terça-feira, 6 de setembro de 2011

RESPONSABILIDADES DO SERVO DE DEUS

TEXTO-BÍBLICO: DEUTERONÔMIO 4: 1-8

INTRODUÇÃO

Na maioria das famílias, os filhos passam por etapas de desenvolvimento que se repetem. Chega uma determinada idade no desenvolvimento de uma criança que ela passa a assumir algumas pequenas responsabilidades outorgadas pelos pais, por exemplo, lavar os pratos do almoço. O tempo vai passando e o adolescente passa a assumir novas responsabilidades, por exemplo, ir ao banco depositar um dinheiro no caixa eletrônico. Chega a juventude e as responsabilidades já se tornam mais substanciais, por exemplo: dirigir o carro da família ou viajar sozinho de avião. E chegará o tempo em que este jovem irá casar e então terá que assumir responsabilidades ainda maiores como líder de um lar, provedor e sustentador. A mulher também assumirá responsabilidades que importantes para o equilíbrio dentro do seu lar. É assim que acontece na maioria das famílias e poderíamos resumir esta linha de pensamento da seguinte forma: “quanto maior a liberdade, maior é a responsabilidade envolvida.”

E por falar em responsabilidades, o texto bíblico que foi lido apresenta algumas responsabilidades que Deus delineou para povo de Israel. Eles foram libertos da escravidão do Egito e depois de 40 anos peregrinando no deserto, agora estavam prestes a entrar de fato na terra de Canaã prometida ao patriarca Abraão. Neste contexto há uma nova porta aberta para os filhos de Israel. Dentro em breve eles teriam uma terra fértil onde poderiam plantar e colher para alimentar suas famílias. E é verdade que as bênçãos de Deus sempre são acompanhadas de responsabilidades para os seus filhos.

O texto bíblico inicia com uma frase que se repete muito no Antigo Testamento: “Agora, pois, ouve ó Israel.” A palavra traduzida como “ouvir” significa prestar atenção completa, sem perder nenhuma palavra. Então, o que está em evidência aqui é que Moisés convoca o seu povo para estar 100% atento às responsabilidades que deveriam ser assumidas integralmente deste momento em diante.

“O SERVO DO SENHOR PRECISA ASSUMIR AS RESPONSABILIDADES APRESENTADAS NESTE TEXTO”

Algumas observações são importantes. Primeiro, as responsabilidades presentes neste texto bíblico devem ser assumidas individualmente, isto é, não é possível transferir ou terceirizar estas responsabilidades a outra pessoa. Segundo, as responsabilidades presentes neste texto não podem ser postergadas ou adiadas. É necessário que cada crente assuma imediatamente tais responsabilidades. E por último, as responsabilidades presentes neste texto não podem ser separadas. Ou seja, é necessário que o crente assuma todas estas responsabilidades, não apenas uma ou duas delas.

DE ACORDO COM ESTE TEXTO, O SERVO DO SENHOR PRECISA ASSUMIR PELO MENOS 4 (QUATRO) RESPONSABILIDADES.

I – A RESPONSABILIDADE DE NÃO ADULTERAR A PALAVRA DO SENHOR (VS. 2)

Os estatutos que o Senhor apresentou ao povo de Israel eram bem definidos. Moisés, foi encarregado por Deus para transmitir ao povo a Sua vontade, que deveria ser obedecida na íntegra ("Nada acrescentareis... nem diminuireis"). A responsabilidade do povo é bem clara neste versículo: os mandamentos do Senhor não deveriam ser adulterados para algum tipo de conveniência que o povo julgasse importante. A Palavra de Deus é suficiente e não necessita de acréscimos para sua completa eficácia. E nada que nela está pode ser suprimido sem os prejuízos decorrentes. Em Pv. 30:6 lemos: “Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso.”

Paulo, escrevendo à igreja de Corinto defende o seu ministério como apóstolo: "não andando com astúcia, nem adulterando (doloo) a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade" (2 Co. 4:2). Paulo tinha a sua consciência tranqüila, pois nunca se utilizou de manipulação ou astúcia na pregação da Palavra de Deus. Ele sempre priorizou a manifestação da verdade, mesmo que tenha sido desprezado e humilhado por isso. Assim como Paulo, não devemos ludibriar ninguém com ensinos desautorizados pelas Escrituras. Esta é uma grande responsabilidade que pesa sobre cada um de nós.

Os fariseus eram peritos em adulterar a Palavra de Deus. Suas interpretações pessoais das Escrituras valiam ouro. Mas Jesus várias vezes repreendeu severamente estes “homens separados” porque se assentavam na cadeira de Moisés para adulterar a palavra de Deus.

Quando a Palavra de Deus é adulterada, começam a surgir ideias absurdas para acrescentar ou diminuir a abrangência das Escrituras. É verdade que os homens podem colocar nos lábios de Deus o que ele nunca falou, legislar em nome do Senhor e criar um evangelho totalmente estranho. Mas a Bíblia fala que eles serão julgados por isso. Além disso, quando a Palavra do Senhor é adulterada não surte o efeito necessário na vida das pessoas.

Não podemos ficar nem além e nem aquém do padrão das Escrituras. Quando ficamos aquém do padrão bíblico nos tornamos permissivos – o pecado já não passa a incomodar tanto. Quando ficamos além do padrão bíblico nos tornamos legalistas – tudo passa a ser ditado através de regras e normas. Os dois extremos são distorções da Palavra de Deus. O padrão correto é o que a Bíblia estipula. A Bíblia não nos outorga o direito de criar “achismos” ou “modismos”. A autoridade de qualquer ministro da Palavra nasce e morre nas Escrituras.

Muitas vezes teremos a oportunidade de apresentar a Palavra de Deus a alguém. Não devemos diluir a mensagem bíblica para ganhar mais um ouvinte; devemos falar o que ele precisa ouvir e não o que ele quer ouvir. Nos contatos diários com outras pessoas, a nossa responsabilidade primordial é sermos fiéis na transmissão dos ensinos bíblicos, mesmo que custe a nossa rejeição.

Lembre-se: Quando a palavra de Deus é adulterada os prejuízos são enormes. Por isso nós não devemos sair por aí espalhando falsas esperanças nome do Senhor, como os profetas da época de Jeremias. Cristo nunca prometeu o céu na terra ou uma vida sem sofrimentos, e nós, como discípulos d’Ele, devemos manter o mesmo discurso. Não seja um vendedor de ilusões, continue priorizando a verdade da Palavra de Deus.


II – A RESPONSABILIDADE DE NÃO IGNORAR A SANTIDADE DO SENHOR (VS. 3-4)

O fato que é relembrado neste versículo está registrado em Números 25:1-9, quando o povo de Israel começou a se prostituir com as filhas dos moabitas e sacrificar a Baal. Deus acendeu a sua santa ira contra os desobedientes e 24.000 pessoas morreram da praga. Enquanto muitos se lamentavam, um homem de Israel levou para dentro de sua tenda uma mulher midianita à vista de todos. Os dois foram mortos por Finéias com uma lança, e somente assim a praga cessou. Este episódio nos mostra que Finéias foi zeloso pelo Nome e pela santidade do Senhor. E o mesmo Deus que puniu severamente os adoradores em Baal-Peor continua vindicando a santidade do Seu Nome (Ez. 36:23). Ele continua sendo o mesmo Senhor glorificado em santidade.

Os sacerdotes tinham que usar uma mitra na testa onde estava escrito numa lâmina de ouro puro: "Santidade ao Senhor." (Ex. 28:36). Isto era um lembrete constante para o sacerdote sobre a responsabilidade de não ignorar a santidade de Deus quando fosse oferecer os sacrifícios e ofertas. Quando Isaías teve a visão no templo, ele ouviu os serafins que "clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória" (Is. 6:3). A santidade de Deus foi impactante para o profeta Isaías porque ele contemplou a sua própria pecaminosidade.

“Apenas quando atentarmos para santidade de Deus conforme revelada na Bíblia, poderemos enxergar nossa total dependência da graça divina.”

Nesta sociedade moderna em que tudo é relativo, nós precisamos ser relembrados constantemente sobre a santidade de Deus. Vivemos dias de indolência mental, moral e espiritual, portanto um tempo de pensamentos superficiais em relação à pessoa de Deus e aos assuntos eternos. Nós corremos um sério risco de criar uma concepção de Deus que não se enquadra na revelação bíblica. O Deus Santo que a Bíblia nos mostra não é adaptável ao estilo de vida que nós queremos ter. À luz da santidade do Senhor somos nós quem precisamos redirecionar nossos alvos e valores.

O que nos faz pensar que houve alguma mudança no caráter de Deus? Talvez na teoria, a nossa convicção permaneça firme e conhecemos muitos versículos que destacam a santidade do Senhor. Mas na prática podemos estar vivendo de modo reprovável, ignorando o fato que Deus é santo.

Quando ignoramos a santidade do Senhor passamos a abrigar pensamentos pecaminosos em nossas mentes que se em pouco tempo podem se tornar atitudes pecaminosas. É por isso que precisamos ter sensibilidade espiritual para perceber de imediato tudo aquilo que não agrada ao Senhor em nossas vidas. Por exemplo, nos dias de hoje a pornografia tem destruído muitas famílias cristãs. A pornografia transforma pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus em objetos de desejo e prazer. Isto é uma afronta à santidade de Deus.

Quando se considera o sofrimento que era necessário a Cristo padecer (Lucas 9:22), as feridas reais que Cristo levou (João 19:1-30) e como Deus moeu o Seu Unigênito (Atos 2:23; 4:27-28), podemos entender um pouco mais a santidade de Deus. Deus nos redimiu por meio de um alto preço, para que também sejamos povo santo do Senhor: “Porquanto está escrito: Sede santos, porque Eu Sou Santo” (Lv. 11:44). Santidade nunca foi opcional no cristianismo. É o fruto que se espera de um novo nascimento espiritual genuíno. “Sem santificação ninguém verá ao Senhor” (Hb. 12:14). A santidade convém ao povo que foi separado para o louvor da glória de Deus.


III – A RESPONSABILIDADE DE SER UMA AUTÊNTICA TESTEMUNHA DO SENHOR (VS. 5-6)

O povo de Deus também tinha uma responsabilidade grandiosa: testemunhar a glória de Deus entre as nações (Gn. 22:18). Deus estabeleceu estatutos e preceitos para o Seu povo: “para que assim façais no meio da terra que passais a possuir.” Os mandamentos do Senhor deveriam ser obedecidos criteriosamente e isto iria despertar a atenção e admiração das nações em redor. A nação de Israel tinha um papel importante pois recebeu os oráculos de Deus, e deveria apresentar ao mundo a

O viver do cristão deve despertar a atenção das pessoas em redor. Por isso é que o cristão precisa ser sal e luz, para que todos percebam claramente a diferença que há em sua vida. No Sermão do Monte, em Mateus 5: 14-16, Jesus falou aos discípulos: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.

Sempre me impressionou o firme testemunho de Daniel. Assim que chegou na Babilônia ainda adolescente, Daniel “resolveu, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia” (Dn. 1:8). Mesmo com toda a pressão de uma sociedade pagã, este jovem temia a Deus e conhecia a sua responsabilidade como testemunha. No capítulo 6 do livro, Daniel é confrontado com a possibilidade de virar comida de leões caso não seguisse a ordem do rei Dario. Mas a sua confiança em Deus o levou a testemunhar sua fé: ele continuou orando a Deus com as janelas abertas três vezes por dia.

O testemunho de alguém que se curva diante da autoridade da Palavra de Deus causa impacto em outras pessoas. Mas quando uma pessoa alega ser cristã e vive sem se importar com a responsabilidade de ser uma autêntica testemunha do Senhor, o nome de Cristo é blasfemado.

É necessário que o cristão viva de modo digno do Evangelho e em conformidade com as instruções da Palavra de Deus. Este é o ensino de Paulo na carta aos Efésios 4:1. Depois de ensinar a doutrina da graça e a soberania de Deus na salvação do homem, Paulo exorta os crentes a “andar de modo digno da vocação a que foram chamados.” Se o crente não se preocupa com o seu testemunho, deve começar a repensar sua salvação, porque o evangelho não apenas é poder de Deus para a salvação, mas também para a conformação do homem à imagem de Jesus Cristo.

As pessoas com quem você se relaciona e convive no seu dia-a-dia notam o bom perfume de Cristo exalando da sua vida? Qual a influência que você tem exercido nas pessoas que se encontram diariamente com você? Você tem buscado andar nos passos de Jesus, imitando-O em seus exemplos? Gosto de dizer que é necessário que o cristão ande na contra-mão dos valores deste mundo, somente assim o seu testemunho causará impacto nas pessoas. O cristianismo autêntico é aquele em que os frutos do Espírito se tornam visíveis na vida dos que professam a Cristo como Senhor. Somos as testemunhas de Cristo a todo momento. Ele nos fez um sério alerta em Lucas 9:26: “Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos.” Que possamos viver testemunhando o que Cristo tem nos ensinado!


IV – A RESPONSABILIDADE DE VALORIZAR A COMUNHÃO COM O SENHOR (VS. 7)

O questionamento deste versículo é bem instrutivo. “Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?” A palavra traduzida como chegados a si também pode ser traduzida como próximo /perto, como fez a NVI: “Pois, que grande nação tem um Deus tão próximo como o Senhor, o nosso Deus, sempre que o invocamos?” A proximidade com Deus deveria ser vista como um enorme privilégio. De todas as nações que existiam, Deus escolheu o povo de Israel para ter um relacionamento de comunhão.

O salmista Davi valorizava sobremaneira a comunhão com o Senhor e por isso declarou: “Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade” (Salmo 145:18). "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido” (Salmo 34:18). “Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água. Porque a tua graça é melhor do que a vida” (Salmo 63:1, 3).

A comunhão com Deus é uma realidade para nós através do sacrifício de Cristo. Por meio do Seu sangue temos livre acesso, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou. Por isso o autor da carta aos Hebreus escreveu: "aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé". Fomos abençoados com a liberdade de comungar com o Senhor a qualquer momento porque Jesus rasgou o véu que antes fazia separação. Mas será se temos desfrutado deste privilégio singular? Será que cantamos o Hino 288 do C. C. com sinceridade em nossos corações? “Em comunhão contigo estar/Sempre contigo conversar/Perto sim, bem perto/Tua vontade discernir/Teus bons ensinos quero ouvir/ Para melhor te amar, servir/Perto, sim, bem perto.”

Somente a comunhão com o Senhor pode nos fazer enxergar a vida com outra perspectiva. Horatius Bonar, um grande poeta e escritor de hinos cristãos, não teve uma vida fácil. Sua esposa Jane Bonar também foi uma escritora de hinos e a vida do casal foi marcada por muita tristeza, pois cinco dos seus filhos morreram sucessivamente em seus primeiros anos de vida. O próprio Horatius sofreu muito em sua saúde durante seus dois últimos anos de sua vida. Mas a comunhão com o Senhor lhe deu uma profunda convicção: “Nenhum homem que vive perto de Deus vive em vão”.

Como podemos desvalorizar a comunhão com o Senhor? Por exemplo, quando os afazeres do dia se mostram mais prioritários do que um tempo de meditação na Palavra de Deus e oração. Não podemos pensar que iremos amadurecer e crescer espiritualmente enquanto negligenciarmos a comunhão pessoal com Deus. Se alguém afirma ser cristão e não encontra satisfação na intimidade com o Senhor, eis uma grande incoerência, pois “a intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” (Salmo 25:14).

Talvez você não esteja valorizando a comunhão com o Senhor como deveria. É hora de refletir sobre os fundamentos de sua vida cristã. Como filhos de Deus, temos o privilégio de sermos aceitos em Cristo. Assim como Deus amou seu único Filho, ele ama seus filhos adotivos. "Pois o próprio Pai os ama" (Jo 16:27). Como o Pai teve comunhão com Jesus, ele tem também conosco: "Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo" (1 Jo 1:3). Que não desprezemos o livre acesso que nos foi dado: "Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor" (1 Cor. 1:9). “Só a comunhão com Cristo acrescenta vitalidade à nossa fé.”


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