quinta-feira, 14 de junho de 2012

Uma fé genuína

TEXTO: Salmo 125

No Brasil, a comercialização de produtos que imitam o produto original já se tornou febre. Recentemente um amigo de trabalho pediu que lhe desse algumas dicas para utilizar o seu novo telefone. Quando olhei o telefone percebi o desenho conhecido da marca Apple, uma maçã mordida. Pensei que ele tinha comprado um telefone celular famoso, o iPhone, que custa em torno de R$ 1.800,00 a R$ 3.000,00. Mas logo vi o nome diferente. Não era o iPhone original, era outra marca: o iPhoen (chinês), que custa em torno de R$ 150,00. A imitação do iPhone tinha apresentado alguns problemas técnicos já no primeiro dia de uso.
E por falar em produtos originais, o texto em epígrafe faz referência à fé genuína em Deus. Não se trata aqui de uma caricatura ou imitação de fé. Não se trata de uma "fé pirata", muito pelo contrário, a fé que o salmista expressa neste cântico é original e verdadeira. O Salmo 125 faz parte de uma coletânea de salmos conhecidos como salmos dos peregrinos. Eram hinos entoados nas peregrinações do povo de Israel para Jerusalém quando iam adorar ao Senhor no templo. Este salmo é uma expressão da fé do peregrino no Deus de Israel. E como nós também somos peregrinos neste mundo, podemos extrair muitas lições deste salmo. Diante do que foi comentado, eu gostaria de afirmar o seguinte:

"SOMENTE A FÉ GENUÍNA EM DEUS PRODUZ ALGUMAS MARCAS EM NOSSO VIVER"
Mas de acordo com este texto, quais são as marcas que somente a fé genuína em Deus produz em nosso viver? Vamos estudar pelo menos três MARCAS:


1) A MARCA DA ESTABILIDADE (v. 1)
"Não se abala, firme para sempre". O peregrino neste momento está chegando próximo de Jerusalém e avista o belo monte Sião. O cântico expressa a confiança que o peregrino tem em Deus, uma fé que não se deixa esmorecer ou abalar. A palavra abalar possui o significado de cambalear, tremer ou escorregar. O peregrino confiava na firmeza proveniente da confiança em Deus.
A fé genuína do verdadeiro discípulo é comprovada pela estabilidade. No final do Sermão do Monte, Jesus mostrou que uma casa edificada sobre a rocha possuía estabilidade apesar dos ventos e da chuva. Esta estabilidade é evidência de uma fé genuína que "ouve as Palavras de Cristo e as pratica" (Mateus 7: 24-27). Jesus nos ensina que só teremos vida estáveis se estivermos edificados sobre a rocha.
Muitas pessoas vivem como se estivessem num carrinho de montanha-russa: ora estão confiando em Deus, ora estão confiando em si mesmas; ora estão comprometidas com Cristo, ora estão comprometidas com o mundo. Definitivamente este não é o tipo de vida abundante que Cristo comprou para os remidos. Nossas vidas devem ter a marca da estabilidade e do compromisso genuíno com Cristo e Sua Palavra. Não podemos viver como cristãos no domingo e como pagãos no restante da semana. Somos chamados a testemunhar com firmeza e apresentar ao mundo a marca da estabilidade.
A estabilidade não está para os que duvidam ou para os que ficam em cima do muro. O crente sincero e fiel não volta atrás (Lc. 9:62), não vive solto ou sujeito a todo vento de doutrinas (Ef. 4:14) e a toda cilada deste mundo (1 Jo. 2:15-17). O autêntico crente está firmado em Deus e por isso permanece firme. Aqueles que dizer ser cristãos e vivem numa eterna "montanha-russa espiritual" precisam averiguar se a fé que professam é de fato genuína. Deus não quer que fiquemos em cima do muro, oscilando de um lado para o outro. Precisamos firmar o compromisso com Deus e Sua Palavra.

2) A MARCA DA SERENIDADE (v. 2)
No versículo 2, o salmista faz uma comparação entre Jerusalém e o povo de Deus, e assim como os montes cercam ou protegem Jerusalém, assim está o Senhor para com o Seu povo. A certeza de que Deus está conosco é imprescindível, pois ela gera serenidade e ânimo. É importante frisar que os montes em redor de Jerusalém eram uma espécie de proteção ou escudo natural contra os inimigos que habitavam aquela região. O peregrino podia confiar sem temer, pois a proteção do Senhor lhe outorgava serenidade.
Paulo e Silas estavam presos no cárcere com o pés presos no tronco. "E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurança" (At. 16:23). Mas apesar da privação de liberdade, eles tinham uma fé genuína em Deus e isto trouxe serenidade para os seus corações. "Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam" (At. 16:25). Martinho Lutero afirmou algo que me faz refletir: "Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno."
Nas dificuldades que enfrentamos neste mundo a certeza da presença do Senhor é o alento que não podemos esquecer. A Trindade santa está sempre conosco: temos a promessa do nosso Pai que cuida de todos os seus filhos, sabemos que Jesus garantiu que estaria conosco até a consumação dos séculos e temos o Espírito Santo que habita em nós. Estas verdades preciosas devem encher o nosso coração de serenidade. Somente a fé genuína em Deus produz esta marca no viver de todo servo do Senhor.
Às vezes cantamos muito superficialmente o hineto que diz: "calmo, sereno e tranquilo, sinto descanso neste viver. Isto deve a um amigo e só por Ele eu pude obter." Será que o nosso coração descansa realmente sereno por saber que Deus está em derredor e seu cuidado é constante e leal? Será que as pessoas que convivem conosco diariamente podem ver esta marca em nosso viver? Ou será que andamos sempre angustiados, temerosos e aflitos? O nosso coração precisa "calar e sossegar, tal como criança desmamada" (Sl. 131:2). Esta serenidade é uma marca produzida somente pela fé irrestrita em Deus. Manter a serenidade quando tudo vai bem é fácil, mas é nas intempéries da vida que a fé genuína se expressa de forma clara. Saiba que Deus nunca nos abandonará em meio às lutas que temos que enfrentar. Nem a ansiedade e nem os preconceitos quanto à pessoa de Deus são convenientes para os remidos.

3) A MARCA DA INTEGRIDADE (v. 3 e 4)
O salmista nos mostra que os ímpios querem forçar de todo jeito que o homem justo ceda aos seus ardis. Mas a fé genuína produz a marca da integridade. Deus fortalece os seus filhos para que "o justo não estenda a mão à iniquidade." Somente os bons e retos de coração são íntegros de fato, pois expressam um testemunho que nasce da genuína fé em Deus. Não se trata de exibicionismo, mas de um viver digno do evangelho de Cristo. A integridade é uma marca que autentica que nossas vidas foram verdadeiramente transformadas pelo poder de Deus.
Integridade não é um mero comportamento exterior. A integridade do ponto de vista bíblico é "retidão que nasce no coração". A vida de dois homens na Bíblia ilustra bem o que é integridade. José foi vendido por seus irmãos e tratado como escravo. Logo depois foi acusado de assédio sexual e jogado numa prisão. Apesar das investidas da mulher de Potifar, este homem não cedeu porque temia a Deus e não queria desagradá-Lo em hipótese nenhuma. Isto é ser íntegro! Mesmo quando a pressão dos ímpios é grande, alguém que tem uma fé genuína não cede às investidas. Foi Deus quem disse a respeito do seu servo Jó: "Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal" (Jó 1:8). O caráter do cristão precisa ser tecido com a integridade.
Não podemos afirmar que somos cristãos se a marca da integridade não está em nosso viver. Também não podemos alegar nenhuma desculpa porque a Bíblia é clara. A fé genuína imprime nas consciências o desprazer de Deus pela transgressão de sua vontade e a importância de uma vida de obediência e integridade. Se não estamos vivendo integramente é porque há vazamento em nosso cristianismo. Não estou afirmando que a fé genuína produz perfeição, porque sempre teremos algum pecado com o qual devemos lutar enquanto vivermos neste mundo. Mas a fé genuína que regenera o homem transforma diariamente o seu coração.
Há muitos que se dizem cristãos, mas continuam vivendo como ímpios, andando nos caminhos dos pecadores e assentando-se nas rodas dos escarnecedores (Salmo 1). A fé que opera a salvação no crente é sempre acompanhada dos frutos espirituais. O escritor aos Hebreus escreveu que "sem santidade ninguém verá o Senhor" (Hb. 12:14). O que ele quer dizer com isto? Em outras palavras, sem transformação de vida não há prova de que houve salvação na vida de uma pessoa que afirma estar rumando para o céu. Certa vez ouvi uma mensagem do pastor Timóteo sobre o crente pirata: "uma fé pirata produz crentes piratas". Serve como um alerta.


Marcos Aurélio de Melo

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