quinta-feira, 4 de novembro de 2010

DECADÊNCIA ESPIRITUAL

TEXTO BÍBLICO: II SAMUEL 15: 1-23

“A crise financeira um dia chega” – é o que dizem os especialistas em economia. Em 2008, quando a crise econômica afetou os EUA, muitos analistas de mercado disseram que os efeitos seriam catastróficos em muitos países. No Brasil, a crise financeira não foi apenas uma “marolinha”. É necessário que os economistas acompanhem constantemente os dados da bolsa de valores e a cotação do dólar para averiguar possíveis sinais de declínio da economia.
No texto bíblico em epígrafe, a crise não era financeira, pois o poderio econômico do reino de Davi era fantástico. Esta crise tinha um caráter político e familiar. Absalão, o terceiro filho de Davi, moveu uma conspiração para tomar o trono do seu pai. Os sinais de decadência espiritual na vida de Davi se mostraram evidentes diante da crise que se instalou. Vamos analisar alguns sinais que demonstram o declínio espiritual do rei Davi, e checar se alguns destes sinais se mostram também em nosso viver.

Em meio à crise, Davi demonstrou alguns sinais de decadência espiritual

Com base neste texto, que sinais demonstram decadência espiritual na vida de Davi em meio à crise?

1º sinal) O TEMOR DIANTE DA PRESSÃO HUMANA (Vv. 13,14)
Davi se mostrou temeroso e inseguro diante do golpe de Estado que sofreu do próprio filho Absalão. O rei Davi, que já tinha vencido inúmeras batalhas, agora mostra o seu lado “covarde” diante da multidão que vinha contra Jerusalém. Uma leitura superficial do texto aponta para certa prudência do rei que não desejava sangue derramado dentro da cidade. Mas não é isso que prevalece no texto. Davi está totalmente vencido pelo medo. O rei que guerreou várias vezes contra os filisteus e liderou pelejas memoráveis passou a “pensar com as pernas”, porque se deixou atemorizar pela pressão dos opositores.
A situação do apóstolo Paulo serve como uma ilustração adequada. Na igreja de Corinto ele sofreu forte oposição e foi muitas vezes desprezado. Se Paulo tivesse escolhido a “neutralidade” diante das pressões que sofreu, ele não teria confrontado o pecado como fez em I Cor. 5: 1-5. Ele exortou aqueles irmãos no poder do Espírito e sem nenhuma vanglória pessoal. Diante de muitos que questionaram sua autoridade apostólica, o apóstolo Paulo mostrou-se firme na segunda carta que escreveu aos crentes de Corinto (II Cor. 10 e 11). Também podemos observar outros exemplos bíblicos que são verdadeiras demonstrações de coragem, como Daniel e Estevão.
O crente não deve ser governado pelo temor dos homens (Pv. 29:25). Nossas atitudes devem ser movidas pela coragem que as promessas bíblicas nos outorgam. Os homens muitas vezes exercem papel determinante em nosso comportamento porque ficamos fragilizados diante da pressão sofrida. As pessoas podem nos expor e humilhar, ou podem nos rejeitar, ridicularizar ou desprezar. Mas nenhuma delas pode nos fazer nenhum mal que esteja fora do propósito de Deus, e que seja para o nosso fortalecimento espiritual. O salmista Davi escreveu grandes declarações de confiança em Deus, por exemplo: "Em me vindo o temor, hei de confiar em ti. Em Deus, cuja palavra eu exalto, neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei. Que me pode fazer um mortal?" (Sl. 56: 4-5).
Muitos cristãos estão em completa decadência porque ainda não se valeram dos recursos da Palavra de Deus para vencer a pressão humana. Alguns jovens crentes se deixam levar pela “opinião da turma”, e se envolvem em atividades reprováveis pela Palavra de Deus, somente para não sofrer nenhum tipo de rejeição. Ademais, novas leis estão sendo discutidas no Congresso Nacional. Qual a será a nossa reação diante da possível legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo? Os legisladores querem colocar uma mordaça para que não haja nenhum tipo de discriminação quanto à opção sexual. Mas não podemos ficar calados diante de tal afronta ao Evangelho. “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29).

2º sinal) A INCERTEZA DIANTE DA CONDIÇÃO FUTURA (Vv. 19,20)
Davi demonstra que estava inseguro quanto ao seu destino. Seu lema naquele momento era: “Não me siga: estou perdido!” Ele não se mostrou resoluto porque seu coração passou a duvidar da direção que Deus tinha para sua vida a partir dali.
Nenhum de nós pode conhecer o que o futuro nos reserva. Mas é imprescindível que o crente tenha plena convicção de que seu futuro está sob o controle soberano de Deus. “Não conhecemos o que o futuro nos reserva, mas conhecemos quem dirige o futuro” (Willis J. Ray). Não há nada mais angustiante do que viver temeroso quanto ao dia de amanhã, mas para o cristão a confiança na provisão de Deus assegura paz perfeita e completa. Momentos de dúvida podem surgir, mas não devem dominar o crente a ponto de desviar o seu olhar de Cristo (Hb 12:2 – “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus”).
É necessário tomar decisões e realizar planejamento, mas é fundamental depositar esperança no Soberano Senhor. O crente que vive angustiado quanto ao dia de amanhã com certeza está em decadência espiritual. Esta angústia indica que a sua esperança não está firmada em Deus. Além disso, tal incerteza vai gerar a ansiedade que foi duramente reprovada por Jesus em Mateus 6: 25-34. É melhor confiar na vontade soberana de Deus e descansar em Seu poder. A letra de um hino antigo expressa de forma singular qual deve ser a expectavia do cristão:

As tuas mãos dirigem meu destino
Acasos para mim não haverá
O grande Pai vigia o meu caminho
E sem motivo não me afligirá
(HINO C.C. 350 – Direção Divina)

A vida sem metas é um verdadeiro caos. Muitos crentes vivem sem expectativa nenhuma e isto demonstra uma profunda decadência espiritual. Devemos agir como o apóstolo Paulo: “mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fl. 3: 13-14). A essência do viver cristão se baseia nas promessas de Deus que são orientadas para o futuro.

3º sinal) A APATIA DIANTE DO PAPEL DE LIDERANÇA (Vv. 15)
O povo até o respeitava como líder, mas Davi estava tão apático diante daquela circunstância que não exerceu como deveria seu papel de liderança. Suas energias foram minadas pela insegurança em seu coração e por isso não conseguiu liderar efetivamente. Absalão já estava aprontando sua conspiração no mínimo há quatro anos (2 Sm. 15: 7), porém Davi não deu a devida importância aos fatos. Sua liderança como pai e como rei não foi competente e eficaz e por causa disso o jovem rebelde Absalão foi ganhando terreno dentro do reino.
Aqui surge um alerta para os homens cristãos. Deus deu a homem o papel de líder dentro do lar (1 Co 11:3). Mas esta liderança não se traduz em autoritarismo ou em um regime de ditadura. O homem deve exercer esta liderança em relação à esposa com o mesmo amor que Cristo demonstrou para com a igreja. O princípio para que o homem seja o cabeça da mulher é endossado pela ilustração permanente da ordem da criação (primeiro o homem; depois a mulher). Sendo assim, os homens crentes que não exercem seu papel de liderança efetiva dentro de seus lares estão em decadência espiritual. Somos responsáveis diante de Deus pelas pessoas que ele nos confiou e Deus vai cobrar de cada um de nós se exercemos fielmente a liderança em nossas famílias. Note que um dos requisitos para o desempenho de liderança na igreja é “governar bem a própria casa”, de acordo com 2Tm. 3:4-5.
Outro rei famoso que não assumiu o seu papel de líder foi Acabe. Sua mulher Jezabel tomou as rédeas e deu as cartas no reino. Acabe se tornou um fantoche nas mãos de sua esposa e o seu reinado foi um dos mais ímpios que se tem notícia. Todas as vezes que o homem não exerce efetivamente o seu papel de liderança, os prejuízos são contabilizados. A bênção de Deus não repousa sobre um lar onde os papéis estão invertidos ou não estão sendo exercidos devidamente. Este ambiente é propício para a rebeldia dos filhos que não reconhecem a autoridade dos pais. Por isso é de fundamental importância que haja disciplina desde a infância para que os filhos aprendam o valor da liderança paterna. Foi o que não aconteceu na vida familiar do sacerdote Eli. Seus filhos (Ofni e Finéias) faziam o que era mau aos olhos do Senhor, mas a fraca repreensão de Eli não surtiu nenhum efeito (1 Sm. 2:22-25; 29). A decadência espiritual sobreveio sobre a casa do sacerdote Eli, e ao final de tudo seus filhos foram mortos pelos filisteus, como consequência de uma liderança mal empreendida.


MARCOS AURÉLIO DE MELO
ESTUDOS NO LIVRO DE II SAMUEL

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