sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Um péssimo exemplo

TEXTO: EZEQUIEL 34: 1-10
TEMA: Um péssimo exemplo

O bom exemplo, quando aferido ao padrão bíblico, sempre é digno de ser copiado. No entanto, o péssimo exemplo deve ser de pronto repelido. A história de Israel está cheia de exemplos na maioria negativos. “Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1 Cor. 10.6). Exemplos de perseverança na fé devem ser imitados (Daniel e os seus amigos na Babilônia); exemplos de retrocesso na fé devem ser repelidos (o juiz Sansão, Elias fugindo de Acabe).
O texto em destaque não trata de pastores conforme o conceito neotestamentário (aquele que cuida do rebanho do Senhor nas igrejas locais). O texto engloba a liderança de Israel como um todo, incluindo reis, sacerdotes e falsos profetas, que receberam a desaprovação do Senhor, por intermédio do profeta Ezequiel.  Reis e oficiais do governo eram chamados de “pastores”.  Os profetas (maiores e menores) utilizavam-se desta ilustração pastor-ovelha para estabelecer a relação líder-povo. No período pré-exílico os líderes do povo de Israel cometeram inúmeras torpezas, o que despertou a ira do Senhor, usando a Babilônia como vara de disciplina. Em face deste contexto e partindo do pressuposto que o negativo precede o positivo, gostaria de afirmar a seguinte proposição:
“Os líderes de Israel nos dão o exemplo de como um pastor pode malograr a condução do seu rebanho. ”
Malograr = provocar danos ou estragos, levar ao fracasso, não ser bem-sucedido
De quais maneiras os líderes de Israel nos dão o exemplo de como um pastor pode malograr a condução do seu rebanho?


1)   PREFERINDO A AUTOPRESERVAÇÃO
Os líderes “apascentavam a si mesmos ou cuidavam de si mesmos”: eis o motivo pelo qual Ezequiel emite o sonoro “ai”. O ai divino é um claro sinal de desaprovação e juízo. A palavra traduzida como apascentar refere-se a atenção e cuidadoconsigo mesmo, e denota um esforço concentrado em preservação, não se expondo a perigos ou intempéries de qualquer natureza. A advertência contra estes líderes vem seguida de uma pergunta retórica, porque espera-se que os pastores preservem o rebanho que lhes foi confiado. E que não preservem a si mesmos, evitando os desgastes próprios do labor com as ovelhas. A autopreservação é uma característica de líderes que se importam muito mais com a sua imagem do que com o bem dos liderados.
Para ilustrar, pensemos no rei Davi, que para preservar a sua imagem pessoal, resolveu colocar para debaixo do tapete o adultério que tinha cometido e o assassinato que encomendou. Aparentemente estava tudo bem, mas só aparentemente. Tudo ruiu quando Davi foi confrontado pelo profeta Natã. O Salmo 51 é uma oração de um homem que desistiu de se auto preservar.
Mas, definitivamente, o ministério pastoral segundo os princípios bíblicos não é espaço para envernizar a autoimagem. Quando o pastor cultiva uma preocupação com a sua imagem, em detrimento de prioridades bíblicas, já dá sinais de que seu interesse é agradar pessoas e não a Deus primordialmente. O desejo de agradar a todos, em prejuízo das Escrituras, tem feito sucumbir o ministério de muitos pastores.
O pastor não foi chamado para viver numa redoma, pelo contrário, sua missão está diretamente relacionada com o auto sacrifício. A tarefa do pastor é árdua porque demanda a necessidade de andar uma milha a mais e de oferecer a outra face. Quantos “sapos” o pastor não tem que engolir porque seu posicionamento bíblico fere o orgulho das ovelhas? Um pastor “bacana”, que prefere seguir o “politicamente correto” para aparecer bem na fita, nunca terá a aprovação do Pastor Supremo.
O pastor foi chamado para confrontar o que precisa ser confrontado, tendo a Bíblia como único parâmetro de aplicação. Além disso, a busca por popularidade e o cultivo da vaidade no ministério são feitos em prejuízo da sã doutrina. O pastor precisa ter muita cautela neste quesito, sob pena de malograr a condução do rebanho.


2)   FOMENTANDO O FAVORECIMENTO PESSOAL
A denúncia feita pelo profeta Ezequiel agora se concentra nos ganhos que os líderes de Israel obtinham à custa do povo. As metáforas utilizadas servem para ilustrar que a exploração era evidente, e que o povo padecia sob a mão de uma liderança sem o menor escrúpulo. Através de tributos exorbitantes, os líderes sugavam o quanto podiam do povo, em busca de satisfação cada vez maior e vida regalada. Os reis, príncipes e magistrados não estavam interessados em ser instrumentos de serviço, mas apenas queriam ser servidos. Jesus, o Sumo Pastor, declarou enfaticamente: “eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos.”
“O que eu ganho com isso?”, “De que modo posso me favorecer?” São perguntas que se firmam no pensamento de quem busca satisfazer interesses próprios no serviço do Senhor.  
O apóstolo Paulo fez um alerta ao jovem pastor Timóteo que evitasse “altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1 Timóteo 6:5). Havia falsos líderes que estavam em busca de lucros financeiros utilizando-se de um discurso piedoso. Paulo aponta que a ganância é um grave mal para a igreja, e diz que grande fonte de lucro é a piedade com contentamento.  É bíblico que a igreja cuide bem do seu pastor, e zele por ele na questão financeira, suprindo-lhe com o apoio e recursos. “Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa?” Neste contexto Paulo defende a importância de ser sustentado dignamente pela igreja de Corinto.
É notório que muitos pastores pervertidos entendem que o sucesso financeiro é a primeira evidência da bênção de Deus sobre o Seu povo, e fazem uso desta retórica para se beneficiarem. É triste ver falsos líderes de igrejas explorando o rebanho com sagacidade, em busca de impérios e movidos por ganância.
No entanto, todo pastor devotado a Cristo, sabe que o ministério pastoral não é um meio de ganhar dinheiro fácil. Aquele que foi chamado por Deus para esta nobre missão entende que o povo de Deus não pode ser explorado ou utilizado como meio de enriquecimento. A proposta do chamado pastoral não é um chamado para estar na linha de pobreza, mas também não é que faça do ministério uma fonte de exploração para obter lucro. Até porque igreja não é empresa, e sua função não é gerar lucros. Pastor não é gerente financeiro, e sua função não é estabelecer metas de crescimento do caixa. O foco do ministério pastoral não deve ser estabelecido em função de favorecimento pessoal com base em pretensões materialistas.
O pastor Argemiro já deu seu testemunho de que por vários anos serviu ao Senhor recebendo da igreja apenas uma ajuda de custo (cesta básica). Esta não deve ser a regra, mas a situação concreta mostra que nunca assumiu o ministério pastoral com intenções gananciosas.

3)   IGNORANDO AS NECESSIDADES PRIORITÁRIAS
O texto nos apresenta uma série de omissões dos líderes de Israel. Se os pecados de comissão dos líderes eram terríveis, seus pecados de omissão eram ainda piores. Não se trata aqui de um caso isolado, mas de uma prática reiterada de negligência diante das reais necessidades dos liderados.  O povo sofria e se dispersava e os líderes não exerciam o cuidado indispensável. A omissão era a tônica em Israel, em virtude de uma liderança que optou pela indiferença diante da situação crítica do povo. As ovelhas fracas, doentes, quebradas, desgarradas e perdidas, no texto, referem-se a diversas situações que exigiam a pronta atuação do pastor, utilizando os recursos e ferramentas apropriadas para fortalecer, curar, ligar, tornar a trazer e buscar.
Paulo escrevendo sobre o corpo de Cristo à igreja de Corinto, declara: “Se um membro sofre, todos sofrem com ele.” O princípio da interdependência está em pleno vigor, não foi e nunca será revogado. Deus requer do Seu povo que seja pró-ativo em atender as necessidades uns dos outros. Mas o Senhor concede ao pastor a visão para enxergar as necessidades legítimas do rebanho, direcionando adequadamente os esforços. Sem um pastor que saiba as necessidades espiritualmente prioritárias do rebanho, as ovelhas ficam dispersas, e um rebanho disperso torna-se presa fácil para os ataques de lobos.
Compartilhar a dor do outro é uma atribuição com que o pastor se depara continuamente. A dor e o sofrimento dentro da igreja podem ser causados por diversas razões. O pastor precisa estar atento às reais necessidades do rebanho, e agir com diligência para trazer restauração. Em razão da dor proveniente das aflições próprias deste mundo caído, a ovelha encontra compaixão e graça por meio do ministério pastoral.
O pastor precisa estar atento ao gemido de dor (desde que legítima) do seu rebanho. Não se trata de passar a mão na cabeça de pecadores inveterados que não abrem mão de sua rebeldia, mas de compadecer-se daqueles que choram por seus pecados e se arrependem diante do Senhor.  As pregações devem ser sempre direcionadas pelo Senhor, mas o pastor deve conhecer o que se passa com o rebanho, as dores e dificuldades particulares da igreja. Ai da igreja em que o pastor não conhece as reais necessidades espirituais do seu povo, e pouco se importa com a advertência em Hebreus13:17: velam por vossa alma, como quem deve prestar contas!

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