quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Condicionamento Espiritual

Texto-Bíblico: Josué 6: 1-21

Introdução:
Em muitos concursos públicos é realizado um teste de resistência ou aptidão física, para avaliar o condicionamento físico dos candidatos. Esta avaliação engloba alguns testes específicos tais como: teste de flexão abdominal, teste de resistência aeróbica (por exemplo, uma corrida de 2400m em 13 min), teste em barra fixa, teste de natação. Estes testes possuem caráter eliminatório e visam estabelecer um padrão mínimo de condicionamento físico para ingressar no cargo.
O texto bíblico em epígrafe nos apresenta um quadro que antecede uma grande vitória. Mas nesta situação, observamos que Deus não estava interessado em saber qual era o condicionamento físico do povo de Israel. O Senhor estava interessado em avaliar o condicionamento espiritual do povo, mediante a utilização de alguns testes específicos. Não quero dizer que Deus não conhecia o povo, mas estes testes seriam utilizados para que o próprio povo soubesse em que patamar se encontrava o seu condicionamento espiritual.

Diante destes esclarecimentos iniciais, eu gostaria de afirmar que o condicionamento espiritual do crente é avaliado por meio de testes específicos. Mas que testes específicos servem para avaliar o condicionamento espiritual do crente?

Muitas pessoas estão interessadas em manter o condicionamento físico, mas não se importam com o seu condicionamento espiritual. É importante que cada crente se exercite pessoalmente na piedade. A Bíblia nos adverte em 1 Tm. 4:8 que: “o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa.” O nosso condicionamento espiritual é diariamente avaliado por meio de alguns testes específicos, que passaremos a analisar a partir de agora.

1º - O teste da obediência (vs. 3 - 7)
As instruções específicas de Deus para a vitória sobre Jericó deveriam ser seguidas à risca. Nenhuma ordem do Senhor deveria ser desconsiderada pelo povo de Israel. Deus estabeleceu aquela estratégia militar incomum para aquela época para ser obedecida em todos os aspectos. O povo deveria rodear a cidade por seis dias (uma vez por dia) e no sétimo dia deveria rodear a cidade de Jericó sete vezes. Nos seis dias o povo marcharia silenciosamente, mas no sétimo dia os 7 sacerdotes deveriam tocar as 7 trombetas, e o povo deveria gritar em alta voz. O versículo 8 resume bem a obediência completa de todo o povo: “Assim foi como Josué dissera ao povo...”
O condicionamento espiritual de um crente realmente é medido pela obediência. Quando observamos o condicionamento espiritual de Saul, percebemos que ele foi reprovado justamente no teste da obediência. Em I Samuel 15, a ordem de Deus para Saul foi clara: destruir totalmente o povo amalequita. Mas Saul resolveu obedecer do seu próprio jeito, poupando o melhor das ovelhas e dos bois, bem como o rei Agague. O rei Saul não executou integralmente às ordens do Senhor e por isso foi rejeitado. Suas boas intenções de oferecer sacrifício não foram aceitas como desculpa para a desobediência: “o obedecer é melhor do que o sacrificar” (I Sm. 15:22).
A verdade é que aos olhos de Deus, uma obediência parcial é sempre uma desobediência total. Quando o Senhor oferece instruções específicas elas devem ser seguidas na íntegra. O crente que está sendo desobediente e rebelde diante das instruções de Deus, oferece provas suficientes de um péssimo condicionamento espiritual. E a obediência que agrada a Deus não é apenas aparente, pelo contrário, nasce e flui do coração. Os últimos discursos de Moisés estão repletos de exortações à obediência de coração (Dt. 26:16 e Dt. 32:46),
O condicionamento espiritual do crente não é avaliado pelo conhecimento teológico ou acadêmico que ele conquistou ao longo dos anos. Também não é avaliado pelo conhecimento das línguas originais do texto bíblico. Ouvir as instruções do Senhor e não obedecer é um auto-engano (Tiago 1:22). Jesus também ilustra que alguém que conhece a Palavra de Deus e não a pratica é como um homem que construiu sua casa sobre a areia. A resistência de uma casa sem fundamentos diante das tempestades não é a mesma de uma casa com sólidos alicerces e bem estruturada.
Se de fato amamos a Cristo seremos aprovados no teste da obediência. O próprio Jesus afirmou: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.” Será que temos obedecido a Deus de todo o coração como prova do nosso amor para com Ele? Este é um teste decisivo que vai apontar como está o nosso condicionamento espiritual.

2º - O teste da paciência
O povo de Israel também foi testado com relação à paciência. Não poderia haver nenhuma precipitação se quisessem ser vitoriosos contra Jericó. Deus estabeleceu prazos que deveriam ser atendidos. Todo o povo deveria entender que o cronograma divino não segue o cronograma humano. Em nenhuma hipótese Israel poderia se apressar para vencer a poderosa cidade de Jericó. O cronograma divino não poderia ser burlado em hipótese alguma, para satisfazer a vont
Deus tem um tempo certo para todas coisas debaixo do céu, conforme Eclesiastes 3:1-8, porque “Ele fez tudo formoso no seu devido tempo” (Ec. 3:11a). Em alguns salmos o salmista questiona enfaticamente: “Até quando, Senhor?” diante de situações desconfortáveis ou se sentia abalado. O profeta Habacuque também questionou o cronograma divino diante dos ataques que o povo de Israel estava sofrendo: “Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás?” (Hb. 1:2)
Esta tendência de questionar o cronograma divino é típica de um coração que ainda não depositou total confiança na providência divina. Por natureza o homem é movido pelas circunstâncias. O grande teste para avaliar o nosso condicionamento espiritual é a paciência diante de condições adversas. O exercício da paciência desenvolve no crente várias habilidades espirituais que serão úteis para suportar com perseverança as provações do viver. É por isso que a paciência deve ser exercitada diariamente para evitar pecados como a ansiedade e a preocupação.
O rei Saul realmente não tinha um condicionamento espiritual adequado, pois ele também falhou no teste da paciência. No texto bíblico em I Samuel 13:8-12, observamos a precipitação do rei Saul que ofereceu holocausto e ofertas pacíficas no lugar do profeta Samuel, coisa abominável aos olhos do Senhor. Esta atitude de Saul mostrou que ele não estava preparado para assumir o trono de rei. Quando agimos precipitadamente, perdemos a chance de discernir que o tempo de Deus não é o nosso tempo e que o Seu modo de agir é incomparavelmente melhor.
Na palavra de Deus a virtude da paciência está associada com a sabedoria: “O longânimo é grande em entendimento, mas o de ânimo precipitado exalta a loucura” (Pv. 14:29) e “Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade” (Pv. 16:32). Esta capacidade de esperar o tempo certo de agir nos livra de inúmeros problemas. Saber o momento certo de recuar é uma grande prova de que estamos aprendendo o que é longanimidade, por que “não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado” (Pv. 19:2).

3º - O teste da dependência
Deus já tinha prometido a Josué que a cidade Jericó estava vencida (vs. 2). O povo tinha apenas que depender do Senhor e confiar nesta promessa para ser vitorioso. As grandes muralhas de Jericó não seriam obstáculo para o Deus Todo-Poderoso, mas o coração do povo tinha que descansar confiantemente na ação miraculosa do Senhor. O povo de Israel não era versado em guerras. Era formado por ex-escravos no Egito e ex-peregrinos no deserto. Não havia nenhuma habilidade bélica que pudesse ser levada em consideração diante de uma fortaleza inexpugnável como a cidade de Jericó. Somente na dependência exclusiva do Senhor o povo poderia provar a vitória.
Não é ridículo admitir a nossa incapacidade e fragilidade diante do Senhor. Ridículo é tentar lutar com as próprias forças e acumular várias contusões ao longo do caminho. Em Jeremias 9:23-24, o profeta nos apresenta um desafio para o nosso orgulho: “Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR.” Nunca iremos apresentar um bom condicionamento espiritual se negligenciamos a dependência constante do Senhor.
Precisamos admitir que, sem Deus, os nossos melhores esforços nada são. O Salmo 127: 1-2 nos ensina que Deus é o doador e que nós precisamos depender d’Ele em cada dia, confiando em Sua mão providencial. O povo de Israel recebia o maná diariamente e todos deveriam pegar apenas o suficiente para aquele dia. Isto era para humilhá-los e prová-los, pois Deus queria que eles aprendessem que eram dependentes d’Ele. A oração que Cristo ensinou aos seus discípulos faz referência ao “pão nosso de cada dia”, para demonstrar que o crente depende exclusivamente de Deus em cada novo amanhecer.
A Bíblia nos ensina que depender de Deus não é indolência e nem apatia; é uma virtude forjada no coração do crente pelo poder do Espírito Santo. É óbvio que Deus não vai realizar o que é de nossa responsabilidade, mas precisamos confiar que o Senhor é quem supre cada uma de nossas necessidades conforme Lhe apraz. Que possamos admitir nossa fragilidade o quanto antes para evitar novas frustrações.


MARCOS AURÉLIO DE MELO
ESTUDOS NO LIVRO DE JOSUÉ

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