segunda-feira, 28 de abril de 2014

Uma ótima avaliação

Texto: Lucas 7: 24-30

É notório em toda a Bíblia o fato de que Deus sempre fez avaliações sobre o Seu povo, tanto no AT como no NT. A mensagem dos profetas tinha como objetivo alertar o povo diante das avaliações feitas pelo Senhor. O profeta Oséias foi um instrumento usado por Deus para trazer à tona a avaliação que o Senhor fazia sobre Israel, quase sempre negativa: “tal como uma vaca rebelde, assim se rebelou Israel” (Os. 4:16).O profeta Jeremias também transmitiu ao povo a avaliação feita pelo Senhor em vários momentos, por exemplo: “O pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro e com diamante pontiagudo, gravado na tábua do seu coração e nas pontas dos seus altares.” (Jr. 17:1). Não somente sobre o seu povo, mas Deus também avaliou a vida de pessoas ímpias, como por exemplo a vida do rei Belssazar. Este rei ímpio foi avaliado e recebeu o veredito da parte do Senhor: TEQUEL = pesado foste na balança e achado em falta (Dn. 5:27). Imagine receber uma avaliação deste tipo!

No Novo Testamento encontramos Jesus dirigindo-se às sete igrejas da Ásia Menor, e fazendo a Sua avaliação sobre cada uma delas: “Conheço as tuas obras”. A avaliação feita por Jesus traduz perfeitamente a situação de cada igreja. A avaliação sobre a igreja de Laodicéia é bem forte: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Ap. 3: 15-16). Diante deste exemplos, fica claro que são abundantes na Bíblia as avaliações feitas pelo Senhor.

No texto que temos em epígrafe, Jesus apresenta a sua avaliação sobre a pessoa de João, o batista. O texto nos diz que “passou Jesus a dizer ao povo a respeito de João.”João, o batista, com frequência testemunhou de Jesus; agora, Jesus testemunha a respeito de João para o povo ali reunido. Jesus tece elogios a este homem e chega a afirmar de modo categórico: “Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João.” Através de perguntas retóricas, Jesus realiza uma excelente avaliação sobre João.

Qualserá a avaliação de Cristo a nosso respeito? O que Ele diria sobre nós? Será positiva ou será negativa? Creio que não existe uma avaliação intermediária, até porque Cristo abomina a mornidão (nem quente, nem frio). Ou estamos progredindo, ou estamos regredindo na caminhada cristã.A avaliação que Cristo faz a nosso respeito deve nos constranger a mudanças imediatas. Não se trata apenas de uma informação, o Senhor requer de nós uma resposta adequada à avaliação que Ele realiza.

“A avaliação que Cristo fez sobre João engloba aspectos que não devem ser ignorados por nenhum discípulo”

S. T.: Quais são os aspectos da avaliação de Cristo sobre João quenão devem ser ignorados por nenhum discípulo?

S. T.: Os aspectos da avaliação de Cristo sobre João que não devem ser ignorados por nenhum discípulo (Palavra-chave: Aspecto)

1) O PRIMEIRO ASPECTO É COM RELAÇÃO ÀFIRMEZA DE CARÁTER (vs. 24)

As perguntas retóricas neste texto sugerem uma forma sutil de eliminar respostas claramente falsas a fim de transmitir a verdade sobre João. “Um caniço [provavelmente uma planta da família das gramíneas encontradas em abundância ao longo do Jordão] agitado pelo vento” sugere uma pessoa instável, levada emseu julgamento pelos ventos da opinião pública ou da desventura pessoal. João não era um caniço (pense por exemplo numa vareta de bambu) ao vento, que muda de direção a todo instante, que ilustra alguém inseguro e instável. Antes, era um homem de convicções e de coragem, um homem destemido e firme. Com esta pergunta instigante, Jesus está enfatizando que João não se deixava influenciar pelas circunstâncias e nem pelas pessoas a sua volta. O vento das dificuldades ou da pressão dos políticos e religiosos de sua época não fez João dobrar-se ou abandonar as suas convicções. Essa sua coerência não havia resultado somente em seu encarceramento, mas na sequência também lhe custaria a própria vida (cf. Mt. 14:6-12). João manteve-se firme apesar da oposição de Herodes, quando denunciou o relacionamento adúltero em que ele vivia.

Alguns cristãos até se escoram na velha desculpa que “a carne é fraca”, tirando o versículo do seu contexto, para tentar justificar um cristianismo vacilante. Conta-se a história de um motorista cristão que não tinha firmeza de caráter. Seu procedimento no trânsito era reprovável. Sua atitude dentro da família era de pura negligência. Certa vez ele foi parado por excesso de velocidade por um guarda também cristão. O motorista rapidamente argumentou: “Sr. não aplique, nenhuma multa, foi a minha velha natureza que estava em excesso de velocidade.” O guarda sabiamente respondeu: “Vou multar a sua velha natureza em 50 dólares por excesso de velocidade, e vou multar a sua nova natureza em 50 dólares por ser conivente com a primeira.”

O caráter do cristão precisa ser autoevidente em seus valores, princípios e atitudes. É do caráter firmado na Palavra de Deus que procedem nossos valores e princípios, que nos levam a discernir o que é certo/errado sob o ponto de vista de Deus. Mas quando negligenciamos a firmeza de caráter o resultado é sempre desastroso.O temor dos homens, o medo da rejeição e a politicagem em nossos relacionamentos, atestam que somos pessoas inconstantes e de dúbio proceder. A verdade é que faltam homens e mulheres de Deus firmes em seu caráter, que não abrem mão de um procedimento digno do evangelho de Cristo.

PERGUNTA: Por que não devemos ser pessoas instáveis na caminhada com Cristo? A resposta é simplesmente porque não podemos alegar falta de recursos espirituais para um progresso efetivo em nosso viver. Tudo que nos conduz à vida e a piedade já nos foi dado graciosamente para o progresso na fé. O cristão “tropeça aqui-cai acolá” é um difamador da graça santificadora do Senhor.

Paulo adverte “que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef. 4:14). Tiago vai falar sobre o “homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.” (Tg. 1:8) Este é aquele que não coloca em execução a verdade bíblica por ter um caráter vacilante, um mente dividida, que não tem um posicionamento firme.

Neste mundo de antagonismo à vontade de Deus, não devemos abaixar padrões ou relativizar valores em prol da conveniência. Será que receberemos o elogio Senhor por termos sido firmes de caráter e atitude?

2) O SEGUNDO ASPECTO É COM RELAÇÃO AO DESAPEGO DO QUE É EFÊMERO (Vs. 25)

Jesus faz mais uma pergunta instigante aos seus ouvintes imediatos: “Que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas?” (Lc. 7:25). Definitivamente João não era uma celebridade que desfrutava de regalias, ou da amizade de gente importante e dos prazeres da riqueza. João era um homem simples e ao mesmo tempo estranho, que não estava seguindo a moda do seu tempo. O termo empregado por Jesus para luxo não engloba somente vestes ou ostentação de bens materiais. O palavra carrega uma conotação de luxúria carnal, ou seja, libertinagem e promiscuidade. Com esta pergunta, Jesus traz uma reprimenda implícita a todos aqueles que ostentam luxo e riqueza material ou se devotam aos prazeres carnais, e que continuam mantendo um coração endurecido diante da vontade de Deus. A história dos Herodes e dos Césares no Império Romano é marcada por ostentação e pecados sexuais. Mas nada daquela ostentação ou dos prazeres da vida regalada roubaram a atenção do profeta João, que não se iludiu e nem se vendeu.

Conta-se a história de uma criança de três anos de idade que ganhou uma linda bicicleta azul do seu pai. A bicicleta era novíssima, completa e com as rodinhas auxiliares, equipamentos de proteção e adesivos. Não poderia haver uma bicicleta melhor, e o pai ficou esperando a reação do seu pequeno filho. Quando o pai tirou a bicicleta da caixa de papelão, a criança observou por um momento e sorriu e depois começou a brincar com a caixa. Demorou alguns dias para que o pai convencesse seu filho que o presente de verdade era a linda bicicleta azul. Muitas vezes nós agimos como esta criança: perdemos o foco do que realmente é importante e dedicamos nossa maior atenção ao que é efêmero, a tudo aquilo que não acrescentará valores eternos ao nosso viver.

O dicionário Houaiss define luxo assim: “maneira de viver caracterizada pelo desejo de ostentação, por despesas excessivas, pela procura de comodidades caras e supérfluas.” À luz da Bíblia, nós precisamos identificar o que é efêmero em nossas vidas, para que as coisas efêmeras não se tornem deuses para nós. Não estou fazendo apologia à teologia da mediocridade, mas precisamos pedir que Deus nos ajude a sondarmos os nossos corações para não sermos iludidos pelas propostas deste século. Vivemos numa época de consumismo desenfreado, e cada vez mais o luxo é assumido como meta na vida de muitas pessoas. O desprendimento deve ser uma marca que nos identifica como cristãos, pois estamos apenas peregrinando neste mundo tão efêmero.

Muitas vezes, o que é acessório e supérfluo assume a primazia em nosso viver, e passamos a cobiçar mais e mais. Este ciclo nunca se fecha!O sábio Salomão, que experimentou bem o luxo e o prazer, escreveu:“Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e do seu trabalho nada poderá levar consigo.” (Ec. 5:15). Diante da verdade exposta neste verso bíblico, éevidente concluir que os nossos interesses devem ser muito mais celestiais do que materiais.

Só o que é eterno satisfaz a nossa alma. O que é efêmero apenas aumenta a nossa sede. Nada neste mundo pode trazer real satisfação à alma. C. S. Lewis escreveu: “Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais correta é que eu fui feito para outro mundo.” Que a nossa vida enquanto peregrinos seja marcada por uma afeição genuína ao que é eterno e celeste, não ao que é passageiro e terreal. Será que receberemos o elogio do Senhor por termos sido desapegados dos valores deste mundo corrompido?

3) O TERCEIRO ASPECTO É COM RELAÇÃO AO CUMPRIMENTO DO PROPÓSITO (Vs. 26-27)

O ministério de João era preparar a nação para a chegada de Jesus e apresentá-lo à nação (Lc. 1:17), pregando a mensagem de arrependimento. Seu ministério foi o ponto culminante da Lei e dos Profetas. João Batista foi o último profeta do Antigo Testamento e, como mensageiro de Deus, teve o privilégio de apresentar o Messias a Israel. O ministério de João constituiu um divisor de águas, tanto na história nacional de Israel quanto no plano redentor de Deus (Lc. 16:16). João cumpriu com fidelidade o propósito para o qual foi escolhido por Deus. Ele anunciava em alto e bom som a mensagem de arrependimento que apontava para Cristo: “No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1:29). Testemunhar a respeito de Cristo era sua obra contínua, e João se manteve fiel a este propósito enquanto esteve vivo.

O apóstolo Paulo entendeu o seu propósito e cumpriu cabalmente o seu ministério: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé.” (2 Tm. 4:7)“Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou.” (2 Tm. 2:5). Em outras palavras, nenhum soldado foge do cumprimento do seu dever, pois o seu propósito é satisfazer ao seu comandante.O soldado Demas não cumpriu o seu objetivo: “ele amou o presente século e partiu para Tessalônica...”

Uma das primeiras lições em música é o aprendizado dos compassos. Em Teoria Musical, o compasso está relacionado com as divisõesde sons que se sucedem dentro de um determinado tempo e ritmo. Assim, só é possível cumprir corretamente a execução da música se o compasso for totalmente obedecido.O professor de música e regente da banda filarmônica da qual fiz parte na infância era bastante exigente e buscava de várias maneiras sincronizar o som dos instrumentos.Eu lembro que ele reclamava bastante quando os instrumentistas saíam do compasso da música: “- Vocês estão fora de compasso. Aprendam a ficar dentro do compasso. Sejam fiéis ao compasso”. Será que a nossa vida está dentro do seguinte compasso: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe. 2:9)? Ou estamos fora de compasso, vivendo de maneira indigna deste maravilhoso chamado?

Uma pergunta que todos nós devemos fazer e responder à luz das Escrituras: Para que estou neste mundo? Esta pergunta delineia o cerne do propósito para o qual fomos criados e remidos por Deus.Há um propósito bem claro nas Escrituras: o propósito de Deus não é apenas salvar um povo para Si, mas que este povo se conforme à imagem de Cristo Jesus. Com este intuito em mente, cada cristão precisa assemelhar-se ao padrão perfeito (olhando firmemente para o Autor e Consumador da nossa fé). A forma como tratamos os nossos irmãos deve reluzir este maravilho propósito. Cristo não nos trata com malícia, da mesma maneira não devemos tratar com malícia os nossos irmãos. As escolhas que fazemos precisam visar a glória de Deus e não a nossa própria glória, pois Cristo nos deu o exemplo de submissão à vontade do Senhor em toda a Sua vida.

Todo crente está neste mundo para trilhar o caminho da mortificação do eu, para que o senhorio de Cristo seja evidente em nossas atitudes e relacionamentos.Será que receberemos o elogio do Senhor por termos cumprido o propósito para o qual fomos remidos?

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