quinta-feira, 4 de março de 2010

DEUS DISTINGUE O PIEDOSO

Leitura Bíblica: Salmo 4

Davi não era um homem perfeito. Ele errou em vários momentos e seus pecados ficaram registrados nas Escrituras. Podemos perceber que estes pecados trouxeram-lhe várias conseqüências desastrosas, dentro de sua própria família, conforme anunciado pelo profeta Natã (2 Sm. 12: 10-11). Aflições e angústias de toda sorte foram constantes na vida de Davi, mas ele recorria a Deus que o tinha escolhido como rei de Israel.
Neste Salmo 4, que na verdade é uma continuação do cântico no Salmo 3, Davi derrama o coração perante Deus. O contexto é a fuga de Davi por causa de Absalão, que tinha conspirado contra o rei e tomado o poder em Jerusalém (2 Sm. 15:1-18). Davi resolveu sair às pressas de Jerusalém para evitar um combate de grandes proporções com os aliados de Absalão. Davi estava sendo caçado pelo filho, como antes fora perseguido por Saul. No verso 2, ele interroga os homens que armaram tal cilada contra o rei, pois estavam tornando sua glória (majestade) em vexame.
É importante destacar que o Salmo 3, termina com a expressão entre parênteses (Selá). A expressão “Selá”, empregada mais de 70 vezes, parece referir-se a um interlúdio musical, ou seja, quando alguns salmos eram cantados, havia a necessidade de, entre uma passagem e outra, de uma pausa ou até para aumentar o tom em que estava sendo tocada a música.
No verso 3 do Salmo 4, Davi declara que o Senhor distingue para si o piedoso, ou seja, Deus conhece e tem prazer no homem piedoso. A palavra piedade no Antigo Testamento está relacionada com a fidelidade e retidão da pessoa, que flui de um relacionamento verdadeiro com o Deus de Israel. Sabemos que o homem piedoso ama a Palavra de Deus e nela medita dia e noite, para que o alvo de sua vida seja honrar a Deus. O crente deve ser piedoso, como fruto da conversão operada através do Espírito de Deus. Observando o Salmo 4, podemos afirmar que:

“O HOMEM PIEDOSO POSSUI CARACTERÍSTICAS ADMIRÁVEIS EM MEIO ÀS AFLIÇÕES DA VIDA”

Nenhum de nós está imune às aflições da vida, porque estamos num mundo afetado pelo pecado em todos os aspectos. Portanto, temos que lidar diariamente com aflições variadas. Martinho Lutero indagou certa vez: “A Cristo foi dada uma coroa de espinhos, porque nós esperamos uma coroa de rosas?” No mundo certamente teremos aflições, mas que possamos cultivar as características de um homem/mulher piedoso (a). Lembre-se que Deus tem prazer quando vivemos de modo agradável buscando glorificá-Lo em todas as circunstâncias. Além disso, as aflições na vida têm o forte propósito de moldar o caráter de homens e mulheres piedosos.

1) As aflições da vida não conseguem calar o clamor do homem piedoso (Vs. 1, 3b)
Não somente neste Salmo mas em quase todos observamos Davi em oração. Os salmos são cânticos e muitos deles surgiram de momentos devocionais de Davi. Ele clama a Deus e o busca em oração vigilante em meio às angústias e pressões que sofria. O jovem Davi aprendeu bem cedo que esta era uma necessidade fundamental e por isso mesmo não podia viver sem orar ao Deus dos céus. No salmo 40:1, Davi demonstra sua total dependência do Senhor em oração.
O homem piedoso é alguém que faz do clamor a Deus uma constante em sua vida. Ele entende que esta não é a última coisa a ser feita, mas, pelo contrário, a primordial. Quando em meio às aflições e angústias, o piedoso não negligencia elevar os pensamentos a Deus em oração e entregar a ele os seus temores. Muitas pessoas passam por aflições e abandonam a prática importante do clamor que precisa ser dirigido ao Senhor. Preferem calar-se e centralizam a atenção nos problemas. Assim, lançam-se nas batalhas da vida e procuram vencer os obstáculos sem o menor senso de dependência de Deus. Quando os resultados não são satisfatórios, estas pessoas são as primeiras a levantar suspeitas contra o nome do Senhor.
Precisamos clamar ao Senhor em meio aos problemas e aflições. Este deve ser o nosso maior anelo. É óbvio que após a oração segue-se a ação. Mas o homem piedoso terá plena convicção da importância de clamar ao Senhor, e não calar diante dos dilemas e problemas. Devemos perseverar na oração (Cl. 4:1) e orar sem cessar (1 Ts. 5:17). O nosso Mestre nos deu exemplo de uma vida de oração exemplar. Em meio às angústias naquela noite no Getsemani, Jesus clamou ao Pai para que a Sua vontade fosse cumprida. Se Cristo orou em busca de amparo, porque nós negligenciamos tanto a oração e o clamor? No Salmo 32:6, o salmista refere-se ao Senhor, assim: “Todo homem piedoso te fará súplicas, em tempo de poder encontrar-Te.” Lembre-se: “A oração deve ser fundamental, não suplementar.” William J. C. White

2) As aflições da vida não conseguem anular a sensatez do homem piedoso (Vs. 4)
Davi no verso 4 expressa a necessidade de sensatez. Ele estava sendo perseguido, porque o reino foi tomado à força por seu filho Absalão – um jovem revoltado com seu pai e que se aproveitou da fragilidade do rei. Notamos que a situação era extremamente delicada e exigia equilíbrio e sensatez de Davi. O Senhor distingue para si o piedoso que não perde a sensatez em meio às aflições da vida, e Davi expressa novamente isso no Salmo 37: 7-8.
O Salmo 4:4 é interpretado erroneamente, para justificar o fato da ira não-pecaminosa ser aceitável. Mas o versículo aqui, que é repetido em Ef. 4:26, não enfatiza a ira, mas quer enfatizar o não-pecar. A ira deve estar longe de nós, conforme o ensino de Paul em Ef. 4: 31-32. O segredo para um viver vitorioso contra a ira, é jogar um balde de água fria assim que a ira mostrar sua face. Não podemos dar lugar à ira humana, porque nós somos pecadores e não temos como mensurar até que ponto ela é justificada. Precisamos de sensatez e domínio próprio, para que o nosso procedimento seja agradável e aceitável diante do Senhor. Os recursos abundantes e as promessas de Deus são suficientes para nos capacitar a lidar biblicamente e a vencer o problema da ira.
Nos relacionamentos sempre surgem problemas interpessoais, porque somos pecadores e não perfeitos. A ira muitas vezes é jogada na conta da outra pessoa, quando o problema na maioria das vezes reside em nosso próprio coração. A ira do homem não pode produzir a justiça de Deus, porque são incompatíveis (Tiago 1: 19-20). Explosões de ira são condenadas nas Escrituras porque demonstram as obras da carne que precisam ser despojadas, e com freqüência a ira é um prelúdio para pecados devastadores nos relacionamentos.
O homem piedoso será sensato ao lidar com situações de conflito, porque o Senhor o capacitará para isto. Sabemos que em nós habita o Espírito Santo, o qual não compactua com as explosões de fúria que muitos cristãos já adotaram como prática constante em seu viver. “O tolo da vazão à sua ira, mas o sábio domina-se.” (Pv. 29:11 – versão NVI)

3) As aflições da vida não conseguem tirar o contentamento do homem piedoso (Vs. 6-7)
Davi saiu correndo do palácio real e deixou para trás toda a pompa que lhe pertencia como autoridade maior no reino de Israel. Agora estava fugindo da presença do seu filho Absalão e teria que viver errante por desertos e lugares não aprazíveis. Sua vida de fugitivo com certeza não teria as mesmas regalias que desfrutava no palácio real.
A palavra que foi traduzida como alegria, também pode assumir o significado de satisfação. Davi está dizendo: mesmo que para outras pessoas (ímpios que não se relacionam com Deus) haja fartura de cereal e vinho, a plena satisfação só pode ser encontrada na vida de um homem piedoso (um homem que busca ser fiel ao Senhor). A presença ou a falta de contentamento é o diferencial que marca a vida de muitos cristãos. Quando não há satisfação com as bênçãos que Deus tem nos outorgado, passamos a viver abatidos em meio às aflições da vida. Crentes rendidos diante de problemas da vida, sem alegria ou contentamento, são uma clara denúncia da falta de intimidade com o Senhor. Alguém disse que a insatisfação é filha do orgulho.
Paulo escreveu que aprendeu a viver contente, em toda e qualquer situação (Fl. 4: 11-13). Mesmo passando privações, Paulo sabia buscar forças no Senhor para enfrentar as aflições da vida. Nossa vida está nas mãos do Senhor, ele promete que nunca nos deixará e nem nos abandonará (Hb. 13: 5-6). Paulo escrevendo a Timóteo afirma que a piedade com contentamento é uma verdadeira mina de ouro (1 Tm. 6: 6-8), e o amor ao dinheiro é a raiz de muitos males. A Bíblia está repleta de princípios que nos indicam a necessidade de contentamento e plena satisfação em Deus. Este é segredo para uma vida de piedade, mesmo em meio às aflições e dificuldades deste mundo.

4) As aflições da vida não conseguem destruir a serenidade do homem piedoso (Vs. 8)
Davi aprendeu em sossegar sua alma aflita confiando irrestritamente em Deus. Dormir com um inimigo à espreita e pegar no sono é prova de total serenidade diante dos conflitos iminentes. Davi tinha esta serenidade adquirida na dependência constante do Senhor. Ele soube descansar e aliviar o coração porque sabia que estava seguro com Deus, sua torre forte e rochedo. No salmo 131, o salmista canta que fez calar e sossegar a sua alma, como criança que se aquieta nos braços da mãe (uma ilustração de serenidade).
A inquietação é um mal antigo, que parece tomar proporções cada vez maiores com o passar do tempo. Muitos crentes vão dormir e acordam aflitos, sem o menor sinal de sossego e paz. A palavra “quietude” parece não fazer mais parte dos nossos dicionários.
Estar em paz e encontrar serenidade em meio às aflições da vida é uma característica bastante admirável. Não se trata de ignorar a aflição ou fazer de conta que ela não existe, porém a chave de um viver sereno é saber repousar em Deus mesmo atravessando vales difíceis e sombrios. Muitas dores de cabeça seriam evitadas se a paz de Deus, que excede todo entendimento, estivesse guardando os nossos corações e mentes, como a Bíblia nos orienta (Fl. 4:7). Nossas vidas terão mais brilho e cor, se aprendermos a arte da serenidade, que se apóia exclusivamente na bondade de Deus sobre nós.
Precisamos de corações serenos, que se mostram quietos diante do poder e majestade de Deus. Quando sossegamos o coração e buscamos a tranqüilidade em Deus, começamos a enxergar as provações/aflições/dificuldades sob uma nova ótica. O Salmo 91 é bastante conhecido por suas palavras de introdução: “O que habita no esconderijo do Altíssimo, e descansa à sombra do Onipotente, diz ao Senhor: Meu refúgio e baluarte, Deus meu em quem confio.” A confiança do homem piedoso em Deus o leva a ter um coração tranqüilo e sereno. Como o pintor que desenhou uma plantinha bem próxima de uma cachoeira, assim deve estar também o coração do crente que deposita em Deus toda a sua confiança.

MARCOS AURÉLIO DE MELO
MENSAGEM NO SALMO 4

Um comentário:

Renato Costa (CM) disse...

Obrigado, Marcos, por nos encorajar a continuar clamando. Precisamos muito nos dias de hoje!