segunda-feira, 24 de março de 2014

NA CONTRAMÃO DO VELHO HOMEM

Texto: Tiago 4:1-10

Paul Tripp, no seu livro "Em busca de algo maior", faz a seguinte afirmação: “O DNA do pecado é o egoísmo. Ele reduz a minha motivação, entusiasmo, desejo, cuidado e atenção aos contornos da minha própria vida.” (Cap. 7, página 87). O que o autor quer nos ensinar no seu livro é que somos essencialmente egoístas, porém a vida que Deus objetiva moldar em nós vai na contramão dos nossos próprios interesses. Precisamos trilhar o caminho em busca de algo maior, ou seja, em busca de interesses que não se resumem em nossa autossatisfação.

No texto lido em Tiago, temos uma série de exortações para um viver altaneiro, que nos liberta gradualmente das amarras do velho homem, EGOÍSTA por natureza. A repreensão de Tiago contra a carnalidade e a cobiça egoísta é muito franca e objetiva. Com vivacidade e utilizando imperativos, Tiago convoca os seus leitores a uma execução contínua da natureza pecaminosa. Afinal, uma evidência de que fomos regenerados é o surgimento de novos interesses, que divergem frontalmente do que agrada ao nosso velho homem. “Só uma coisa morta segue a correnteza. Tem que se estar vivo para contrariá-la.” (G.K. Chesterton)

Demonstramos a autenticidade da nossa fé quando seguimos na contramão dos interesses do velho homem

DE QUAIS MANEIRAS? (palavra-chave: Maneira)

1) Não rivalizando com o próximo para atender caprichos pessoais (vs. 1, 2)

Os crentes estavam ferindo uns aos outros com a língua e com um “temperamento” descontrolado. Havia uma hostilidade crescente entre os irmãos, certamente brigas, desavenças e estímulos à violência. Tiago enxerga o problema como fruto de cobiça carnal, o resultado da não-aplicação da sabedoria de Deus (Tg. 3:17). Desentendimentos, desavenças, partidarismo, um espírito belicoso, são fruto de um foco elevado em nossos direitos.

Paulo admoestou os efésios a cultivar a unidade espiritual (Ef. 4: 1-16); e até a igreja em Filipos enfrentava problemas por causa de duas mulheres que não se entendiam (Fp. 4: 1-3). Os nossos direitos e preferências pessoais devem ser deixados ao pé da cruz, para buscarmos a unidade no corpo de Cristo. Afinal, a ênfase para atender nossa vontade egoísta é nociva para qualquer relação humana, pois o foco não está na glória de Deus e nem no Seu reino. João Calvino escreveu: “Onde os homens amam a disputa, estejamos plenamente certos que Deus não está reinando ali.”

A guerra no coração contribui para causar as guerras nos relacionamentos! As causas de todos os conflitos estão arraigadas no nosso “eu”, portanto não devemos evitar uma autoconfrontação honesta. Qual a solução para os conflitos por motivações egocêntricas? Avaliemos o nosso amor a Deus, pois o nosso amor a Deus precisa ser tão real a ponto de estarmos dispostos a abandonar caprichos pessoais em prol da saúde dos nossos relacionamentos.

2) Não realizando súplicas de oração para satisfazer nosso egoísmo (vs. 3)

A palavra usada por Tiago (esbanjar) é a mesma que aparece em Lc 15:14, na história do filho pródigo. O cristão não deve pedir algo a Deus com interesses menores e escusos de viver à parte do Senhor. Deus não atende orações que não têm a glória dEle como principal objetivo. Aliás, Ele nunca atenderá um pedido que nos leve a pecar contra Ele. A oração endossada por Deus sempre tem a mesma ênfase da oração de Jesus no Getsêmani: “Seja feita a Tua vontade!”

É óbvio que oração não se constitui somente de pedidos, mas o que pedimos a Deus revela o que é prioridade em nossas vidas. Muitas vezes encaramos a oração como uma lista de tarefas para Deus realizar. As orações dos apóstolos são impregnadas de anseios santificados e desejos que não se concentram neste mundo. Quantas vezes já oramos para sermos fortalecidos na santificação ou para sermos cristãos perdoadores? Nós precisamos aprender a orar, reorientando nossos anseios mais profundos.

Os prazeres egoístas nos levam a viver em busca dos tesouros desta era hedonista, bem como os nossos anseios são direcionados para “escaparmos de problemas” e “vivermos felizes” neste mundo. Porém, um claro sinal de maturidade espiritual é a oração reverente e centrada em Deus, o clamor do servo que reconhece sua total carência e necessidade ante o trono da graça, fazendo calar todas as motivações carnais.

3) Não abandonando nossa lealdade a Deus para flertar com o mundo (vs. 4)

A palavra infiéis (moichalides) - significa “adúlteras”. No AT (Is. 54:1-6 e Jr. 2:2; 3:20) esta metáfora era usada para descrever a apostasia espiritual, especialmente a idolatria do povo de Israel. Nenhum marido ou esposa se contentaria com menos do que exclusividade total em relacionamento conjugal.

Ser mundano é viver como se Deus não existisse ou como se Sua vontade não fosse relevante para nossas vidas. Não seja um Demas, que amou o presente século, e abandonou o serviço a Cristo (2 Tm. 4:10). Alguns indicativos de afeições com o mundo: seguir a multidão; imitar os pagãos; buscar a aceitação; baixar padrões; relativizar valores; negociar princípios; estabelecer alianças. Soren Kierkegaard advertiu: “No dia em que o cristianismo e o mundo se tornarem amigos, o cristianismo deixará de existir.”

COMO CONSTATAR SE ESTAMOS COM AFEIÇÕES DIRECIONADAS PARA O MUNDO? Se a nossa maior atenção é voltada para o que é temporário (fama, sucesso, riquezas, status), em lugar do que é eterno (amadurecimento na fé, santidade, valores espirituais). Jesus disse que “onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Mt. 6:21). Temos vivido como “propriedade exclusiva do Senhor”, a ponto de Lhe dedicarmos sem reservas nossa lealdade? Temos vivido como peregrinos e forasteiros, que almejam uma pátria superior (Hb. 11:16)? Temos buscado agradar a Cristo em nosso cotidiano, constrangidos pelo Seu imenso amor?

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