quinta-feira, 14 de junho de 2012

Uma fé genuína

TEXTO: Salmo 125

No Brasil, a comercialização de produtos que imitam o produto original já se tornou febre. Recentemente um amigo de trabalho pediu que lhe desse algumas dicas para utilizar o seu novo telefone. Quando olhei o telefone percebi o desenho conhecido da marca Apple, uma maçã mordida. Pensei que ele tinha comprado um telefone celular famoso, o iPhone, que custa em torno de R$ 1.800,00 a R$ 3.000,00. Mas logo vi o nome diferente. Não era o iPhone original, era outra marca: o iPhoen (chinês), que custa em torno de R$ 150,00. A imitação do iPhone tinha apresentado alguns problemas técnicos já no primeiro dia de uso.
E por falar em produtos originais, o texto em epígrafe faz referência à fé genuína em Deus. Não se trata aqui de uma caricatura ou imitação de fé. Não se trata de uma "fé pirata", muito pelo contrário, a fé que o salmista expressa neste cântico é original e verdadeira. O Salmo 125 faz parte de uma coletânea de salmos conhecidos como salmos dos peregrinos. Eram hinos entoados nas peregrinações do povo de Israel para Jerusalém quando iam adorar ao Senhor no templo. Este salmo é uma expressão da fé do peregrino no Deus de Israel. E como nós também somos peregrinos neste mundo, podemos extrair muitas lições deste salmo. Diante do que foi comentado, eu gostaria de afirmar o seguinte:

"SOMENTE A FÉ GENUÍNA EM DEUS PRODUZ ALGUMAS MARCAS EM NOSSO VIVER"
Mas de acordo com este texto, quais são as marcas que somente a fé genuína em Deus produz em nosso viver? Vamos estudar pelo menos três MARCAS:


1) A MARCA DA ESTABILIDADE (v. 1)
"Não se abala, firme para sempre". O peregrino neste momento está chegando próximo de Jerusalém e avista o belo monte Sião. O cântico expressa a confiança que o peregrino tem em Deus, uma fé que não se deixa esmorecer ou abalar. A palavra abalar possui o significado de cambalear, tremer ou escorregar. O peregrino confiava na firmeza proveniente da confiança em Deus.
A fé genuína do verdadeiro discípulo é comprovada pela estabilidade. No final do Sermão do Monte, Jesus mostrou que uma casa edificada sobre a rocha possuía estabilidade apesar dos ventos e da chuva. Esta estabilidade é evidência de uma fé genuína que "ouve as Palavras de Cristo e as pratica" (Mateus 7: 24-27). Jesus nos ensina que só teremos vida estáveis se estivermos edificados sobre a rocha.
Muitas pessoas vivem como se estivessem num carrinho de montanha-russa: ora estão confiando em Deus, ora estão confiando em si mesmas; ora estão comprometidas com Cristo, ora estão comprometidas com o mundo. Definitivamente este não é o tipo de vida abundante que Cristo comprou para os remidos. Nossas vidas devem ter a marca da estabilidade e do compromisso genuíno com Cristo e Sua Palavra. Não podemos viver como cristãos no domingo e como pagãos no restante da semana. Somos chamados a testemunhar com firmeza e apresentar ao mundo a marca da estabilidade.
A estabilidade não está para os que duvidam ou para os que ficam em cima do muro. O crente sincero e fiel não volta atrás (Lc. 9:62), não vive solto ou sujeito a todo vento de doutrinas (Ef. 4:14) e a toda cilada deste mundo (1 Jo. 2:15-17). O autêntico crente está firmado em Deus e por isso permanece firme. Aqueles que dizer ser cristãos e vivem numa eterna "montanha-russa espiritual" precisam averiguar se a fé que professam é de fato genuína. Deus não quer que fiquemos em cima do muro, oscilando de um lado para o outro. Precisamos firmar o compromisso com Deus e Sua Palavra.

2) A MARCA DA SERENIDADE (v. 2)
No versículo 2, o salmista faz uma comparação entre Jerusalém e o povo de Deus, e assim como os montes cercam ou protegem Jerusalém, assim está o Senhor para com o Seu povo. A certeza de que Deus está conosco é imprescindível, pois ela gera serenidade e ânimo. É importante frisar que os montes em redor de Jerusalém eram uma espécie de proteção ou escudo natural contra os inimigos que habitavam aquela região. O peregrino podia confiar sem temer, pois a proteção do Senhor lhe outorgava serenidade.
Paulo e Silas estavam presos no cárcere com o pés presos no tronco. "E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurança" (At. 16:23). Mas apesar da privação de liberdade, eles tinham uma fé genuína em Deus e isto trouxe serenidade para os seus corações. "Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam" (At. 16:25). Martinho Lutero afirmou algo que me faz refletir: "Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno."
Nas dificuldades que enfrentamos neste mundo a certeza da presença do Senhor é o alento que não podemos esquecer. A Trindade santa está sempre conosco: temos a promessa do nosso Pai que cuida de todos os seus filhos, sabemos que Jesus garantiu que estaria conosco até a consumação dos séculos e temos o Espírito Santo que habita em nós. Estas verdades preciosas devem encher o nosso coração de serenidade. Somente a fé genuína em Deus produz esta marca no viver de todo servo do Senhor.
Às vezes cantamos muito superficialmente o hineto que diz: "calmo, sereno e tranquilo, sinto descanso neste viver. Isto deve a um amigo e só por Ele eu pude obter." Será que o nosso coração descansa realmente sereno por saber que Deus está em derredor e seu cuidado é constante e leal? Será que as pessoas que convivem conosco diariamente podem ver esta marca em nosso viver? Ou será que andamos sempre angustiados, temerosos e aflitos? O nosso coração precisa "calar e sossegar, tal como criança desmamada" (Sl. 131:2). Esta serenidade é uma marca produzida somente pela fé irrestrita em Deus. Manter a serenidade quando tudo vai bem é fácil, mas é nas intempéries da vida que a fé genuína se expressa de forma clara. Saiba que Deus nunca nos abandonará em meio às lutas que temos que enfrentar. Nem a ansiedade e nem os preconceitos quanto à pessoa de Deus são convenientes para os remidos.

3) A MARCA DA INTEGRIDADE (v. 3 e 4)
O salmista nos mostra que os ímpios querem forçar de todo jeito que o homem justo ceda aos seus ardis. Mas a fé genuína produz a marca da integridade. Deus fortalece os seus filhos para que "o justo não estenda a mão à iniquidade." Somente os bons e retos de coração são íntegros de fato, pois expressam um testemunho que nasce da genuína fé em Deus. Não se trata de exibicionismo, mas de um viver digno do evangelho de Cristo. A integridade é uma marca que autentica que nossas vidas foram verdadeiramente transformadas pelo poder de Deus.
Integridade não é um mero comportamento exterior. A integridade do ponto de vista bíblico é "retidão que nasce no coração". A vida de dois homens na Bíblia ilustra bem o que é integridade. José foi vendido por seus irmãos e tratado como escravo. Logo depois foi acusado de assédio sexual e jogado numa prisão. Apesar das investidas da mulher de Potifar, este homem não cedeu porque temia a Deus e não queria desagradá-Lo em hipótese nenhuma. Isto é ser íntegro! Mesmo quando a pressão dos ímpios é grande, alguém que tem uma fé genuína não cede às investidas. Foi Deus quem disse a respeito do seu servo Jó: "Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal" (Jó 1:8). O caráter do cristão precisa ser tecido com a integridade.
Não podemos afirmar que somos cristãos se a marca da integridade não está em nosso viver. Também não podemos alegar nenhuma desculpa porque a Bíblia é clara. A fé genuína imprime nas consciências o desprazer de Deus pela transgressão de sua vontade e a importância de uma vida de obediência e integridade. Se não estamos vivendo integramente é porque há vazamento em nosso cristianismo. Não estou afirmando que a fé genuína produz perfeição, porque sempre teremos algum pecado com o qual devemos lutar enquanto vivermos neste mundo. Mas a fé genuína que regenera o homem transforma diariamente o seu coração.
Há muitos que se dizem cristãos, mas continuam vivendo como ímpios, andando nos caminhos dos pecadores e assentando-se nas rodas dos escarnecedores (Salmo 1). A fé que opera a salvação no crente é sempre acompanhada dos frutos espirituais. O escritor aos Hebreus escreveu que "sem santidade ninguém verá o Senhor" (Hb. 12:14). O que ele quer dizer com isto? Em outras palavras, sem transformação de vida não há prova de que houve salvação na vida de uma pessoa que afirma estar rumando para o céu. Certa vez ouvi uma mensagem do pastor Timóteo sobre o crente pirata: "uma fé pirata produz crentes piratas". Serve como um alerta.


Marcos Aurélio de Melo

terça-feira, 12 de junho de 2012

Como ser um pastor de sucesso


Muitos dos problemas no ambiente pastoral resultam de uma definição nada bíblica dos ingredientes essenciais do sucesso para o ministério. O ministério do pastor nunca é apenas formado por sua experiência, conhecimentos e capacidade. Sempre se trata da verdadeira condição do seu coração. Na verdade, se o seu coração não estiver bem colocado, o conhecimento e a capacidade o tornam perigoso. Há todo tipo de conhecimento e capacidade de ministério, que não substituem a comunhão viva com o Cristo vivo. Os compromissos que dizem respeito ao pastorado nunca deveriam constituir fins em si mesmos, antes devem expressar alguma coisa mais profunda no coração do pastor.

O pastor deve estar interessado pelo seu Redentor de maneira que tudo o que pensa, deseja, escolhe, decide, diz e faz é impelido pelo amor a Cristo e a segurança do repouso no amor de Cristo. Ele deve se expor regularmente, humilhar-se, assegurar-se e repousar na graça do Redentor. Seu coração deve amolecer dia a dia pela comunhão com Cristo de maneira que se torne um servo-líder amoroso, paciente, perdoador, encorajador e doador. Suas meditações sobre Cristo, sua presença, suas promessas e suas provisões não devem ser sobrepujadas por suas meditações sobre como fazer o seu ministério funcionar.

Apenas o amor a Cristo pode defender o coração do pastor contra todos os outros amores que têm o potencial de sequestrar o seu ministério. Apenas a adoração a Cristo tem o poder de protegê-lo de todos os ídolos sedutores do ministério que sussurram aos seus ouvidos. Apenas a glória do Cristo ressuscitado vai guardá-lo da glória pessoal que corrói e destrói o ministério de muitos.

Apenas gratidão profunda por um Salvador sofredor pode transformar um homem em servo sofredor no ministério. Apenas um quebrantamento diante do seu próprio pecado pode desenvolver graça para com os pecadores entre os quais Deus o chamou para ministrar.

Muitos possuem capacidade ministerial, mas não possuem maturidade espiritual. A maturidade espiritual, que Paulo chama de “estatura de varão perfeito”, só é conseguida mediante a gratidão e comunhão constante com o Senhor da obra. Na verdade, a capacidade ministerial que glorifica o nome de Deus, é consequencia da maturidade espiritual alcançada somente aos pés de Cristo.

 

Por Paul David Tripp, com adaptações.




quarta-feira, 6 de junho de 2012

Quando eu sou Deus

O pecado é inerentemente antideus, inerentemente pró-ego. Cada vez que eu peco eu faço uma declaração sobre mim mesmo e uma declaração sobre (e contra) Deus. Cada vez que eu peco, eu declaro minha própria independência, meu próprio desejo de ser livre de Deus; eu declaro que eu posso fazer melhor do que Deus, que eu posso ser um deus melhor do Deus. Recentemente eu tomei algum tempo pensando sobre como a vida muda quando eu sou deus. Os resultados não foram legais.

Quando eu sou deus, é contra mim, somente contra mim, que você pode pecar e fazer algum mal, aos meus olhos. Esse mundo existe para o meu prazer, para minha glória, e a gravidade do seu pecado é medida de acordo com o quanto ele interfere em minha vontade soberana. Minha ira recai sobre aqueles que fazem as suas vontades ao invés da minha.

Quando Deus é Deus, seu pecado contra mim é leve quando pesado contra sua ofensa a Deus. Esse é o mundo do Pai e ele existe para trazer glória a Ele. Pecado é qualquer falta de obediência a Deus e qualquer falta de conformidade à seus justos e santos caminhos. Por tais pecadores eu tenho simpatia, amor, e esperança no evangelho.

Quando eu sou deus, adorar a Deus interfere nos meus planos, no meu repouso, em minha lealdade ao prazer, à socialização, ao esporte, ao divertimento. Eu odeio o pensamento de adorar outro, mas desejo adorar a mim mesmo e ter outros me adorando.

Quando Deus é Deus, adoração é alegria, é alimento, é vida. Não existe maior alegria do que se reunir com o povo de Deus para trazer glória ao Criador, para dar graças ao Redentor.

Quando eu sou deus, satisfação sexual é um direito meu; o sexo existe para me trazer prazer e o valor de outras pessoas é medido somente em sua habilidade de cumprir o que eu estou convencido de que preciso.

Quando Deus é Deus, sexo é um presente dado para fortalecer meu casamento através do serviço ao meu cônjuge. Ele é guardado e estimado e santificado e me motiva a alegremente dar graças e louvar a Deus.

Quando eu sou deus, amor é direcionado a mim, o mais digno dele. Verdadeiro amor, significando amor, encontra os desejos do meu coração exatamente aqui e agora. Ele garante paz quando eu quero paz, silêncio quando eu preciso de silêncio, atenção, afeição, qualquer coisa que seja que eu demande. Isso é amor. Ninguém tem maior amor que este – que ele faça tudo isso por mim.

Quando Deus é Deus, o amor é direcionado exteriormente. Amar outro é simplesmente um meio de expressar amor a Deus; é amar como alguém que foi muito amado. Amor não significa “O que eu preciso?”, mas “O quê Deus deseja?”. Ninguém tem maior amor que este – de dar a sua vida por um amigo, como Jesus Cristo, o amigo de pecadores, fez por mim.

Quando eu sou deus, eu mesmo sou a fonte de toda sabedoria. Insensatez está ligada ao coração de uma criança ou no coração de qualquer um que me contradiz ou me contraria. Eu sou bom e faço o bem e desejo ensinar a você meus estatutos.

Quando Deus é Deus, sabedoria flui de uma fonte fora de mim; sabedoria é extrínseca, e de outro mundo e infinitamente e eternamente boa. Essa é a sabedoria do alto, a sabedoria de um livro.
 
Quando eu sou deus, estou escravizado. Quando Deus é Deus, eu estou livre. Eu agradeço a Deus que Deus é Deus.

Por Tim Challies

Traduzido por Luis Henrique

segunda-feira, 4 de junho de 2012

PORTANTO, VÓS ORAREIS ASSIM

“Orar não é somente a mais sublime atividade da alma humana, mas também é o mais profundo teste a que pode ser submetida a nossa condição espiritual, quanto à sua autenticidade.” (Martin Lloyd-Jones)

Em Mateus 6:9-13, o Senhor Jesus nos ensina as principais diretrizes para a prática da oração.

Que diretrizes são estas?

1) Considerar que pertencemos à família de Deus: “Pai Nosso”. Este termo indica intimidade e ligação genuína à Deus. Fomos adotados em Sua família e por isso podemos nos dirigir a Ele como Pai. A oração é uma conversa em família, através da qual expressamos nossa total dependência da única Pessoa que pode nos suprir (Ef. 1:5; Ef. 2:19).

2) Considerar que Deus é Supremo sobre todas as coisas: “que estás nos céus”. Esta frase indica que Deus não fica restrito às convenções e ideias humanas. Ele é o totalmente Outro, que governa majestosamente (Is. 57:15). Ao orar, precisamos lembrar que Deus, o Criador do universo, não pode ser manipulado por nenhuma de suas criaturas.

3) Considerar a excelência da santidade de Deus: “santificado seja o Teu nome”. Os judeus tinham um zelo grandioso pelo nome de Deus e não ousavam pronunciá-lo de maneira descuidada. O profeta Isaías foi profundamente impactado pela convicção da santidade de Deus (Is. 6:3-5). Não há ninguém como Deus – infinito em valor. A sua santidade é a sua transcendência divina, única e gloriosa. Ao orar, devemos reconhecer a santidade de Deus, que produz o santo temor em nossos corações. O crente genuíno deseja que Deus cause em sua vida tudo o que for necessário para que a glória santa de Deus seja vista e nome do Senhor exaltado entre as nações.
 
4) Considerar que o reino de Deus deve ser priorizado: “venha a nós o Teu reino”. Este deve ser o desejo diário de todo verdadeiro discípulo. O reino de Deus precisa estar acima do “meu reino” (conquistas, posses, realizações, atividades). Aliás, um dos resultados da oração autêntica é tornar o nosso coração cada vez mais submisso a Deus.

5) Considerar que a vontade de Deus é sempre a melhor: “seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu”. Como discípulos, precisamos desistir de impor a nossa vontade quando oramos. Somos escravos de Cristo e, portanto, não temos nenhuma prerrogativa para estipular qual agenda o Senhor deve seguir. O exemplo de Jesus no Getsêmani é marcante (Mt. 26:39).

6) Considerar que o cuidado de Deus é constante: “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Orar é expressar confiança em Deus, que suprirá cada uma das nossas reais necessidades. Ele é o Supremo Pastor (Sl. 23:1) que provê de bênçãos para que sejamos úteis no seu reino e para frutificarmos em toda boa obra. Não podemos usar a oração como um recurso para satisfazer os nossos caprichos, porque Deus não atende caprichos.

7) Considerar que o perdão divino é indispensável: “perdoa as nossas dívidas”. O cristão é fruto do perdão de Deus concedido graciosamente em Cristo Jesus. Esta maravilhosa verdade nos acompanha por toda a nossa vida, pois necessitamos do perdão de Deus em todos os momentos. Ao orar, nós temos que encontrar deleite no perdão que é derramado sobre nós por causa da misericórdia do Senhor que se renova a cada amanhecer (Lm. 3:22). Nossa esperança repousa na superlativa misericórdia de Deus!

8) Considerar a importância das relações harmoniosas com base no perdão: “assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. O perdão que recebemos de Deus deve ser compartilhado com os que praticam algum mal contra nós (Col. 3:13). A vida cristã não existe à parte do perdão, é um requisito essencial para todos os relacionamentos.

9) Considerar que os recursos de Deus são suficientes: “não nos deixes cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. Nas Escrituras não faltam exemplos de Deus guardando o seu povo. Além disso, Ele nos provisiona com recursos espirituais para não sermos enganados pelas astúcias do nosso velho homem, do mundo ou de Satanás. O crente precisa reconhecer diariamente que se está de pé é somente pela graça de Deus. Alguns textos importantes que comprovam que Deus nos supre de recursos para que sejamos vitoriosos na vida cristã: 1 Co. 1: 13; 2 Pe. 1:3-4.


Estudo do Sermão do Monte
Escola Bíblica Dominical - Jovens
IBR Jardim Amazonas
Petrolina - PE


Equilíbrio

TEXTO: 1 Reis 21: 1-10

Creio que todos conhecem uma balança de pratos que ainda é utilizada em mercados ou nas feiras livres. O princípio de funcionamento da balança de pratos é o equilíbrio entre os pesos colocados em cada um dos pratos da balança. Para realizar a pesagem, coloca-se um ou mais objetos de peso conhecido (peso-padrão) e, no outro prato, o objeto que se deseja pesar. São acrescidos ou retirados mais pesos-padrões até que se estabeleça o equilíbrio entre os dois pratos, o que resulta no peso relativo do objeto.

No livro de Daniel lemos sobre a história do rei Belsazar que deu um grande banquete para mil convidados. Na festa regada a muito vinho, Belsazar mandou trazer os utensílios de ouro que vieram do templo de Jerusalém e utilizou-os. Mas apareceram dedos de mão de homem escrevendo na parede do palácio real a seguinte frase: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM. Daniel forneceu a correta interpretação da escritura na parede. A palavra TEQUEL significava: “pesado foste na balança e achado em falta” (Dn. 5:27). A vida de Belsazar estava em total desequilíbrio com o padrão requerido por Deus, por isso ele foi achado em falta na balança divina.

O texto bíblico em epígrafe nos mostra uma cena de falta de equilíbrio estrelada por Acabe e Jezabel. Estes dois líderes ímpios foram terríveis na história do povo de Israel. Eles foram duramente advertidos por Elias, mas ainda assim continuaram suas práticas pecaminosas sem nenhum constrangimento. O fato é que o pecado gera desequilíbrio em todos os contextos. Por exemplo, muitas famílias estão fragmentadas e sem equilíbrio por conta do orgulho dos cônjuges ou da falta de perdão mútuo.

Deus requer que os seus filhos vivam de maneira equilibrada. E este equilíbrio só surge quando nós andamos em retidão e firmados na Palavra de Deus, que é o nosso padrão. Nossas vidas devem ser diariamente aferidas com o padrão das Escrituras para que não haja desequilíbrio.

PODEMOS EXTRAIR DESTE TEXTO ALGUMAS LIÇÕES BÁSICAS PARA UM VIVER EQUILIBRADO


De acordo com o texto bíblico em epígrafe, quais são as lições básicas para um viver equilibrado?
Palavra-Chave: LIÇÃO

1) Não devemos nutrir a cobiça em nosso viver (vs. 1 a 3)

O rei Acabe tinha um palácio em Jezreel, mas ainda cobiçou a vinha de Nabote. Ele desejou possuir o que não lhe pertencia. A cobiça era proibida na Lei: “Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo nem o teu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença a teu próximo” (Ex. 20:17; ver também Dt. 5:21).

A Bíblia relata a história de Acã que cobiçou uma capa babilônica: “Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma barra de ouro do peso de cinquenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata, por baixo” (Js. 7:21). A cobiça deste homem trouxe juízo de Deus sobre todo o povo, que foi derrotado por uma cidadela chamada Ai.

A cobiça geralmente está ligada ao descontentamento no coração. O descontentamento com o que Deus já tem nos dado leva-nos a pensar que só seremos plenamente felizes quando tivermos algum bem material. Agostinho definiu a cobiça como sendo “desejar mais do que o suficiente.” A felicidade do crente não deve estar alicerçada em coisas ou bens materiais. A felicidade do crente deve estar alicerçada no seu relacionamento com Deus.

Paulo adverte o jovem pastor Timóteo: “Grande fonte de lucro é a piedade com contentamento” (1 Tm. 6:6), “porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1 Tm. 6:10). No grego, cobiça é oregomai = “esticar-se a fim de tocar ou agarrar algo”.

Muitos crentes vivem vidas totalmente desequilibradas por causa da cobiça que domina suas vidas. (Ec. 5:10) . São pessoas que nunca se satisfazem e cobiçam as vinhas ao seu redor, mesmo possuindo um palácio. O ensino de Jesus sobre a busca desenfreada por tesouros terrenos é claro e direto. Ele disse: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt. 6:19-21).

2) Não devemos nutrir a autopiedade em nosso viver (vs. 4 a 6)

Nabote não quis vender a sua vinha para o rei Acabe porque era herança dos seus pais. Acabe ficou muito desapontado e desgostoso. Um escritor ironizou a cena da seguinte forma: “sufocando sua raiva e frustração, o rei saiu dali batendo os pés, entrou no palácio e se deitou em sua cama de cara para a parede e com o dedo enfiado na boca.” Coitado de mim! Ninguém me ama, ninguém me quer! Oh, céus, oh, vida oh, azar!

O profeta Elias “pediu para si a morte, e disse: Já basta, ó SENHOR; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais” (1 Rs. 19:4). Ele buscou se esconder numa caverna em Horebe e ali ficou lamentando diante das circunstâncias. Mas Deus não alimentou o profeta com “mimos”, pelo contrário, o comissionou para realizar novas tarefas: ungir a Hazael, rei sobre a Síria, a Jeú rei sobre Israel, e a Elizeu como profeta.

A autopiedade é uma manifestação do “velho homem” que deseja estar no centro das atenções. E quem se coloca na condição de vítima quer ser mimado e apoiado em suas lamentações pecaminosas. Alguém disse que “a autopiedade é irmã gêmea do orgulho”. As pessoas que se magoam muito facilmente possuem uma imagem muito elevada de si mesmas e não reconhecem isso. Mas o fato é que crentes mimados nunca chegarão a maturidade! Precisamos agir com confiança na pessoa de Deus diante das circunstâncias adversas que nos contrariam, e não cruzar os braços e afogar-nos em lamentos.

A maior luta da vida cristã é contra o inimigo mortal que temos dentro de nós mesmos: nosso velho homem egoísta. O velho homem não quer morrer, antes quer ser glorificado, exaltado e bajulado. Precisamos diariamente pregar para nós mesmos como fez Davi: “Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a Ele que é a minha salvação” (Salmo 42: 5, 11).

3) Não devemos nutrir a malícia em nosso viver (vs. 8 a 13)

Agir com malícia é tramar ciladas para obter o que se deseja. Como muitos pensam, a malícia não tem conotação apenas sexual. Tudo que é feito com objetivos maldosos possui o carimbo da malícia. Foi o que Jezabel fez prontamente assim que soube da recusa de Nabote em negociar a vinha. Ela arquitetou um plano para acusar Nabote de blasfêmia contra Deus e contra o rei Acabe. Logo depois, homens malignos o apedrejaram até a morte.

Na sua terceira carta, João escreve sobre um homem chamado Diótrefes que gostava de exercer a primazia na igreja. Ele era astuto, usava palavras maliciosas contra os apóstolos, e semeava discórdias dentro da igreja. Suas atitudes demonstravam que ele não pertencia a Deus (3 Jo. 9-11), e por isso merecia severa repreensão. Será que existem “Diótrefes” hoje em dia, que agem com maldade para garantir vantagens dentro da igreja? O apóstolo Paulo também advertiu severamente os crente de Éfeso: “Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia” (Ef. 4:31).

A malícia começou no Jardim do Éden, quando Satanás usou a sua astúcia para despertar o desejo de Eva pelo fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A malícia sempre está ligada com mentiras e enganos. Talvez a nossa malícia não se manifeste de forma tão cruel como tramar a morte de alguém. Mas a nossa malícia pode estar embutida na forma como nos relacionamos querendo obter vantagens à custa das pessoas.

Curiosamente, no grego a palavra malícia é a mesma palavra para maldade (kakia), que significa “iniquidade que não se envergonha de transgredir princípios bíblicos”.