sábado, 7 de fevereiro de 2015

A PUREZA CENTRALIZADA EM CRISTO

Corinto era um cidade conhecida internacionalmente pela sua devassidão. Era uma sociedade permissiva e corrompida moralmente. Não diferente dos nossos dias, um mundo imensamente obcecado pelo sexo como panaceia universal para o vazio de seus habitantes. Em nome da liberdade outorgada por Cristo, a maior premissa dos coríntios era: "Todas as coisas me são lícitas" (v. 12). Talvez fosse um lema coríntio ou uma frase de efeito usada pelo próprio Paulo. Mas não pode ser defendida cegamente sem um contexto devido e claro. Assim como a famosa frase que Agostinho proferiu certa feita: "Ame a Deus e faça o que quiser."

A chamada publicitária "Just do it" (apenas faça) é bastante comum nos outdoors. A ideia de não se importar com as implicações morais e as consequências danosas de um ato é a tônica do nosso tempo. Uma das muitas pichações nos muros da cidade de Berkeley, na Califórnia, no fim dos anos 60, dizia: "O sexo liberta".

O dilema de Paulo foi acentuado pela presença dos antinomianos e dos legalistas na igreja de Corinto. Ele estava fadado a lutar contra os dois lados: se fizesse concessões demasiadas numa direção, daria muita liberdade ao extremo oposto. Andar no Espírito sempre é equilibrar-se na corda bamba, entre a licenciosidade e o excesso de regras e regulamentos.

É importante lembrar que mundo de cultura grega no tempo de Paulo fomentava uma atitude estoica para com o corpo, como se ele fosse a camisa-de-força da alma. Um provérbio grego da época dizia: "O corpo é uma sepultura." A ideia de banalizar o corpo é diabólica. Dar ao corpo plena liberdade de ação e satisfação de cada capricho e fantasia era uma prática aceita e incentivada, porque este afinal não tem significado moral algum e certamente não afeta a alma e o espírito.

A frase “nem tudo convém” significa que não é proveitoso, não é útil ou não traz acréscimo. Paulo deseja que tudo o que façamos tenha um resultado positivo e efetivo em nossas próprias vidas e nas vidas com que nós cruzamos no dia-a-dia. É verdade que o evangelho cristão traz uma mensagem de liberdade, mas isso não significa que toda e qualquer coisa seja conveniente ou aconselhável. O modo como procedemos deve ser genuinamente conveniente para o nosso testemunho diário diante dos incrédulos.

Paulo ainda acrescenta: “Não me permitirei escravizar por nada.” Na verdade, o homem que precisa expressar a sua liberdade está escravizado à necessidade de provar que é um homem livre. O homem genuinamente livre não tem nada a provar. A verdadeira liberdade é não ser escravos do pecado, e sim escravos de Cristo. Nosso direito à liberdade está relacionado com a consciência tranquila de que o pecado não nos cega ou nos domina. Paulo é firme em declarar que não renderá o controle de sua vida a qualquer coisa ou pessoa, a não ser ao "Senhor Jesus Cristo" e ao "Espírito de Deus". Ele se considera um escravo de Jesus Cristo e por isso não permitirá, de modo algum, que a sua pessoa ou o seu comportamento sejam controlados por qualquer outra força.

Paulo continua o seu argumento destacando a questão do corpo dado a todo homem. Há uma diferença enorme entre o alimento, que é digerido pelo estômago e lançado fora pelo intestino, e o relacionamento sexual, que afeta a pessoa toda e não pode ser desprezado levianamente como um fenômeno puramente fisiológico. Os coríntios consideravam o sexo simplesmente como um apetite a ser saciado, não uma dádiva a ser utilizada no contexto apropriado designado por Deus. Mas Paulo insiste que apresentemos os nossos corpos a  Deus como sacrifício vivo. Se não forem expressas em nosso corpo, a obediência ou a desobediência não serão expressas em nenhum outro lugar. Deus não se dirige a nós como se fôssemos apenas mente, ou emoção, ou vontade, mas como pessoas com corpos. Seu interesse não está em atos abstratos, como o adultério em teoria, ou a imoralidade em teoria, mas o seu interesse está na pessoa toda que pratica tais atos.

A argumentação de Paulo prossegue nos versos seguintes (13-20) destacando pontos importantes para defender a pureza centralizada em Cristo:

a) O propósito do corpo no Senhor (v. 13)

"O corpo é para Cristo, para lhe pertencer e para servi-lo; e Cristo é para o corpo, para nele habitar e santificá-lo." Deus tem um propósito para os nossos corpos, e certamente não devemos ser indulgentes com eles em relação a qualquer tipo de imoralidade sexual

b) A ressurreição do corpo no Senhor (v. 14)

Nossos corpos não são dispensáveis, no sentido final: são a matéria-prima de uma criação mais gloriosa. É o poder dinâmico (dynameos) do Senhor que garante a ressurreição de nossos corpos; nenhum outro poder na terra poderia alcançar tal resultado. Devemos olhar para os nossos próprios corpos mortais frágeis e dizer com a mesma certeza: "Eu creio na ressurreição do corpo."

c) A interação do corpo com o Senhor (vs. 15-17)

Se os membros físicos de cada cristão realmente pertencem a Cristo, é inconcebível (como também imoral) abusar do corpo, buscando o relacionamento sexual com prostitutas. A intimidade envolvida no ato sexual não deve ser de modo algum banalizada pelo cristão, que ao buscar o sexo por meio de prostituição (impureza) torna-se um só corpo em pecado com o parceiro sexual.

d) A habitação do corpo pelo Senhor (v. 19)

Paulo prossegue afirmando que "o vosso corpo é santuário do Espírito Santo" (v. 19). O nosso corpo não é um simples invólucro orgânico de notável composição: é templo do Espírito Santo. Antes, Paulo afirmou que toda a igreja de Deus em Corinto era templo de Deus, advertindo seriamente qualquer um que pudesse destruir esse templo. Agora, ele usa a mesma metáfora para relembrar aos indivíduos cristãos em Corinto que Deus concedeu a cada um o dom da habitação do seu Espírito Santo de Deus. Este é ao mesmo tempo um privilégio e uma grande responsabilidade.

e) A redenção do corpo pelo Senhor (vs. 19-20)

"Não sois de vós mesmos... fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo." Antes de começarem a experimentar a liberdade para a qual Cristo os libertou, os coríntios encontravam-se na mais servil escravidão. Eram escravos de si mesmos, de seus desejos egocêntricos, da autossatisfação e das paixões físicas. Jesus redimiu os crentes mediante preço infinito e gracioso (o Seu próprio sangue), pagando o resgate necessário. Fomos libertos da futilidade e da servidão do estilo de vida anterior. Já que não pertencemos a nós mesmos, devemos ter uma postura digna para agradar aquele que nos comprou.

Urge que aprendamos do Espírito de Deus o que significa glorificar a Deus em nossos corpos. Paulo ordena energicamente aos coríntios que fujam de dois pecados: da imoralidade (6:18) e da idolatria (10:14). José precisou fugir dos ataques sexuais da esposa de Potifar. Os cristãos atualmente não precisam ser cidadãos de Corinto, nem atraentes visitantes das cortes egípcias imorais, para descobrirem a sabedoria prática de fugir das tentações quando elas aparecem. Somente os loucos é que zombam do pecado.

 

Estudo bíblico com base no livro: A Mensagem de 1 Coríntios - A vida na igreja local (Autor: David Prior)

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