segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sem comparação

Texto: Salmo 30

Comparações são inevitáveis. Estamos sempre fazendo algum tipo de comparação. Há coisas que a nossa mente consegue estabelecer com facilidade um parâmetro de comparação, como por exemplo a distância entre cidades dentro do nosso estado (em km) ou o tamanho das pessoas da nossa família (em metros). Mas quando analisamos distâncias dentro do universo ou tamanho de planetas e estrelas, os parâmetros de comparação fogem da nossa realidade. Por isso os cientistas criaram uma unidade astronômica para medir a distância no Universo, o ano-luz, que é a distância que a luz percorre no período de um ano (aproximadamente 10 trilhões de quilômetros). O Sol é uma estrela de diâmetro 100 vezes maior que o diâmetro do planeta Terra. A distância aproximada da terra ao Sol é de 150 milhões de km. Uma comparação aproximada, se o Sol fosse representado como uma bola de futebol, a Terra teria o tamanho de uma ervilha distante 30m. Depois do Sol, a estrela mais próxima da Terra é Alfa-Centauro, distante cerca de 40 trilhões de km.

Se já ficamos admirados com a imensidão do universo com suas dimensões incomparáveis, o que diremos diante da grandeza do Criador do universo? Ele é incomparável em Sua natureza e poder. A pena do profeta Isaías em vários textos coloca forte ênfase na singularidade do Senhor, pois não há nada que possa ser comparado com o nosso Deus. “Com quem comparareis a Deus? Ou que coisa semelhante confrontareis com ele?” (Is. 40:18) “A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? — diz o Santo.” (Is. 40:25) “Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim." (Is. 46:9) “Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera.” (Is. 64:4).

Não há comparação que lhe faça jus, porque Deus é o totalmente OUTRO, entronizado entre querubins, mas ao mesmo tempo presente e pronto a perdoar o contrito. Os pensamentos do Grande Eu Sou são incomparáveis com qualquer pensamento mais elaborado que possamos ter (Isaías 55:8-9). Ele é tão singular e incomparável que só pode ser conhecido porque tomou a iniciativa de se comunicar conosco.

O salmo 30 é nos apresenta as obras de um Deus incomparável. O salmista, após passar por um forte revés na vida, traça neste salmo uma argumentação muito claro para nos comunicar como Deus o tratou de modo especial. Para Davi não apenas Deus é incomparável em seu Ser, como também o modo como Deus tratou o seu servo está acima de qualquer comparação. Por isso o tom de júbilo domina este pequeno salmo. No verso 4 Davi faz uma convocação solene: “Salmodiai ao Senhor, vós que sois seus santos, e dai graças ao seu santo nome”; assim como o salmista, todos nós devemos reconhecer também o modo especial e incomparável como Deus tem nos tratado como filhos amados. Por isso eu afirmo o seguinte:

“Nada se compara com o tratamento especial do Senhor em prol do Seu povo amado”

S.I. Com base no Salmo 30, quais são os fatores que me levam a afirmar que nada se compara com o tratamento especial do Senhor em favor do Seu povo amado?

E qual a relevância de sabermos disto? É relevante porque a forma como Deus nos trata deve nos constranger a uma mudança efetiva em nosso viver. Somos tão beneficiados por este Deus, que nossa postura certamente será diferente, teremos maior anseio por santidade e almejaremos agradá-Lo cada vez mais. Uma pergunta a ser feita ao final desta mensagem é: Que tipo de cristianismo você vive à luz do tratamento especial do Senhor em sua vida?

1) O controle divino sobre a afronta que nos sobrevém (vs. 1)

O Salmo inicia-se com um tom de louvor exultante. Davi irrompe em louvor porque tinha plena consciência do controle minucioso exercido pelo Senhor sobre a sua vida. O salmista reconhece que foi a boa mão do Senhor que não deixou que houvesse comemoração e algazarra dos inimigos pela derrota de Davi. Os inimigos de Davi não iriam além do que já tinha sido estabelecido pelo próprio Deus. A NVI traduziu assim: “não deixaste que os meus inimigos se divertissem à minha custa.” Não podemos estipular em que momento da vida de Davi este salmo foi escrito, mas é fato que este homem tinha muitos inimigos (tanto domésticos quanto estrangeiros) que o invejavam pela posição que ocupava no plano de Deus. As afrontas dos inimigos de Davi só iriam até o que Deus estipulasse, a hostilidade não passaria um milímetro a mais além do soberano plano do Senhor.

Como ilustração, podemos pensar em três inimigos de Neemias que criaram contendas e inventaram mentiras para trazer desânimo na reconstrução dos muros de Jerusalém. Eles ridicularizavam aquele empreendimento Seus nomes eram Sambalate (horonita) e Tobias (amonita) e Gesém (arábio), e foram pedras no sapato dos judeus liderados por Neemias. Mas o que me chama a atenção é que Neemias não esmoreceu e perseverou naquela grande obra. Este homem conhecia o controle de Deus profundamente sobre tudo e sobre todos (Ne. 4:15).

Este fator de tratamento especial do Senhor em favor do seu servo é um poderoso antídoto contra o desânimo quando somos afrontados por ímpios. Vivemos em mundo mergulhado na mais densa treva espiritual, e portanto, um mundo que jaz no maligno. E por conta disso, o desdém dos ímpios e a afronta que nos sobrevém diariamente, é ultrajante e deplorável. Mas podemos ter a certeza de que nenhuma afronta ou hostilidade sofrida estará fora do controle divino. Por um certo tempo, os ímpios podem ter a falsa sensação que estão sendo vitoriosos ao nos caluniarem ou nos perseguirem, mas eles não fazem ideia de que não lutamos com nossas próprias forças. Lutamos com armas espirituais, não carnais. Estas armas são espirituais são poderosas para nos manter de pé, porque estão alicerçadas na Palavra de Deus que não pode falhar.

Há lições a aprender quando somos hostilizados por conta da verdade. Há muitos ensinos que o cristão piedoso deve absorver quando sofre afrontas por servir a Cristo. Mas o principal é que é um privilégio ser considerado digno de sofrer injustiças por ser identificado como cristão e quando somos afrontados por causa do bom nome de Cristo. Triste é quando somos afrontados porque nossas vidas não condizem com o que pregamos, porque somos uma fraude e não há evidências das mudanças que Cristo faz. Outra lição é que há um limite para as afrontas que iremos sofrer, porque Deus conhece perfeitamente a nossa estrutura. Deus conhece até onde podemos suportar e se Ele não interviu ainda é porque não chegamos no limite de resistência.

Como cristãos, não nos cabe apelar à vingança. Precisamos ter um coração confiante no controle de Deus e na Sua justa retribuição a todos que nos causaram algum mal. Davi teve a oportunidade de acabar com a vida de Saul numa caverna, mas não fez isto porque sabia que a justa retribuição seria dada pelo Senhor mesmo. Paulo escrevendo aos romanos: “não vos vingueis a vós mesmos, amados, ... porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor.” (Rm. 12:19), uma citação de Deuteronômio 32:35. Deus nos trata de modo especial não deixando que as afrontas ultrapassem o limite, e Ele mesmo fará justiça ao Seu tempo. Isto nos dá coragem para resistir e força para prosseguir, apesar da forte oposição.

2) O amparo divino diante da angústia que nos assola (vs. 2-3)

Apesar de falar sobre ter sido sarado (curado) e ter ido à beira da morte, não podemos restringir a angústia deste servo de Deus somente a alguma enfermidade mortal. De modo figurativo, o texto ilustra que Davi atravessava um vale muito profundo e Deus o restaurou por Sua graça. As palavras utilizadas, “da cova fizeste subir a minha alma”, em poesia hebraica, denotam que Davi foi completamente restaurado depois de uma angústia severa. Esta forma de comunicar uma grande aflição é comum no hebraico: estar completamente submerso em angústia por todos os lados é como descer a uma cova profunda. Portanto, ser restaurado à vida diz respeito a uma nova e clara percepção dada por Deus em sua graça e favor sem par. “Pois grande é a tua misericórdia para comigo, e me livraste a alma do mais profundo poder da morte” (Sl 86:13) e “Bendize ó minha alma ao Senhor, porque Ele é quem da cova redime a tua vida e te coroa de graça e misericórdia” (Sl. 103:4). As feridas e dores na alma de Davi foram plenamente curadas pelo amparo eficaz proporcionado pelo Senhor. De fato, Deus efetuou uma obra transformadora no coração de Davi, de dentro para fora.

Certa vez pediram para uma criança resumir o Salmo 23 com suas palavras. Ela resumiu com uma pergunta bem simples, porém não simplista: “O Senhor é o meu pastor - o que mais posso querer?” (Wiersbe). Ovelhas são animais extremamente frágeis: entregues a si mesmas definham e podem até morrer de fome/sede, porque precisam do auxílio do pastor. Neste salmo, percebemos que Davi conhecia bem o seu supremo Pastor e por isso afirmou: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.” Se somos de fato cristãos, nós precisamos experimentar na prática o amparo sempre eficaz proporcionado pelo Senhor quando as aflições deste mundo nos amedrontam e nos causam dor. Tal como uma ovelha frágil, Davi enxergava o amparo proporcionado pelo Senhor em meio aos momentos de angústia que teve que enfrentar.

Todos nós seremos expostos a angústias e aflições neste mundo. Não há como escapar das dores e contusões que a vida nos reserva. Expostos aos efeitos devastadores do pecado tanto nosso como de terceiros, teremos lutas contra a tristeza em alguns momentos desta vida. Mas o que não podemos perder de vista, é que Deus não nos desampara nem por um momento só. O compositor Sérgio Pimenta, de um modo magistral resumiu bem o amparo sempre presente do Senhor: Nem um momento só / Deixou-me o Seu olhar / Nem quando eu dava dó / Negou-me o Seu amar / Nem mesmo quando me omiti / Como se pudesse me esconder / Nem mesmo quando não vi solução/Negou-me Seu perdão / Negou-me Sua mão.

O cristão que vive encharcado em angústia e não encontra alento para viver, na verdade não se supriu do gracioso amparo divino, que está sempre à disposição. Sabemos que somente o Senhor é a fonte de verdadeira paz em meio às guerras e que Ele é a fonte de verdadeira alegria em meio às aflições, então não podemos ficar nos cantos da vida, à margem de uma espiritualidade saudável. Não vamos andar ansiosos e cabisbaixos, porque temos um tratamento especial do Senhor que nos oferece o Seu auxílio amoroso todos os dias. Não vamos ser dominados pela murmuração porque temos um Deus que sabe de fato o que é melhor para nossa vida. Preguemos para nós mesmos a verdade bendita do Salmo 42: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl. 42:11). Isto não é um apelo psicológico, é uma certeza teológica que deve nos governar todos os dias, modificando nossos hábitos e atitudes no olho do furacão.

3) A correção divina por conta da presunção que nos domina (vs. 6-7)

Davi entrou num estágio de prosperidade, no qual aparentava estar totalmente seguro. Ele presumiu que nada poderia o abalar. A tranquilidade e a prosperidade de um reino estável trouxe-lhe a presunção da autoconfiança (um inimigo mortal do servo de Deus), que foi imediatamente reprovada pelo Senhor. Deus não tolera arrogantes, que se arvoram na sensação de falsa segurança que o dinheiro, o poder, a capacidade e os talentos podem lhe trazer. Davi sofreu um duro golpe quando deixou-se iludir pela visão altiva que teve a respeito de si mesmo. Quando se refere a Deus, a expressão “voltar a face ou voltar o rosto” geralmente tem o sentido de reprovação divina ou disciplina corretiva iminente. Na literatura profética encontra-se bastante esta expressão: “Voltarei o rosto contra eles; ainda que saiam do fogo, o fogo os consumirá; e sabereis que eu sou o Senhor, quando tiver voltado o rosto contra eles” (Ez. 15:7); “Pois voltei o rosto contra esta cidade, para mal e não para bem, diz o Senhor; ela será entregue nas mãos do rei da Babilônia, e este a queimará” (Jr 21:10). O tratamento especial do Senhor na vida de Davi incluiu a disciplina corretiva para que o seu servo não ficasse preso na armadilha da presunção.

O discípulo Pedro ficou dominado pela presunção ao afirmar que estava pronto a morrer por Cristo, mas não colocou em xeque as motivações daquela afirmação. Seu coração foi tomado pelo impulso das emoções e pela vontade de estar à frente dos demais discípulos: “Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!” (Mc. 14:28). Jesus rogou por Pedro para que a fé dele não desfalecesse. O canto do galo foi uma medida corretiva para trazer Pedro à realidade de um compromisso efetivo com o Senhor, para que ele não confiasse em si mesmo. Deus não descartou Pedro, mas tratou o seu servo por meio da disciplina. Aquele cantar do galo serviu como um lembrete permanente a Pedro de que a presunção reflete apenas um coração precipitado e cheio de orgulho. “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.” (1 Co. 10:12)

É muito fácil também sermos presunçosos por causa da segurança que o dinheiro ou que as ofertas deste mundo podem nos trazer. Não devemos nos gloriar naquilo que conquistamos ou ainda vamos possuir (Jr. 9:23-24). Porém tudo neste mundo é volátil, por isso precisamos concentrar nossas afeições naquilo que não vai nos frustrar. “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1 Jo. 2:15, 17). Realizar o que Deus requer de nós traz significado e propósito a nossa vida, e certamente nos trará verdadeira segurança. Fora disso há somente frustação e desesperança. O que temos e o que somos é somente fruto da bondade de Deus.

Por causa do amor que o Senhor tem para com o Seu povo, Ele não deixará que sejamos fascinados pela falsa paz deste mundo. O profeta Amós alertou: “Ai dos que andam à vontade em Sião e dos que vivem sem receio no monte de Samaria, homens notáveis da principal das nações, aos quais vem a casa de Israel!” (Am 6:2).

Se você um filho de Deus, amado e remido por Ele, será corrigido pelo Senhor se a presunção dominar o seu coração. Há muita malignidade na presunção, pois a presunção busca destronar Deus, oferendo ao homem meios de viver sem prestar contas ao Senhor. “Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna” (Tg 4:16). Nossas decisões precisam ser marcadas pela dependência constante do Senhor, pois não somos um fim em nós mesmos. O presunçoso é um ateu funcional, que se apoia apenas na sabedoria da razão e na inteligência da própria estratégia.

4) O favor divino em prover satisfação que nos revigora (5, 11-12)

O salmista Davi estabelece em todo o salmo 30 o foco em Deus e no tratamento especial que é direcionado ao servo do Senhor. Por conta disso, Davi reconhece com clareza e objetividade que a alegria da qual ele passou a desfrutar é fruto tão somente do favor divino. Este favor é demonstrado de duas formas: 1º) A ira do Senhor não dura para sempre, mesmo que haja pranto e dor, o Senhor se compraz em prover o seu servo com plena satisfação. A linguagem é figurativa e serve para descrever uma guinada ou uma página virada, fruto da ação do Senhor. Alegria em hebraico tem sentido amplo; é muito mais do que um largo sorriso no rosto. É uma profunda satisfação concentrada e arraigada naquilo que imutável: a graça ou favor de Deus. 2º) De acordo com o verso 11, é Deus quem toma a iniciativa de nos tirar o pano de saco e nos cingir de alegria. Que transformação! O choro vira contentamento; as vestes de luto viram vestes de comemoração. Na antiguidade, vestir panos de saco era um sinal de luto ou indicativo de lamento por algum infortúnio. Ser vestido com a alegria que provém do Senhor é estar plenamente satisfeito n’Ele. Este compromisso do Senhor em satisfazer os seus servos com alegria verdadeira não entra em conflito com a glória que somente a Ele é devida (vs. 12).

Uma história que ilustra bem este fato está relacionada com o hino do Cantor Cristão “Sou feliz”. O autor desta letra passou por uma enorme aflição: ele perdeu suas quatro filhas num naufrágio em 1873. Sua esposa escapou da tragédia e o avisou sobre a morte das filhas. Diante de toda a dor e lágrimas derramadas nesta situação, Horatio Gates Spafford encontrou forças para afirmar a sua satisfação em Deus através deste belo hino. A neta de Spafford guardou a quinta estrofe deste belo hino, que só foi divulgada no ano de 1995: “Pra mim só importa Cristo pra viver / Se o Jordão ameaçar me afogar / Oh! Não temerei, pois na morte e na vida / Tu me darás perfeita satisfação”. Não se trata de negação da realidade (muitas vezes terrivelmente cruel), mas se trata de alguém que desfrutou da satisfação que Deus lhe supriu em Cristo e pôde afirmar com segurança: a minha alma vai bem (It’s well it my soul).

Muitas vezes estamos tão fatigados com a noite da adversidade que não podemos contemplar o amanhecer da alegria. Deus tem nos dado razões de sobra para sermos cristãos satisfeitos como a paz em Cristo, a salvação, o perdão, a Sua presença conosco. Mas para usufruirmos desta satisfação, precisamos diagnosticar como está a nossa fé. John Piper define fé da seguinte maneira: fé é o exercício diário da satisfação em Cristo e em Suas promessas. Sem desfrutarmos desta satisfação impossível agradar a DEUS (Hb. 11:6). De fato, nós só seremos crentes maduros, abundantes e úteis para o reino quando estivermos satisfeitos em Cristo. Não temos como ser um farol que aponta para Cristo, se nós mesmos não temos sido nutridos pela satisfação em Sua pessoa. O salmista em outra ocasião declarou: “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente.” (Sl. 16:11)

Em que fonte você tem saciado a sua sede? Ou em outras palavras: o que ou quem traz satisfação à sua alma? Se você tem buscado esta satisfação em um relacionamento, eu posso afirmar que a frustração se aproxima. Se você tem buscado a verdadeira satisfação numa carreira profissional ou no sucesso material, há um grande problema com o seu cristianismo. Não deixe o manancial de águas vivas para cavar cisternas rotas que não retêm as águas (Jr. 2:13). Jesus disse que veio para termos vida, e vida em abundância. Ou seja, Ele se compraz em nos prover com satisfação completa que traz qualidade e vigor ao nosso viver. Nada se compara com a provisão de Deus em nos suprir com a satisfação em Cristo, como Martinho Lutero disse: “Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno.”

sábado, 13 de setembro de 2014

Prestando um culto espiritual

A cidade de Corinto localizava-se numa zona portuária, o que era garantia de prosperidade comercial. Era um ponto de parada natural na rota de Roma para o Oriente, e o lugar onde se encontravam várias rotas do comércio. Havia uma efervescência cultural por conta dos vários povos que por ali transitavam ou fixavam residência. Era a capital da província romana da Acaia.

Leon Morris comenta: “...era um lugar muito cosmopolita. Era uma cidade importante. Era intelectualmente viva. Era materialmente próspera. Era moralmente corrupta. Os seus habitantes eram pronunciadamente propensos a satisfazer os seus desejos.” O verbo corintianizar tomou o sentido de aproveitar desenfreadamente os prazeres da vida.

Paulo iniciou o seu trabalho missionário em Corinto pregando aos judeus e gentios que haviam na cidade (conf. Atos 18). Deus tinha os Seus eleitos naquele lugar conhecido mundialmente como promíscuo e cheio de luxúria. A igreja que nasceu em Corinto ficou sob a liderança de Apolo, mas os irmãos de Corinto significavam muito para Paulo: ele escreve que era pai espiritual deles em Cristo Jesus mediante o evangelho (4:15). A ênfase de Paulo em suas cartas àquela igreja está relacionada principalmente com o uso dos dons espirituais, com a conduta moral do cristão e com o culto que deve ser prestado a Deus.

O CULTO CRISTÃO DEVE SER REGULADO POR PRINCÍPIOS TEOLÓGICOS BASEADOS NAS ESCRITURAS:

1) Decência (o nosso Deus é santo e Sua santidade não deve ser profanada)

A forma como eu e você nos apresentamos para cultuar precisa ser levada em conta. Decência e reverência devem permear todas as nossas atitudes enquanto adoradores. O grande problema é que hoje não há mais a percepção sobre quem é o Deus revelado nas Escrituras, e por conta de uma visão pequena de Deus, o culto se transforma num espetáculo antropocêntrico. Obviamente, a santidade em nossos pensamentos reflete-se imediatamente na forma como adoramos a Deus.

2) Ordem (a bagunça, a bizarrice e as abstrações não devem ter lugar no culto)

Muito do que se vê atualmente na maioria das igrejas evangélicas é uma coleção de cenas que beiram o ridículo. A ordem é fruto do senso de reverência, e portanto, indica claramente como anda a saúde de nossa alma. Esta ordem precisa ser evidente na pregação (proclamação) das verdades bíblicas. Muitos pastores já abandonaram até o texto bíblico e se refugiam apenas em conceitos psicológicos ou mesmo em historietas sem sentido, cujo propósito é somente aliciar ouvintes e não desafiar pecadores a um compromisso efetivo com o Senhor.

3) Edificação (toda prática nociva ao fortalecimento da igreja não deve ser adotada)

A igreja é um corpo, e como corpo, cada membro deve servir de suporte e edificação para o outro. Como membros de uma igreja é fundamental que nossas ações busquem sempre o melhor para o nosso irmão, considerando que o exercício dos dons espirituais deve sempre objetivar o fortalecimento de outros membros. Não podemos viver de modo egoísta querendo apenas ser servidos, uma vez que o nosso Senhor viveu como servo dando-nos o exemplo.

domingo, 7 de setembro de 2014

A parábola do filho mais velho

É comum pensarmos na parábola do filho pródigo e concentrarmos atenção somente na figura do irmão mais novo, que viveu longe de casa e gastou toda a sua herança com os prazeres deste mundo. Esta parábola está registrada em Lucas 15. Mas eu gostaria de concentrar o foco deste texto na figura do irmão mais velho, que não abandonou o seu lar mas estava igualmente perdido mesmo dentro da casa do seu pai.

O irmão mais velho representa na parábola os escribas e fariseus, que eram pessoas consideradas obedientes a Deus e zelosas no seu procedimento. Jesus, conhecendo a realidade dos corações daqueles homens, propôs a parábola justamente para confrontar o orgulho que havia em suas vidas e que eles não queria admitir. É evidente que Jesus mostra o amor gracioso do Pai em receber com grande júbilo o filho mais novo que saiu de casa, mas o Seu principal objetivo é revelar a cegueira, mesquinhez e todo a hipocrisia de homens e mulheres que buscam servir religiosamente a Deus, mas que estão destruindo tanto suas almas quanto a vida das pessoas ao seu redor. Há muitas igrejas cheias de pessoas parecidas com o irmão mais velho, que busca obedecer a Deus com objetivos equivocados.

Nós não devemos obedecer a Deus para conseguirmos a aceitação d'Ele. O crente já é aceito por Deus, através dos méritos de Cristo Jesus, e nada que façamos pode constranger Deus a atender os nossos caprichos pessoais. O irmão mais velho pensava que pela sua obediência ao Pai deveria ser merecedor de glória e honra, e até uma festa deveria ser feita em sua homenagem. Mas na relação com Deus não existe barganha ou troca. Somos o que somos somente pela graça de Deus. O Deus que não poupou o Seu único Filho nos aceita com base no sacrifício perfeito na Cruz do Calvário. Obedecemos a Deus porque já fomos aceitos e somos novas criaturas. É mentira que devemos obedecer a Deus para sermos aceitos ou para ganharmos uma quantia de pontos.

O filho mais velho não conseguia entender a graça demonstrada com o filho mais novo. É como se ele dissesse: “Eu me matei de trabalhar para merecer o que tenho, mas meu irmão nunca fez nada para merecer coisa alguma; em verdade, ele mereceu apenas sua expulsão e, agora está sendo abençoado. Onde está a justiça em tudo isso?” O nosso senso de justiça deve ser redefinido conforme a Bíblia. Precisamos entender que Deus não pensa como nós pensamos, e que os Seus caminhos são totalmente diferentes dos nossos. Aquele filho mais velho se sentia o mais justo dos homens, por isso ficou enfurecido com o tratamento que o mais novo recebeu. Mas Deus redefine o que é justiça apresentando aos dois filhos a oportunidade de um relacionamento restaurado dentro da família. Deus é o padrão perfeito de justiça, que apresenta a situação de total falência espiritual do homem, tanto do filho mais novo quanto do filho mais velho, e nos outorga de graça as Suas preciosas bênçãos.

Constrangidos pelo imenso amor de Deus precisamos desistir de usar o nosso falso senso de justiça para medir as pessoas. Com base nos critérios que as Escrituras nos ensinam, precisamos deixar de lado o orgulho que tanto nos impulsiona a olhar os outros com arrogância, e vivermos em obediência a Deus porque fomos aceitos em Sua presença pelos méritos de Cristo Jesus. E assim seremos livres para desfrutarmos do amor do Pai sem reservas, com temor e bendita comunhão.

sábado, 6 de setembro de 2014

A IGREJA TRIUNFANTE

É preciso fazer uma clara diferenciação entre igreja triunfante e igreja triunfalista. Vivemos numa época de muito triunfalismo e de muita algazarra espiritual fantasiada com rótulo evangélico. A igreja não aprendeu os princípios que devem reger um viver triunfante, que em muito se distancia do que tem sido visto e ouvido na maioria dos púlpitos evangélicos mundo afora.

A igreja triunfante é aquela formada por remidos que, a despeito das adversidades e provações que atravessam, conseguem confiar em Deus resolutamente e admitem que a glória da vida cristã está na vitória diária sobre o pecado com o auxílio dos meios de graça disponibilizados pelo Senhor. A igreja triunfante triunfa somente pelos méritos de Cristo, nunca deve ser enfatizada a ênfase em mérito pessoal nas vitórias conseguidas.

A igreja triunfalista é aquela formada por pessoas interesseiras que, em meio às dificuldades que atravessam, querem determinar que Deus atenda seus desejos humanistas e nunca estão dispostas a reconhecer o perigo de um viver centrado nos prazeres deste mundo (riquezas, prosperidade, saúde e afeições terreais). A igreja triunfalista aprecia o poder exercido pela fé, a ênfase está sempre nos méritos de quem exercita a fé. Se não há cura, é falta de fé; se não há prosperidade é falta de fé. Nas grande maioria das letras de músicas triunfalistas, há um exagero egocentralizado na fé exercida por alguém que busca ser abençoado por Deus.

O tom de vitória em toda a Bíblia é bem claro. Deus comprou um povo para Si mediante o sacrifício do Seu Filho unigênito, e por meio da redenção garantiu a vitória sobre a morte e sobre o domínio do pecado. Portanto, enquanto estamos neste mundo precisamos dar evidências de um viver triunfante e de um cristianismo abundante que reflete a glória de Cristo.

1) UM PROGRESSO EFETIVO NA BATALHA CONTRA O PECADO
Orgulho, ira, maledicência, murmuração: já lidamos com estes pecados adequadamente? Se colocarmos para debaixo do tapete o que deve ser tratado em nosso viver, a nossa vida se parecerá muito mais com um círculo vicioso do que com uma subida progressiva. O pecado sempre nos assediará neste mundo, mas precisamos triunfar diariamente sobre o que nos impede de avançar em direção a um compromisso maior com o Senhor.

2) UM PROGRESSO EFETIVO NO INTERESSE POR VALORES CELESTES
Todos nós temos planos, metas e sonhos. Alguns já sabem que profissão seguir, que rumo tomar na vida, e usam o cristianismo apenas como um apêndice, como se fosse um acessório que se coloca geralmente nos fins de semana. Quando os nossos interesses são consumidos por valores terrenos, toda a nossa saúde espiritual fica seriamente comprometida, e não há nenhum triunfo a ser comemorado. Se almejamos de fato a um compromisso maior com Cristo, precisamos desistir de construir impérios que colocam em evidência o nosso orgulho e ambição pessoais.

3) UM PROGRESSO EFETIVO NO FORTALECIMENTO DAS CONVICÇÕES
Um cristão sem convicções é um difamador do Senhor. Alguém que é levado para todo lado, sem estabilidade nenhuma diante dos fatos tristes e difíceis desta vida, atesta sua fragilidade como discípulo do Mestre. Precisamos ser conduzidos e mantidos de pé pelas convicções bíblicas. Somente as convicções que encontram base nas Escrituras podem nos sustentar quando as tempestades vierem sobre nós. Não podemos falar em triunfo na vida cristã se não estamos dispostos a fortalecer nossas convicções diariamente, quebrando uma série de obstáculos que nós mesmos construímos.

O valor dos bons conselhos

O livro de provérbios por si mesmo é um livro de conselhos. Através de provérbios e ditos, o sábio Salomão traz à tona vários ensinos verdadeiros e úteis para o nosso viver diário. Conselhos são sempre bons, mas somente os bons conselhos. Por isso é importante que você procure se aconselhar com pessoas que podem oferecer palavras verdadeiras e sábias. Mas de antemão já posso garantir que não existe um bom conselho que esteja fora do padrão de ensino das Escrituras.

  • “O caminho do insensato aos seus próprios olhos parece reto, mas o sábio dá ouvidos aos conselhos.” (Pv. 12:15)
  • “Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segurança.” (Pv. 11:14)

Na Bíblia existe uma história que relata o péssimo conselho dado por um homem chamado Jonadabe. Ele orientou o jovem Amnon a extravasar sua paixão sexual e dormir com a própria meia-irmã. Esta história terrível está registrada no livro 2 Samuel 13.1-22. A Bíblia diz que Jonadabe era homem muito sagaz. A palavra “sagacidade” significa: uma astúcia enganosa ou fraudulenta; esperteza movida por interesses mesquinhos. Amnon foi tomar conselhos com alguém que “não era flor que se cheire.” Jonadabe não era uma pessoa piedosa ou temente a Deus. Seu conselho foi mais um incentivo ao pecado e não tinha nada de proveitoso. Ele sugeriu que Amnom usasse artifícios pecaminosos (mentiras, fingimento, engano) para conseguir o que tanto desejava.

Nem sempre uma pessoa que se interessa em nos ajudar tem o conselho correto. Na luta contra o pecado, boas intenções não são suficientes. Muitas filosofias e pensamentos humanistas invadiram as igrejas como uma enxurrada. Por isso é fundamental buscar o conselho de pessoas piedosas que podem oferecer soluções bíblicas. A Bíblia considera uma enorme insensatez não buscar conselhos, mas é fundamental que os conselheiros sejam homens ou mulheres tementes a Deus. A. W. Tozer nos adverte: “Nunca ouça um homem que não ouve a Deus.” Se seguirmos tal advertência evitaremos muitas dores de cabeça.

Deus utiliza os seus servos para aconselhar sabiamente. Aqueles que possuem o dom de exortação são os mais capacitados para esta tarefa, porém todo crente piedoso pode ser um instrumento na edificação de alguém que precisa de conselhos. É um ministério que exige profunda submissão “ao que Deus diz” e não “ao que eu acho”, por isso somente pessoas submissas à autoridade bíblica podem oferecer a ajuda correta através do aconselhamento.

De quem você tem buscado conselhos? Não busque o conselho de pessoas que desprezam os princípios bíblicos e se baseiam nas filosofias humanas. É importante ter amigos piedosos nos quais podemos confiar quando necessitamos de conselho. Mas não podemos confiar em pessoas que falam coisas agradáveis apenas para nos agradar. Nunca dê crédito aos conselheiros que concordam com o pecado. Aqueles que verdadeiramente nos amam devem falar a verdade e nos alertar sobre os perigos do pecado que sempre nos assedia.