terça-feira, 19 de março de 2019

Judas e Pedro

Vemos a diferença entre o desespero destrutivo e a tristeza do evangelho em dois dos discípulos. Após a crucificação de Jesus, Judas chorou com sinceridade mas sem qualquer esperança, enquanto Pedro experimentou a tristeza do evangelho e, portanto, grande bênção. No primeiro momento, o choro esmagou aquele que chorou, mas, no segundo momento, o choro levou a Cristo aquele que chorou, para receber misericórdia. O choro de Pedro revelou seu desespero confiante de que Jesus o ajudasse da maneira que somente Jesus poderia fazê-lo, mas Judas chorou de uma maneira sem Cristo, como se estivesse completamente além de qualquer esperança. 

Todos conhecem Judas como o discípulo que traiu Jesus por dinheiro, mas nem todos sabem (ou lembram) que Judas ficou triste por fazer isso. Mateus 27.3-4 diz que Judas, ao ver o que acontecera com Jesus, “tocado de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo sangue inocente”. Judas sentiu com seriedade seriedade o seu pecado e manifestou todos os sinais de remorso apropriado.

- Viu o seu pecado pelo que realmente era: a condenação de Jesus. 

- Admitiu especificamente o seu pecado, sem desculpas. 

- Fez restituição pelo seu pecado, ao devolver as trinta moedas de prata. 

- Isentou Jesus de qualquer culpa, chamando-o de inocente. 

Judas viu o que o seu amor ao dinheiro fez – ele viu que Jesus teve de morrer por causa de seu materialismo e avareza. Mas faltou uma coisa. O que Judas não viu foi Jesus morrendo espontaneamente e morrendo, de fato, por pecadores como ele. Judas não viu a Jesus como cheio de graça, amor e misericórdia. Portanto, a sua culpa era muito grande para ele. Judas, atirou “para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se” (Mt 27.5). 

É bom que Mateus nos tenha dado outro quadro de choro para contrastar com este de Judas. Pouco antes de escrever a história da tristeza não evangélica de Judas, Mateus escreveu a história da traição e tristeza de outro discípulo. Pedro havia negado a Jesus três vezes; e, quando o galo cantou, Pedro se lembrou de que Jesus dissera que ele faria aquilo. Por isso, ele saiu “e chorou amargamente” (Mt 26.75). Ou seja, Pedro foi a algum lugar e transbordou seus olhos; chorou alto, com uma tristeza que invadiu toda a sua alma. Estava cheio de tristeza e mostrou isso. Como Judas, Pedro traiu a Jesus e, como Judas, sentiu remorso profundo. Todavia, Pedro não se suicidou. Em vez disso, parece que seguiu em frente com algum tipo de esperança em Jesus. Sabemos disso pela maneira como ele reagiu na próxima vez em que viu a Jesus. Quando Pedro reconheceu que era Jesus quem estava em pé na praia, enquanto ele pescava, lançou-se na água e nadou até à praia (Jo 21.1-8). O barco deles não estava muito longe da praia – a apenas uns 90 metros – mas Pedro não podia esperar para encontrar-se com Jesus. 

Essa é a diferença entre a tristeza do evangelho e todo outro tipo de tristeza. Em última análise, uma foge de Jesus a outra corre em direção a Jesus. Uma olha para Jesus na cruz e se focaliza em quão terrível é o pecado que o colocou ali, enquanto a outra se focaliza em quão admirável é o amor que suportou tal sofrimento por meu pecado. De fato, “o evangelho cria somente um tipo de tristeza pelo pecado que é pura e não destrói”. Sim, devemos chorar o nosso pecado, não como uma abstração, nem apenas porque transgredimos as leis de Deus, nem porque governamos a nossa própria vida; em vez disso, devemos chorar o nosso pecado porque vemos o nosso pecado (e a nossa justiça própria) como a nossa arma de assassinato na execução injusta de Jesus Cristo, que tanto nos amou. Esse tipo de tristeza nos fará odiar o nosso pecado e, ao mesmo tempo, amar o nosso Salvador cada vez mais.



Extraído de: Glenn, Robert W.. Crucificando a Moralidade: O Evangelho das Bem-Aventuranças. Editora Fiel. Edição do Kindle. 

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