhei, hoje, a quem sirvais”.  “Eu a minha casa serviremos ao Senhor.” Com estas palavras Josué estabelece uma resolução da qual ele não abrirá mão em favor de nenhuma conveniência. Sua firme decisão está respaldada na sua própria história, pela vida que teve com Deus, nas diversas vezes em que viu a poderosa mão do Senhor em favor do Seu povo. Josué não toma esta decisão baseado em conjecturas, ele sabe as implicações de servir somente ao Senhor e os privilégios deste serviço. A declaração de Josué é um modelo de como alguém pode dar testemunho da sua fé mesmo quando isso significa posicionar-se contra a maioria. O compromisso assumido por Josué é estendido a nós como desafio, de nos posicionarmos na direção contrária a que este mundo tem adotado.
Famílias fortes não se estruturam nos alicerces da indecisão. Famílias fortes firmam seus alicerces na firmeza de decisões à luz da Palavra de Deus.
Quem está ao lado do bom Salvador, /Pronto a dedicar-se, agora, ao seu Senhor? /Tudo abandonando pra Jesus seguir, / Encarando tudo quanto possa vir?
REFRÃO: Quem de Cristo ao lado sempre quer andar / Pela tua graça, pelo teu amor, / Eis-nos a teu lado, somos teus, Senhor.  (Hino CC452 Decisão)
Deus requer do seu povo decisão resoluta. Não podemos ficar em cima do muro, porque não existe neutralidade na batalha moral que tem se instaurado contra a família. Impossível servirmos a Deus de modo efetivo quando existe indecisão em nossos corações, quando ainda prevalece a nossa opinião. É importante que as famílias sejam resolutas, a começar pelo cabeça, o homem, que vai prestar contas da liderança que exerceu. Se nossas famílias estão à deriva, primeiro é responsabilidade dos homens. Os homens devem segurar firme o timão do navio, estabelecendo o rumo correto para chegar ao porto seguro. Neste caminho, os ventos e as tempestades serão constantes, mas a família precisa rumar resolutamente na direção estabelecida pela Bíblia, sem arredar o pé da decisão firmada perante o Senhor.
As implicações de um compromisso firmado perante o Senhor não podem ser ignoradas. Lutas e dissabores certamente acompanham esta resolução de ficar do lado do Senhor. Hostilidade e aversão serão companheiras constantes. Mas não há privilégio maior do que tomar posição em nome do Senhor. Quem é do Senhor dê um passo a frente.

2. A REJEIÇÃO DE QUALQUER FALSA ESPERANÇA EM VOGA
“Deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito.” / “ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais.”
Não demorou muito e os israelitas fizeram exatamente aquilo que Deus sempre lhes dissera para não fazer. Da simples tolerância aos cananeus e amorreus, eles passaram a imitá-los. Os israelitas começaram a se casar com os cananeus e a adorar seus deuses. A nação que deveria ser santa e ficar longe das práticas pecaminosas dos cananeus, abraçou os mesmos pecados que trouxeram a ira de Deus sobre eles.
Atualmente nossos ídolos não são de pedra ou de madeira. Eles se revestem de outra roupagem. Nossos ídolos moram em nossas mentes e são alimentados por nossos desejos desordenados. Estes ídolos nos oferecem uma vã esperança, e nos trazem alívio temporário e fugaz em meio às dores neste mundo. A crise de valores que assola as famílias é resultado direto do apego às falsas esperanças trazidas pelos ídolos modernos. A relativização de princípios bíblicos em favor de conceitos humanistas tem solapado as bases da família cristã. Mesmo que não sejam reconhecidos como tais, há falsos deuses no seio das famílias sendo adorados continuamente e recebendo oferendas. Uma das ilusões mais efetivas de Satanás é a ideia de que a felicidade está nas coisas que nós possuímos. Através desta falácia, ele tem edificado um bezerro de ouro, um ídolo chamado materialismo. Em favor do materialismo, muitas famílias estão em frangalhos.
As famílias devem dar um basta a todo resquício de falsa esperança que trazem nas suas bagagens. Os pais não devem propagar para as próximas gerações crendices ou falsas ilusões que carregam por tradição ou por achismo. Mesmo que toda a sociedade volte os olhos para as psicologias da moda, ou para as terapias em voga, a família só será preservada se firmar sua esperança na infalível vontade de Deus revelada nas Escrituras. São muitas as falsas esperanças em voga nos nossos dias, mas nenhuma delas oferece paz real aos corações angustiados. As falácias continuam fazendo seus adeptos, mas falácias não deixam de ser falácias só porque estão na moda. Para que as famílias cresçam e se fortaleçam no Senhor, é imprescindível a rejeição das falsas esperanças que nos assediam diariamente.

3. A DEMONSTRAÇÃO INEQUÍVOCA DE DEDICAÇÃO INTEGRAL AO SENHOR
”Temei ao Senhor e servi-o com integridade e fidelidade” Josué não apenas faz o desafio para o povo assumir o compromisso de servir ao Senhor, mas também qualifica de que forma deve ser este serviço: com temor, integridade e fidelidade. Esta qualificação nos mostra que o serviço feito de qualquer jeito não é aceito pelo Senhor. Faz-se necessário que este serviço seja acompanhado de dedicação exclusiva, sem interrupções ou empecilhos de qualquer natureza. Josué mostrou ao povo que o serviço a Deus requer senso de integridade, que pode ser colocada à prova a qualquer instante. Até porque é impossível ser cristão pela metade. Ou somos remidos ou não somos, não há meio termo.
Se observamos as histórias narradas logo após a morte de Josué no livro de Juízes veremos claramente que o povo de Israel seguiu outros caminhos, mas não o da dedicação integral ao Senhor. Logo se misturaram com os povos cananeus e adotaram suas práticas repulsivas. Se fôssemos excluir do vocabulário do povo de Israel duas palavras na sua relação com Deus, seriam integridade e fidelidade. É impressionante a decadência desta nação por conta de sua rebeldia em não seguir ao Senhor de modo constante e completo.
Este serviço inteiro, por completo, começa por nossa família. “É difícil ver como o cristianismo pode ter um efeito positivo na sociedade, se não pode transformar a sua própria casa”. (John MacArthur). O cristianismo faz diferença nos corações, se espalha para o raio de ação mais próximo e alcança outras pessoas.
INTEGRIDADE= completo, total, inteiro, integral. FIDELIDADE= estabilidade, constância. A vida em família não pode ser dedicada ao Senhor em compartimentos. Famílias que servem ao Senhor apenas aos domingos são uma afronta às Escrituras. E nos outros seis dias? Qual a relevância que Deus tem para a vida em família nos demais dias da semana?
Vivemos uma verdadeira crise de integridade moral no seio familiar. A fidelidade a Deus é colocada em último plano quando não nos é conveniente. Por isso os filhos crescem sem desenvolver um santo temor por Deus e Sua Palavra. Ao negociarmos princípios cristãos no balcão das facilidades deste mundo, passamos para nossa família a ideia de que ser cristão não envolve compromisso integral. E assim as estruturas familiares vão se deteriorando. Os pais precisam ser exemplos de integridade moral/espiritual e fidelidade ao Senhor para seus filhos. Se não formos autênticos nesta relação com Deus, certamente não teremos condições de ensinar adequadamente o caminho que nossos filhos devem trilhar. Minha maior preocupação com Ester, e creio que deve ser a preocupação legítima de cada pai, não é o legado material ou a herança patrimonial que vou deixar para ela, mas sim o legado espiritual de temor ao Senhor que marcará para sempre a sua vida.



Um péssimo exemplo

TEXTO: EZEQUIEL 34: 1-10
TEMA: Um péssimo exemplo

O bom exemplo, quando aferido ao padrão bíblico, sempre é digno de ser copiado. No entanto, o péssimo exemplo deve ser de pronto repelido. A história de Israel está cheia de exemplos na maioria negativos. “Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1 Cor. 10.6). Exemplos de perseverança na fé devem ser imitados (Daniel e os seus amigos na Babilônia); exemplos de retrocesso na fé devem ser repelidos (o juiz Sansão, Elias fugindo de Acabe).
O texto em destaque não trata de pastores conforme o conceito neotestamentário (aquele que cuida do rebanho do Senhor nas igrejas locais). O texto engloba a liderança de Israel como um todo, incluindo reis, sacerdotes e falsos profetas, que receberam a desaprovação do Senhor, por intermédio do profeta Ezequiel.  Reis e oficiais do governo eram chamados de “pastores”.  Os profetas (maiores e menores) utilizavam-se desta ilustração pastor-ovelha para estabelecer a relação líder-povo. No período pré-exílico os líderes do povo de Israel cometeram inúmeras torpezas, o que despertou a ira do Senhor, usando a Babilônia como vara de disciplina. Em face deste contexto e partindo do pressuposto que o negativo precede o positivo, gostaria de afirmar a seguinte proposição:
“Os líderes de Israel nos dão o exemplo de como um pastor pode malograr a condução do seu rebanho. ”
Malograr = provocar danos ou estragos, levar ao fracasso, não ser bem-sucedido
De quais maneiras os líderes de Israel nos dão o exemplo de como um pastor pode malograr a condução do seu rebanho?


1)   PREFERINDO A AUTOPRESERVAÇÃO
Os líderes “apascentavam a si mesmos ou cuidavam de si mesmos”: eis o motivo pelo qual Ezequiel emite o sonoro “ai”. O ai divino é um claro sinal de desaprovação e juízo. A palavra traduzida como apascentar refere-se a atenção e cuidadoconsigo mesmo, e denota um esforço concentrado em preservação, não se expondo a perigos ou intempéries de qualquer natureza. A advertência contra estes líderes vem seguida de uma pergunta retórica, porque espera-se que os pastores preservem o rebanho que lhes foi confiado. E que não preservem a si mesmos, evitando os desgastes próprios do labor com as ovelhas. A autopreservação é uma característica de líderes que se importam muito mais com a sua imagem do que com o bem dos liderados.
Para ilustrar, pensemos no rei Davi, que para preservar a sua imagem pessoal, resolveu colocar para debaixo do tapete o adultério que tinha cometido e o assassinato que encomendou. Aparentemente estava tudo bem, mas só aparentemente. Tudo ruiu quando Davi foi confrontado pelo profeta Natã. O Salmo 51 é uma oração de um homem que desistiu de se auto preservar.
Mas, definitivamente, o ministério pastoral segundo os princípios bíblicos não é espaço para envernizar a autoimagem. Quando o pastor cultiva uma preocupação com a sua imagem, em detrimento de prioridades bíblicas, já dá sinais de que seu interesse é agradar pessoas e não a Deus primordialmente. O desejo de agradar a todos, em prejuízo das Escrituras, tem feito sucumbir o ministério de muitos pastores.
O pastor não foi chamado para viver numa redoma, pelo contrário, sua missão está diretamente relacionada com o auto sacrifício. A tarefa do pastor é árdua porque demanda a necessidade de andar uma milha a mais e de oferecer a outra face. Quantos “sapos” o pastor não tem que engolir porque seu posicionamento bíblico fere o orgulho das ovelhas? Um pastor “bacana”, que prefere seguir o “politicamente correto” para aparecer bem na fita, nunca terá a aprovação do Pastor Supremo.
O pastor foi chamado para confrontar o que precisa ser confrontado, tendo a Bíblia como único parâmetro de aplicação. Além disso, a busca por popularidade e o cultivo da vaidade no ministério são feitos em prejuízo da sã doutrina. O pastor precisa ter muita cautela neste quesito, sob pena de malograr a condução do rebanho.


2)   FOMENTANDO O FAVORECIMENTO PESSOAL
A denúncia feita pelo profeta Ezequiel agora se concentra nos ganhos que os líderes de Israel obtinham à custa do povo. As metáforas utilizadas servem para ilustrar que a exploração era evidente, e que o povo padecia sob a mão de uma liderança sem o menor escrúpulo. Através de tributos exorbitantes, os líderes sugavam o quanto podiam do povo, em busca de satisfação cada vez maior e vida regalada. Os reis, príncipes e magistrados não estavam interessados em ser instrumentos de serviço, mas apenas queriam ser servidos. Jesus, o Sumo Pastor, declarou enfaticamente: “eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos.”
“O que eu ganho com isso?”, “De que modo posso me favorecer?” São perguntas que se firmam no pensamento de quem busca satisfazer interesses próprios no serviço do Senhor.  
O apóstolo Paulo fez um alerta ao jovem pastor Timóteo que evitasse “altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1 Timóteo 6:5). Havia falsos líderes que estavam em busca de lucros financeiros utilizando-se de um discurso piedoso. Paulo aponta que a ganância é um grave mal para a igreja, e diz que grande fonte de lucro é a piedade com contentamento.  É bíblico que a igreja cuide bem do seu pastor, e zele por ele na questão financeira, suprindo-lhe com o apoio e recursos. “Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa?” Neste contexto Paulo defende a importância de ser sustentado dignamente pela igreja de Corinto.
É notório que muitos pastores pervertidos entendem que o sucesso financeiro é a primeira evidência da bênção de Deus sobre o Seu povo, e fazem uso desta retórica para se beneficiarem. É triste ver falsos líderes de igrejas explorando o rebanho com sagacidade, em busca de impérios e movidos por ganância.
No entanto, todo pastor devotado a Cristo, sabe que o ministério pastoral não é um meio de ganhar dinheiro fácil. Aquele que foi chamado por Deus para esta nobre missão entende que o povo de Deus não pode ser explorado ou utilizado como meio de enriquecimento. A proposta do chamado pastoral não é um chamado para estar na linha de pobreza, mas também não é que faça do ministério uma fonte de exploração para obter lucro. Até porque igreja não é empresa, e sua função não é gerar lucros. Pastor não é gerente financeiro, e sua função não é estabelecer metas de crescimento do caixa. O foco do ministério pastoral não deve ser estabelecido em função de favorecimento pessoal com base em pretensões materialistas.
O pastor Argemiro já deu seu testemunho de que por vários anos serviu ao Senhor recebendo da igreja apenas uma ajuda de custo (cesta básica). Esta não deve ser a regra, mas a situação concreta mostra que nunca assumiu o ministério pastoral com intenções gananciosas.

3)   IGNORANDO AS NECESSIDADES PRIORITÁRIAS
O texto nos apresenta uma série de omissões dos líderes de Israel. Se os pecados de comissão dos líderes eram terríveis, seus pecados de omissão eram ainda piores. Não se trata aqui de um caso isolado, mas de uma prática reiterada de negligência diante das reais necessidades dos liderados.  O povo sofria e se dispersava e os líderes não exerciam o cuidado indispensável. A omissão era a tônica em Israel, em virtude de uma liderança que optou pela indiferença diante da situação crítica do povo. As ovelhas fracas, doentes, quebradas, desgarradas e perdidas, no texto, referem-se a diversas situações que exigiam a pronta atuação do pastor, utilizando os recursos e ferramentas apropriadas para fortalecer, curar, ligar, tornar a trazer e buscar.
Paulo escrevendo sobre o corpo de Cristo à igreja de Corinto, declara: “Se um membro sofre, todos sofrem com ele.” O princípio da interdependência está em pleno vigor, não foi e nunca será revogado. Deus requer do Seu povo que seja pró-ativo em atender as necessidades uns dos outros. Mas o Senhor concede ao pastor a visão para enxergar as necessidades legítimas do rebanho, direcionando adequadamente os esforços. Sem um pastor que saiba as necessidades espiritualmente prioritárias do rebanho, as ovelhas ficam dispersas, e um rebanho disperso torna-se presa fácil para os ataques de lobos.
Compartilhar a dor do outro é uma atribuição com que o pastor se depara continuamente. A dor e o sofrimento dentro da igreja podem ser causados por diversas razões. O pastor precisa estar atento às reais necessidades do rebanho, e agir com diligência para trazer restauração. Em razão da dor proveniente das aflições próprias deste mundo caído, a ovelha encontra compaixão e graça por meio do ministério pastoral.
O pastor precisa estar atento ao gemido de dor (desde que legítima) do seu rebanho. Não se trata de passar a mão na cabeça de pecadores inveterados que não abrem mão de sua rebeldia, mas de compadecer-se daqueles que choram por seus pecados e se arrependem diante do Senhor.  As pregações devem ser sempre direcionadas pelo Senhor, mas o pastor deve conhecer o que se passa com o rebanho, as dores e dificuldades particulares da igreja. Ai da igreja em que o pastor não conhece as reais necessidades espirituais do seu povo, e pouco se importa com a advertência em Hebreus13:17: velam por vossa alma, como quem deve prestar contas!

REMORSO X ARREPENDIMENTO


Você sabe a diferença entre remorso e arrependimento? Paulo, em 2 Coríntios 77: 8-11, faz uma clara distinção entre a tristeza segundo o mundo e a tristeza segundo Deus. A realidade do pecado como afronta à santidade divina deve trazer-nos tristeza segundo Deus, que nos impulsiona a profundas mudanças em nosso viver.

A tristeza mundana não passa de um remorso. A tristeza mundana experimenta o pecado, estremece de dor e sente pesar, mas apenas por um breve momento. A tristeza mundana está realmente determinada a lutar contra o pecado, somente por enquanto. O problema é que esta recente descoberta de convicção e pesar, bem como este abalo emocional, são todos de curta duração. O foco da tristeza segundo o mundo é o mundo. Pessoas que sofrem por remorso estão angustiadas porque estão perdendo (ou temem perder) as coisas que o mundo oferece. Este tipo de tristeza, conforme argumenta o apóstolo Paulo, conduz à morte. É letal porque brota do mesmo tipo de coração que deseja em primeiro lugar dedicar-se a si mesmo.

Na tristeza segundo Deus há uma mudança de perspectiva. O foco é a santidade divina que foi afrontada. As lágrimas de tristeza fluem do sincero desgosto por ter quebrado a santa lei do Deus que nos ama. Ou seja, esse profundo pesar é motivado por Deus e orientado para Deus. A tristeza segundo Deus produz arrependimento para vida, que transborda em paz real e duradoura. Este pesar por ter pecado estende-se para além de um momentâneo tormento de dor e pontadas fugazes de convicção. Alguém que experimenta a tristeza segundo Deus ocupa-se na batalha contra o pecado, buscando força e graça necessária no poder de Cristo.

Façamos uma avaliação importante: se a tristeza que temos vivenciado não nos leva a uma verdadeira e durável transformação, então tivemos uma experiência mundana, e precisamos desesperadamente da tristeza segundo Deus. O nosso pesar em relação ao pecado não pode ser um simples remorso. Assim como Daniel orou, necessitamos corar de vergonha e lamentar profundamente sobre a real condição de nosso coração. E assim, fazer os ajustes necessários para reorientar biblicamente a forma como encaramos o pecado que tenazmente nos assedia. Portanto, deixemos o remorso para trás e busquemos a verdadeira paz que o arrependimento genuíno nos proporciona.